Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 6
Príncipe Syaoran


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo extra virá a cada 4 capítulos de selecionadas. Um pouco sobre os príncipes. Boa leitura.



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Capítulo 5

Príncipe Syaoran

“A solidão e o silêncio são asas robustas para os surtos do espírito” – Machado de Assis

CNBlue – I’m a Loner

– Não, está errado! – a voz de Bortuan cortou o ar gelado. A lâmina estava bem a frente de seu corpo, aquela espada reta e fina. – Leveza, Syao, leveza. O que é um lutador de água sem leveza? Volte. Quatro te ver tão leve que possa flutuar.

– Os homens não podem flutuar – respondeu, voltando a posição inicial.

– Mas a sua alma pode. – Bortuan deu-lhe um peteleco na testa, o que não o incomodou. – Mais uma vez.

Fez os movimentos, tentando conduzir os pés com calma e suavidade, enquanto desviava dos golpes pesados do mentor. Deslizou pela espada dele, enquanto ela atingia o ar ao lado de suas costelas. Com sua espada, aproximou-se tão ligeiro da jugular do homem mais velho que ele recuou, batendo a parte de trás da sua lâmina contra a espada de Syao e fazendo-o recuar também.

– Melhor – Bortuan sorriu, mas logo avançou. Ele lutava como um combatente de terra, forte, pesado e cheio de força. Resistente e maciço, seus ataques eram violentos e firmes. Era difícil derrotar um combatente de terra, mas também era difícil lutar contra a água. Não havia como confiar nela, sempre inconstante, não sólida e rápida. A espada de Bortuan encontrou a sua e desviou-a para a esquerda, saltando para a esquerda, enquanto os pés o conduziam. Era fácil seguir sua intuição após anos de treinamento. Mas ainda não vencera uma luta contra Bortuan. Isso o irritava. – Calma, pequeno, você está ansioso.

– Estou calmo – mentiu, avançando pela lateral e rodando a perna no ar, atingindo o alto do ombro de Bortuan. O homem segurou seu pé e deslizou a lâmina da espada por sua perna, enquanto alcançava seu objetivo: o coração. Syao flexionou o joelho de apoio e saltou, chutando o peito de Bortuan com a perna livre. O homem soltou-o rapidamente, enquanto caia de joelho. Agarrou a espada caída do tutor e jogou-a longe. Ele estava no chão, levantando-se. Lembrava do que ele já havia dito: um combatente de terra em pé é o inferno, mas quando cai, é como esmagar uma formiga. Ele era grande e pesado, pouco ágil, e quando Syao ergueu-se e golpeou o queixo do velho com o punho, ele caiu de costas. Saltou para seu peito, com os joelhos sobre ele. A lâmina aproximando-se de sua garganta. Quando Bortuan agarrou seu braço e o puxou para o lado, tão forte que Syao só pode cair, enquanto a fúria da terra caia sobre seu corpo. Bortuan, por cima, agarrou sua mão que segurava a espada e torceu o punho para o lado frágil. Syao soltou a espada com uma exclamação, enquanto sentia o frio da lâmina sobre a garganta.

– E agora, é um homem morto.

– Injusto. – levantou-se, batendo as roupas.

– Injusto? Você não deve confiar em si mesmo. Aprenda: seu pior inimigo e seu próprio corpo. Nunca rápido demais, nunca forte demais. Não confie cegamente nele. Conheça-o. Saiba seus limites. Abriu demais sua defesa, sou mais forte que você, e facilmente o teria jogado para o lado. Se tivesse imobilizado meus braços, poderia ser algo, ou então me jogado no chão de costas.

– Não penso tão rápido assim – resmungou, buscando a outra espada perdida pelo tatame. Curvou-se e Bortuan fez o mesmo, em respeito a luta que tiveram. Levantou-se, ajeitando os pés descalços sobre as sandálias macias.

– Pois deveria, menino – Bortuan deu outro leve tapa em sua cabeça. Syao sabia que ele tinha razão, tinha de ser rápido, rápido e mais rápido. Tão rápido quanto a água e ao mesmo tempo imprevisível. Sua mente devia se mover tão bem quanto o corpo, e ajustar essas duas coisas não era algo tão fácil. – Amanhã te vejo novamente aqui. – o velho acenou a cabeça e saiu, bamboleando para a casa de banhos. Syao revirou os olhos, caminhando calmamente pelos corredores externos da casa, com o jardim de inverno abrindo-se, árvores retorcidas e minúsculas se amontoavam, com algumas pedras servindo de assento para as primas, em suas aulas de costura.

Nenhuma delas acenou quando passou, muito menos levantaram o rosto de seu trabalho. Continuou caminhando, sem se importar com isso. Encontrou seu pai bebericando chá com seus tios no salão principal, como sempre faziam durante as reuniões. Vestidos com os trajes típicos e brancos, eles discutiam o que o reino precisava e como tratar os acordos com Japão e França, seus vizinhos de território. Curvou-se diante deles e beijou as mãos de cada um, enquanto se juntava a mesa de chá. Encheu uma das xícaras de artesanais e bebeu. O líquido quente oscilava e queimou a ponta da língua quando tomou. Syao não exibiu deleite, muito menos desprezo. Ele nunca demonstrava nada ao lado do pai. Mas detestava chá. “O herdeiro da China odeia chá” pensou, e riu de si mesmo. Por dentro, é claro.

– Syao, suas selecionadas já estão a caminho – ele disse, cortando a conversa com os demais homens.

– Estou ciente disto, Papa.

– É bom que esteja. E é bom que esteja ciente de que a França está próxima demais da Península. – ele encarou-o. Seu pai sabia como intimidar qualquer um, apenas olhando dentro de seus olhos. As mãos se agitaram debaixo da mesa, enquanto arrumava a coluna e a postura. Tinha de manter a perfeição enquanto estivesse diante do imperador chinês. – Recebi uma carta francesa. A França quer que escolha uma menina francesa, para consolidar nossa aliança de comércio.

– Isso seria...

– Muito bom. – completou o imperador – Temos uma aliança sólida com a União e o Japão, entretanto a Península não gosta de nós e a França... Temos de ganhar a França, antes que a Península a conquiste. Aqueles produtores de cantores baratos não são nada. São pedras nos nossos sapatos. Estão tirando nossos produtos de circulação, enquanto vencem o Japão em tecnologia. Se fosse possível, acho que a União também está pensando em se aliar a Península.

– Eles não fariam isso. – interrompeu seu pai, quase sem perceber. – Não podem, se fizessem, nosso tratado de territórios estaria anulado.

– Quieto. – chiou o homem de barba branca e olhos quase fechados – Não dei permissão para falar. E eu sei disto tudo. Fui mais imperador do que você, se não se lembra. Eu sei que o tratado estaria anulado, e a Rússia está fraca demais para nos invadir. Temos um exército maior que o deles, se quebrassem essa tratado, nós conquistaríamos toda a União em um ano. – ele se inclinou para trás, descansando as costas deformadas em sua almofada especial. – Então, você deve se casar com uma francesa.

– Certo. – abaixou a cabeça, em respeito a decisão do pai.

– Era só isso que queria falar. Vá tomar um banho, está fedendo. – e mandou-o embora, continuando sua reunião com os outros homens.

Syao arrastou a porta de papel e fechou-a. No corredor externo, tentou não pensar sobre aquilo, mas era impossível. Suas selecionadas foram selecionadas sem a sua seleção. E agora papai reduzia ainda mais a sua escolha para um grupo de sete garotas. E se não gostasse de nenhuma francesa? Diziam que os franceses eram arrogantes. Ele na verdade pensava mais no Japão, com as garotas já acostumadas com uma cultura rígida e bem... Mais parecidas com ele e o povo chinês. O que seria dele se tivesse um filho sem um traço asiático? Como Isao, que nasceu quase tão russo quanto a mãe. Seria desonroso e desrespeitoso para o seu povo ter um imperador que não se parecia com eles no poder.

Mas eliminou aquilo da mente. Não era direito seu pensar sobre o assunto se seu Papa já havia dado uma sentença. Iria se casar com uma francesa, querendo ou não. Diante dos velhos deuses e diante do dever, ele tinha que fazer aquilo. Dever, honra e responsabilidade. Era o lema da família. Dever para cumprir, honra para exaltar e responsabilidade para com a família. Não devia pensar em si mesmo, era egoísmo demais, devia pensar na família e em sua honra.

Entrou na casa de banhos, já sentindo o vapor subindo pelas paredes. A pedra era quente quando se sentou em uma das piscinas naturais. Tias tomavam banho juntas mais afastadas, primas estavam em um canto e primos em outro. Membros da família, nos ramos mais baixos. Alguns Dingbor, outros Dinggie. Era o único do ramo principal, filho de seu pai e herdeiro. Sua mãe morreu quando tinha oito anos. Não teve irmãos, e seus tios eram todos afastados. Ninguém olhava para ele, pois seria falta de respeito. Ninguém lhe dirigia a palavra, pois seria falta de respeito. Ninguém era digno o suficiente para se tornar seu amigo. Todos respeitavam Syao. Todos o respeitavam como deveriam respeitar. Ele era mais importante, afinal, do ramo principal da família, próximo líder do clã.

Todavia, não sentia-se respeitado. Sentia-se isolado. Solitário. Seu único amigo era Bortuan, o tutor de luta. E Isao. Isao Fujiwara, príncipe do Japão. O amigo distante, mas mesmo assim, um amigo. Isao era chamado de Isaac por quase todos, mas ele preferia chamá-lo por Isao, o nome oficial. Isao nunca foi o exemplo de um príncipe, na verdade não era nada um príncipe. Mas Syao o invejava. Não invejava quem ele era, nem como ele era. Mas tinha vontade de ter a mesma liberdade que ele. Para dizer ao pai que não queria se casar especialmente com uma francesa porquê era sua obrigação, ou porquê devia. Mas ele morava na China. Colocou as mãos no rosto, envergonhado pelos próprios pensamentos. Não devia invejar ninguém. Não devia desgostar de sua cultura, de seu país e nem de sua família. Devia sentir honrado em nascer nela.

Dizem que o nome de uma pessoa está ligado ao seu destino. Syaoran significa “Pequeno lobo”, o que poderia ser também considerado como uma matilha, ou o membro mais protegido de uma matilha de lobos, que dá a idéia de que, dentre os mais fortes, ele será o mais seguro. Mas sua mãe se chamava Vida, e acabou morrendo no parto de seu último filho natimorto. Talvez seja apenas o destino com suas ironias.

Honra, dever e responsabilidade, este é o lema da família Dingbang. Controle e obediência, assim é feito Syao. Responsável e importante, foi criado para ser um líder e ter domínio sobre os seus. Seu território é muito grande e controlar tudo com mãos macias não é a melhor alternativa, isso descobriu cedo. Então tem de ser firme e duro, frio e justo. A verdade é cortante, mas é a verdade, e ele não nasceu para viver, mas para trazer vida ao povo. E assim, cumprirá exatamente o que seu destino quer, ou melhor, o que seu pai quer: que seja um rei digno do sobrenome Dingbang, que significa “protetor do país”.


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Notas finais do capítulo

Estou sentindo que o Syao está sendo abandonado, quase ninguém quer ele... :/ Por isso fiz o capítulo dele primeiro. Beijos.
Agora um pouco sobre o Syao:
Não espere que Syao seja a pessoa mais extrovertida ou amorosa do mundo, ele esqueceu seus sentimentos, como parte do crescimento que o pai achou que deveria ser bom para ele. Irá se casar, como deve ser, mesmo que não goste de sua esposa. Terá filhos, como tem de ser, mesmo que não os queira. Ele fará tudo pelo bem do povo e pelo bem da família, de sua honra e de seu dever.
Tradicional, gosta de tudo corretamente, perfeccionista, detesta surpresas ou mudanças bruscas de sua rotina. Acostumar-se com as selecionadas será difícil no começo. Ele pode até ser um pouco frio, mas não se preocupe, Syao amolece facilmente, diferente de seu pai, ele ainda é muito apegado a religião e isso o torna mais coração do que razão.