Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 47
Mitsuko Soma Nakagawa


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 46

Mitsuko Nakagawa

“O amor, que é a primeira das artes da paz, pode-se dizer que é um duelo, não de morte, mas de vida” – Machado de Assis

2NE1 – Come Back Home

Isso não queria dizer que estivesse totalmente disposta a abrir mão de sua vida. Sorria, acene, vire a cabeça lentamente, tente segurar as coisas com delicadeza, mas seja forte, pois derrubar a xícara de chá é algo que uma dama não deve fazer. Erga o queixo, mostre seu rosto. Seja a mais bela e também a mais inteligente. Seja tudo o que todos esperam que será e então encontrará felicidade. Grande felicidade, ironizava, enrolando os fios loiros entre os dedos. Pintara os cabelos fazia cerca de seis meses e agora as raízes castanhas já surgiam. Aproximou a lente trincada, olhando por através dela, o mundo estilhaçado. O vagão corria rapidamente, enquanto o cenário da França mudava ainda mais rapidamente. Primeiro uma pradaria, depois bosques, e de repente estavam diante de um deserto interminável. O vagão estendia-se por pelo menos vinte metros, com mesas e cadeiras para que sentassem e compartilhassem a comida.

Se o Príncipe Louis ainda estava naquele trem, não dera sinal de vida nos últimos dois dias. Enquanto seguiam rumo a Península, podiam notar cada vez mais os traços que a família real nutria: companheirismo, responsabilidade, amabilidade e confiança. Seus irmãos menores não deixaram o príncipe por um segundo sequer, desde a notícia do assassinato do rei Francisco. Isso poderia ser o mesmo que julgar que Louis consolava os baixinhos, ou que era consolado por eles. Algo que não parecia tão impossível. Louis tinha várias faces e dentre elas era uma criança, que se escondia debaixo da saia da mãe sempre que algo ruim acontecia, assim dizia seu pai. Um garoto assim não tinha a maturidade suficiente para ser um rei, assim diria seu pai. Mas o que importava o que o pai diria ou dizia? Ele já não tinha nenhum poder ali e o Japão não era o maior dos problemas do mundo.

– Mitty. Mitty. – escutou, após alguns segundos de devaneios e isolamento total. Estava surda para o mundo, mas esse efeito terminava quando alguém lhe cutucava o ombro. Às vezes detestava isso, mas na maior parte do tempo era bom ser puxada de volta à realidade. Quem a chamava era Anny Valence, uma das selecionadas que restara. Entre elas, Mitsuko só conhecia mais algumas, como Catarina D’Aragon e Robbyn. – A Madame disse que hoje chegaremos à Península.

– Que boa notícia. – esboçou um sorriso calculado, enquanto virava o rosto novamente para a paisagem borrada na janela. Agora o vale se estendia por quilômetros, embora parecessem metros. As quatro selecionadas eram a Elite da competição, provavelmente a noiva seria alguém de grande influência na questão da guerra. Possivelmente Catarina, que vinha da Península, que até então mostrara-se uma boa aliada. Ou então seria Anny, para restabelecer os acordos com a União Eurásia. Tinha também a possibilidade de Robbyn, que vinha da China, embora o país mostrasse-se pacífico. Ele tinha grande poder de exército e mão-de-obra, assim poderia acabar se tornando um excelente aliado. Mas em todos os casos, Mitsuko não imaginava como o Japão pudesse ajudar a França. A mensagem enviada pela televisão do Imperador Japonês, alegando que o Rei Russo havia ordenado que capturassem seu único herdeiro como refém para colocar o Japão como seu escravo, estourava em todas as notícias. Perguntas de “Onde está o príncipe japonês?” e “Será que a União irá se impor contra as acusações?” não paravam de surgir. Até mesmo o assunto no vagão das mulheres (como ficou conhecido o lugar onde se reuniam) era apenas isso.

Mitsuko não gostava de pensar em política, normalmente envolvia assuntos delicados e complexos, onde o objetivo para se vencer o jogo era saber as intenções de seus adversários, prever seus passos, como em um tabuleiro de xadrez. Mitsuko não sabia jogar xadrez, mas sempre ouvira aquilo.

– Olhe, aquilo é o oceano? – de repente Anny apontou para fora da janela. – O oceano! – disse, perplexa. Realmente o oceano estava próximo, com suas ondas quebrando na praia. E além disso, o Sol punha-se naquele exato instante, indicando que seguiam em direção ao Oeste. Oeste não era a direção que deveriam seguir, com certeza não era. Estavam voltando para a França, não indo em direção a Península. Um frio tomou conta de sua espinha.

– Talvez erraram o caminho e estão dando a volta. – sugeriu, sem esperanças, enquanto as outras meninas (incluindo a Madame) tentavam comprovar o que Anny havia dito. A mulher mais velha abriu a boca espantada e sentou-se bruscamente. Mais pálida do que era possível imaginar que estaria. A única que notou seu ato fora a própria Mitsuko, enquanto as demais admiravam o oceano, sem compreender realmente o que aquilo significava.

Não podiam estar indo para outra direção. E do lado de fora os desertos voltavam a aparecer, com os buracos no meio da terra, onde as bombas outrora caíram e destruíram cidades inteiras. Viu algumas ruínas, mármore, pedra, esculturas quebradas e outras apenas caídas. Pilares inteiros trincados e esperando a próxima ventania para finalmente cair por terra. Aquela paisagem não era certa, não era isso que deveriam ver do lado de fora da janela. Estava passando pelas ruínas de Roma, e não pelo estreito entre a Península e a França. O oceano indicavam que já estavam próximos ao término da Itália, o que por sua vez significava que em breve a viagem terminaria. No extremo Sul da França, a um mar de distância da África. O raciocínio conectou-se quase automaticamente, enquanto voltava-se para a Madame e se ajoelhava diante dela, as mãos sobre seus joelhos, os olhos fixos no rosto pálido da mulher.

– Não estamos indo para a Península. – disse, o óbvio.

– Não – concordou a Madame, sem entusiasmo. Um tanto absorta.

– Para onde querem nos levar? – a segunda pergunta parecia tão ridícula quando a primeira, mas mesmo assim a fez. A Madame ergueu os olhos e respirou fundo.

– Para a morte. – e então abaixou a cabeça, uma lágrima escorrendo o canto dos olhos. – Para a morte, minha querida.

º º º

Seguiu, quase correndo, com as demais selecionadas pelo corredor, até o vagão do príncipe. Bateram três vezes, mas não obtiveram resposta. Por fim, Catarina sugeriu que arrombassem a porta, e quando Robbyn tentou fazê-lo, ela abriu quase sem dificuldade, como se não estivesse trancada. O quarto jazia em escuridão e silêncio. Sobre a cama, o corpo do príncipe, de Johanna e de Francis, todos sonhando com lindos mundos mágicos e encantados. Mas acabaram sendo acordados violentamente pelas garotas que até então estiveram quietas, de cabeça baixa e submissas.

– O que está acontecendo? – quis saber Louis, enquanto arrumava os cabelos ruivos que caíam sobre o rosto. Johanna ainda ronronava ao seu lado, porém Anny acordou-a com delicadeza, algo que era uma grande vitória em relação ao perigo que era Johanna. – Por que invadiram o quarto real?

– Vossa Graça, há uma emergência! Precisamos sair deste trem, imediatamente! – soltou Robbyn, ofegante pela tarefa de abrir a porta e correr pelos corredores. A garota ruiva e de sardas cobrindo o rosto em formato de coração quase vomitava o pulmão, sugando o ar com grandes golfadas. Louis notou a urgência na voz da garota e levantou-se, tentando compreender exatamente o que acontecia.

– Estamos indo em direção ao Sul. – explicou Catarina, que era a mais próxima de Louis entre todas. – Ao invés do Leste.

– Mas... Então vamos falar com os motoristas. – Louis deu de ombros, bocejando em seguida.

– Acontece que este é um trem moderno e trens modernos não têm motoristas – Anny interveio, ganhando novamente a atenção do príncipe. Louis parecia quase pronto a cair dormindo na cama, porém se manteve firme e forte, agüentando tudo.

– Ora, então... Vamos consultar os responsáveis por isso.

– Não há como – Catarina suspirou. – Só podemos fazer uma coisa, sair deste trem, antes que cheguemos ao fim da linha. Pois se chegarmos, estaremos mortos.

Louis abriu os olhos um pouco mais quando ouviu a palavra “mortos”. O Príncipe pensou por alguns instantes e de repente seus olhos se voltaram para os irmãos que dormiam angelicalmente na cama. Johanna havia amarrado os cabelos em um rabo de cavalo e Francis mantinha um dos dedos na boca, chupando-o de vez em quando. Louis suspirou.

– E por quê estaremos mortos? – havia algo diferente em sua voz, um tom de seriedade que ninguém julgaria ser possível para um rapaz como ele. E era assim que surgia outro lado enigmático daquele príncipe.

– Porque não estamos indo em direção a Roma ou simplesmente a praia. – abriu a boca, pela primeira vez na frente do príncipe - Estamos indo em direção a uma colônia de africanos que atravessaram o Mar Mediterrâneo. Africanos contaminados com a Praga.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Gostaria de pedir que os leitores fantasmas ou mesmo aqueles que só rodaram a tela até aqui embaixo, comentem. Deem algum sinal de vida, uma crítica ou mesmo uma carinha sorridente. Mas me mandem alguma coisa. Estou me sentindo solitária esses dias... :/