Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 7
Nicole Throne


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 6

Nicole

“A inocência genuína rende-se: não sabe defender-se” – Camilo C. Branco

Paramore – Brick By Boring Brick

Se ele soubesse que tudo isso aconteceria, teria ido? Se soubesse que as chances para sobreviver eram tão baixas, será que teria aceitado? Se sabiam que era tão perigoso, então porquê o enviara? O macaco deveria saber o que faziam com ele. Ele descobriu o que lhe fizeram, sentou e chorou, acho. O Sol era forte demais, e ele morreria. Ele sentou e chorou. Se tivessem dito que isso iria acontecer, ele poderia ter fugido. Mas o deixaram para morrer no espaço. Um grande passo para a humanidade, e a morte para aquele macaco. A NASA anunciou isso há quase 200 anos, e mesmo assim, quem é que se lembra disso? De que adiantou mandá-lo lá para morrer?

Seria o mesmo que queimar formigas com uma lupa. Elas não tinham culpa de toda a malvadeza na humanidade, elas trabalhavam pesado, sobreviviam todos os dias aos outros animais. Seria injusto matá-las com um chinelo ou com as mãos.

Fechou os olhos, enquanto afundava no banco de couro. Ouviu um leve ruído no ouvido e começou a cantarolar para si mesma, alguma música qualquer. Limpava a terra debaixo das unhas, enquanto o ronco do motor a diminuía cada vez mais. O queixo fino, apontado para cima, deixava expostas as pintas no pescoço. Sardas crescendo, desde os ombros, até as maçãs. Sentiu a cicatriz em seu dedo, onde havia cortado com uma tesoura de jardinagem havia alguns anos. Ainda estava lá, sobressaindo ao redor do dedo fino. Aumentou o volume da voz, tentando se ouvir por cima do barulho irritante dos motores. A caminhonete de Sr Morrison era deplorável, com seu ronco e os solavancos. Mas pelo menos era um carro.

Entreabriu os olhos o suficiente para vez uma borboleta pousando no vidro do carro. As asas fechadas nas costas, laranja e preta, cheia de desenhos. Suas patinhas e a cabeça apareciam visivelmente no vidro. Tocou o local onde ela estava e a borboleta saiu voando. Asas batendo, livre. Lembrava-se de como mamãe mencionava-as em suas histórias. “As borboletas são lindas, Nicole, e também livres”. Não se pode arrancar suas asas, nem prendê-las em botes de plástico. Elas morreram, pois vivem pela liberdade. Ninguém consegue viver muito tempo estando preso, uma hora, tudo termina e também a prisão. Não deixaria que ninguém arrancasse suas asas, ou a prendesse em um pote de plástico. Iria voar de tulipa e tulipa, pelos copos-de-leite e rosas, orquídeas e amores-perfeitos. Teria um jardim só seu, onde desfrutaria de sua liberdade. Uma doce e profunda liberdade, como o néctar.

Sentia a terra na ponta dos dedos, enquanto terminava de limpar as unhas. Havia se ajoelhado quase trinta vezes, enquanto se despedia do jardim. Fora difícil, principalmente por causa das borboletas, beija-flores e abelhas. Havia insistido para dar adeus a todos.

Onde estaria mamãe, agora, enquanto ela abandonava a única coisa que restara dela para si? O jardim, um jardim mágico. Naquela casa tão monótona. Caindo aos pedaços. Perdida em trevas. Dinheiro, dinheiro, dinheiro, era o que seu pai pensava. Onde estaria ela agora, enquanto cantarolava há cinco minutos a mesma canção natalina, que faziam ao redor da árvore de Natal, comendo biscoitos e abrindo presentes? Seus nove anos eram memoráveis, os últimos de sua vida. A real vida. Depois, um inverno congelante, que secou todas as flores dentro dela. Um jardim maravilhoso, morto. E a terra antes fértil, agora ardia mais que o deserto.

“Era uma mansão tão colorida quando chegamos, e agora apodrecia”. Os vizinhos ainda os viam como modelos, como ricos esnobes. Felizes. Esbanjando dinheiro. Detestava ir ao mercado e notar os olhares furtivos dos funcionários e do gerente, esperando que ela fizesse algo esnobe ou comprasse mais do que normalmente os clientes comprariam. Detestava toda a mentira que vivia, enquanto a única cor no mundo ficava no jardim esquecido, no interior de si mesma. Um jardim onde as flores não murchavam e os sabiás sempre cantavam. Nicole sabia o que queria, queria voar tão alto quanto uma águia e continuar sendo uma borboleta. Tentaram matá-la, tentaram arrancar suas asas, sim, muitas vezes. Mas quanto mais tentavam, mais se tornou forte. E agora cair em seus sonhos não era tão difícil. Entrar no jardim secreto não era tão difícil. Bastava fechar os olhos e abrir o peito. Enquanto viaja para um lugar onde sua mãe estava. Viva, sorridente. Amando-a como uma mãe ama.

“Onde ela não me abandonou”.

– Pare com essa cantaria irritante! – ouviu o irmão gritar, enquanto agarrava seu braço e o torcia. – Sua mula idiota! O príncipe vai te jogar para fora do castelo assim que puder ver todo o seu conteúdo. Um conteúdo de merda, sua burra. O mundo não é um conto de fadas.

Ah, sim, o mundo não era. Mas ela não vivia naquele mundo do irmão. Ela tinha um próprio mundo. Ignorou-o, enquanto fechava a boca e ecoava a canção dentro da cabeça. Os raios solares entrara pela janela e tocaram-na, quentes. A gaiola onde papai e Colen a colocaram era pequena, mas não a impedia de sair voando. Um pote que só funcionava neste mundo. A mão de Colen sobre seu joelho indicava que ele estava pronto para lhe beliscar mais caso fizesse algo errado.

Quando a carta chegou do correio, pensou que não iria querer ir. Mas então soube que ficaria morando no castelo. Junto com a família real, onde tudo era grande. “Um castelo é maior que um pote de plástico”, concluiu, enquanto preenchia seu nome no papel. Sentiu as unhas de Colen fincando-se em sua coxa e abriu os olhos.

– Chegamos, passarinho – ele falou, em tom de deboche. Abriu a porta e ela saiu, logo em seguida Sr. Morrison também saía. Papai não poderia vir, estava ocupado trabalhando, mantendo a mansão cinzenta erguida. – Agora estufe o peito e cante todas as notas que ensinaram a você. Cante o que pedirem. Mas nunca cante o que essa cabeça oca quiser – o peteleco deveria ter sido leve e divertido, mas doeu.

Sr Morrison, o vizinho, fingiu que não via aquilo. Nicole teria saído de casa há tempos, para trabalhar ou mesmo estudar, porém papai e Colen não achavam necessário. Mulher não devem perder tempo com isso. Ao contrário, ela limpava a casa e poupava despesas com empregadas. O pó sempre a irritou, e ela era a única que sabia o quão podre a mansão já estava. De noite, deitada na cama, às vezes imaginava como seria se tudo desabasse sobre a cabeça deles. Morreriam todos. E então se perguntava porquê tinha pensamentos tão depressivos.

O médico veio na manhã anterior, perguntar sobre sua saúde.

– Ela já sangrou? – perguntou.

– Sim – papai respondeu.

– Tem problemas respiratórios?

– Não.

– É virgem?

– É claro que é! Botão ainda fechado, esperando desabrochar. – papai parecera irritado, mas respondeu com relutância.

A multidão ao redor do avião parecia aguardar a saída de um deus daquela caminhonete e quando a viram, os gritos encheram o ar. Havia prendido os cabelos ruivos em uma trança, mas Colen afirmou ser infantil demais e desmanchou tudo, deixando as madeixas ruivas caírem. Agora estavam esvoaçando no vento frio do outono, enquanto ela era conduzida ao palco. A cerimônia de despedida seria breve, muitos vinham vê-la, na verdade o país inteiro se amontoava. Outras seis garotas já estavam posicionadas. Eram suas companheiras de seleção, as outras escolhidas da Eurásia. Viajara quase a Rússia inteira, apenas para chegar até ali, em uma caminhonete preta, com Colen ao seu lado, segurando discretamente o agasalho marrom.

– Não nos envergonhe – ele sussurrou, subindo os degraus com ela. Cuidadosamente, deslizou o braço pelo seu e a tomou, como um príncipe que conduzia alguma donzela. Era a primeira vez que fazia isso e Nicole sorriu, pousando a cabeça no ombro do irmão. – Eu disse para não fazer coisas estúpidas – ele a empurrou, e parou ao lado das outras selecionadas, todas com seus acompanhantes. Pais chorosos ou rígidos, irmãos tímidos ou amorosos e mães. Todas abraçando suas mães. E Nicole só tinha Colen.

Uma mulher vestida com um casaco de lã vermelho e calças de couro preto caminhou até o microfone e saudou a União Eurásia, agradecendo pelas meninas. No final das escadas, uma outra fila de sete garotas aguardavam o momento que subiriam até lá. Nicole não sabia se eram selecionadas da França ou da China. Tentou observar as suas colegas. Elas iriam para a Inglaterra, conhecer o príncipe e morar no castelo inglês. Uma talvez fosse a próxima rainha. “Talvez eu”. Ruborizou com o pensamento, enquanto Colen olhava o tempo todo para frente, esperando aparecer na televisão.

– Por favor, senhorita Bornikov, venha até aqui dar uma breve palavra para o seu povo.

E a moça foi, cabelos louros e pálida, parecia neve. Ela vestia meias-grossas e um vestido de lã cobrindo até os joelhos. Seus cabelos voavam ao vento, e quando ela falou, a voz se mostrou fina e doce. Ela disse coisas como força e honra, de estar orgulhosa em ter sido sorteada para representar a União. A segunda era a Senhorita Mornigvik, pele pálida, cabelos negros caindo em uma cascata grossa nas costas. Olhos incrivelmente azuis e lábios tão carmesim que não havia como não notá-la. Na ordem da fila, Nicole seria a última, e quando chegou sua vez, já sabia o que falaria.

A moça a chamou até a frente e, quando se impulsionou, Colen apertou sua mão. Seus olhos deixavam claro o que ele queria. “Não me envergonha, Nicole Throne. Sentiu algo subir por sua garganta, e gelar todo o rosto. Seria ansiedade? De repente perdeu a coragem, queria correr dali, sair correndo e nunca mais voltar. Queria acabar com aquilo, não ter todos aqueles olhos sobre si. Tremia, enquanto levava a mão até o microfone para tentar manter a calma. Quando o tocou, um som estridente tomou conta de todo o auditório e as pessoas pressionaram os ouvidos. Ruiu. Sabia o que Colen faria quando voltasse para junto dele, mas no momento, teria de falar algo.

– D-desculpe – murmurou, a voz falhando, enquanto tentava vencer o frio. - -stou muito feliz de –star aqui. – tremia até os ossos, mas as câmeras ligadas indicavam que teria de continuar. Respirou fundo. – Meu nome é Nicole, Nicole Throne. E eu sou uma das selecionadas da União. E sou livre.

Voltou para junto de Colen, mas notou que as outras garotas e encaravam. Colen estava prestes a dizer alguma coisa sobre como ela gaguejou, enquanto alguém começou a bater palmas dentre a multidão. E as palmas elevaram-se, até que todos gritavam seu nome e a incentivavam. Encarou-os, o calor se espalhando pelo rosto. Colen abriu um sorriso e acenou para a multidão. Eles não pararam até que Nicole e as outras estivessem dentro do avião, sendo levadas para a Inglaterra. Lá, sentou-se ao lado da loura e da morena, ambas silenciosas. Uniu as mãos no colo e abaixou a cabeça. Não sabia o que tinha feito que animara tanto as pessoas, mas estava feliz. Ela finalmente fez algo certo.

– Você sabe jogar – de repente Mornigvik falou, para ela. Seu tom era de quem admitia uma derrota, mas não de quem a odiava. Ergueu os olhos para a menina e notou que ela sorria com os lábios fechados. – Vai ser perigosa.

– Eu nem sei o que fiz. – admitiu.

– Que bobo. – a loura riu – Então foi sorte demais. As pessoas entenderam o seu “sou livre” como se dissesse que se inscreveu por livre arbítrio, que vive por livre arbítrio. Que o povo da União Eurásia é livre e que você vai trazer a liberdade a todos. – ela a cutucou no ombro. – Isso foi muito inteligente.

– E-eu quis dizer que estava livre. – suspirou – Da minha família.

As duas garotas se entreolharam.

– Você também é escrava deles? Meu pai me obrigou a assinar meu nome na carta da Seleção. – a morena disse. – Minha mãe me fez ensaiar um discurso por horas.

– Meus pais também insistiram – a loura concordou. – Disseram que era uma ótima oportunidade. Ser a rainha era... Algo maior do que eu poderia um dia ter.

Nicole não respondeu. Não queria entrar naquele assunto. Queria escapar dali, daquele avião, e voltar para o jardim secreto. Mas as duas garotas ao seu lado não pararam de conversar e quando notou, já estava íntima delas. Ouvia, sem responder, às vezes comentava, às vezes apenas ria. Descobriu que a morena se chamava Ginter e a loira se chamava Anastácia. O avião pousou enquanto Ginter ensinava Nicole a fazer uma trança embutida nos cabelos de Anastácia. Elas saíram, juntas, como um trio de amigas. Nicole nunca tivera amigas antes, e parecia realmente muito bom. De frente para o aeroporto, mais repórteres e pessoas se aglomeravam, todas aguardando para ver as selecionadas. Elas foram posicionadas de frente para um grande telão e posaram para fotos. Nicole manteve a cabeça baixa, e não sorriu muito, apenas o máximo para satisfazer os fleches. A verdade era que sentia vergonha diante de tanta atenção. Ela sempre quis ser um fantasma, para percorrer qualquer canto, sem que ninguém percebesse sua existência. Mas fora nascida ruiva, e os cabelos de fogo eram raros no mundo. Diziam que os ruivos traziam sorte, e que eram mágicos. Nicole gostaria de possuir alguma mágica para desaparecer.

Quando finalmente foram levadas para dentro do aeroporto, um carro preto grande, com lugar para todas, estava estacionado. Entraram e Anastácia chamou o carro de limusine. Nicole nunca vira um antes, e com certeza ganhava da caminhonete do Sr. Morrison. Havia uma caixa de madeira, que, quando foi aberta por uma das selecionadas, exalou frio.

– O que tem ai? – perguntou Ginter, e a garota lhe jogou uma lata de coca-cola. As cores eram as mesmas, entretanto as letras na lata estavam bem diferentes do que Nicole já vira. Não era russo, era inglês. – Ginter abriu a lata e bebericou, passando-a para Anastácia, que tomo um gole sem encostar os lábios na abertura e deu a lata a Nicole. Nicole nunca dividira refrigerante com alguém antes. Sorriu, bebendo e sentindo-se de repente enjoada. O gosto também era diferente. Parecia xarope, quase sem gás.

– Isso é mesmo coca-cola?

– Deve ser. – Ginter deu de ombros. – Os ingleses têm coisas diferentes, não?

Ingleses. Nicole quase se esqueceu. Não estava mais na Rússia. Estava do outro lado do mar, na Inglaterra. Onde ninguém falaria russo além daquelas garotas. Notou que, de repente, elas eram as únicas coisas que sobraram de sua terra natal. E estava feliz por ter Ginter e Anastácia ao seu lado. E também estava feliz por ainda ter um jardim secreto.


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Notas finais do capítulo

E votação foi a seguinte:
#Team Jasmine - 3
#Team Marina - 2
#Team Ashley - 1
Então, logicamente, vence Jasmine. Ela terá o primeiro encontro da fanfic! Beijos da Meell. E passem a fanfic para amigas, para amigos, para a sua mãe, seu tio, ou seu papagaio. Qualquer um! Precisamos de fichas!