Bem-vinda à América! escrita por Gabi Torquato


Capítulo 12
Deus grego.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, estava sem tempo de postar.



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Se você pudesse perceber que uma pessoa estava péssima só em olhar, então era isso que as pessoas viam toda vez que olhavam para mim. E claro, Whitney Hill devia estar sentindo-se no céu com isso. Três semanas após a festa, e ela ainda consegue que as pessoas acreditem em seus boatos horrorosos. Eu passei de ai-meu-deus-ela-é-incrível-quero-ela-sentada-na-minha-mesa para o-que-essa-vaca-tá-fazendo-aqui.

Nunca liguei para boatos, mas agora eu me sentia estranhamente incomodada. Troquei - subtende-se que me obrigaram - meu país para vir para cá e deixei meus amigos, que não eram muitos, e um quase namorado para estar em Nova York escutando cochichos no corredor. Que diga-se de passagem, às vezes poderiam não ser cochichos.

Alguém sempre fazia questão de falar bem alto, enquanto eu passava, sobre como eu me insinuei para o professor Carl para que ele me desse A+ em um trabalho de Calculo Avançado, e havia prometido fazer coisas bem quentes caso ele me desse a nota. Esse foi o pior de todos, porque ofendeu minha inteligência. Se eles eram burros demais para tirar A+, eu não tinha culpa.

Na verdade, eles eram burros demais para estar em Calculo Avançado.

Todos os dias eu entrava e saía da Legacy Academy sem falar com ninguém, fazendo e entregando trabalhos, agindo automaticamente enquanto esperava que o sinal batesse nós liberando.

Lola continuava sem falar comigo e na última semana Christopher passou de um estado de isolamento para o garoto popular que ele era, que andava cercado de anjinhas - Anjinhas, porque piranha sou eu. Eu, não elas. Entende? Eu apenas revirava os olhos quando via Whitney esfregar seus peitos no tórax dele enquanto o abraçava.

Os únicos dois comportamentos não normais que ele realizava eram: ainda não estar falando com o irmão e fechar a cara para mim toda vez que nossos olhos se encontravam. O que eu não entendia muito bem, porque eu estava com raiva dele, não o contrário.

Em suma, eu apenas estava cansada disso. Cansada do silêncio eterno de Lola, da cara fechada de Christopher e dos borburinhos envolvendo meu nome. Então aqui estava eu, sentada no refeitório pela primeira vez, com uma menina de um ano a menos que eu e soltando um olhar assassino para Whitney Hill.

– Então Lissa, o que sabe sobre Whitney? - indaguei, sorrindo amavelmente. Whitney humilhava todos porque em sua cabeça de noz ela realmente acreditava que podia fazer isso. Então após ver ela fazendo essa pobre menina chorar no corredor, eu decidi fazer algo. Não sei bem o que, mas iria descobrir.

Lissa, a menina que eu havia recrutado, para ser sincera não era nenhuma menina indefesa. Depois de ver ela agindo como uma mini Blair Waldorf, sabia que precisaria falar com ela para colocar meu "plano" em prática.

– Ela ama estar no controle. - ela disse, colocando um pouco de salada na boca. - E os irmãos Lightwood, gruda neles que nem chiclete.

– Algo que eu ainda não sei. - pedi, sem querer soar impaciente. A garota passou mais ou menos 2 minutos pensando em algo.

– Oh!! Eu sei! - ela sussurrou gritando, dando pulinhos em sua cadeira e balançando as mãos de felicidade.

Sorri animada, arqueando a sobrancelha como sinal para que ela continuasse.

– Justin Baker. - ela disse sorrindo, orgulhosa consigo mesma.

Devo ter feito uma expressão muito confusa, pois ela começou a explicar antes que eu perguntasse.

– Justin Baker é um garoto maravilhoso da St. Jude de 1,90 m e olhos verdes. Whitney estudava lá antes de fazer plástica no nariz com o Dr. Rey e emagrecer uns 30 quilos. Uma vez armaram para ela, o que resultou em um super fora! Ela saiu da escola por vergonha. - ela sussurrou. Meu queixo estava caído. Whitney foi 30 quilos mais gorda? Dessa eu não sabia. Sobre a plástica eu já tinha certeza.

– Mas e dai? Ela provavelmente só deve ter muita raiva dele. Precisamos de algo que ela goste. - falei, sem entender a importância de Justin Baker.

Lissa riu e balançou a cabeça para mim.

– Ele não é o tipo de cara que você tem raiva. - debochou de mim, sorrindo de lado - Há boatos de que ela ainda é muito a fim dele, mas mesmo sendo anorexa e tendo um nariz menor, ele nunca olhou para ela.

Pasmei. Um cara que nunca olhou para Whitney? Ele só podia ser gay!

Fomos ao laboratório de informática e Lissa me passou uma pequena ficha improvisada sobre Justin, contendo altura, peso, foto 3x4(como ela conseguiu?), hobbies favoritos, instagram, facebook, twitter e diversas coisas que eu imaginava que não iria precisar. Ela não brinca em serviço.

Então, após todas as aulas que eu passei sem prestar atenção - porque estava pensando em como usar Justin para atingir Whitney, olhando para sua foto 3x4 - o sinal finalmente tocou e joguei a ficha e meus diversos trabalhos de casa na minha Fendi Medium Selleria Turn Lock Tote azul royal.

Sai correndo dando graças a Deus que eu estava com minha sandália rasteira Manolo Blahnik - que parecia que eu estava descalço, sério - e não com o salto Prada que vi Whitney usando. Entrei na Mercedes-Benz dando um rápido oi a Richard.

– Vá pela St. Judes. - pedi. A escola não era tão longe, porque também ficava no Upper East Side.

Nesse momento meu iPhone começou a tocar e conferi o número na tela. Não conhecia.

– Alô? - perguntei curiosa

– Pensou na minha proposta? - disse uma voz do outro lado. Mesmo que estivéssemos longe um do outro - espero - eu conseguia praticamente ver - porque estava sentindo do outro lado da linha - um sorriso em sua voz.

– Não Aaron. - respondi entediada. Certo. Aaron. A proposta.

Não posso usar a desculpa de ter esquecido, porque é muito difícil esquecer qualquer coisa que um cara famoso fala para você. Ainda mais quando ele te liga umas mil vezes para perguntar.

– Bom, pois comece a pensar. - ele disse, não de um jeito autoritário de verdade. Falava assim para se divertir porque eu ficava incrivelmente irritada. Dá para entender a frequência com que nós falamos? Ele até sabe como fico irritada!

– Talvez eu comesse a pensar quando você parar de me ligar. - respondi, sem me preocupar em soar educada. Nós tornamos bom amigos... Ou não. - E outra, quando vai me dizer onde arranjou meu número?

Ele riu do outro lado.

– Salve esse número. Cansei de ligar de números diferentes para ver se você atende. - falou, não respondendo minha pergunta. Revirei os olhos.

Senti que ele ia começar a falar alguma coisa, já tinha dito a primeira letra, mas nesse momento chegamos em frente à St. Jude'ude's.

– Tchau Aaron. - me despedi, desligando o celular na cara dele. Tudo bem que ele era um cara super famoso e nós conhecíamos a apenas duas semanas, mas parei de ser educada quando ele começou ligar no meio de trabalhos de Física. - Estacione. - pedi para Richard.

Agora que os alunos começaram a sair, porque eles saem uns minutos mais tarde em relação à Legacy, então deduzi que eu ainda tinha chances de ver quem eu procurava. Eu observava cada cabeça de cabelos loiro escuro e conferia se era um corpo bem distribuído em 1,91 m - de acordo com a ficha de Lissa.

Finalmente achei Justin Baker e juro que meu queixo caiu! Não sou a piranha que dizem que sou, mas também não estou querendo entrar em um convento. É impossível olhar para ele e não precisar de um babador.

Alto, cabelos loiros - mais escuros que o de Charlie - e, também de acordo com a ficha, olhos verdes maravilhosos que não consigo ver porque estou muito distante. Por baixo do seu uniforme eu podia ver a forma de seus músculos enquanto ele andava em direção a um grupo de garotos que estavam parados encostados em um carro. Quase tão bonitos quanto ele.

Foi olhando para esses seus amigos quase tão altos, quase tão charmosos e quase tão parecidos com um deus grego, que vi alguém: Cameron.

Sorri enquanto olhava os dois se cumprimentando. Isso só podia ser muita sorte! Quando algumas meninas - mais bonitas que Whitney e muito mais do que eu - começaram a chegar olhando para ele da maneira que eu suspeitava que eu estava olhando, decidi que estava na hora de ir. Vendo ele cercado por meninas que pareciam ter saído da última capa da Vogue, entendi porque ele não dava corda para a Whitney.

Cheguei em casa ainda tentando encontrar um modo de atingir Whitney. Não pense que eu quero fazer algo que a humilhará a ponto de fazê-la realizar uma outra plástica, mas para mudar de rosto por ter vergonha. Quero apenas mostrar as consequências de ser uma pessoa tão má!

– Por que demorou? - perguntou Carla, abrindo a porta do meu quarto pouco tempo depois de eu ter chegado.

– Estava resolvendo umas coisas. - respondi indiferente. Eu não iria dar detalhes para Carla, o que ela pensaria de mim? Eu não sou esse tipo de pessoa.

De repente, pensar sobre que tipo de pessoa eu era me deixou mau e lágrimas começaram a aparecer em meus olhos.

Que tipo de pessoa eu sou?

O tipo que é apaixonada por um cara e enfrenta até um romance a distancia para tê-lo ou o tipo que beija outro mesmo apaixonada? O tipo que odeia pessoas como Whitney Hill ou o tipo que está prestes a fazer algo que ela faria?

Percebi que a nuvem ao redor do Upper East Side suga pequenos pedacinhos de mim. Vou cada vez mais à lojas de grifes e menos ao Central Park. Falo cada vez mais sobre sapatos e menos sobre livros que li... Quer dizer, faz apenas um mês que estou aqui. Quando tudo ficou tão confuso a ponto de eu ser tão diferente da menina que foi de roupa surrada ao Central Park?

Carla notou minhas lágrimas inesperadas e adotou uma expressão confusa.

– O que foi? - perguntou ela preocupada, vindo até mim e me abraçando enquanto eu sentava na cama.

Balancei a cabeça.

– Apenas estou cansada. Com saudade de casa, essas coisas. - respondi tentando sorrir, limpando o rosto. Não era uma mentira - Eu preciso é de um bom banho naquela banheira de hidromassagem para relaxar. Acredita que ainda não experimentei?

E sai em direção ao banheiro, me desvencilhando do seu abraço.

Dizer que meu banheiro é do tamanho de um apartamento de alguém não seria uma hipérbole. Ele é decorado com cores suaves - todas as variações de branco que você puder imaginar - com três grandes espelhos. Um em frente a pia, outro em frente a uma pequena mesa que eu não sei para que serve - talvez para eu me maquiar - e um ao lado da banheira, apenas um pouco acima. Há uma cabine de chuveiro e uma banheira de hidromassagem em mármore.

Enchi a banheira e entrei, esperando que eu pudesse relaxar. Com lágrimas ou não, eu iria continuar com a ideia de fazer algo contra Whitney, porque eu simplesmente não aguentava mais.

Entre ser a pessoa que ela inventa que eu sou e ser a que vai fazer ela calar a boca... Bem, prefiro ser a segunda opção.

E como um sinal, enquanto eu olhava o feed do meu Instagram, vi uma foto de Cameron. Quando meu cérebro processou quem também estava na foto, eu quase tive um ataque cardíaco.

– Carlaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. - gritei, porque talvez ela estivesse no quarto dela. Quando ela não apareceu, me levantei tomando cuidado para não deixar o celular cair e vesti meu roupão branco.

Fui até o quarto dela, que não era tão grande quanto o meu, mas não era uma caixa de fosforo. Entrei lá no máximo duas vezes desde que cheguei, e ele sempre estava organizado e perfumado.

– Carla? - chamei, batendo na porta. Ela demorou algum tempo para abrir e esperei impaciente para abrir batendo o pé.

– Oi, desculpa! - ela falou assim que abriu a porta. Estava com uma toalha enrolada no corpo e uma no cabelo. Também estava tomando banho.

– Não sabia que estava ocupada, foi mal! - falei, ficando vermelha. Às vezes me esqueço que Carla não está a minha disposição direto porque obviamente ela vive.

– Sem problema. - ela falou sorrindo, abrindo a porta para eu entrar. - O que foi?

Ela trocou sua expressão para uma preocupada, o que eu entendo, visto que há pouco tempo atrás eu estava chorando. Mas não, eu com certeza não estava mais chorando.

– Espero que você tenha um vestido de fazer o queixo cair. Vamos dar um saída. - eu disse, dando um sorriso malicioso.


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Notas finais do capítulo

E esse Justin, hein? hahaha
Sem notas finais hoje recheada de pedidos. Beijooos! ♥



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