Eragon: Wyrda un Moi escrita por Arduna


Capítulo 11
Queda


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente, cavaleiros! Sei que demorei milênios para postar esse capítulo, mas não preciso dizer que a escola ocupa grande parte do meu tempo, e esse capítulo foi muito difícil de escrever também. Mas espero que gostem, e boa leitura^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/595963/chapter/11

Eragon olhou para a visão a sua frente com cenho franzido em preocupação. Então, foi assim que Galbatorix convenceu os renegados a segui-lo. Era um meio útil, ele não podia dizer o contrário, embora terrível. Eragon voltou-se para Svider, que olhava para ele com ansiedade, como se esperasse um julgamento com uma sentença de morte no final.

— Foi assim com todos? – Eragon perguntou depois de um tempo encarando a apreensão do outro.

— Bom, mais ou menos. Galbatorix analisou que meio era mais eficaz em cada um de nós. O meu foi esse e, infelizmente, teve muito sucesso. – Svider disse em um murmúrio. Internamente ele esperava que Eragon gritasse e exigisse sair do passado dele naquele momento, mas a pergunta em voz calma o surpreendeu.

— Que... teste foi esse que Galbatorix mencionou? – Eragon perguntou de forma hesitante, sem ter certeza de que queria saber das respostas.

Svider suspirou e estremeceu levemente com a lembrança perturbadora. Ele acenou com a mão e uma porta gasta de madeira apareceu na frente deles. Svider olhou para Eragon com uma pergunta óbvia no olhar.

— Tem certeza de que quer saber?

—... Se eu não souber vou ficar me perguntando pelo resto da vida. Vamos logo com isso. – Eragon respondeu depois de uma breve hesitação.

Svider assentiu e indicou para que Eragon fosse à frente. Ele temia o que o mais jovem pensaria assim que visse o que ele havia feito, ele nunca se perdoaria, nunca. Mesmo depois de todas as vezes que Oromis o havia consolado dizendo que ele fora manipulado... Isso não adiantava, ele havia feito algo horrendo!

Nada mudaria isso... Nada.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eles ultrapassaram a porta para saírem em uma escada escura de uma estalagem vazia. Não havia lamparinas nas paredes, e o vento do lado de fora fazia os degraus de madeira gemerem, deixando tudo sombrio. Eragon olhou perdido de um lado para o outro, tentando entender onde estava. Aquela estalagem lhe parecia terrivelmente familiar... familiar demais...

Eragon notou que ele e Svider ainda brilhavam suavemente, e somente por isso conseguiam enxergar. O cavaleiro castanho passou a subir as escadas sem fazer um único barulho e o jovem cavaleiro o seguiu um tanto hesitante. Eles chegaram a um corredor pequeno com uma porta de cada lado. Svider dirigiu-se a da direita e a atravessou, sendo seguido apressadamente por Eragon, que nem reparou na sensação de frio que o envolveu ao atravessar porta de tão concentrado que estava em descobrir os mistérios daquele lugar.

Eles pararam no centro de um pequeno e simples quarto que tinha somente um armário modesto no canto e uma cama próxima à janela aberta, por onde passava a luz prateada da lua. Olhando mais atentamente na cama, Eragon percebeu duas pessoas deitadas ali, dormindo pacificamente.

— Quem... Quem são? – ele perguntou.

— Olhe por si mesmo, Eragon. – Svider sussurrou de forma quase inaudível, olhando para as duas pessoas com o rosto em branco.

O jovem cavaleiro aproximou-se lentamente e arfou em surpresa quando reconheceu os rostos, que haviam envelhecido um pouco com o passar do tempo, mas ainda eram completamente reconhecíveis.

— São... São seus tios! – Eragon sussurrou e olhou espantado para Svider, este só assentiu lentamente com a cabeça e apontou para a porta.

O ranger fraco de uma porta se abrindo e fechando foi ouvido nitidamente no andar de baixo. Eragon percebeu que o tio de Svider havia acordado com o barulho e olhava para a porta com os olhos levemente arregalados, como se já soubesse o que estava vindo.

— Querida... Querida, acorde! – ele sussurrou urgentemente sacudindo a esposa. Ela abriu os olhos lentamente e o fitou com uma expressão interrogativa, fazendo algumas rugas de seu rosto ficarem mais acentuadas. Ele ia responder quando o som de madeira rangendo foi ouvido mais perto do quarto.

— Está subindo as escadas... – ela sussurrou aterrorizada, e observou o marido pegar uma faca debaixo do travesseiro.

O rangido de madeira parou quando quem quer que estivesse lá fora ficou em frente à porta. Um clique foi ouvido e a fechadura se abriu suavemente pouco antes de a porta ser aberta e um ser encapuzado entrar na sala e parar em frente à cama, olhando para o casal aterrorizado com olhos de um azul brilhante.

— Quem... Quem é você?! O que quer de nós? Não temos dinheiro, a estalagem rende muito pouco... Mas... posso oferecer o pouco que tenho... Eu... – o tio de Svider gaguejou, sem conseguir segurar a faca com firmeza na mão e deixando-a cair ao chão. O estridente som de metal contra a madeira alcançou seus ouvidos e o estranho inclinou a cabeça levemente para o lado.

— Ora, tio. Fico surpreso que não me reconheça. Por favor, não tema, seu sobrinho retornou para casa. – disse o estranho enquanto retirava o capuz e revelava o rosto sombrio de um homem louro com o cabelo preso no costumeiro rabo de cavalo.

— Svider... – a mulher sussurrou com descrença e uma pontada de medo atravessou seu coração.

— Sim, querida tia. – Svider respondeu sarcasticamente – Eu realmente esperei que vocês ficariam felizes ao me verem em casa novamente, mas acho que me enganei.

— O que quer aqui? – o homem perguntou com a voz trêmula. Ele já esperava isso, já sabia que iria acontecer.

— Se eu me lembro bem, tio, antes de partir o senhor me disse... Como foi mesmo? – Svider coçou o queixo, fingindo pensar, mas depois estalou os dedos e sorriu sombriamente – O senhor disse: Se acha que é tão bom, então não deve ter medo de sujar as mãos. Vamos lá, faça o que tem que fazer com essa faca. Ela foi feita para machucar, então por que não faz isso comigo? Veremos se você é mesmo homem.

O homem ficou mais pálido que um fantasma com a menção daquelas palavras, sua boca abriu e fechou, mas não produziu nenhum som.

— Acho que devo mostrar-lhe que já me tornei um homem, não é mesmo, tio? Estou aqui para provar isso para o senhor. Não se importa, não é? Creio que ficará orgulhoso. – Svider sorriu e se aproximou da cama. Sua mão direita foi para o cabo de sua espada, e ele a retirou da bainha com um movimento fluído.

— Não! Não, por favor, tenha piedade! – gritou sua tia com os olhos transbordando em lágrimas de puto terror. Homem e mulher começaram a recuar desesperadamente para o encosto da cama, tentando se afastar do metal afiado e do cavaleiro.

— Quando vocês tiveram comigo? – Svider rosnou com raiva, seus olhos azuis brilharam perigosamente antes que ele erguesse a mão e sussurrasse – Letta!

O casal ficou imóvel na cama, embora eles ainda implorassem e chorassem copiosamente, clamando por sua vida.

— Svider, por favor! O que fizemos com você foi errado e não sabe como me arrependo! Por favor, dê-nos uma segunda chance! Ainda podemos ser uma família! – o tio de Svider gritou, e mais lágrimas escorreram de seus olhos aterrorizados.

— Não existem segundas chances – Svider murmurou enquanto colocava a espada no pescoço de seu tio.

— Você não é seu pai! – gritou a mulher em completo desespero ao ver um filete de sangue escorrendo pelo pescoço de seu marido – Você é melhor do que isso! É um cavaleiro! Por favor, você nunca foi e nem será seu pai! Prove que é melhor do que nós!

Svider olhou-a com os olhos levemente arregalados, como se não houvesse visto dessa forma antes. Por um momento ele afastou minimamente Mirovir do pescoço de seu tio, mas depois balançou a cabeça tristemente.

— Você não entende, tia. Eu tenho que fazer isso, é o melhor para todos nós. – ele pegou a faca que estava no chão e posicionou no pescoço da mulher aterrorizada, vendo como a intensidade das lágrimas aumentou. Depois voltou a colocar sua própria espada no pescoço de seu tio e olhou firmemente nos olhos deles – Eu tenho que fazer isso.

— Não, não, por favor! – o casal implorou em uníssono.

— Vou criar um novo mundo para todos, tios. Vão se orgulhar de mim um dia. – ele sussurrou como se tentasse convencer a si mesmo, então se permitiu sorrir minimamente – Eu sinto muito.

Eragon virou o rosto quando os golpes foram dados e só ouviu o som do metal rompendo a carne, depois o quarto ficou silencioso e estranhamente gelado. O jovem cavaleiro olhou com horror dos corpos mutilados para o cavaleiro que tremia levemente.

— Sinto muito, mas era o certo a fazer – ele sussurrou e enxugou uma lágrima que teimava em escorrer por seu rosto.

Depois limpou a espada lentamente e a colocou na bainha antes de sair pela porta do quarto. Eragon correu atrás com o coração repleto de repulsa, não reparando o choro silencioso do espírito ao seu lado.

O jovem cavaleiro viu com horror quando Svider puxou o capuz sobre a cabeça antes de chegar à porta e ascendeu uma chama dourada na palma de sua mão.

— Farei um belo funeral para vocês, meus queridos tios. – ele sussurrou na porta da estalagem, depois jogou a chama no salão e a madeira instantaneamente começou a pegar fogo.

Fumaça negra começou a se espalhar pelo ar e as chamas lamberam avidamente toda a madeira que chegava a seu alcance, logo cobriam a casa completamente. Svider virou-se para a casa e depois saiu correndo para uma forma deformada no chão de terra em frente à construção. Levou alguns minutos para que Eragon entendesse que Deloi estava ali invisível e esperava por seu cavaleiro. Svider montou rapidamente e, com um último olhar a sua antiga casa, foi com um Deloi ainda invisível para as sombras do céu noturno.

Eragon estacou na frente da estalagem com os olhos arregalados em descrença e olhou para o fogo que se alastrava rapidamente pela casa, sabendo que ele não poderia fazer nada. O espírito de Svider estava ajoelhado no batente da porta e ele tinha o rosto escondido nas mãos, enquanto soluços sacudiam seu corpo.

Vários moradores começaram a chegar depois de verem a fumaça e a luz das chamas, mas não podiam mais salvar a construção, que lentamente se dissolveu em cinzas. Nenhum deles nunca soube o que realmente havia acontecido, mas acreditavam que os proprietários haviam derrubado uma vela na madeira e não haviam visto.

Nunca acharam o corpo do casal. Somente cinzas.

— Tire-me daqui. – Eragon sussurrou com a voz tremida, mas com um evidente comando nela.

Svider simplesmente acenou com a cabeça e uma porta apareceu no ar. Eragon correu para ela rapidamente, tentando escapar dos gritos de surpresa do povo, do fogo que consumia tudo, da fumaça, do calor, do desespero, dos mortos... e de Svider.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eragon não viu onde haviam saído depois que a porta para aquela visão horrenda havia desaparecido. Em fúria ele lembrou-se dos olhares arregalados de medo do casal, do fogo, dos gritos desesperados e da frieza de Svider naquela noite. Como ele pudera?

— Por quê? – Eragon perguntou com a voz contida e cabeça baixa se recusando a olhar para o cavaleiro castanho.

Não houve resposta.

Eragon sentiu a raiva crescer descontroladamente dentro dele. Lembrou-se de quando viajara com Murtagh através das montanhas Beor, seu encontro com os traficantes de escravos, e de como Murtagh matara o líder deles a sangue frio. A mesma raiva que ele sentira naquele momento o atingiu, e aumentou ainda mais devido ao silêncio do cavaleiro castanho. Eragon virou-se em um movimento brusco e andou na direção de Svider com os punhos cerrados, parando a poucos centímetros do outro.

— Eu perguntei: por quê?! – ele gritou sem se importar com a dor que inundou os olhos azuis do outro – Como você pode fazer isso?

— Eu disse que você iria me odiar... – Svider sussurrou completamente derrotado com a cabeça baixa.

— POR QUÊ? – Eragon gritou novamente, irritado por ficar sem resposta.

De repente Svider levantou a cabeça e olhou para Eragon com os olhos azuis incendiados de raiva.

— Por que você acha?!

— Você não precisava ter feito aquilo! Eles estavam indefesos! Eram seus tios! A única família que você tinha! Mesmo estando sob a influência de Galbatorix não entendo como poderia fazer isso! Eles não eram uma ameaça, você podia tê-los perdoado!

— Eu disse a você. Eu sou fraco, Eragon. Fui facilmente iludido de que o que estava fazendo era o certo. Segundo Galbatorix, eles se aproveitavam das pessoas e deveriam ser punidos... Eu me culpo por isso todos os dias, mas agora sei que não posso mudar o passado. – à medida que ele falava, sua voz ficava cada vez mais baixa e no final era somente um sussurro angustiado – Agora estou preso em minhas próprias lembranças, por favor , Eragon, ajude-me!

Eragon recuou em choque ao ver a dor descomunal estampada nos olhos do outro, Svider estava preso ali? Preso em seu próprio passado? Eragon deveria ajuda-lo? A lembrança do que Svider fizera a seus tios o enfurecera, mas parecia que sua raiva estava começando a diminuir e dava lugar a um sentimento de pena. Será que todos os renegados acabaram dessa maneira? Completamente destruídos por dentro? Será que Galbatorix havia acabado assim? Eragon suspirou pesadamente e olhou para o chão, determinado a não olhar nos olhos do cavaleiro mais velho.

— Como eu poderia ajuda-lo?

Svider prendeu a respiração em surpresa, pois realmente pensava que Eragon fosse gritar com ele, xinga-lo, exigir para voltar de volta ao navio élfico, mas ao que parecia, o jovem cavaleiro tinha um coração maior do que ele esperava... Tão parecido com Vrael...

— Tudo o que preciso é que veja minhas lembranças até o fim – ele disse com a voz falhando, sempre que revivia a morte de seus tios uma enorme vontade de desistir de existir o inundava, mas ele não podia deixar isso acontecer, ainda veria o que havia após a morte com seus próprios olhos e veria seus entes queridos novamente, não ficaria somente ouvindo suas vozes, ele não decepcionaria Miwin ou Deloi, só precisava aguentar mais um pouco... Eragon precisava entender!

Eragon encarou-o um tanto contrariado e suspirou pesadamente sabendo que não tinha escolha, ele teria que levar isso até o fim.

— Vamos continuar então. Quero acabar logo com isso – ele olhou com surpresa quando uma expressão amarga tomou conta das feições de Svider por um simples momento, mas depois ela sumiu e foi substituída por uma máscara de indiferença.

— Olhe atrás de você, Eragon. A história está acontecendo neste exato momento – Svider sussurrou e indicou a cena que começava a se desenrolar naquele instante, como se houvesse esperado ter a atenção deles para acontecer.

Eragon olhou para o lugar onde estavam e constatou que era uma floresta em uma noite escura, já que a Lua estava completamente encoberta e as estrelas não eram visíveis em lugar algum. Árvores estavam por todos os lados, mas por algum motivo elas pareciam assustadoras e sombrias, com pouquíssimas folhas a adornarem seus galhos, dando a impressão de desolação a tudo que existisse ali. Além disso, era possível ouvir o som de corujas ao longe, ecoando várias vezes, como uma melodia de suspense. A noite estava fria e ventava muito, fazendo com que os galhos das árvores batessem uns nos outros e formassem um barulho irritante e desconcertante. Havia neve em vários lugares, cobrindo a terra com um manto branco. Eragon não sabia onde estavam, mas sentiu uma sensação de mau agouro e uma pontada de medo subir por sua espinha, ele tremeu involuntariamente.

Svider parou ao seu lado e apontou para um lugar a nordeste de sua posição atual. Os arbustos chacoalhavam naquela região, indicando a presença de alguém. Duas figuras surgiram dali e a aura de medo que as cercava fez com que toda a floresta se calasse, até mesmo o vento pareceu diminuir de intensidade. Os dois estranhos estavam vestidos com roupas escuras, mas gastas, como se já estivessem ali há algum tempo. Eles retiraram os capuzes em uníssono e Eragon conseguiu ver seus rostos: o primeiro era Galbatorix, sua face estava marcada por linhas de preocupação que deixavam seu rosto mais sombrio que o normal, e atrás dele estava uma das pessoas que Eragon mais temia ver em sua viagem pelo passado. Os cabelos e olhos vermelhos estavam como ele se lembrava, assim como a pele pálida. Durza não havia mudado nada, mas parecia ainda mais aterrorizante neste cenário assombrado, como se ali recebesse toda a energia necessária para aumentar a aura de terror a sua volta.

— Mostrem-se, Svider e Deloi. Sabemos que estão aí. – Galbatorix comandou com uma leve indicação de alegria em sua voz.

Houve um estalo rápido no qual o ar pareceu se comprimir e em seguida Svider e Deloi apareceram próximos a Eragon. Ambos pareciam frios e calculistas naquele momento, mas Eragon tinha quase certeza de que era uma fachada para esconder o que eles estavam sentindo de verdade. Svider se aproximou de Galbatorix e sorriu orgulhosamente para ele, poupando um olhar um tanto confuso em direção a Durza.

— A missão foi cumprida, Galb. Creio eu que agora serei digno de sua confiança? – ele perguntou com a voz controlada e baixa.

Galbatorix deu a ele um sorriso sombrio, mas parecia genuinamente aliviado que Svider estivesse ali com ele, de forma que abraçou seu amigo de longa data com força e sussurrou ao ouvido dele.

— Você sempre foi digno de minha confiança, Svider. Eu só precisava de comprovação, sabia que não iria me decepcionar. – em seguida ele riu abertamente, parecendo mais feliz do que nunca.

— Onde nós estamos? – murmurou Eragon enquanto via Galbatorix apresentando Durza a Svider e Deloi, notando com curiosidade a tensão que se formava entre o cavaleiro castanho e o espectro.

— Acredito que Brom lhe contou que, depois que Galbatorix se uniu a um cavaleiro, juntos mataram um dos anciões como sua primeira tentativa de revolta e depois Galbatorix matou seu mais novo aliado sendo perseguido na floresta pelos cavaleiros durante anos, estou certo? – o espírito de Svider disse ao seu lado e sorriu quando Eragon assentiu – Galbatorix, então, fugiu para a floresta e se abrigou em lugares sinistros nos quais os cavaleiros não se atreviam a ir. Este era um deles, não lhe darei a localização exata de onde, pois não quero que pessoas se intrometam nesses lugares de magia negra e sejam corrompidas por ela, mas só posso lhe dizer que fica ao norte de Carvahall, por isso, quando seus pupilos forem para a Alagaësia, deixe claro que ninguém deve ir para aquela região, sim?

Eragon encarou-o por um momento antes de assentir com confiança, embora ainda tivesse muitas perguntas sem resposta, mas Svider não parecia inclinado a responder mais nada, portanto Eragon concentrou-se novamente na visão e decidiu esperar para ver o que aconteceria.

Deloi parecia inquieto por algum motivo e mudava o peso do corpo de uma para a outra o tempo todo e virando a cabeça para todos os lados.

— Incomodado com algo, Deloi? – Galbatorix perguntou inocentemente, embora seu semblante estivesse novamente sombrio, como se ele nunca houvesse sorrido em sua vida.

Há uma energia estranha aqui que não consigo identificar, mas ela incomoda. Deloi respondeu com um rosnado baixo.

— Deloi tem razão. – Svider concordou olhando do espectro para seu amigo em confusão e leve suspeita – Que energia é essa?

Em vez de Galbatorix parecer preocupado, ele sorriu novamente, entretanto foi Durza que respondeu, e Eragon franziu o cenho ao ouvir a voz odiada soando novamente, ele esperava nunca ter que ouvir essa voz de novo, mas o universo inteiro parecia caminhar contra ele a maior parte do tempo.

— Não se preocupe, cavaleiro. – Durza disse sem se incomodar em se dirigir a Deloi e ignorando a expressão sombria de Galbatorix quando a palavra “cavaleiro” foi pronunciada – Logo tudo fará sentido para você, esta energia de que você fala é o seu futuro, logo aprenderá a aprecia-la.

Com isso o espectro sorriu, seus dentes afiados ficaram a mostra e os olhos vermelhos brilharam perigosamente.

Eragon viu a desconfiança óbvia de Svider e Deloi para com o espectro na forma como o cavaleiro castanho estreitou os olhos e Deloi abriu um pouco as asas de forma ameaçadora.

— Venham, meus amigos. Temos muito o que fazer e  devo dar-lhes as boas novas de que já dei o primeiro passo para a reconstrução da Ordem. – Galbatorix disse enquanto colocava um braço sobre os ombros de Svider e o levava para dentro da mata com Durza olhando malignamente para Svider e depois seguindo-os. Deloi balançou-se nervosamente sobre as patas, mas depois os seguiu, olhando para trás de vez em quando só para ver a floresta se fechar ao seu redor como prova de que não havia como voltar atrás.

— Venha, Eragon – o cavaleiro castanho disse e uma nova porta apareceu à frente deles.

— O que aconteceu a partir daqui? – o jovem cavaleiro perguntou enquanto se encaminhavam em direção à nova porta.

— Bom, o que tem que saber é que Galbatorix me colocou a parte do que aconteceu enquanto estive fora na minha... missão.

— Você não contestou que ele havia matado um dos anciões?

— No começo sim... – Svider olhou nervosamente ao redor como se estivesse ansioso por sair dali – Mas como você ouviu, este lugar tinha uma energia estranha e diferente de tudo o que eu já havia sentido. Anos depois eu descobri que ela exercia influência sobre nossas mentes, principalmente as mais fracas, como a minha. Por isso ficou muito fácil para Galbatorix me convencer de que ele havia feito o certo. Afinal, de quem é a culpa se os cavaleiros não realizavam seu trabalho? Dos professores. De acordo com Galbatorix tínhamos que nos concentrar principalmente neles... e foi o que fizemos.

Ao terminar de falar Svider deu um suspiro triste, mas tentou sorrir um pouco tentando passar um pouco de confiança, ele falhou miseravelmente.

— A única outra coisa que deve saber que aconteceu aqui foi que Durza e Galbatorix ensinaram a mim e a Deloi artes das trevas antigas e esquecidas e é por isso que não vou mostra-las a você, porque...

— Há certos tipos de magia que devem continuar esquecidas. – completou Eragon ao lembrar-se do que Oromis sempre dizia a ele, e um sorriso triste se formou em seu rosto ao se lembrar de seu velho mestre. Será que havia alguma possibilidade de vê-lo novamente?

— Exatamente! – Svider disse com um brilho de reconhecimento nos olhos e sorriu verdadeiramente daquela vez.

Depois disso ambos atravessaram a porta e um novo lugar revelou-se diante de seus olhos.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eles saíram em meio a uma grande batalha que Eragon infelizmente reconheceu: a famosa batalha de Dorú Areaba, a luta que destruiu completamente a Ordem dos Cavaleiros de Dragões, salvo alguns poucos, que agora estavam mortos, Vrael e Galbatorix com seus Treze Renegados... E agora ele iria testemunhar esse genocídio...

Um crescente pânico começou a envolvê-lo, seu pai estivera naquela batalha e perdera seu dragão durante o ocorrido. Milhares de vidas foram perdidas, o mundo tornou-se um inferno. Talvez pela milésima vez em sua vida Eragon se perguntou como alguém poderia fazer aquilo, como alguém conseguiria espalhar tanta dor e sofrimento e difundir sua loucura para o resto do mundo? Uma onda de repulsa o envolveu, mas com ela veio a tristeza e, para sua surpresa, pena.

Gritos eram ouvidos por todos os lados e o som de metal conta metal era ensurdecedor. Árvores estavam em chamas e tremores eram sentidos por toda a ilha. Dragões voavam no céu, alguns tentando fugir, outros lutando implacavelmente contra seus inimigos, e outros atacando os de sua própria espécie. Eragon não conseguia ver nada além de sangue e sofrimento e seus ouvidos aguçados estavam preenchidos pelos gritos desesperados por ajuda, o som de metal e ossos se quebrando, o som da vida sendo drenada e desaparecendo. Ele se esforçou para se acalmar, mas sua respiração estava ofegante e ele cerrava os punhos com raiva por estar tão impotente e não poder ajudar aquelas pessoas. Por mais que tentasse, não conseguia desviar o olhar da carnificina ao seu redor e era obrigado a vê-la.

— Não sei se vai querer ver isso, Eragon, mas Brom está atrás de nós nesse exato momento... – Svider disse hesitantemente com a voz tremida e suspirou quando Eragon virou-se tão rápido que o pescoço de qualquer um teria partido no processo.

O jovem cavaleiro prendeu a respiração enquanto via seu pai lutando bravamente contra um cavaleiro que Eragon supôs ser Morzan pela semelhança física que existia ente ele e Murtagh. Ele observou com horror crescente ao ver que Brom lentamente recuava, e Morzan o atacava com cada vez mais força, vendo que sua luta estava ganha, talvez seja por isso que ele começou a rir loucamente e seus olhos, um de cada cor, brilharam como duas tochas em uma noite escura.

Eragon gritou quando viu Brom cair para trás ao tropeçar no corpo de um cavaleiro morto, mas somente depois percebeu que havia gritado mentalmente, pois de sua boca não era possível retirar nenhum som. Morzan avançou impiedosamente em direção a ele com Zar’roc erguida acima de sua cabeça, entretanto o golpe nunca veio, pois naquele instante um dragão azul desceu do céu e pousou pesadamente em meio à briga, jogando Morzan para longe em direção a uma pedra.

Eragon não precisava que ninguém lhe dissesse quem era aquele dragão.

Saphira.

Morzan parou subitamente de ser lançado para trás assim que sussurrou um feitiço e evitou que batesse na pedra que, sem dúvida, o teria matado. Ele pousou no chão suavemente e gritou de forma enlouquecida. Eragon conseguiu ouvir o som nitidamente, acima de todos os outros sons da batalha.

— Ora, ora! Se não é meu velho amigo Brom tendo que recorrer ao seu dragão porque não consegue se defender sozinho. O que foi? Esqueceu que deve obedecer aqueles que são superiores a você? Parece que sim, já que o fazia quando era jovem. Você era muito mais sábio naquela época! Curve-se, Brom, e talvez eu o deixe viver!

— Nunca! – Brom gritou, erguendo-se rapidamente. Com Undbitr em punho, correu em direção a Morzan, murmurando feitiços a todo o momento, mas nenhum conseguia passar pelas barreiras do outro. Morzan só estava jogando com ele. Saphira corria logo atrás, mas então o Dragão de Morzan pousou a frente dela, impedindo-a de entrar na luta e ajudar seu cavaleiro, mas logo ela também precisava de ajuda quando o dragão maior começou a ataca-la implacavelmente.

A luta continuou por mais alguns momentos até que o cavaleiro vermelho ergueu uma mão e uma luz vinho saiu dela.

— Letta! – Brom ficou parado no lugar, completamente impossibilitado de se mover, assim como Saphira. Ela se contorcia no ar e tentava se soltar, mas não conseguia se mover um centímetro longe de sua posição.

Morzan se aproximou lentamente de Brom e disse em baixo tom, mas Eragon conseguiu ouvir claramente.

— Tão fraco... Galbatorix tem razão em extinguir essa Ordem, uma nova surgirá em breve, pena que você não estará lá para ver.

Morzan, então, ergueu Zar’roc e a apontou para o coração do cavaleiro, Saphira rugiu em desespero. Então um grito feminino partiu de algum lugar atrás do confronto.

— Blöthr! – Eragon viu Morzan ficar completamente parado, e sua concentração foi quebrada por tempo suficiente para que Brom escapasse e tropeçasse para longe, tentando encontrar sua espada que havia caído pouco tempo antes. Eragon virou-se para ver quem havia gritado e se deparou com Miwin, que naquele momento fugia de outro Renegado.

Morzan rosnou quando Saphira também escapou e conseguiu quebrar o feitiço que já havia enfraquecido. Brom não havia encontrado sua espada, e o Cavaleiro vermelho avançava para ele, assim como seu dragão, ambos esquecidos da presença de Saphira, então ela rugiu em desespero e se lançou a frente de seu cavaleiro encurralado no mesmo momento em que seus inimigos combinavam forças para um ataque mortal. O golpe que era para Brom a acertou e ela caiu aos pés deles completamente imóvel.

— Não! – Brom gritou em agonia, caindo ao lado dela e a abraçando, mas Saphira não estava mais ali... Ela tinha ido embora para sempre...

Morzan riu loucamente e não viu o olhar assassino que Brom dirigiu a ele em meio aos gritos de dor e perda.

— Rïsa – Morzan murmurou as rochas que estavam atrás deles se ergueram ao seu comando parando acima de Brom que ainda estava abraçado a Saphira – Junte-se a ela agora, mas as coisas poderiam ter sido diferentes para você.

Com isso ele liberou a magia que fazia as pedras levitarem e elas caíram em cima do cavaleiro e seu dragão. A última coisa ouvida antes do barulho ensurdecedor das rochas contra o chão foi o grito de ódio que partiu da garganta de Brom.

 - Como ele conseguiu sobreviver a isso?! – Eragon exclamou ao virar o rosto para evitar ver a cena.

— Bom... – Svider começou coçando a cabeça e dando um sorriso tímido – Creio que seus amigos Eldunarí que estavam escondidos sob a ilha tiveram alguma participação nisso.

Eragon olhou-o com os olhos arregalados em surpresa. Como ele sabia?

— Como... Como?

— Eu os senti. Galbatorix estava muito ocupado à busca de Vrael para notar, mas os velhos dragões não estavam adormecidos ainda, e eu consegui senti-los rapidamente. Embora não tive a menor vontade de contar ao meu amigo sobre isso. Eu tinha um pressentimento de que não deveria, talvez fosse alguma premonição, mas eu não disse nada a Galbatorix. – Svider sorriu tristemente, mas seus olhos azuis estavam marejados, ele temia não ter força o suficiente para ver essa memória mais uma vez, e rezou para que fosse a última – Venha, é para ver essa cena que eu o trouxe aqui.

Eles seguiram lado a lado em meio à sangrenta luta, e Eragon tentava não olhar o que acontecia a sua volta. A lembrança da luta de Brom com Morzan ainda o assombrava. O grito de angústia de seu pai quando Saphira caiu morta a seus pés ainda ressoava repetitivamente em sua memória. Isso somado a verdadeira carnificina ao seu redor o deixava enjoado e em pânico. Se Svider não estivesse ali ele teria enlouquecido! Então, ele finalmente parou para pensar no quanto confiava no cavaleiro a sua frente, mas ele não conseguia entender de onde vinha toda aquela confiança. Por que Svider o havia levado ali, afinal?

Ele foi subitamente arrancado de seus pensamentos quando o volume dos gritos aumentou de intensidade, e Eragon não queria saber o que havia causado aquilo.

Os dois subiram em uma colina elevada na borda do vale. Ela era mais alta do que parecia, se elevando muito acima do solo onde a batalha acontecia, e Eragon notou com choque que no chão havia vários corpos de cavaleiros e dragões mortos, o sangue escorria por suas feridas, e seus olhos estavam vidrados e vazios. Eragon desviou o olhar lembrando-se subitamente da visão que tivera em Yazuac quando urgals atacaram a cidade e mataram seus habitantes, empilhando-os em uma grande pilha no centro. Ninguém fora poupado, nem mesmo as crianças ou os idosos. Aquela lembrança juntando com a memória a sua frente o forçou a parar por alguns minutos tentando acalmar os nervos e deixar tudo o que havia em seu estômago no lugar.

Falta pouco... Ele disse a si mesmo. Só preciso aguentar mais um pouco e sairemos daqui.

Por fim, Eragon estacou quando seus olhos finalmente encontraram o que Svider viera mostrar-lhe ali.

Miwin e Aiedail estavam uma ao lado da outra e olhavam completamente chocadas para Deloi e Svider, que as encaravam de volta, nem notando o que acontecia a sua volta.

— Vocês morreram... – Miwin sussurrou, mas sua voz ainda era audível acima do clamor da batalha – Estão desaparecidos há anos! O que aconteceu com vocês?!

 Svider inclinou a cabeça para um lado, como se tentasse acreditar no que ela havia dito.

— Anos? Mas, pareciam meses... – ele sussurrou aturdido.

— Onde você esteve?! – Miwin gritou desta vez.

— Eu estava... Fazendo o que era melhor para a Ordem. – ele disse um tanto hesitante.

— Por que não me falou? Eu teria ficado mais tranquila se soubesse que vocês estavam... – ela parou de repente e olhou-o com os olhos arregalados – Mas como vocês estavam fazendo o que era melhor para a Ordem se os mestres também pensavam que estavam mortos? Nós fizemos cerimônias em sua homenagem! O que você fizeram? Por que estão aqui? Por que Mirovir está banhada em sangue? O quê...

Ela parou e olhou-os horrorizada. Aiedail, aparentemente, chegou à mesma conclusão, porque rosnou ameaçadoramente e balançou a cauda de um lado para o outro.

— Vocês se uniram a Galbatorix... Como puderam?! – Miwin parecia fora de si, ela não conseguia encarar Svider sem que lágrimas de raiva, medo e decepção embasassem sua vista.

Svider suspirou e tentou dar um passo em direção a ela, mas Miwin recuou e apontou sua própria espada para ele, fazendo com que este parasse onde estava e a olhasse friamente.

— Galbatorix tem razão, Miwin. Será que você não consegue enxergar isso? – Svider perguntou.

— Como ele pode ter razão?! – Miwin gritou de volta – Olhe ao seu redor! Realmente acha que isso está certo? Olhe essa carnificina! É isso que significa ser um cavaleiro para você?

— Estamos limpando a Ordem daqueles que não merecem estar nela.

— Que direito você tem de dizer quem merece ou não estar aqui?

— Eu faço parte dessa Ordem e tenho o direito de fazer o que for melhor para ela! – Svider gritou de volta, a frieza em seu olhar tornou-se puro ódio, fazendo Miwin recuar um pouco. Aiedail encarou Deloi profundamente antes de se inclinar par frente como um gato prestes a dar o bote.

— É isso que é o melhor para a Ordem?! – ela gritou desesperada, lágrimas começando a cair por seus olhos – Vocês estão nos matando! Como pôde concordar com isso?

— Você não precisa sofrer isso. Fique ao meu lado e será recebida com honra em nossa nova Ordem, onde os cavaleiros não abusarão de seu poder e a verdadeira paz será restaurada.

— E você estará acima dos outros. – Miwin completou, olhando-o com descrença.

— Estarei em meu lugar de direito! – estalou Svider com mais raiva do que antes, cerrando as mãos em punhos.

— O que aconteceu com você? – ela murmurou olhando-o com desespero, mais lágrimas escorriam por sua face – Esse não é Svider que eu conheço e que amo ainda mais do que um irmão...

— Eu vi a verdade, Miwin. Venha comigo e tudo ficará claro para você também. – ele murmurou com uma expressão mais suave, estendendo a mão para ela.

— Não! – ela gritou e deu vários passos para trás, parando na beirada da colina – Você não.... Eu não sei mais quem você é! O Svider que eu conheço nunca permitiria que alguém sofresse por suas ambições!

— Você não sabe o que diz! – Svider gritou e foi acompanhado por um rugido frustrado de Deloi. Eles precisavam fazê-las entender!

— Eu sei sim! Você foi para um caminho que eu não posso seguir! Esqueceu-se de todos os bons momentos que passou na Ordem, esqueceu-se de seus mestres, esqueceu-se de seus amigos... de mim!

— Pare de dizer isso!

— Nunca vou segui-lo por esse caminho! – ela gritou com raiva e mais lágrimas caíram – Mas você pode parar com isso, pode ficar comigo e poderemos salvar a Ordem dessa loucura! Podemos derrotar Galbatorix e...

— Chega! – uma nova voz soou e os quatro, cavaleiros e dragões, viraram-se em direção ao som. Galbatorix olhava-os com certa doze de divertimento e Shuruikan erguia-se imponente atrás dele, os olhos azuis brilhando em loucura. Galbatorix sorriu e limpou distraidamente sua espada pingando sangue em um punhado de grama antes de ordenar – Matem-nas.

Svider engasgou e olhou de Galbatorix para Miwin com o rosto confuso.

— Mas Galb... nós vamos convence-las do contrário e...

— Não, Svider, elas foram contaminadas pela Antiga Ordem e devem perecer, não têm lugar em nosso mundo. Você sabe disso. – Galbatorix não se virou para trás quando um cavaleiro veio correndo em sua direção, a única coisa que o Rei Tirano fez foi erguer a mão e de repente o cavaleiro se dissolveu em cinzas – Faça o que tem que fazer, meu amigo. – ele continuou calmamente antes de montar em Shuruikan e alçar voo, por onde passavam dragões caíam e ficavam estranhamente imóveis no campo de batalha. Eragon não precisava de nenhum palpite para saber o que o cavaleiro negro iria fazer: ele iria atrás de Vrael, e Eragon já sabia como essa história terminava, só de pensar nisso ele estremeceu.

Enquanto Svider e Galbatorix conversavam, Miwin havia montado em Aiedail, e as duas haviam fugido dali o mais rápido possível. Svider olhou-as fugindo e correu praguejando para Deloi. Logo os dois as perseguiam rapidamente.

Eragon viu-se sendo erguido e sentando-se em uma das asas de Deloi enquanto o espírito de Svider sentava-se na outra. O jovem cavaleiro encarou-o por um momento para evitar olhar para a carnificina lá em baixo e constatou que o cavaleiro castanho tinha lágrimas escorrendo por seu rosto. Involuntariamente Eragon lembrou-se do que o Eldunarí de Aiedail lhe mostrara. Droga! Ele iria ver a morte delas? Justo agora?

— Vamos, Deloi! Elas não podem escapar agora! – Svider gritou e se inclinou para frente nas costas de seu dragão.

Eragon fechou os olhos e respirou fundo várias vezes para tentar se acalmar como Oromis o havia ensinado, mas a enormidade de sofrimento que se passava abaixo dele e o medo de ver o que aconteceria a seguir era quase o suficiente para que ele quisesse se desfazer no espaço e no tempo para nunca mais ter que ouvir gritos de desespero em sua vida.

Eles voavam mais rápido do que poderia se imaginar ser possível e Eragon supôs que era alguma espécie de magia negra que fazia isso, mas não tinha a menor vontade de perguntar o que era. O vento fazia seu cabelo castanho chicotear em seu rosto, provocando picadas de dor que serviram para distrai-lo por um tempo. Muito pouco tempo.

Logo alcançaram Miwin e Aiedail. Elas, como se soubessem que não havia como fugir, deram meia volta e voaram em direção a eles. Quase no mesmo momento, Aiedail soltou um enorme jato de fogo esverdeado em direção a Deloi, mas o fogo se dividiu a volta deles quando bateu em um poderoso escudo de magia.

Quando Eragon não teve mais sua visão obscurecida pelo fogo, teve que se segurar com força na asa do dragão marrom para que não caísse, já que ambas as feras se chocaram no ar. Garras com garras e as bocas escancaradas tentavam encontrar um lugar em seu inimigo para que pudessem feri-lo. Svider e Miwin sacaram suas espadas e começaram sua própria luta.

Eles giraram no ar, perdendo altitude a cada segundo, mas Eragon sabia o resultado, e isso já fazia seu peito se apertar para conter as lágrimas.

Os dois dragões se desvencilharam há poucos metros do solo e subiram a toda a velocidade, mas Deloi era mais rápido e logo lançou-se em direção a Aiedail, que não tinha espaço para desviar ou fugir. O dragão marrom cuspiu um jato de fogo alaranjado que as alcançou e aos poucos se dividiu a sua volta, mas Eragon sabia que era uma batalha perdida, e isso só se comprovou ao ver como o escudo a volta de Aieadil estava fraco. Elas não tinham chance.

As duas feras se emparelharam novamente e Svider ergueu sua espada para mais um golpe, que Miwin defendeu com dificuldade.

— Por que está fazendo isso?! – ela gritou em desespero e fúria.

— Porque você não me deu escolha! – ele respondeu e a atacou com força renovada.

A luta continuou por mais vários minutos até que o escudo em volta de Aiedail se rompeu e Deloi a mordeu com força, fazendo com que o belo dragão esverdeado e sua cavaleira gritassem de dor em conjunto.

Svider aproveitou aquele momento para cortar as amarras que prendiam Miwin, fazendo com que ela caísse no campo abaixo. Svider soltou-se e pulou atrás dela, deixando seus dragões em sua própria luta. No último segundo ele suavizou a queda dos dois, somente para começar a atacar Miwin antes mesmo que ela conseguisse se erguer do chão. Acima deles seus dragões voavam um em direção ao outro novamente, mas Aiedail já havia perdido muito sangue.

Miwin conseguiu se levantar e tentou se defender dos golpes insanos que Svider lhe dirigia, mas ele era muito rápido, e ela estava cansada.

Eragon observou em horror acima da asa de Deloi quando Svider encontrou uma abertura na defesa de sua antiga amiga e a aproveitou... o corpo de Miwin caiu molemente no chão, uma espada amarronzada perfurando seu coração. Seus olhos arregalados encararam Svider por alguns momentos antes de se fecharem pela última vez.

Aiedail gritou em desespero e desta vez Eragon a acompanhou, lágrimas de choque escorreram por seu rosto. Deloi a viu se distrair em sua dor e rapidamente mordeu-a no pescoço, fazendo com que a vida de seu corpo se desvanecesse em um instante, mas ela, inconscientemente, transferiu sua consciência para seu Eldunarí, e ali se escondeu em sua própria dor e solidão.

Deloi pousou ao lado de Svider em frente aos corpos imóveis daquelas que antes era suas melhores amigas e Eragon escorregou para o chão, caindo de joelhos em seguida, com lágrimas escorrendo pelos olhos. Seu corpo todo tremia, e ele não conseguia retirar as imagens de sua cabeça... Como eles... Não, chega. Eu tenho que me controlar! Não posso mudar isso, já aconteceu! Ele gritou em sua própria mente.

Svider piscou de repente, como se houvesse estado em transe durante a luta, e olhou para os cadáveres com os olhos arregalados, assim como Deloi. O cavaleiro caiu de joelhos com lágrimas silenciosas escorrendo por sua face e seu dragão se juntou a ele, mas nenhum dos dois disse uma palavra sequer.

Eragon virou-se em fúria para o espírito ao seu lado com a intenção de gritar com ele até que seu peito explodisse. Depois de toda essa carnificina Svider ainda esperava que ele fosse ajuda-lo? Entretanto, ele parou quando viu o cavaleiro castanho ajoelhado no campo ensanguentado com as mãos em volta da cabeça. Mas havia algo errado com ele... Suas mãos estavam desaparecendo!

— Svider! – Eragon gritou, correndo para o lado dele. Seu grito foi estranhamente alto e ele notou que todos os sons de luta haviam acabado. A Batalha de Dorú Areaba havia se encerrado, mas o jovem apenas correu de encontro ao outro, preocupado – O que está havendo?

— Eu... Eu não posso! Eragon, tire-me daqui! Por favor, tire-me daqui! – ele gritou, seus pés começaram a sumir também.

— O quê? – Eragon gritou confuso – Como eu faço isso?

— Pense... – o outro murmurou debilmente.

Pensar?! Pensar em quê?! Eragon murmurou em sua cabeça, mas se esforçou em encontrar uma solução, embora ele não tivesse a menor ideia de qual era o problema.

Ele ouviu os passos se aproximarem da cena. Era um homem alto de cabelos e olhos castanhos que se aproximava lentamente de Svider e Deloi.

— Vocês fizeram bem. – disse o Renegado com nada mais do que indiferença na voz – Agora retirem o Eldunarí dela e vamos, nossa vitória foi conquistada aqui.

Svider assentiu tristemente e ergueu uma mão para Aiedail. O Eldunarí esverdeado estava quase completamente apagado quando saiu flutuando da garganta do dragão.

A atenção de Eragon foi subitamente desviada da cena quando o Svider ao seu lado gritou de dor. O que ele poderia fazer?!

— Vencemos! – ele ouviu Morzan gritar em algum lugar distante em alegria doentia. Os outros Renegados começaram a rir e gritar em comemoração e seus dragões rugiam. O resto do lugar estava em silêncio mortal e o feitiço que tornaria a ilha envenenada e inóspita avançava rapidamente em forma de névoa sobre os corpos mortos.

— Não! Ainda não vencemos! Vrael escapou! – Galbatorix gritou de volta, enlouquecido.

Ele montando em Shuruikan e partiu da Ilha antes que o feitiço o alcançasse. Svider colocou o Eldunarí de Aiedail cuidadosamente em um de seus alforjes e alçou voo com Deloi, abandonando as ruínas de um lugar que antes era símbolo de paz e ordem, mas agora não era nada além de ruínas.

O espírito de Svider gritou novamente, mas o grito era mais fraco que o anterior e seus braços estavam começando a se tornar transparentes também. Enquanto isso, uma palavra continuava a soar na mente de Eragon.

Vrael.

Essa foi a última coisa que Eragon pensou antes que um vento forte soprasse e o mundo se dissolvesse em uma aura azul a sua volta.

~~~~~~~~~~**~~~~~~~~~~

Eles estavam em uma fortaleza estranha esculpida em pedra, que parecia mais um posto de vigilância, e, como Eragon percebeu, estavam há vários metros de altura. O clima estava frio e uma névoa espessa envolvia o lugar... o lugar que Eragon lembrava-se vagamente, como se o visse através um sonho.

Mas ele não se ocupou com isso por muito tempo e correu para ajudar Svider que estava deitado ofegante há alguns metros dele. Seus membros estavam começando a ficar visíveis novamente, mas ele parecia completamente drenado. Gotas de suor estavam em sua testa e os cabelos louros estavam úmidos e grudados em seu rosto. Os olhos azuis estavam firmemente cerrados.

— Svider... ? – ele perguntou hesitante enquanto se ajoelhava ao lado do cavaleiro castanho. Ao olhar para ele as lembranças da carnificina anterior e os gritos de Miwin vieram a sua mente, mas agora, olhando para Svider ele sentiu-se impotente de sentir raiva dele, assim como não havia sentido de Galbatorix quando lutara contra ele, só havia pena. E pena era o que sentia do cavaleiro castanho naquele momento.

— Eu estou... estou bem, garoto. – o outro disse ofegante, colocando um braço sobre a cabeça e suspirando repetidas vezes.

— O que aconteceu com você lá atrás? Você estava sumindo!

Ele sorriu fracamente e retirou o braço para poder olhar para Eragon. Os olhos azuis estavam completamente nublados com dor, mas ele se esforçou para tentar passar confiança para o jovem cavaleiro. No fundo ele estava impressionado que Eragon havia conseguido retira-los daquele inferno, do lugar onde ele matara... Chega! Svider repreendeu a si mesmo.

— Eu disse a você que não posso sair de meu próprio passado, não é?

Eragon assentiu confuso.

— Como você acha que é ficar revivendo seus erros e piores momentos de toda a sua vida infinitas vezes? – Svider murmurou cansado – Como você se sentiria se visse o tempo todo a si próprio matando sua... sua melhor amiga? Não teria vontade de deixar de existir também?

Eragon ficou calado por vários momentos com uma dúvida martelando sua mente com força, mas ele tinha medo de perguntar.

— Mas você... você já não está...

— Morto? – Svider completou e sorriu minimamente quando Eragon assentiu – Posso dizer que a resposta é sim e não. – ele riu suavemente quando os olhos do jovem se estreitaram em confusão – Meu corpo físico não existe mais há muito tempo, mas meu espírito está preso aqui, de modo que não posso ir para onde todas as almas vão. Ou seja, não estou morto e nem vivo por completo.

Eragon assentiu vagamente, não querendo se aprofundar no assunto. Em vez disso ele se concentrou em examinar seus arredores, a sensação de familiaridade ainda o incomodava. Que lugar era aquele?

— Estamos em Utgard, se é isso o que quer saber. – Svider murmurou enquanto se erguia com certo esforço do chão frio. Eragon se lembrou de que havia visto esta fortaleza de vigia quando saiu do Vale Palancar com Brom... Fazia tanto tempo – Você foi extremamente bem ao nos trazer aqui, devo admitir que não tinha esse controle com o passado quando lancei o feitiço. Foi impressionante.

— E... Quando estamos? – Eragon perguntou sem dar muita importância ao elogio.

— Na época em que Galbatorix encontrou Vrael aqui e o matou. – Svider disse com um suspiro – Venha, já está acontecendo.

Svider andou para frente e Eragon o seguiu de perto, logo os sons da batalha foram ouvidos.

Eles viram duas silhuetas em contraste com a névoa, suas espadas se chocavam com ferocidade enquanto os dois seres se empenhavam em realizar aquela dança mortal. Eragon conseguiu distinguir quem lutava: Galbatorix, que parecia enfurecido e estranhamente feliz ao mesmo tempo; e Vrael, o Líder da Ordem dos Cavaleiros de Dragões. O elfo mancava em um dos lados, mas qual dos Eragon não poderia ter certeza pela rapidez com que ele se movimentava. Seu rosto estava banhado de suor, com alguns fios de cabelo grudados na testa mortalmente pálida.

Ao fundo Eragon também viu um terceiro. Era um homem com pouca barba, olhos azuis e cabelo louro longo preso em um rabo de cavalo: Svider. Ele observava tudo como uma sombra de Galbatorix, mas seu rosto estava frio como pedra, embora ele parecesse um pouco abatido.

O jovem cavaleiro observou com horror quando a luta continuava cada vez mais desfavorável a Vrael e quase gritou ao ver Galbatorix dar um chute entre as pernas do elfo.

Vrael caiu de joelhos em frente à Galbatorix, no entanto, não foi a ele que seu último olhar se voltou. Vrael olhou para Svider e murmurou poucas palavras, mas com uma voz firme e pacífica, ignorando sua morte iminente.

— Você é dono de seu próprio destino.

Então Galbatorix ergueu sua espada e o decapitou com um único golpe.

Enquanto o corpo caía molemente para o chão, Galbatorix olhou para Svider com uma sobrancelha erguida.

— Se o que ele disse fosse verdade, então ele não soube cuidar de seu destino como deveria. Sei qual é meu lugar, Galb. Não tema com relação a minha lealdade. – Svider murmurou firmemente.

Então Galbatorix sorriu e se aproximou se Svider, colocando uma mão em seu ombro.

— Nós vencemos, meu amigo. Tudo o que sonhamos finalmente se realizou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que acharam do capítulo?
Nos vemos em breve^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eragon: Wyrda un Moi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.