Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 44
J.C. Simons


Notas iniciais do capítulo

Aqui está, capítulo do Príncipe Adam (ou quase). Boa leitura.



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Capítulo 42

J.C. Simmons

“A bravura é taciturna, mas a covardia garrulante” – Marquês de Maricá

Puxou as cobertas para cima de seus ombros. Ela estava pálida, embora fosse natural de sua pele. Arrumou os cabelos sobre o rosto, revelando o nariz levemente arrebitado e as bochechas avermelhadas. CC pigarreou, chamando sua atenção por cima do ombro. Lançou-lhe um olhar significativo.

– Sinto falta de quando cuidava assim de mim. – ela murmurou, com os lábios formando um bico de passarinho. Jace já estava acostumado com a irmã mais velha, que insistia em ser tratada como caçula. Cecile era alta e robusta, com tronco largo e braços fortes, pernas pesadas e manuseava o machado bem como qualquer lenhador daqueles lados. Ela tirou o bule do fogo, a água fervida, agora sendo depositada com as ervas para o chá. Morar na China não era ruim, porém morar na divisa entre Rússia e Inglaterra... Era terrível. As transições comerciais, o idioma, o próprio modo de comercializar. Tudo se modificava com apenas alguns quilômetros. Era incrível como o governo conseguia unificar tudo em apenas alguns anos após o quase fim da humanidade. – Ah, Jace, você é tão protetor... – ela suspirou, quase pela quinta vez, enquanto colocava as duas xícaras para que bebessem o chá. – Primeiro gatos perdidos, peixinhos dourados, cães sarnentos... E de repente uma garota! Logo estará trazendo órfãos e freiras.

Jace apenas revirou os olhos, puxando as cobertas um pouco mais para cima dos ombros da garota pálida que havia encontrado perambulando moribunda pela floresta. Ela tremia, estava pálida como um cadáver, e ele teria achado que realmente estava morta, até que virasse o rosto em sua direção, revelando maçãs vermelhas, nariz rosado e fumaça branca esvaindo dos lábios. Ela estremeceu, antes de fechar os olhos e cair, já desacordada. Se não fosse por ele, teria morrido congelada na neve, enquanto a noite transformava os pinheiros em grandes espinhos brancos. Cecile era sempre preservadora e preferia não se envolver com coisas desconhecidas. A irmã não aceitou facilmente a entrada da garota na estadia pequena que era o chalé que possuíam no meio da uma ilha no Mar do Norte, um lugar onde poucas pessoas viviam, naturalmente lenhadores, e que volta-e-meia iam para a Inglaterra ou a União Eurásia vender seu material.

– E se ela for uma assassina? E se nos roubar quando estivermos dormindo? E se ela...

– Nos roubar? Há uma tempestade de neve ai fora e você acha que ela irá nos roubar? – ergueu as sobrancelhas, descrente. Cecile era inteligente, mas às vezes usava-se de argumentos muito falhos. – E ela não é uma assassina. Não tinha armas, nem mesmo machados para cortar lenha. Apenas roupas, um casaco molhado e uma carta com o selo real inglês.

– Ótimo, uma duquesa. Vamos vendê-la para os americanos e terminamos com as preocupações. – a irmã sorriu, entregando-lhe a xícara de chá. Jace sabia que jamais fariam aquilo, mas mesmo assim a olhou com uma carranca, a costumeira. Ele não era um velho, tinha menos de vinte e cinco anos, porém herdara os traços grossos e angulosos do pai, e o temperamento rabugento e sem senso de humor. Jace não costumava sorrir ou rir, não que ele achasse ruim, mas simplesmente não acontecia. Assim como dizer palavras gentis. Por outro lado, ele costumava tratar bem demais as outras pessoas, normalmente abrindo mão de si mesmo para o bem dos outros. Cecile, o total oposto, era somente sorrisos, piadas e egoísmo.

– Não vamos vender ninguém. – disse, firmemente, e a irmã revirou os olhos. Quando o pai os deixou sozinhos para viajar até a Inglaterra, em expedição de comércio, ninguém informou que não voltaria. Até agora, esperavam pacientemente, pois muitas vezes o navio podia atrasar, imprevistos aconteciam e a invasão americana também piorava tudo. A ilha estava isolada do resto do mundo, e assim não podiam enviar cartas, mandar mensagens ou mesmo localizar o pai. Apenas aguardar. Aguardar. E aguardar. Até ter certeza de que ele nunca voltaria. Cecile tentava vez aquilo pelo lado positivo, mas Jace sabia que o mais provável a acontecer era a última opção.

Cecile caminhou em passos lentos até a menina adormecida e a observou de perto, antes de alcançar a carta contendo o selo real inglês. Como ela viera parar ali, numa ilha no fim do mundo? Como ela tinha uma carta real, roupas de tecido caro e uma beleza sobrenatural, estando perdida em uma floresta, quase congelada? As perguntas borbulhavam na mente dos irmãos Simons e só seriam respondidas quando a loura acordasse, o que não parecia acontecer dentro de algumas horas. A irmã rompeu o selo real, sem rodeios, e embora Jace tenha pensado em protestas, ela já havia pego o papel amarelado e passava os olhos pelas linhas, então apenas esticou o pescoço e tentou ver por cima de seu ombro. Cecile abriu a boca em um grande “O” e as sobrancelhas ergueram-se, surpresas. Jace sentiu a curiosidade se tornar desespero. Ansiedade. Necessidade. Precisava saber o que era.

– Leia logo. – incentivou, um pouco rude, porém a irmã já estava acostumada com aquilo.

– “Adorável senhorita Ashley, venho com palavras miúdas e ocas, dizer que sinto sua falta, de verdade em grito, digo com expressiva agonia. Não imaginaria o quanto minhas queridas e tão agitadas acompanhantes poderiam provocar em meu âmago. Um sentimento que nunca provei antes, assumo.” – Cecile ergueu seus olhos faiscantes. – É uma carta.

– Uma carta escrita com muita dedicação, por sinal. O que é “âmago”?

– Eu não sei. – Cecile deu de ombros. A irmã era alfabetizada, enquanto ele teve de passar seus anos escolares ajudando o pai a empilhar lenha. Cecile tivera sorte, nasceu na Inglaterra e estudou alguns anos. Aprimorou a leitura utilizando cartazes e até mesmo os jornais.

– Leia mais. – incentivou-a novamente, sabendo que só conseguiria saber o que tinha na carta se ela lesse em voz alta. Algo que o irritava ligeiramente.

– “Gostaria de ter conhecimento de seu paradeiro, se está feliz ou mesmo segura. O convento é um ótimo lugar para as moças, sei disso, mas ainda não me convenço. Sofro todos os dias imaginando quais perigos podem sofrer, estando ainda na Inglaterra, enquanto eu enfrento o outro lado do oceano, com pessoas estranhas e idiomas ainda mais estranhos. Não nasci para fazer viagens de longa duração e creio que não voltarei tão logo para a Inglaterra. Uma certeza que me dói o peito”.

Seria uma carta da família real? – Jace levantou a questão.

– Vou ler o final da carta – Cecile disse, e leu. – Aqui diz “De seu amigo, acompanhante e príncipe, Adam”. – Ela piscou um pouco os olhos, antes de levantá-los. – Príncipe Adam.

Jace sentiu a culpa escorregar por seu coração. Não deveriam estar lendo aquela carta, não pertencia a eles. Talvez Ashley não quisesse que fosse lida, talvez estivessem invadindo demais sua privacidade. Levantou-se brutamente e arrancou o papel amarelado das mãos de Cecile, com força suficiente para fazê-la soltar. Notou o modo como a caligrafia era curvilínea, como Cecile nunca conseguiu escrever, era graciosa e a caneta logicamente tinha uma ponta muito fina para tantos detalhes. A assinatura tinha um “A” grande em comparação aos outros, com voltas e curvas em excesso. Mordeu o lábio inferior, gostaria de saber escrever assim. Mas contentou-se em guardas a carta no envelope e virar-se para a xícara de chá. Segurou-a perto dos lábios, assoprou e bebeu. Cecile fungou.

– Queria ler tudo.

– Se ela quiser, você vai ler. – indicou a menina desacordada com a cabeça. – Até lá, a carta não é propriedade sua. Eu a achei, ela é minha responsabilidade, lembra?

Cecile cerrou os punhos, mas abaixou a cabeça, vencida. Ele sentiu uma pontada de entusiasmo com a vitória, mas logo se dissipou, enquanto sentava novamente na cadeira diante do sofá, puxava as cobertas para cima dos ombros da loura e observava suas maçãs rosadas.


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Notas finais do capítulo

Desculpe a demora, mas estou em semana de começo de aulas (greve dos professores, conteúdo acumulado T-T) e não tenho conseguido escrever. Então, peço sinceras desculpas e prometo tentar escrever mais rápido. Beijos da Meell Gomes.



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