Bem-vinda à América! escrita por Gabi Torquato


Capítulo 14
Viva-voz doloroso.


Notas iniciais do capítulo

Eu estou viva e a Chloe também.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/594993/chapter/14

Desde a noite de ontem Justin me ligava desesperadamente. Adoraria dizer que era porque ele se apaixonara por mim na noite anterior, mas na verdade ele queria saber de que modo poderia fazer com que eu calasse minha boca.

No momento em que me imprensou na parede, Justin não imaginava que minutos antes eu havia pego meu iPhone de dentro da bolsa e discretamente tirado uma foto de seu momento quente. Eu não pretendo divulgar essa foto caso eu não receba sua ajuda, mas não tenho planos de revelar isso a ele.

Nesse exato momento, eu andava pelo corredor em direção à saída e ignorava mais uma entre mil mensagens de Justin. O salto da minha bota Saint Laurent - que não era alto e nem fino - fazia um barulho insuportável toda vez que ia de encontro ao piso.

– Chloe! - gritou alguém. Fiquei tentada em fingir que não estava escutando, mas depois de um tempo reconheci a voz. Parei e esperei que Lissa chegasse até mim, correndo desajeitadamente com seu mini salto Manolo Blahnik.

– Por onde andou? - perguntei, voltando a andar assim que ela chegou ao meu lado. - Te esperei por uns 5 minutos.

– Ainda estava na sala. - respondeu ofegante. Aparentemente correra atrás de mim o tempo todo e não pensara na ideia brilhante de gritar desde o início. - E então, o que há de novidade? Conseguiu o número do Justin? - perguntou debochando.

– Não, algo melhor. - respondi, dando um daqueles sorrisos que não mostram os dentes. - E você já havia me dado o número dele. - completei, lembrando-a.

– Certo, certo. Mas que progresso você pode ter feito em um dia? Ele é Justin Bake! - ela falou, aparentemente sem um pingo de fé em mim. Chegamos na entrada/saída da escola nesse momento, e ela continuava falando que ele era inalcançável e eu que precisaria de mais de um dia para ter um mínimo de avanço.

Como um sinal divino para que ela calasse a boca, alguém andava em minha direção. Eu olhava fixamente para a pessoa e ela se viu obrigada a fazer o mesmo.

– Para quem você está olhan... AI MEU DEUS! - gritou sussurrando, assim que viu Justin Bake, o inalcançável - de acordo com ela - vindo até nós.

– Bem na hora! - falei para ele, ignorado o pequeno ataque de Lissa.

– Costumo ser pontual. - ele respondeu, tenso. Sorri de lado.

– Esse tipo de progresso. - sussurrei para Lissa. Ela olhou para mim com olhos admirados.

– E então? - ele perguntou, impaciente.

– Vocês gostam de café? - perguntei sugestivamente.

Nos dirigimos para a cafeteria mais próxima e em poucos minutos eu estava tomando o meu terceiro café enquanto Lissa explicava tudo para Justin.

– Você quer que eu tenha algo com essa Whitney? - perguntou confuso para mim, depois que Lissa terminou.

Acenei a cabeça concordando.

– E depois dê um pé na bunda dela, não esqueça desse detalhe. - completou Lissa.

– Da forma mais humilhante possível - acrescentei.

Ele olhava para nós duas como se fossemos os seres mais idiotas que ele já vira na face da Terra.

Revirei os olhos.

– Você está demorando demais, talvez eu devesse... - comecei a dizer, colocando a mão dentro da bolsa para pegar o celular.

– Não, não! - exclamou ele, agarrando meu braço para me parar. - Tudo bem, só me digam exatamente o que fazer e quando fazer.

– É tão gentil da sua parte. - agradeci falsamente.

– Temos que pensar em um modo de você se aproximar dela. - Lissa disse animada, não percebendo os olhares cheios de ódio que Justin me lançava - Claro que sem que ela desconfie.

Duas horas depois, havíamos acabado de elaborar todas as etapas.

– Se isso der certo, conseguiremos deixar Whitney fora do comando da Legacy por um tempo. - Lissa disse para mim, sorridente, enquanto entrava em um táxi para ir embora.

– Eu não quero tira-la apenas por um tempo. - devolvi firme, assim que Lissa fechava a porta.

Justin continuava comigo e eu sentia seu olhar duro fixado em mim.

– Sabe, você não precisa me odiar! - exclamei irritada, me virando para ele. - Eu não tinha intenção de te chantagear para conseguir sua ajuda, mas você se mostrou uma péssima pessoa quando me colocou contra a parede e me ameaçou. Por acaso se acha melhor? Sinto muito, mas você não é! - conclui, praticamente gritando com ele.

Justin apenas lançou um olhar - que dessa vez eu não podia decifrar seu significado -, virou as costas e saiu.

*

Assim que cheguei em casa, procurei Carla. Depois de procurá-la na cozinha - ela geralmente estava lá quando eu chegava - fui ao seu quarto.

– Por que demorou tanto? - perguntou ela, assim que abriu a porta.

– Tinha umas coisas para resolver. - respondi indiferente - Posso entrar?

Ela abriu e fui diretamente para sua cama, sentando sem permissão.

– Como tanta coisa pode mudar em um mês? - perguntei, deixando um fio de tristeza acompanhar minha voz.

– Do que está falando? - ela perguntou, sentando ao meu lado.

No caminho para casa, pensei nas mudanças que aconteceram no último mês. Deixei Londres, Charlie disse que gostava de mim, conheci Lola, Chris e nos tornamos amigos. Mas tudo mudou quando Christopher se declarou para mim naquela noite. Todas as pessoas que eu conhecia - exceto Carla - se afastaram de mim, até Charlie, mas não o culpo. Eu ignorei suas ligações após o que aconteceu com Christopher, então ele simplesmente desistiu de ligar.

– Eu não sei... - respondi. - Talvez eu tenha feito tudo errado. Ou esteja fazendo. Eu não tenho mais ninguém, Carla.

– Você tem a mim! - exclamou, com uma animação forçada. Ela sabia do que eu estava falando.

Dei um sorriso triste e a abracei.

– Talvez você devesse tentar de novo. - ela sugeriu - Que tal começar por Charlie? Pense sobre vocês e deixe tudo esclarecido. Vocês falaram em tentar, mas você simplesmente o deixou de lado.

Fiz uma careta.

– Você não está tornando as coisas mais fáceis! - reclamei.

– Não é para ser fácil. - ela disse, se levantando e me expulsando do seu quarto. Contra minha vontade, sai.

Entrei no meu quarto e fui diretamente ao banheiro. Tirei a jaqueta verde que estava usando, a blusa fina azul, a calça skinny, as botas de cano alto e entrei na banheira. Peguei meu celular, coloquei Taylor Swift para tocar e fechei meus olhos. Comecei a pensar em Charlie, como Carla me mandou fazer.

Eu o conheci quando comecei a estudar em Cambridge e pude ir para Londres todos os finais de semana. Erin, uma das poucas amigas que eu possuía em Londres, nos apresentou. No início não éramos muito próximos, na verdade, nada próximos. Quando nos conhecemos, ele havia sido aceito na Saïd Business School, da Universidade de Oxford, para cursar Administração. Digamos que ele ficou meio orgulhoso e não queria se misturar com uma menina de 16 anos.

Erin estava ficando com Rod, melhor amigo de Charlie. O casal decidiu ir para Bournemouth e resolveram que iriam nos levar - acredito que na esperança de que seguíssemos o exemplo deles. Depois que terminamos nosso jantar de "casais" em um agradável restaurante perto da praia, Erin e Rod foram namorar em algum lugar, deixando-nos sozinhos.

– Certo, eu não vou ficar aqui. - eu falei. Havia mais de meia hora que esperávamos Erin e Rod.

– Espere, vou olhar mais uma vez se eles não estão por aqui. - Charlie disse. Mas eu não esperei. Eles não estariam lá, já havíamos olhado mil vezes. Eu sai em direção à praia, deixando Charlie para trás.

Tirei minhas sandálias assim que entrei em contato com a areia. Há tempos eu não fazia isso, e sorri de felicidade. Fiquei vagando pela praia por tempo indeterminado, e teria passado mais tempo se uma voz irritada não tivesse gritado por mim.

– Chloe! - gritou Charlie, ainda um pouco distante. Revirei os olhos. Ele sempre tinha que estragar tudo? Eu sentei na areia para espera-lo.

– O que você estava pensando? - ele perguntou ofegante e bastante irritado. Eu o fitei.

– Eu estava pensando em vir para a praia. Sinto muito, não sabia eu tinha trago meu pai. - eu respondi, irônica.

– Que tipo de encrenca Rob faz eu me meter... - ele reclamou, murmurando. Eu ergui as sobrancelhas em descrença.

– Não estou pedindo sua companhia. Pode ir. - falai, gesticulando com as mãos para diversos caminhos.

– Você está me expulsando? - ele perguntou, rindo.

– É o que parece. - respondi.

Levantei e fui em direção ao mar, deixando-o sozinho novamente. Ele veio até mim e me pegou pelo braço.

– Você não pode ficar quieta esperando que eles apareçam? - Charlie perguntou

– Não. Eu não estou aqui com mais vontade do que você, mas já que estou, irei aproveitar. - respondi, friamente. - Talvez você devesse também.

E a partir disso nasceu o que fez com que tivéssemos um quase namoro. Charlie abriu mão da sua postura chata e entramos no mar. E céus, foi incrível! Eu poderia facilmente comparar a espuma da banheira com a espuma do mar daquele dia. Quando saímos, soltávamos gargalhadas que poderiam ser escutadas de longe. Nós deitamos na praia e ficamos lá conversando. Então, por puro cansaço, dormimos por alguns minutos, até que Erin e Rob finalmente aparecessem e nos acordassem.

Olhei para o teto do meu banheiro no Upper East Side. Longe demais de Londres, de Bournemouth e de Charlie. Daqui não posso ver o brilho dos seus olhos verdes, nem tocar no seu cabelo loiro ondulado.

Então tomei uma decisão. Eu não poderia ignorá-lo e não dar nenhuma explicação. Respirei fundo e sai da banheira, vestindo meu roupão. Deitei na cama e encarei a tela do celular enquanto pensava no que iria dizer.

– Vamos lá, Chloe. - falei, enquanto clicava na opção chamar. A cada segundo de demora, eu ficava cada vez mais nervosa.

– Alô? - perguntou alguém do outro lado. E não era Charlie.

Era uma mulher.

– Alô? - perguntou novamente. Em meio ao meu choque, acabei não falando nada. Minha boca estava aberta, mas as palavras não saiam.

– Desculpe, devo ter ligado errado. - falei finalmente, as palavras engasgando.

– Você queria falar com Charlie? - perguntou a mulher - É o celular dele. Espere um segundo.

Eu escutei ela o chamando, escutei a voz abafada dele dizendo alguma coisa a ela. Meu coração se afundou enquanto eu escutava a conversa dele. Ele estava pedindo que ela inventasse alguma desculpa para não falar comigo.

– Olha, ele está ocu... - ela começou a dizer

– Eu sei que ele não está ocupado, escutei perfeitamente. - interrompi - Bom, pode me fazer o favor de dizer que eu continuarei ligando? É importante.

– Tudo bem. - ela respondeu. Eu sabia que ela não diria, porque a ligação estava no viva-voz e ele havia escutado.

Desliguei sem outra palavra.

Aparentemente, as coisas não seriam mesmo fáceis.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olha só quem voltou!
Estou com esse capítulo escrito há bastante tempo, mas estava desmotivada em postar porque as visitas na história caíram, os comentários se tornaram raros, etc...

Mas um único comentário faz com que tenhamos todo o animo de novo, por isso dedico esse capítulo à Caarol, uma leitora nova que viu a paralisação da história e pediu que eu voltasse a escrever. Eu voltei! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bem-vinda à América!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.