Por anos ela foi uma exilada na própria família.

Sua mãe, que todos diziam ser uma pessoa boa e amorosa, morreu ao lhe dar a luz. Seu pai só se lembrava da sua existência quando lhe convinha. Viserys lhe culpava pela a morte da mãe deles e era sempre maldoso quando podia. Rhaegar era gentil, mas muito distante.

Havia, é claro, seus sobrinhos. Os filhos de Rhaegar. Eles eram legais. Rhaenys sempre lhe presenteava com um de seus bonitos sorrisos e então conversavam sobre moda e garotos. Aegon era engraçado e sempre tinha alguma cantada indecente na ponta da língua que a fazia cair no riso. Dany gostava deles, contudo, Jon sempre estaria acima de todos.

Jon, o Targaryen mais gentil que já viveu. Ele era o que sempre vinha até ela nas suas raras visitas a Porto Real, era ele também o único que verdadeiramente lembrava-se de todos os seus aniversários. No ano em que ela completou dezesseis anos o sobrinho viajou até Pentos, onde o pai havia a trancafiado em um colégio interno, só para lhe dar parabéns e comemorar aquele dia com ela.

– Por que você veio?

– Dezesseis anos é uma coisa importante aqui em Pentos, não é?

– É. – Suas amigas, Irri e Jhiqui, duas garota Dothraki, tiveram suas festas no mês anterior e todas as meninas do colégio ainda comentavam sobre isso. Missandei estava preparando a sua para o fim do ano e Doreah ainda comentava como o garoto mais bonito da cidade dançou com ela no bonito jardim da casa de festa mais cara de Pentos.

Dany podia não ser dali, mas boa parte da sua vida se passou naquele lugar. Lá no fundo ela também queria uma festa.

– Eu vim comemorá-lo com você.

Aquela foi a semana mais perfeita da sua vida.

Jon era cuidadoso com todos ao seu redor e sempre que ela se sentia triste Dany ligava para ele. No dia em que tudo acabou com Drogo foi com ele que chorou todas as suas lagrimas.

– Não chore Dany. – Ele lhe disse sorrindo pela a Webcam. – Você fica muito mais bonita quando sorri.

Provavelmente foi depois disso que seus sentimentos começaram a mudar.

E ela não podia se esquecer daquela noite. Ele estava visitando a cidade com os irmãos e ela estava no caminho de conseguir voltar a morar em Porto Real. Aegon logo ficou bêbado e se engraçou com Doreah, Rhaenys não parava de falar sobre todos os encontros que tentava arrumar para Jon e o seu sobrinho mais novo apenas corava e dizia que não precisava de um cupido.

A madrugada chegou e todos foram – junto com uns amigos dela – para seu apartamento no centro. Irri dançava ao som de uma musica lenta, Aegon se agarrava com Doreah em um sofá e Rhaenys estava dormindo no outro. Dany e Jon foram até o quarto dela aos tropeços. Ambos estavam bêbados.

– Você fica tão divertido quando está bêbado.

– Não fico não.

Ele soltou uma risada logo que as palavras saíram da sua boca.

– Você é muito bonito. – Comentou por conta daquela conhecida coragem de bêbado.

– Você também é.

– O que você mais gosta em mim? – Ela perguntou e ele pareceu confuso por alguns instantes.

– Bem, acho que os seus olhos são muito bonitos.

– Só os meus olhos?

Dany começou a desabotoar a blusa comportada que tinha escolhido para aquela noite. Jon pareceu alarmado.

– O que você está fazendo?

– Nada.

– Olha... Nós dois bebemos mais do que é aconselhado... E eu acho que a gente devia voltar para a sala...

Ela riu, se aproximou e beijou os seus lábios. Ele não me afastou, pensou vitoriosa.

– Esqueça todas essas coisas por hoje Jon.

– Eu sei que is-isso é b-bem e-errado. – O rapaz estava completamente vermelho e agora gaguejava.

– Você não sabe de nada.

Jon costumava seguir a razão, mas naquela noite Dany conseguiu dobrá-lo.

(No dia seguinte ele se desculpou – como era esperado – e disse que foi imperdoável o fato dele ter se aproveitado dela. Dany não entendeu já que foi ela que se aproveitou dele.)

Agora estou aqui, não era mais uma exilada, não era mais a garota esquecida que vivia do outro lado do oceano.

Jon estava a apenas uma porta de distancia.

Daenerys estendeu o braço e bateu nervosamente na porta. O primeiro encontro deles não tinha sido exatamente o que ela esperava, ele ficou nervoso e logo depois saiu com os amigos – e foi preso – aquilo suspendeu os seus planos, mas Dany era uma Targaryen e ela não desistia fácil.

A porta foi aberta por ele que parecia surpreso por vê-la ali.

– Olá.

– Dany.

– Eu vim visitá-lo. Seus pais estão em casa? – Não estavam, mas ele não precisava saber que ela sabia.

– Não... Entre.

Seu sorriso morreu assim que alcançou a sala. Sentada no sofá estava Arianne Martell com seus lindos cabelos negros e olhar provocante. Ao lado dela estava uma menina de cabelos loiros escorridos e bonitos olhos azuis. Tyene Martell.

– Olá Daenerys.

– Arianne, Tyene.

– Bem, Jon, nós ainda estamos esperando por aquele CD.

– Eu vou achá-lo Arianne, eu juro, não sei onde fui meter isso.

Jon lhe deu um beijo na bochecha e disse que viria em breve falar com ela. Acabou ficando a sós com as meninas Martell. Isso deve ser coisa da Rhaenys, sua sobrinha tinha dito que estava tentando arranjar uma das primas para o irmão.

Bem, não na minha vista.

Jon apareceu na sala e disse que ainda não havia encontrado nada.

– Você pode continuar procurando Jon, eu vou ficar mais do que feliz em te ajudar, vocês duas não precisam ficar presas aqui, nós ligamos assim que encontrarmos.

– Não...

Arianne foi logo interrompida por Jon.

– Dany está certa Arianne, já fiz vocês duas ficarem presas aqui por uma hora, assim que eu achar eu te ligo e nós nos encontramos. – Não gostou da parte de nós nos encontramos, mas aquilo era melhor do que nada. – Eu realmente não sei onde foi parar.

Arianne provavelmente sabia.

Assim com Rhaenys.

– Bem, então eu vou indo. – A Martell se levantou e foi até ele lhe depositando um beijo na bochecha, perto demais dos lábios. – Até mais Dany.

– Até Arianne. Até Tyene.

As duas saíram e os dois ficaram sozinhos. Finalmente.

– Não vai me dar um abraço?

Ele não podia lhe dizer não. Logo ela sentiu o seu corpo ser circulado pelos braços fortes dele.

– Bem vinda Dany. Eu sinto muito por não ter ido vê-la antes.

Não era mais uma exilada.

Estou em casa.