Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 21
The heart wants what it wants.


Notas iniciais do capítulo

OIEEEE MEUS PADAWANS LINDOS!

Primeiramente, #ForaTemer.
Em segundo lugar, muito muito muito obrigada Bruna e Dama do Caos pelas recomendações lindas. Era pra eu ter ficado estagnada nesse capítulo muito mais tempo, mas lendo essas palavras tão preciosas recomendando minha história e demonstrando o carinho de vocês por ela, como não desempacar? Eu demorei, mas eu consegui! Fica aqui minha gratidão e a dedicatória desse capítulo super destruidor de corações pra vocês.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa. Capítulo betadíssimo pela Kida, minha beta maravilinda!! Aproveitem e divirtam-se!



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Chapter twenty one –


“I found love where it wasn’t supposed to be,
Right in front of me
Talk some sense to me...”


5 anos atrás –


Clarke amava o feriado de 4 de Julho.

Desde que se entendia por gente era uma tradição passa-lo em Savannah, no rancho dos Griffins, com todos aqueles que faziam com que seu sorriso se alargasse tanto que fazia suas bochechas latejarem.

Eram os fogos de artifício, o pôr do sol em volta da fogueira, as memórias que vinham com cada um desses momentos.

Como quando Octavia quebrou o braço esquerdo ao cair dos ombros de Jasper, perdendo assim uma disputa acirrada de ‘Quem cair primeiro perde’. Ou quando Monty bebeu demais e acabou dedurando o namoro secreto de Wells com uma das líderes de torcida mais odiadas do último ano.

E claro, era essencial que em algum momento, alguma briga entre os irmãos Blake acontecesse.

Octavia empurraria Bellamy do píer, e então cruzaria os braços e desceria bufando como um touro raivoso.

Até o momento nada disso havia acontecido. Seu pai ainda não havia pegado seu violão e puxado alguma música do Guns n’ Roses. Octavia e Bellamy não pareciam muito empenhados em iniciar mais uma de suas discussões calorosas sobre o que era certo ou não. E tudo parecia estranhamente fora do lugar.

“Nós deveríamos fazer diferente esse ano.” Monty se sentou ao lado de Clarke, olhando em direção ao grande lago à sua frente. “Deveríamos ir para Tybee beach e fazer nossa fogueira lá.”

Clarke marcou a página de seu livro e então o deixou de lado, apertando ainda mais a toalha que cobria seus ombros. Água vinda do lago, espirrando incessantemente sobre ela estava consumindo uma grande porcentagem da pouca paciência que lhe restava.

“A fogueira já está montada, Monty. Vamos acendê-la assim que Finn, Monroe e os Jaha chegarem. Minha mãe está bastante empenhada nas suas tentativas culinárias esse ano, seria demais para ela ter os planos cancelados de última hora.” Mais gotículas respingaram em seu rosto, e dessa vez, se espalhavam também pela capa de seu livro. “Dá para parar? Quantos anos você tem? Cinco? Mas que droga, Bellamy!”

“Princesa, não seja ranzinza.” O moreno sorriu abertamente, saindo lentamente do lago vestido apenas em sua bermuda, chacoalhando os fios negros de seu cabelo freneticamente. “Um pouco de diversão não mata ninguém. Sabe o que eu fiquei sabendo que pode matar? Tédio!”

A Griffin sugou uma lufada de ar, a tentativa de oxigenar seu cérebro não teve exatamente o efeito que ela esperava. Ela estrangularia Bellamy Blake algum dia, e ninguém poderia culpá-la.

“Quem disse que meu livro não é divertido?” Uma de suas sobrancelhas loiras se arqueou desafiadoramente. “Logo você, o rei dos nerds, amante da mitologia grega e império romano. Oh, por favor!”

Bellamy riu nasalado, avistou Octavia e Jasper saindo da água e então prendeu novamente os enigmáticos olhos escuros repletos de escárnio na loira a sua frente.

“Oh Princesa, você realmente sabe direitinho o caminho para o meu coração.” Seus lábios se esticaram no típico sorriso debochado, ressaltando a covinha em sua bochecha e o brilho de divertimento em seu olhar.

“Tybee beach é uma ótima ideia.” Jasper se manifestou, só então notando a expressão confusa de Monty. “Eu estava ouvindo, nós não estávamos tão no fundo assim. E tem milk-shakes no centro, só trinta minutos da praia. Vocês sabem, milk-shake.”

“Ninguém liga, Jordan.” Bellamy revirou os olhos, a ausência de sua irmã não passando despercebida. “Onde Octavia foi?”

“Disse que tinha que buscar algo na mala.” Jasper deu de ombros. “Eu aposto que Jake e Abby não se importariam de diversificar um pouco a comemoração desse ano.”

“Nós não vamos modificar a tradição de sempre para que você tenha seus milk-shakes de morango, Jasper.” Miller se manifestou pela primeira vez, vindo da casa com um pacote de batatas fritas. “Seria muito egocêntrico da sua parte, não acha?”

Monty olhou para o amigo, assistindo-o desempenhar sua típica performance de desdenho, usada apenas em casos em que sua vontade era contrariada pela maioria. E naquele caso em especial, Nathan Miller sempre seria considerado maioria.

Oh, a bendita diferença de idade.

“Tanto faz, Nathan.” Jasper desestimou. “Se pelo menos Wells estivesse aqui para apoiar essa ideia brilhante...”

Clarke se sentou novamente, ignorando toda aquela conversa fiada e bastante determinada em voltar para seu livro. Até que o sol estivesse perto de se pôr, se jogar naquele lago não estava bem em seus planos.

Pelo menos era isso o que ela pensava antes de Bellamy puxá-la para seus braços e carrega-la em seu colo até o píer como um bebê.

“O quanto você anda comendo, Princesa? Está na hora de começar uma dietinha.”

A loira se remexeu, esperneou, gritou, xingou. Nenhuma das suas reações teve efeito. Ela havia feito uma nota mental para perguntar a Octavia que tipo de anabolizantes aquele garoto estava tomando, sua força era algo fora do normal.

“Me solte, Bellamy, droga, eu não estou brincando! Me solte!” Esbravejou, frenética. “Eu juro que quando eu descer daqui você pode esquecer a sua capacidade de procriar! Está me ouvindo? A próxima geração de Blakes virá toda do útero de sua querida irmãzinha! Você não vai ter filhos, eu vou me certificar disso!”

O Blake riu, olhando para o horizonte ao longe. O céu pintado em um tom alaranjado fascinante onde os fogos de artifício logo começariam a se destacar. Ele não era capaz de explicar a paz que sentia naquele instante, mesmo que Clarke estivesse muito empenhada em fazê-lo derrubá-la.

“Oh Princesa, eu realmente não imaginava que você fosse tão pretenciosa assim.” Lentamente ele a colocou no chão, sentindo um soco muito mais potente do que todos que ela havia lhe desferido arder no lado direito de seu peito. “Outch! Não sabia que nessa sua cabecinha mirabolante poderia existir a possibilidade de ser a matriarca dos Blakes um dia. Não seja por isso, eu não tenho intenção alguma de procriar.”

Havia uma grande ruga de exasperação entre as sobrancelhas de Clarke, o que fez algo no estômago do moreno tintilar em pura satisfação. O quão adorável poderia ser aquelas bochechas ruborizadas de pura raiva? Ela era completamente encantadora.

A forma que ela o olhava poderia fazer uma pessoa entrar em modo de autodestruição. E ele poderia jurar que aquele seria seu último dia de vida na Terra, até que o primeiro de uma sequência incrível de fogos de artifício brilhou no horizonte.

Clarke e Bellamy permaneceram compenetrados demais na visão diante de si para notar Octavia com sua câmera em mãos, bastante preparada para as milhares de fotos que ela tiraria aquela tarde. Começando ali, por eles, pelo estado de pleno fascínio que eles expressavam em suas feições.

“Ele não vai vir.” O Blake murmurou contemplativo, só então notando o breve olhar que a loira lhe direcionou. “Finn.”

Ela respirou fundo mais uma vez naquele dia, prendendo sua atenção na visão incrível que tinha diante de si.

“Eu sei.” O sorriso sucinto não foi suficiente para demonstrar qualquer emoção.

A raiva foi deixada de lado, e se pelo menos Clarke olhasse para cima por um instante, talvez ela pudesse perceber toda a admiração que aqueles olhos castanhos lhe direcionavam.

A luminosidade dos fogos de artifício dançava ao se refletir no doce azul daquelas íris, e sem sequer notar, ele se encontrava cativado. Preso na imagem tão linda que seu consciente fazia questão de guardar em sua memória como o mais agradável dos souvenirs.

Se por um momento ela levantasse seu olhar, talvez ali ela descobrisse que para Bellamy Blake, daquele dia em diante nada mais seria tão belo quanto ela.



Dias atuais –


A sensação era de uma queda livre.

Não havia paraquedas, não havia um final, uma barreira, um chão. Era livre, pacífico, libertador. O frio na boca de seu estômago e a sensibilidade em seus sentidos definiam perfeitamente aquele sentimento.

Não havia nada como aquilo.

Não havia nada como o coração dela batendo, sereno, contra seu peito, aqueles lábios pressionados em seu pescoço. A respiração estável embalando seu sono profundo, a paz inundando cada canto daquele quarto.

Bellamy entreabriu os olhos escuros, não se incomodando tanto com a luz fraca que penetrava pelas cortinas ao anunciar o nascer do sol. Os dedos acariciando as mechas douradas daquele cabelo, a fragrância floral inebriando seu olfato.

Ele poderia se acostumar com aquilo. Tê-la em seus braços, sentir seu cheiro, compartilhar com ela seu calor, seu amor. Conhecer cada parte de seu corpo, e em cada curva e em cada beijo ser capaz de realizar uma nova descoberta.

Admirar as nuances azuladas em suas íris e o quanto elas podem transmitir com apenas um olhar. Um gesto tão simples capaz de preencher todas as lacunas de seus questionamentos, tão significativo e cheio de acepções que dentro de si sua mente se cala. Somente a imagem dela permanece. Somente ela.

A calmaria nunca foi tão reconfortante. Nunca foi tão difícil evitar um sorriso.

Clarke balbuciou algo incompreensível, se aconchegando ainda mais no corpo do moreno.

Um barulho estranho interceptava o silêncio, contínuo e impertinente. O cenho de Bellamy se franziu ao tentar erguer seu dorso o suficiente para que pudesse localizar de onde ele vinha e não acordar a loira que se aninhava em seu corpo no percurso.

O fracasso foi eminente quando os olhos azuis da Griffin começaram a despertar, sonolentos. Ela inalou uma lufada de ar, seu queixo se apoiando no abdômen bem trabalhado do moreno.

“Tentando fugir, Blake?” Ela bocejou, a moleza vinha como consequência das poucas horas de descanso.

“Acha mesmo que isso seria possível?” Bellamy acariciou as bochechas levemente rosadas, o sorriso esticando um dos lados de sua boca. “Volte a dormir, Princesa. A noite foi longa.”

E lá estava o apelido que ela tanto detestava sendo usado com tanto carinho, nutrindo ainda mais a sensação que deixava a boca de seu estômago tintilando.

“Não consigo, seus pensamentos estão muito altos.” Clarke fitou por alguns instantes o olhar vago do Blake, não gostando nem um pouco do que passava por sua própria cabeça. “A realidade está batendo? Está arrependido? Porque você sabe que...”

“Não, nem um pouco!” Interrompeu ele, tocando seu rosto e deslizando seu indicador por seu pescoço, parando apenas ao encontrar as duas covinhas na parte mais baixa de suas costas. “Essa possibilidade não existe. Eu nunca vou esquecer o que a gente viveu aqui essa noite, Clarke.”

A loira franziu o cenho, a confusão se expressando em cada parte de seu rosto. Seus músculos se tencionaram ao ouvir aquelas palavras serem proferidas tão calmamente, tão sem sentido.

“Mas?”

“Mas eu não sei se eu ainda estou em algum tipo de transe, ou se você está apenas fazendo o que sempre faz.” Os olhos de Bellamy se esconderam por trás de suas pálpebras, o pesar exalando por sua linguagem corporal.

Ele não poderia estar falando sério. Pelo menos isso era o que Clarke gostaria de acreditar.

“O que eu sempre faço?”

“Me joga um balde d’água sempre que eu penso que você está me correspondendo.” As íris escuras se revelaram, encarando-a intensamente. “Não se engane, eu não te culpo. Você uma vez me disse que não seria capaz de corresponder a um sentimento como esse. Você deixou bem claro que era bobagem minha insistir. O coração quer o que ele quer, não é mesmo? Eu nunca fui capaz de deixar de te amar, e acho que nunca serei...”

“Ei, vamos parar por aqui, certo?” As mãos gélidas seguraram o rosto daquele homem, forçando-o a olhá-la. “Isso é real, tudo isso é real. Eu nunca te vi como um brinquedo, Bell. Eu sequer fui capaz de me deixar levar por isso pensando no quanto eu poderia destruir o que há de bom em você. Se aquele dia eu te pedi para esquecer nosso beijo, é porque... porque não era o momento certo.”

Os polegares deslizavam pelas bochechas do moreno, sentindo sob suas digitais cada centímetro das sardas que ali se realçavam. O azul em seus olhos se suavizaram, o desconforto de reviver aquela lembrança em sua mente lhe assombrando.

“Você realmente acha que um sentimento como esse destrói?” A serenidade expressada pelo Blake fez com que Clarke se perdesse nele, admirando-o, guardando cada pequeno detalhe de seu rosto.

Seu coração batia desenfreado dentro de seu tórax, quase dormente de tanto sentir. Sua pele absorvendo o calor que vinha dele, e em sua cabeça nenhum parecer conseguia se elaborar.

“Não, eu estava errada.” Foi a vez dela de fechar seus olhos por uma fração de segundo.

Os diversos momentos em que havia reprimido aquelas emoções, os mesmos que ela não hesitou em tentar afastá-lo, passavam por sua mente como um flashback.

“Ele cura.” As safiras azuladas se abriram, tantas coisas se refletindo nelas. Entretanto, a verdade se destacava. “Não é um sonho, Bellamy. Eu estou aqui, nós estamos aqui e essa noite não vai ser esquecida. Não me peça pra esquecer, eu não vou conseguir.”

“Por que agora?” Bellamy umedeceu os lábios, não deixando de reparar a atenção de Clarke se prendendo em seu gesto.

“Porque eu não me sinto mais capaz de ficar longe de você.” Ela o olhou de forma singela. “O coração quer o que ele quer, e eu demorei tempo demais teimando em dar a ele o que ele sempre quis.”

E então ele sorriu, o mais belo e exuberante dos sorrisos, e novamente ela era incapaz de evitar se apaixonar ainda mais por aquele homem.

 “Boa resposta.”

A boca dele colou na sua e não demorou muito para que seu braço enlaçasse sua cintura, puxando-a para si. Clarke riu entre os beijos breves, a felicidade lhe transbordando ao sentir aqueles lábios acariciarem cada parte de seu rosto.

“Acho que está na hora de tomar um banho.”

Bellamy a fitou por alguns instantes, uma das sobrancelhas negras se arqueando sob o cabelo que cobria sua testa.

“Tem certeza que quer sair desse casulo? A realidade fora desse quarto não vai ser tão agradável.”

Clarke riu, roçando seu nariz no dele antes de encará-lo com ternura.

“A realidade nunca é agradável.” Seu nariz se franziu ao lembrar do mundo por trás daquela porta. “Mas eu sei que um banho em sua companhia vai ser.”

Ela se curvou, não se importando em puxar um dos lençóis para cobrir seu corpo. Não havia mais vergonha ali, ela não se sentia mais encabulada por ele vê-la daquela forma. Afinal, Bellamy já havia visto muito além, muito mais do que qualquer homem em sua vida foi capaz.

O olhar significativo por cima do ombro ao se levantar e se direcionar ao banheiro em passos lentos e sensuais implicavam claramente o convite, as segundas intenções.

Aquela mulher seria sua ruína, disso ele nunca teve dúvidas.

“Clarke Griffin, uma verdadeira caixinha de surpresas.”

“Estarei te esperando.” Sorriu ferina, desaparecendo banheiro adentro.

Bellamy não conseguia evitar o sorriso que estava longe de deixar seus lábios. Cruzou seus braços atrás de sua cabeça, recostando suas costas na cabeceira antes de admirar por mais um breve momento as estrelas presas no teto de seu quarto.

Aquilo estava mesmo acontecendo. Clarke estava completamente nua dentro daquele banheiro apenas esperando-o, ela havia mesmo lhe dito e demonstrado seu amor com a intensidade que ele sempre soube que ela tinha durante as últimas horas que passaram juntos.

Tão bela, tão intensa.

Ainda era difícil de acreditar. Seria por um bom tempo.

O som voltou a ecoar, intrigando-o. O Blake se arrastou até a borda da cama, só então notando que o barulho vinha diretamente da bolsa clutch que Clarke havia jogado no canto da porta junto de seus sapatos.

O moreno sentiu o assoalho gélido sob seus pés, xingando baixo. Pescou o celular que vibrava entre seus dedos, sentindo todos os músculos de seu corpo se retesarem em resposta ao que seus olhos registravam.

A tela do aparelho brilhava enquanto suas vibrações anunciavam mais uma das dezenas de chamadas. O nome que se destacava fez com que um nó crescesse em sua garganta e só então Bellamy pode notar que não estava respirando.

O ar estagnou-se em seus pulmões assim que a realidade lhe acertou com o soco mais dolorido que ele havia levado em anos.

Ela estava em contato com ele. Finn Collins estava ligando, e claramente aquilo significava algo. A urgência em descobrir o motivo daquilo lhe invadiu, coibindo seus pensamentos e nublando completamente sua razão.

A lembrança do dia em que Clarke havia cuidado de seus machucados no apartamento de Octavia surgiu em sua mente. A raiva começava a aflorar por cada célula de seu corpo, se espalhando mais rápido que um maldito veneno.

Ao longe o barulho do chuveiro indicava que ela já havia iniciado seu banho, trazendo em sua mente a certeza de que se Clarke estivesse escondendo algo, aquele era o momento ideal para descobrir. A insegurança de que Bellamy tanto tentou se livrar havia tomado proporções exorbitantes.

Antes que pudesse raciocinar se o que faria era certo ou errado, seu dedo deslizou para o lado, atendendo a chamada.

“Desculpe Clarke, eu não podia mais esperar. Eu sei, acho que te acordei, mas foi por um bom motivo...”

Dentro de si o estômago do moreno revirava, o timbre familiar penetrava seus ouvidos trazendo consigo uma avalanche de más memórias.

“Eu conversei com Abby e não poderia estar mais feliz de saber que você finalmente voltou a pensar claramente. Eu sempre soube que a gente podia consertar isso, sempre soube que era uma questão de tempo e espaço para você enxergar o que a gente poderia conquistar junt... Clarke? Clarke, você está aí?”

Bellamy desligou o celular rapidamente depositando-o no criado mudo e abriu uma das gavetas, tirando de lá um pedaço de caneta e um papel.

O corpo tremia, as mãos eram incapazes de escrever uma sentença da forma que deveria. Mas não importava, nada mais importava. Ele tinha que ser claro, tinha que ser objetivo. A fúria dentro de si não permitia que ele permanecesse naquele recinto por mais tempo, não seria capaz de olhar naqueles olhos e ter a confirmação de que toda aquela noite havia sido o mais bem arquitetado dos teatros.

Idiota, idiota, idiota. Como foi capaz de acreditar que aquilo realmente estava acontecendo? Por que simplesmente não aceitou que caras como ele não ficam com a garota? Estava tudo certo, ele a superaria. Por que razão se permitiu cair naquele maldito ciclo vicioso? Era absurdo.

Parecia tão certo. Pareceu tão real.

E mais uma vez ele era o fiel escudeiro que assistia a princesa ter seu final feliz ao lado do príncipe. Por mais sapo que Finn fosse, não seria diferente. Novamente ele quebrou a cara, e nessa brincadeira ganhou de brinde um coração partido.

Seus olhos vagaram pelo quarto, perdidos, desnorteados. Vestiu suas roupas da noite anterior com uma destreza incompreensível, deixando apenas a camisa social branca perdida por algum canto. E foi com suas malas em mãos que ele passou por aquela porta da mesma forma que pretendia horas atrás, antes de ser envolvido naquela mentira.

Não havia mais casulo, não havia qualquer resquício de sentimento bom.

Seu mundo desabou em minutos e de repente, não havia também uma queda livre, mas sim a mais lancinante das colisões.

Tudo era mentira, e novamente era ele quem tinha uma imensa bagunça sentimental para lidar.



***



Clarke desligou o chuveiro e enxugou um pouco da umidade de seu corpo com a toalha antes de pisar para fora do box, envolvendo-se no conforto do roupão felpudo que mais parecia um cobertor.

Havia um chinelo perto da porta, o qual ela calçou antes de sair do banheiro a procura do homem com quem havia passado uma das noites mais inesquecíveis de sua vida. Seu coração parecia se perder em seu próprio ritmo toda vez que as imagens surgiam em sua mente.

E ela sorriu, como a boba apaixonada que pensou que nunca seria um dia. A promessa subentendida de um futuro onde ele estaria ao seu lado, revivendo momentos como o daquele dia, escrevendo um novo destino, parecia tão surreal.

Entretanto, era tão simples, tão fácil, tão certo.

Era ele. Sempre foi ele. Ela só foi teimosa demais para aceitar antes.

Clarke pegou a toalha novamente, já secando os fios úmidos de seu cabelo loiro ao abrir a porta.

“Eu pensei que você viria...” As palavras morreram em seus lábios ao notar o vazio naquela suíte.

Seu corpo permaneceu inerte, os olhos claros varrendo o quarto por qualquer resquício que fosse da presença daquele homem, notando apenas a camisa social branca deixada para trás perto da porta de saída. Não havia malas, não havia mais nada.

Um borrão tomou conta de sua visão, denunciando as lágrimas que estavam por vir. O nó rasgava sua garganta e ao escutar seu celular vibrar no criado mudo foi que Clarke pode perceber o pedaço de papel que estava ao lado.

Nada plausível passava por sua mente. Não havia nada que pudesse justificar sua saída, nada que explicasse o porquê de tudo aquilo.

Naquele momento seu coração tentava com afinco se convencer que ela estava sendo paranoica, que talvez – apenas talvez – ele tivesse deixado o banho para outra hora e estivesse no saguão aguardando por ela, pronto para lidar com a realidade ao seu lado.

Pronto para segurar sua mão e anunciar para o mundo que eles se pertenciam, que se amavam e que finalmente estavam prontos para viver aquele sentimento.

Sua razão lhe avisava em letras neon garrafais: ele foi embora, engula o choro, aceite.

No visor de seu celular brilhava o nome de Finn, mais uma chamada das muitas que ela não atendera. A amargura corroendo suas entranhas, as lágrimas queimando seu rosto. E foi engolindo a seco que ela atendeu a ligação, se arrependendo no segundo seguinte.

“Clarke? Clarke, você está aí?” A voz de Finn sequer lhe incomodou, o torpor que se espalhava por seu corpo não permitiu.

“Quem mais seria?” Clarke pegou o pedaço de papel em mãos, seu timbre era estoico.

“Eu não sei, liguei há alguns minutos e você atendeu, mas não me respondeu. Seu telefone está mudo?” Aquelas palavras penetraram seus ouvidos e com elas a resposta que a loira esteve procurando nos últimos minutos.

Era esse o motivo, um mal entendido, um maldito equívoco. E Bellamy agiu como sempre agia quando o assunto era Finn Collins, da forma mais cega e irracional possível. Jogou toda aquela noite, todos aqueles sonhos e planos no lixo por culpa de sua incapacidade de raciocinar, movido pela mais pura emoção.

Ele era assim, Bellamy Blake não sabia como não agir sob influência do calor do momento.

“O que você disse?”

“O que eu disse quando? Na ligação? Disse o que eu sempre soube, que um dia você enxergaria a verdade e veria tudo o que nós temos para construir juntos. Você não estava ouvindo? Achei que você tivesse atend...”

Clarke desligou o celular, sentando-se na beirada da cama. As mãos delicadas cobriram seu rosto, o soluço escapou rouco. Era como se algo estivesse despedaçando dentro de seu peito, e ela sabia que só havia sentido aquilo uma vez na vida.

A dor da perda.

Como ela poderia perder algo que sequer sabia que tinha até o dia anterior? Ele esteve em seus braços, ela provou daquele sentimento e se certificou de que ele era real, eles tinham tudo para dar certo. Como ela havia perdido o amor de sua vida quando havia acabado de aceita-lo, em apenas uma noite?

O que parecia o mais belo dos sonhos agora havia se tornado o pior dos pesadelos. Não seria capaz de esquecer, não queria esquecer. A textura de sua pele, o castanho escuro de seus olhos ao contempla-la com tamanha adoração, as juras de amor, os toques tão abrasadores.

Tudo sobre aqueles momentos ao seu lado era de uma intensidade incompreensível. Aquele sentimento era arrebatador demais para simplesmente fingir que não aconteceu. Como ele foi capaz de deixar tudo aquilo sem olhar para trás? Capaz de deixa-la depois de tudo aquilo?

Bellamy entendeu tudo errado.

A decepção consigo mesma era tanta que sequer foi capaz de sentir raiva, de enlouquecer.

Sua mão direita pousou sobre seu coração enquanto a outra tentava encobrir o som límpido de seu choro. No bilhete a caligrafia corrida do Blake denunciava sua urgência em cada traço.

Seja feliz. Encontre a felicidade que almeja. Boa sorte!

A promessa implícita do que poderia ser havia se quebrado, e junto dela, seu coração.


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Notas finais do capítulo

Estou aqui me preparando pra correr das pedras, porque se tem uma coisa que eu tenho plena noção é do quanto esse plot twist foi crueldade. Mas lembrem-se meus adorados gafanhotos, no fundo vocês já estavam esperando por algo do tipo que eu sei. Não? Oh, então aí vai um tiro desses de bazuca.
Muitos perguntaram do Finn, bom, olha aí esse rapaz ferrando com nosso OTP de novo. Lógico que ele é sem noção, lógico que ele não vai desistir da Clarke. E isso vai dar bastante peno pra manga, preparados? Hahahaha.
Gostaria de me desculpar pela demora, esse capítulo foi REALMENTE difícil de sair. E a faculdade voltando com tudo e agora já estou em semana de provas, tá complicadíssimo! E também, não vou mentir, estava esperando meus reviews arredondarem. 190, vocês são lindos mesmo! Isso também me lembra de dar o recadinho especial: alguns comentários não foram respondidos por mim antes, porém eu os estou respondendo agora. Por algum motivo esse site tem um sistema de visualização de comentários muito do bugado, e muitos dos comentários antigos não foram respondidos por eu não ter sido notificada sobre eles. Eu peço mil desculpas, de coração, sabem como eu adoro interagir com vocês e jamais negligenciaria meus amados comentários. Realmente o Nyah me pregou uma peça! Fica aqui o alerta!

Bem meus lindinhos, eu sei que vocês provavelmente estão se cansando de mim, mas fica a dica que eu não me canso e estou sempre pensando em vocês. Agora me digam se tem dúvidas, críticas, teorias (essas eu AMO de paixão), sugestões... estou esperando vocês na caixa de comentários, viu? Um beijo de luz no coraçãoznho de cada um, e até a próxima atualização.

Mamãe ama vocês, mwa!