Once In a Lifetime escrita por selinakyles


Capítulo 22
Happiness is a state of mind.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus lindinhos!
Demorei mas cheguei com um super capítulo, grande do jeitinho que vocês gostam, para demonstrar minha gratidão por todos esses comentários lindos que me enviam. Obrigada!

Eu escutei Million Reasons da Lady Gaga para me inspirar nesse capítulo. Então se já ouviram essa música já sabem o que está por vir... Está revisadíssimo pela minha beta linda, espero que gostem e divirtam-se!



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I've got a hundred million reasons to walk away
But baby, I just need one good one to stay


Chapter twenty two –



Octavia Blake criou o grupo ‘Os renegados’.

Octavia Blake adicionou Raven Reyes, Jasper Jordan, Lincoln Omaha, Monty Green, Nathan Miller.

Jasper Jordan
6:53 am
Galera, vocês não acreditam!

Raven Reyes
6:55 am
Que nós estamos acordados esse horário? Eu também não.

Monty Green
6:55 am
Eu sou um passarinho da manhã, Rav. Fale por você.

Nathan Miller
6:59 am
Vocês estão falando sério? O que diabos é isso, Octavia?

Octavia Blake
7:01 am
Eu preciso me manter informada, muitas coisas aconteceram nesses últimos dias. Não seja resmungão, Nate.

Jasper Jordan
7:02 am
Oh garota, então você vai adorar a novidade que tenho para você. Avistei o Bellamy carregando as malas até o sedan do Lincoln e saindo do quarto que ele dividia com a Clarkey sem camisa e com uma cara de quem estava com dor de barriga...

Monty Green
7:03 am
Jasper, o que nós tínhamos combinado sobre fofocas?

Raven Reyes
7:04 am
Isso me faz pensar em por que raios a Clarke e o Blake-irmão não estão nesse grupo. Explicações, Blake-irmã?

Lincoln Omaha
7:04 am
Eu deixei Bellamy encarregado do sedan. Octavia disse que Raven decidiu voltar de avião com Kyle e Jasper e Monty se encarregariam do jeep.

Octavia Blake
7:05 am
Reyes, você está fazendo um jogo comigo, garota? Claro que você sabe. Nós tínhamos um plano antes mesmo de você reencontrar seu loverboy. Eu quero notícias dos dois, eu sei que Bell não estava falando sério sobre seguir em frente.

Jasper Jordan
7:06 am
Oh, ele seguiu em frente sim. Pela cara de poucos amigos, algo grande aconteceu.

Monty Green
7:07 am
Eu gostaria de ser uma mosquinha, porque Clarke até agora não colocou os pés para fora da suíte.

Jasper Jordan
7:07 am
Monty, o que a gente conversou sobre fofocas? Futriqueiro!

Nathan Miller
7:10 am
Eu não estou nem um pouco a fim de fazer parte disso. Eu tenho uma vida para cuidar, sabe? A minha.

Monty Green
7:11 am
Nathan Miller, também conhecido como estraga prazeres :)

Jasper Jordan
7:12 am
Eu vi Clarke subindo as escadas como um foguete ontem à noite. Logo depois que o Bellamy decidiu subir. Cara, tem algo acontecendo ali.

Nathan Miller
7:12 am
Tem sim, você não ter vida e ficar vigiando a dos outros. Que vergonha, Jordan!

Octavia Blake
7:13 am
Vergonha nenhuma, Jas! Melhor notícia que eu tive desde que descobri o ar condicionado desse quarto. Que calor terrível!

Lincoln Omaha
7:16 am
Não esquece que foi você quem decidiu vir para a América do Sul.

Raven Reyes
7:18 am
Eu não acredito que vocês dois estão digitando um ao lado do outro ao invés de estarem tendo muitas horas de sexo selvagem. Eu esperava mais de você, Blake-irmã.

Octavia Blake
7:19 am
Você fala isso como se não estivesse morrendo para saber como essa história do meu irmão com a loira vai desenrolar. Nós tínhamos um trato, Reyes! Eu estou decepcionada.

Monty Green
7:20 am
Eu não estou decepcionado, Reyes. Por acaso isso me traz mais chances de ser o padrinho da sua criança? :’)

Nathan Miller
7:24 am
Eu estou com uma sensação de que estou perdendo algo...

Lincoln Omaha
7:24 am
Raven está grávida, Nate. Seremos todos tios postiços daqui a alguns meses! :) 

Jasper Jordan
7:25 am
O milagre da vida!

Octavia Blake
7:25 am
Danada! Até ontem estava enfiada no quarto se entupindo de sorvete assistindo The O.C.

Lincoln Omaha
7:26 am
Não é o ponto, amor. Descubra logo o que quer descobrir para podermos começar nosso passeio.

Monty Green
7:28 am
Bellamy já foi, O. Levou as malas e tudo. Provavelmente você sabe mais que a gente!

Jasper Jordan
7:29 am
#OperaçãoBellarke! ♥

Nathan Miller
7:30 am
Você é ridículo, Jordan!

Raven Reyes
7:33 am
Oh uh, código vermelho! Clarke está batendo na minha porta...

“Você atende?” Wick se sentou na beirada da cama, já terminando de amarrar seus sapatos.

Raven o encarou rapidamente antes de voltar os olhos suspeitos para a porta. A voz baixa de Clarke chamou por seu nome em um murmúrio sôfrego, fazendo com que uma finca de preocupação se criasse entre suas sobrancelhas.

Sua intuição gritava que algo ruim havia acontecido, ela não precisava olhar para a loira para ter certeza. Ainda assim, ao abrir a porta e se deparar com os olhos azuis avermelhados e levemente inchados, não ficou menos aflita diante de sua confirmação.

“O que houve?” Raven indagou, com os olhos escuros passeando por cada parte do corpo de sua melhor amiga a procura de qualquer coisa errada.

Wick a olhou receoso, se levantando da cama e se dirigindo até a porta.

“Vou descer primeiro, te espero pro café.” O loiro beijou a cabeça de sua amada, inalando o cheiro levemente adocicado de seus cabelos. “Bom dia, loira.”

“Bom dia, Kyle.” A Griffin assentiu, a voz fraca prestes a embalar mais uma onda de choro que insistia em segurar. Logo, ela estava se jogando nos braços de sua melhor amiga como se ali fosse seu porto seguro.

Raven fechou a porta atrás de si, encaminhando Clarke até a beirada de sua cama.

“Estamos sozinhas agora, pode me contar o que houve?” Ela segurou as bochechas rosadas entre as palmas de suas mãos, tentando ter uma visão melhor do rosto daquela mulher.

Clarke desviou seu olhar, as lágrimas caindo sem permissão. Se ao menos ela se sentisse capaz de pará-las, se aquela dor lancinante em seu peito a permitisse respirar devidamente por um segundo sequer.

“Ou essa é uma daquelas situações em que nós ficamos em silêncio, eu te faço um cafuné e você chora tudo o que tem que chorar?” Os dedos longos de Raven deslizavam pelas mechas douradas daquele cabelo, o coração se apertando em seu peito ao escutar seus soluços.

Seu olhar capturou a forma que ela cerrava seus punhos, os dedos pálidos se tornando ainda mais esbranquiçados e, entre eles, um pedaço de papel quase imperceptível. Clarke abriu a mão, entregando-o para que a amiga pudesse avalia-lo.

O fato de estar amassado não fez a caligrafia de Bellamy menos ilegível. Ela conhecia bem aquelas curvas, aquela escrita. A mensagem de Jasper passou por sua cabeça enquanto as peças do quebra cabeça se juntavam.

“Seja feliz?” Raven resmungou para si mesma, olhando inquisitiva para a mulher ao seu lado em busca de respostas. “Isso é mais uma das brincadeiras sem graça dele para te atingir?”

Clarke engoliu em seco, os olhos claros se escondendo por trás de suas pálpebras, onde o rosto de Bellamy sorrindo tão genuinamente permanecia.

“Ele se foi.” A Griffin engasgou em mais um soluço, escondendo seu rosto no pescoço da morena. “Ele entendeu tudo errado, Rav. Tudo errado.”

O cenho de Raven se franziu em meio a sua própria confusão.

Depois de se despedir de Octavia, ela havia acomodado Wick em seu quarto e aqui eles permaneceram até então. A última vez que a morena avistou sua amiga, ela estava conversando descontraidamente com Lexa, sorrindo como se não tivesse preocupação alguma.

Então por que Clarke estava tão magoada? O que diabos ela estava perdendo?

“Ele foi embora e te deixou um bilhete de despedida?” Seus olhos vagaram novamente pelo pedaço de papel entre seus dedos. “Não soa como Bellamy. Não mesmo.”

Clarke se remexeu desconfortável, ajustando sua postura. As safiras azuis insistiam em olhar para as mãos vazias, os dedos fazendo círculos imaginários em sua calça jeans. Ela respirou fundo antes de permitir que aquilo saísse de sua boca, não conseguindo evitar a sensação de que aquele pesadelo se tornaria ainda mais real quando transformado em palavras.

“Eu disse a ele que eu o amava, Rav. Eu disse com toda a sinceridade que eu tenho dentro de mim, com todas as palavras.” Seu coração batia frenético em sua caixa torácica apenas com o pequeno vislumbre daquele momento voltando à vida em sua mente. “E ele me ama também, sempre me amou. Como ele foi capaz de me deixar?”

E ali estava a última pecinha daquele quebra cabeça. Tudo passava a fazer sentido na cabeça da Reyes naquele instante.

“Vocês dormiram juntos.” Raven afirmou, olhando diretamente para Clarke em busca de algo que lhe provasse o contrário. “Vocês dormiram juntos! Meu Deus, isso é... meu Deus!”

O olhar embaraçado da loira fez com que a outra retomasse sua postura, o castanho em seus olhos refletindo toda sua compreensão.

“E ele foi embora depois disso? Não dá para acreditar, Clarke. Bellamy esperou por isso desde antes mesmo de eu o conhecer, ele não faria isso em sã consciência.”

“Não em sã consciência, mas motivado pelo ódio que ele sente pelo Finn.”

“Oh droga!” Raven exalou sua frustração. “De novo esse bastardo? Ele tem o dom de estragar tudo.”

Tanto amor guardado, tantos anos naquela dança de evitar os verdadeiros sentimentos. E quando finalmente eles aceitam a felicidade, ela é tomada da forma mais absurda, por uma ironia do destino. Aquilo só poderia ser brincadeira.

“Finn me ligou enquanto eu estava no banho e...” Um soluço inescrupuloso fez com que ela desabasse novamente, as lágrimas manchando as maçãs de seu rosto conforme seu corpo tremia. “Bellamy atendeu. Bellamy atendeu e fez o que sempre faz quando está com raiva, simplesmente não pensou em nada. Nada daquilo que a gente viveu ali importou, Rav. Ele simplesmente foi embora.”

A morena a puxou para seus braços novamente, as mãos acariciando seus cabelos cuidadosamente e o coração se partindo um pouco mais junto ao dela. A empatia era forte demais quando se tratava do laço que elas nutriam, Raven era capaz de sentir tudo o que sua amiga sentia na mesma proporção.

E ver Clarke naquele estado, experimentando ter seu coração em frangalhos pela primeira vez, foi muito difícil.

Ela não estava acostumada a vê-la chorar daquela forma tão copiosa. Não Clarke Griffin, sempre tão bela e imponente. Sempre tão forte e incapaz de demonstrar completamente suas fraquezas para que as pessoas ao seu redor não se preocupassem com ela. Seu choro só reforçava o que Raven sempre teve certeza: Clarke amava Bellamy tanto quanto ele sempre a amou.

Aquilo era uma tragédia odiosa, e assistir de camarote não era exatamente o que ela tinha em seus planos.

Aos poucos os soluços da loira iam cessando, conforme ela ingressava no mundo dos sonhos. A Reyes a ajeitou em sua cama cuidadosamente, beijando sua testa antes de pegar seu celular em mãos novamente.

Raven Reyes
8:55 am
Ligue para seu irmão cretino, Octavia. Deixe-o ciente de que se eu encontrá-lo, ele será um homem morto.

E então ignorou a chuva de mensagens que veio a seguir, olhando uma última vez para a mulher tão vulnerável que dormia tranquilamente em sua cama.

Bellamy Blake não sabia mesmo o que estava perdendo.

***

O Blake estacionou na entrada do que era antes a garagem da casa onde cresceu, desligando o motor do sedan azul de Lincoln. As mãos seguravam o volante como se sua vida dependesse disso, respirando fundo pelo que parecia a primeira vez após sair da fazenda dos Omaha.

Nada poderia tirar aquela emoção sufocante de seu peito, nada seria capaz de apagar tudo o que viveu nas últimas vinte e quatro horas. Nem mesmo a sensação aconchegante de estar em casa, nem mesmo no lugar onde viveu tantos momentos incríveis junto de sua família.

Até porque não tinha mais ninguém. Sua mãe não desceria os degraus da varanda para recebê-lo com um sorriso tão acolhedor que chegava até mesmo a refletir em seus olhos esverdeados. Octavia não estaria lendo mais uma de suas revistas de decorações no balanço que ele construiu para ela na grande árvore do jardim, esperando-o para o almoço com uma ansiedade fora do comum.

Ele não estava ali como sete anos atrás, chegando de mais uma das manhãs de verão que passou ajudando Jake Griffin com os acertos mecânicos de sua caminhonete antiga, que mais tarde naquele ano passaria a ser sua.

Jake... Era impossível não se lembrar dele sem que a gratidão por tê-lo conhecido lhe inundasse.

Ele preencheu espaços na sua vida que sequer seu próprio pai poderia ter preenchido. Ele lhe ensinou coisas que nem mesmo sua mãe foi capaz. Se havia se tornado uma grande estrela no Departamento de Polícia de Chicago, e parte importante da Inteligência, não era apenas por influência de sua mãe.

E Bellamy esperava com todas as suas forças que tivesse lhe retribuído à altura.
A tela de seu celular se iluminava no banco do passageiro, anunciando milhares de notificações que ele não se importava o suficiente para ler. Na verdade, àquela altura, nada mais lhe importava. Só precisava de um banho, de umas boas horas de sono, de um pouco de conforto.

O cheiro dela ainda estava impregnado em sua pele, as sensações que o toque dela havia lhe trazido causando abstinência. Os flashes que passavam diante de seus olhos negros eram como facas, dilacerando-o ainda mais.

Bellamy sabia que prová-la seria um erro. Um dos que ele morreria sem se arrepender.

Abriu a porta do carro, pegando suas bolsas no porta-malas e se dirigindo até a entrada. Os degraus da varanda rangeram conforme ele os subia, lembrando-o que se passara tempo demais desde a última vez que ele os consertou.

A nostalgia lhe acertou ao abrir a porta e notar que tudo ali parecia o mesmo, fazendo uma nota mental de ligar para Hannah Green e agradecer por seus cuidados impecáveis com tudo o que havia restado de sua mãe. Aquela casa era suas raízes, era e sempre seria parte sua.

Subiu as escadas, depositando suas malas na suíte de sua mãe. As mesmas cortinas em tom de amarelo creme cobriam a janela de guilhotina branca, um lençol branco e o edredom favorito de Aurora Blake forravam a cama de casal que agora seria de sua serventia.

Hannah havia passado por ali, era claro. Sua gratidão para com aquela mulher era inquestionável, sempre tão gentil, educada, prestativa. Monty havia herdado muito de sua personalidade amável, era explícito.

Como imaginava, não havia água quente, o que não afetou em nada o efeito relaxante que o banho trouxe ao seu corpo cansado. Era de se esperar que a água e o sabão não tirariam de seu pensamento o rosto daquela que deixou seu coração em estilhaços, ele aceitava este fato.

O que ele não aceitava e jamais aceitaria era que aquilo durasse para sempre. Não importa o que tivesse que fazer, aquela sensação excruciante teria que lhe deixar em algum momento. Ele não podia continuar revivendo aquilo todos os dias de sua vida, era tudo muito novo, iria passar. O tempo iria lhe ajudar a curar o que aquele desatino lhe causou.

Bellamy Blake nunca foi um homem de fé, mas naquele momento, sentado na borda da cama de sua mãe enquanto amarrava os cadarços de suas botas de combate, ele decidiu acreditar que nada daquilo duraria para sempre.

Se existia um Deus, Ele não seria capaz de lhe castigar daquela forma.

O celular vibrava ao seu lado, no visor a foto de sua irmã brilhava, a saudade lhe cutucando na ferida ainda aberta.

“O que diabos você fez? Eu viajo e em menos de vinte e quatro horas meu irmão irresponsável tratou de aprontar mais uma das suas cachorradas. Eu realmente acreditei, Bellamy, que você estava crescendo! O que raios você fez?”

A voz exaltada de Octavia fez com que o moreno afastasse o aparelho de seus ouvidos enquanto ela tagarelava sem parar. Um suspiro ruidoso escapuliu por seus lábios, as mãos escorregando por seu rosto exaurido.

“Respire, O. Respire.” Ele ouviu a respiração irregular da irmã, os olhos se fechando em pesar. “Eu sinceramente não quero falar sobre esse assunto, e como estou sendo acusado de ser irresponsável tão precocemente, acho que não vale à pena perder meu tempo explicando.”

“Fácil falar, cabeça de merda! Eu achei que você iria para casa da mamãe resolver os assuntos que tem consigo mesmo. Mas claro que você iria fazer alguma burrada no percurso, não é? Atitude típica.”

Bellamy pode ouvir a voz de Lincoln no fundo, não compreendendo exatamente o que seu cunhado dizia. Uma repreensão pelo xingamento, talvez.

“Eu não fiz nada demais, Octavia. Tudo o que eu fiz foi o meu papel de idiota, novamente, caindo na ilusão de que tudo daria certo dessa vez.” Ele respirou, o ar queimando em seus pulmões conforme o grande nó crescia em sua garganta. “Não quero mesmo falar sobre o assunto. Só entenda que dessa vez é definitivo, eu não quero mais passar por isso de novo. Eu sinto muito, eu errei com você. Mesmo não vendo tudo aquilo como um erro, eu errei ao ser egoísta e me importar apenas em tornar real toda a fantasia de reciprocidade que eu tive durante todos esses anos. Me perdoe, O.”

“Bell...”

“Não, não precisa usar esse tom comigo. Não preciso da sua pena, Octavia. Eu preciso do seu perdão, porque para seguir em frente eu preciso deixar tudo isso para trás. Ela é parte da sua vida e sempre vai ser, eu sinto muito, eu não devia ter me deixado levar.” Bellamy sentiu o salgado em seus lábios, só então notando que sua dor agora escorria pelo seu rosto.

“Bell, você não errou comigo. Você está errando, mas é consigo mesmo.” Ela pausou, recuperando sua fala após um suspiro. “Tudo bem, você não quer falar e eu vou respeitar dessa vez. Eu estou sentindo na sua voz que você está sofrendo, Bell, e isso me deixa devastada. Não se precipite, não estregue tudo dessa vez, não se sabote. Deixe ser, deixe acontecer, se permita. Não deixe que um equívoco envenene seu coração.”

“Acho que você tem uma lua de mel para aproveitar, não é? Não se preocupe comigo, eu vou me levantar. Eu vou ficar bem, O. Todos nós vamos. Isso vai passar e eu finalmente vou poder olhar pra frente agora, sem retorno.” O moreno se levantou, pegando uma de suas camisetas de gola V em sua mala e vestindo-a. “Eu te amo. Por favor, tenha cuidado.”

“Não faça nada do que possa se arrepender.” A Blake mais nova alertou, a voz terna já não continha qualquer sinal da raiva momentânea. “Eu te amo, cabeça de vento.”

‘Ouviu Lincoln? De vento! Não de merda.’ Bellamy riu com as últimas palavras distantes de sua irmã antes de desconectar a chamada.

Ele abriu a caixa de mensagens, não se importando muito com os diversos tipos de xingamento que Raven havia enviado, ou as mensagens repletas de ponto de exclamação de Octavia. Entre elas, uma se destacava.

Nathan Miller
8:55 am
Acho bom você aceitar a proposta, as ameaças de morte estão aumentando cada vez mais... Não vai querer ficar em Chicago e correr o risco de eu te encontrar sem vida em alguma vala.

Nathan Miller
9:00 am
Não é uma escolha difícil, só aceite e fuja para as colinas. Raven Reyes está grávida e sanguinária.

Bellamy soltou um riso enguiçado, um tanto desacreditado da notícia que aquele texto continha. Agora ele compreendia o desespero de Wick, um filho muda tudo. Porém, a imagem de uma criança aos cuidados daqueles dois era associada a nada além de desastre.

Nathan Miller
9:10 am
Acho bom você já procurar saber o estilo de vida em Washington. Vai ser uma grande aventura, tenho certeza. Não sei o que aconteceu, estou assistindo de longe todo esse reboliço, mas estou aqui por você, ok? Não esqueça.

Nathan Miller
9:44 am
Clarke está indo para onde você está, esteja preparado!

Ele checou o relógio recém-colocado em seu pulso, vinte minutos desde que seu melhor amigo lhe bombardeou com aquela mensagem. O barulho de pneus contra os cascalhos e o ronco familiar do Jeep de Raven era nítido.

Ela estava ali. Clarke estava no jardim de sua casa, pronta para confrontá-lo, e seu estômago nunca tinha afundado em sua barriga de um jeito tão rápido e brutal.

Bellamy desceu a escada que liga ao andar de baixo, o coração batendo em seu ouvido. Antes que pudesse pensar de forma racional ele já abria a porta da frente, dando de cara com o rosto inchado e os olhos vermelhos daquela mulher.

Ela esteve chorando, e após alguns segundos ela voltava a chorar, dessa vez em sua frente. O azul de seus olhos havia adotado alguns tons mais escuros, munido de um sofrimento que nem mesmo de longe lhe adequava.

“Então é assim que as coisas vão funcionar?” Sua voz embargada se pronunciou, fazendo com que ele engolisse seco.

Não era medo, não era dúvida, não era covardia.

Aquilo que se espalhava por cada parte de seu corpo era exaustão. Bellamy se sentia exausto, incapaz de lidar com ela, de enfrentar aquela carga de intensidade que viria das palavras que ela estava prestes a proferir. Não queria e nem se permitia ser persuadido novamente, não dessa vez.

Entretanto, Clarke Griffin expressava tudo o que ele se recusava ser. Vulnerável, exposto, indefeso. Essas eram características que jamais lhe serviriam.

“Você entende as coisas da forma que quer e simplesmente não se dá ao trabalho de me perguntar?” As mãos trêmulas e pálidas se apoiaram no batente da porta, as safiras inquisitivas ofuscadas pelas lágrimas lhe penetravam duramente.

“Perguntar algo que eu já sei a resposta? Não, obrigado!” Bellamy se virou, deixando a porta aberta para que ela o seguisse até a sala de estar. “Por que está aqui, Clarke? Acho que eu te deixei um bilhete, eu deixei bem claro ali que você deveria buscar aquilo que te faz feliz.”

“Você me faz feliz.” A loira sorriu amargamente, abaixando a cabeça ao soltar um riso esganiçado sem emoção alguma. “Por mais irônico que isso soe você é minha felicidade. Eu não preciso buscar algo que eu já encontrei, Bellamy, que sempre esteve bem debaixo do meu nariz e eu fui muito estúpida para notar.”

O Blake riu, o punho cobrindo sua boca conforme o sarcasmo exalava por cada detalhe de seu rosto.

“Não dessa vez, Clarke. Dessa vez as coisas vão ser diferentes. Dessa vez eu não vou cair no seu discurso emotivo.”

As sobrancelhas loiras se franziram, desconhecendo o homem diante de si. Aquele não era o mesmo a quem ela havia entregado seu coração e todo seu amor de bandeja, não era o mesmo que a havia beijado como ela nunca havia sido beijada antes, que lhe aconchegou em seus braços fortes e lhe amou tão verdadeiramente.

“Isso, eu e você, não vai funcionar.” A imensidão negra daqueles olhos parecia absorvê-la, sugando um pouco mais de sua sanidade à medida que ela o encarava. “Não sou sua felicidade! Felicidade não é uma pessoa, é um estado de espírito. Se você fizer o que te agrada, o que te completa, vai ser feliz, Clarke. Você não precisa de mim, siga em frente porque eu sei que eu vou seguir.”

A Griffin deu um passo à frente, eliminando um pouco mais a distância entre eles. Seu corpo sentindo a tensão ali, clamando pelo dele do mesmo modo que sempre fez, mesmo que inconscientemente. Seu peito queimava tanto quanto as lágrimas que escorriam pelas maçãs rosadas de seu rosto.

“Isso é destrutivo, Clarke. Eu não pensava que um sentimento fosse capaz de me fazer sentir uma dor emocional tão excruciante. Eu não fazia ideia de que o amor fosse isso, que fosse sacrifício.” O olhar de Bellamy se abaixou e os fios negros de seu cabelo o cobriram. “Você disse que não enfrentou isso por ter medo de que fosse destruir o que há de melhor em mim. Agora sou eu quem te digo que eu não quero destruir o que há de melhor em você.”

Sua atenção voltou para o rosto repleto de angústia da loira, e claramente vê-la daquela forma era pior do que qualquer coisa que ele já havia presenciado.

“Eu não quero existir nesse mundo onde Finn Collins está de novo em sua vida, como uma maldita doença incurável.” Ele assistiu o azul naqueles olhos se suavizarem, suplicantes. “Você pode ter esquecido, mas eu me lembro. Eu te avisei naquela noite após o baile de inverno, para você ficar longe dele, longe desse destino absurdo que sua mãe traçou para você. Mesmo com o passar dos anos, você não foi capaz de se livrar dessas amarras...”

“Você está falando sério?” Clarke umedeceu seus lábios, incapaz de acreditar naquilo que seus ouvidos captavam. “Porque honestamente, você nunca soou tão irracional em toda a sua vida!”

“Irracional? Você chama toda essa situação de irracional, Clarke?”

O riso rouco cheio de ironia trouxe um gosto amargo em sua boca. Aquilo tudo parecia uma maldita piada de mau gosto, uma pegadinha, surreal demais para ser verdade. Ele estava utilizando de toda sua raiva para afastá-la, isolando-a como se tudo fosse muito superficial para ser levado em consideração.

Bellamy estava fazendo-a provar de seu próprio veneno. O mesmo que ela o fez provar por anos, evitando-o, fingindo ser algo que não era, vestindo aquela máscara de irrelevância orgulhosamente.

“Não a situação, você. Você está sendo irracional quando estamos a um passo de ter tudo o que qualquer pessoa deseja. A gente pode dar um jeito em tudo isso, Bell. A gente pode ser tudo o que sempre sonhamos ser, juntos.” Sua mão se ergueu em direção ao rosto estoico do moreno, assistindo-o desvencilhar de seu toque. “Não falta amor, eu sei que não. O resto eu posso te garantir, a gente conquista. Eu prometo!”

O Blake se virou, evitando ao máximo olhá-la. Existia dentro de si a urgência, a ânsia em tocá-la, prendê-la em seus braços e nunca mais deixa-la sair por aquela porta, repetir cada beijo e cada carícia da noite anterior. O desejo ardia tanto quanto as lágrimas que se formavam nos cantos de seus olhos, as mesmas que ele fez questão de limpar rudemente.

“Você está delirando. Isso que você está imaginando na sua cabeça, esse futuro lindo, não existe. É uma utopia, uma fantasia. Não vai ter um nós, você não vê?”

Ele respirou fundo, reunindo toda a força que lhe restava para se virar e encará-la novamente. Precisava trazer de volta toda a raiva que sentiu naquela manhã, fazê-la borbulhar em suas entranhas novamente e corroer qualquer resquício de razão que insistisse em se render a ela.

Bellamy precisava convencê-la de que era hora de deixa-lo ir.

O que o moreno não imaginava era que doeria tanto presenciar a frieza de suas palavras se converterem em mágoa no azul daqueles olhos. Era explícito que ele a havia machucado, acertado em cheio onde mais doía.

O que se refletia ali não poderia ser facilmente consertado, e o Blake sabia. Teria que conviver com aquela imagem em sua mente durante todos os dias de sua vida, a lembrança do dia que ele partiu o coração de Clarke Griffin em milhares de pedaços.

Assim como ela fez com o dele tantas vezes.

Não havia nada nesse mundo capaz de amenizar o turbilhão de sensações que pareciam lhe destroçar por dentro.

Clarke permaneceu abismada naquele silêncio agoniante, as lágrimas escapando de seus olhos sem sequer serem notadas. Seu corpo tremia, contudo não era capaz de sentir nada. Ela era capaz de vê-lo, Bellamy Blake estava diante de seus olhos, porém não conseguia verdadeiramente enxerga-lo.

A mesma imensidão negra que por tantos momentos lhe deu força, que reacendeu dentro de si a faísca que lhe trazia vida, agora drenava qualquer resquício de sentimento bom. Aqueles olhos eram incapazes de revelar o que tanto almejavam.

Inalcançável, inacessível, impassível.

E então, em meio a tudo aquilo, seus lábios se curvaram conforme sua mão trêmula prendia a mecha de seu cabelo dourado atrás de sua orelha.

“Eu vejo agora...” O ar que ela havia estagnado em seus pulmões escapou por seus lábios penosamente. “Realmente, eu perdi completamente minha cabeça. É isso o que esse tipo de sentimento faz, no final das contas.”

Bellamy se aproximou receoso. A necessidade de tocá-la formigando na ponta de seus dedos.

“Não se engane, Clarke. Eu te amo como nunca, jamais, vou ser capaz de amar alguém nessa vida. Eu só não posso mais me sentir assim... Eu não quero me sentir assim.”

“Você não precisa se justificar, Bell. Eu não preciso da sua pena, não preciso que você suavize a pancada. Eu preciso sentir, eu quero sentir com cada pedacinho do meu ser tudo o que eu me privei de sentir todos esses anos.”

Os olhos castanhos a fitavam atenciosamente.

“Eu já entendi tudo, só não me peça para esquecer porque eu não vou.” Clarke ergueu seu queixo, a determinação brilhando no azul cristalino de seus olhos. “Eu não vou esquecer, Bellamy. E eu sei que provavelmente vou reviver todos os ‘e se’ na minha mente durante o resto da minha vida, mas não me importo. Eu quero poder me lembrar, sempre, do momento lindo que nós vivemos, e eu vou.”

Apenas um passo era a distância que se pendia entre eles, e o Blake sabia que seria questão de segundos para que ele ignorasse todo seu bom senso e a tomasse em seus braços novamente.

“Eu sinto muito se você não se sente da mesma forma, porque no final das contas, você tem razão. Amor é sim sacrifício, e é por isso que eu estou te libertando disso. É isso o que eu quero Bellamy, que você seja feliz. Mesmo que, claramente, sua felicidade não esteja comigo.”

A mão pálida tocou a maçã de seu rosto, tão delicada e gentil que o fez esquecer por um momento tudo o que estava acontecendo ali. O polegar traçava cada uma de suas sardas fazendo com que seu rosto se aconchegasse naquele toque, perdido demais naquelas palavras para raciocinar corretamente.

E de novo, como na noite anterior, Bellamy se viu na beira de um abismo. Extasiado demais para tomar decisões que seu juízo normal consideraria sensatas.

Mais um passo e novamente ele se perderia naqueles olhos, mergulharia nela.

“Seja feliz, Bell.”

Clarke passou pela porta da frente sem olhar para trás, e não ir atrás dela pode ter sido a coisa mais difícil que Bellamy Blake teve que fazer.



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Notas finais do capítulo

Segura esse tombo e não me matem ainda!
Não estamos nem perto do final, talvez na metade, por isso não desejem minha morte, ok? Temos muitas emoções para sentir. Mwahahaha! Muitas pontas ainda precisam de nós, muitas coisas vão acontecer, muitas reviravoltas e claro, aquele salto na história que tenho certeza que vocês vão AMAR!
Eu sei, sofrido né? Estamos falando de uma história de amor aqui, padawans. Não vai ter final feliz porque ainda não terminou. Bellarke ainda vai ter muita história para contar, isso sem falar Raven, Octavia e os outros personagens. Então não desanimem, ok? Toda história de amor tem que passar pelos altos e baixos para valer a pena. Espero que não desanimem e não me abandonem! Os próximos acontecimentos terão seus desfechos. Eu prometo!

E então, o que tem para mim? Xingos? Sugestões? Me digam suas teorias depois desse tiro, porque se tá doendo em mim, imagina em vocês! Quero comentários cheios de reações, porque é disso que uma autora se alimenta! Hahahaha.

Beijinhos em seus coraçõeszinhos, e que a Força esteja sempre com vocês! ♥