Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 43
Hansel & Gretel


Notas iniciais do capítulo

Para começar, me desculpem a demora! Estava muito cansada para escrever por causa do colégio e dos cursos extracurriculares. Mas enfim consegui terminar este capítulo. Queria ter feito maior, mas ai está. Boa leitura.



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Capítulo 41

Hansel & Gretel

“A ilusão é a única verdade – o nervo da vida” – Godofredo de Alencar

Bastille – Bad News

Certo dia, Hansel chegou em casa correndo e encontrou Maria – governanta da família – colocando tudo que estava no guarda-roupa sobre a cama, roupas, sapatos, meias, cuecas e até mesmo seus pertences que enfiava no fundo do armário, pertences somente dele e que ninguém além dele poderia tocar. Já sentia o desespero batendo na goela.

– O que está fazendo? – perguntou, da maneira mais educada que conseguia, pois ainda era um cavalheiro, mesmo irritado.

– Arrumo suas malas, senhor. – Maria respondeu, de cabeça baixa, com sempre fazia. Talvez o carpete fosse impressionante para ela.

– Mas por quê? – a voz subiu uma oitava no término da frase. Deslocou-se rapidamente, até estar entre Maria e o guarda-roupa. Sua cabeça batia na altura da cintura da mulher, e isso o obrigava a olhar bem para cima, erguendo o nariz. – Vamos sair de férias? Vamos viajar?

No momento, a mãe parou diante da porta. As mãos unidas em frente ao corpo, os cabelos castanhos como os de Hansel presos em um elástico coque no alto da cabeça, tão firme e perfeito que nenhum fio escapava-lhe. Os olhos rasos no rosto, azuis, eram muito próximos e os lábios extremamente finos franziam-se como sobrancelhas. Hansel gostava de ter o pai como salvação, pois se fosse parecido com a mãe não teria todos os elogios que hoje lhe eram empregados.

– Hansel. – ela disse, não séria, mas como normalmente reage quando ele chega em casa sem avisar que está de volta. Era costume sempre dizer quando se retorna ou deixa a casa, como um meio de anunciar que estará na rua, com a probabilidade de se contaminar. – Você chegou mais cedo, como pedi. – ela parecia falar, como um modo de acreditar naquilo, pois raramente Hansel cumpria os prazos que a mãe lhe dava. – Acho que precisamos conversar...

– Por que Maria está mexendo nas minhas coisas? Por que vamos viajar? Para onde vamos? – perguntou, quase esquecendo-se de que não podia interromper a mãe enquanto ela estivesse falando. Mas o momento era especial, e por isso ele foi perdoado, a mãe apenas apertou as mãos e indicou as escadas com a cabeça.

– Vamos conversar lá embaixo. – virou-se, já caminhando em direção às escadas. Hansel relutou, hesitante em deixar Maria mexer em suas coisas – principalmente nos pertences somente dele e que ninguém além dele poderia tocar – mas por fim obedeceu. Seguiu o corredor e saltou dois degraus de cada vez, até estar lá embaixo, com a mãe, diante das grandes portas de madeira. – Hansel, você já deve ter percebido que seu pai tem um emprego muito especial.

– Sim. – ele concordou. – Os Reis têm vários planos para ele.

– Exatamente. – a mãe ameaçou sorrir, entretanto desistiu antes de fazê-lo. Isso só queria dizer que ela estava nervosa, e enquanto apertava as próprias mãos na frente do corpo, Hansel tomou ainda mais certeza disso. O que quer que ela quisesse falar com ele, não poderia ser bom. O que fizera? Qual foi seu erro? Tinha se comportado muito bem essa semana, na verdade, nos últimos tempos ele se comportava de maneira perfeitamente bem. Não se lembrava de ter feito qualquer encrenca. Então por quê estava sendo castigado? Por que Maria estava preparando as malas? Por que seria levado para outro lugar?

– Mãe, o que eu fiz? – perguntou, já encolhendo os ombros e preparando-se para o sermão. No entanto, a mãe apenas soltou uma risada nervosa e ajoelhou-se diante dele, ficando na sua altura. Ela fazia isso quando o vestia para ir a igreja. E também quando queria conversar sobre algo sério, de maneira gentil. E também quando ia abraçá-lo. Entretanto não parecia pronta para fazer qualquer uma dessas coisas.

– Você não fez nada, meu querido. – ela tocou seu rosto, sorrindo levemente. Limpou a garganta, pigarreando. – O emprego de seu pai às vezes exige que ele demonstre seu valor, realizando tarefas que apenas ele pode concluir. E isso inclui a família.

– Os Reis pediram para me mandar para longe? – a voz de Hansel tomou uma nota de choro, enquanto os pensamentos tentavam processar tudo o que acontecia.

– Não, querido, não. Estamos todos indo para longe. – ela segurou suas mãos – Todos vamos embora. Seu pai precisa ser útil em outro lugar, e nós iremos acompanhar ele nesta tarefa.

– Mas não fizemos nada de errado para termos de ir embora.

– Hansel, você acha certo deixar seu pai sozinho, em outro lugar, onde não conhece ninguém? Ele se sentiria muito solitário. Juntos poderíamos ajudar ele. Não acha?

– Bem, sim. Mas eu tenho convicções de que nossa vida é aqui, em Carolina. – Hansel tinha aprendido recentemente a palavra convicções, e planejava usá-la com freqüência.

– Querido... – suspirou, como os adultos fazem quando não estão com paciência para explicar algo a uma criança. – Nós temos que acompanhar seu pai, não importa onde vá, pois ele é nossa família. E a família é uma coisa muito importante. Você tem vários amigos que não têm os dois pais ou uma irmã inteligente e bonita como Gretel.

– Uma irmã mimada, isso sim. – revirou os olhos, porém notou que fizera algo errado, pois a mãe torceu o nariz e cruzou os braços. Curvou os ombros, de maneira desleixada, e soltou uma longa bufada. – Desculpa. – não podia ser esnobe ou arrogante, nem egoísta ou sarcástico quando se tratava da irmã menor, Gretel. Ela era mais alta por alguns centímetros, e mesmo assim um ano mais nova. Enquanto tinha de insistir que possuía nove anos, a irmã conseguia convencer todos de que tinha dez. Isso era muito injusto!

– O que eu quero dizer, Hans, é que você tem de entender, como irmão mais velho e responsável, que algumas vezes abrimos mão de certos confortos por pessoas que amamos, principalmente pela família. Papai faria tudo para ajudá-lo. Então vamos ajudá-lo também.

– Se ele quisesse me ajudar, nos deixaria aqui. Ninguém precisa de um trabalho mais especial. – bufou, mas teve de se desculpar novamente. Mamãe sempre disse que o controle emocional é a base para a sabedoria. Tomar decisões na flor do desespero era errar feio, por isso Gretel era a criatura mais insuportável que Hansel já havia visto. Embora fosse sua irmã. – Acho totalmente descabido nos mudarmos justo agora, em período de guerra.

– Guerra? – mamãe abriu os olhos azuis o bastante para deixar marcas na pele ao redor deles. Seus lábios tremiam levemente, enquanto ela apertava as próprias mãos na frente do corpo. Ela estava nervosa. – Quem disse sobre guerra?

– No colégio, a professora de História disse que estamos prestes a entrar em uma guerra. – piscou os olhos, atônito. Não sabia porquê tinha de falar sobre sua professora, se o assunto era a mudança repentina. – Mas nós não iremos embora para muito longe, certo? Não mais que dois quilômetros. – Hansel não sabia quanto media dois quilômetros, mas parecia ser longe o suficiente.

– Bem... – a mãe pensou um pouco – Com certeza é muito mais que dois quilômetros. Iremos para o outro lado do mar, para o outro lado do mundo. – sorriu fraco – Vamos conhecer várias coisas novas, e você fará amigos que falam outras línguas.

– Eles serão brancos, como nós? – ergueu as sobrancelhas, e de repente soube que tinha dito a pior coisa que poderia. A mão de mamãe desceu sobre sua boca, o estalo ecoando pelos ouvidos. Ardia como uma bola de neve sendo acertada bem na bochecha.

– Nunca, nunca repita isso. – ela vociferou – Se disser mais uma vez, uma única vez, eu juro que...

– Mas papai diz. – justificou-se, segurando as lágrimas.

– Seu pai é... Seu pai. – ela balançou a cabeça, levemente. – Mais tarde quero conversar sobre sua professora de História. Agora, volte para o quarto e ajude Maria a terminar suas malas. Partiremos dentro de três dias.

Hansel observou-a por alguns segundos, antes de virar as costas, sentindo-se vencido, e subir as escadas lentamente. A cabeça pendia do pescoço, enquanto esfregava a bochecha. Mamãe normalmente não lhe batia, mas quando o fazia era como se tivesse dito que ele não seria mais seu filho. Doía mais que apanhar do pai. Hansel gostava muito do amor da mãe, e sabia que era o preferido dela. Então quando apanhava, tinha o dobro da dor. Todos os garotos do colégio diziam que queriam ser como o pai de Hansel quando crescessem. Importantes, autoritários, fortes e bonitos. Ninguém ficava melhor de terno que papai. Ninguém discursava melhor que papai. Não havia outra pessoa que pudesse ser ouvido bem de um lado ao outro do cômodo, como papai fazia com sua voz imponente e grave. Hansel queria ter a mesma voz, quando se tornasse grande. A culpa não era de Hansel se eles viviam em uma concentração branca, onde todos eram brancos, com escolas para brancos, banheiros para brancos, escovas de dentes para brancos. Ele também não tinha culpa se havia um conjunto habitacional para negros, do outro lado de Porto Rico, onde havia escolas para negros, banheiros para negros e escovas de dentes para negros. Hansel também não compreendeu porquê mamãe queria falar sobre a professora de História, afinal ela não tinha ligado para casa reclamando de seu comportamento, e a nota na prova fora razoável.

Alcançou a porta do quarto, ainda com os pensamentos em mente. Mas antes que pudesse evitá-los, esqueceu-os de súbito e correu em direção ao guarda-roupas, enquanto Maria retirava de lá sua caixa contendo a coleção de carrinhos que fora de papai e agora era dele. Arrancou a caixa das mãos dela.

– Cuidado – disse, não querendo soar ríspido, mas infelizmente soando.

– Me desculpe, senhor. – Maria abaixou a cabeça, virando-se para a cama, e dobrando as roupas. Duas malas já estavam prontas. Hansel mordeu a parte interna da bochecha, aborrecido. Ele realmente tinha convicção de que aquilo não era necessário e que seria a pior escolha que seu pai poderia tomar. “Mas poderíamos deixar Gretel cuidando da casa. Ela não se importaria de ficar aqui”.

º º º

Melanie Martinez – Cry Baby

Terminou de colocar a última boneca fora da caixa, arrumando ligeiramente os cachos louros de uma delas. Seu vestido combinava com o da boneca preferida, Barbara, que tinha cabelos castanhos claros e olhos cinzentos, como os dela. Subiu sobre a cama do maior quarto da nova casa, onde uma prateleira esperava pelas novas bonecas. Enfileirou-as, delicadamente, com perfeição invejável para suas amigas de Porto Rico. Agora estavam do outro lado do mundo, em um lugar chamado África, na maior cidade do continente, bem próximo ao oceano, havia um mar de frente para a janela de seu quarto e Gretel poderia até mesmo pedir a mamãe para levá-los até lá durante os finais de semana. Só não tinham vizinhos amigáveis, em sua maioria, negros e não falantes de inglês.

– Gretel, pode me ajudar com as cordas? – Hansel adentrou o quarto, pisando levemente sobre o carpete, apenas de meias. Segurava seu violino em uma mão e o arco na outra, as cordas do violino desafinadas pendendo do instrumento. Concordou com um meneio, sentando-se sobre a própria cama e arrumando as cordas para o irmão mais velho. Hansel tinha dedos pequenos, porém estabanados, era incrível como conseguia tocar violino sem se enrolar, mas ele era um desastre no piano. E falando em piano, ele seria colocado na sala de estar, onde poderia tocar para os convidados, se é que um dia teriam convidados para jantar. Gretel sentia que não fariam tantos amigos assim.

– Acha que Maria realmente foi visitar os parentes? – perguntou ele, de repente, interrompendo o silêncio. Gretel ergueu os olhos.

– Maria? A governanta?

– Sim. Ela cuidava de nós. – Hansel mordeu o lábio inferior, quase irritado. – Não acredito nisso. Acho que algo ruim aconteceu e ela teve de ficar em Carolina. Talvez tenha adoecido.

– Talvez seja a Praga. – Gretel deu de ombros, sem muito se importar com aquilo. As pessoas se contaminavam com a Praga a todo momento, não seria surpresa caso um deles estivesse doente agora mesmo, ainda mais após a longa viagem de navio.

A casa nova não era como a antiga, era menor e muito feia. Cheirava a mofo, com corredores estreitos, escadas de um corrimão e sem chaminés. Os telhados estavam todos encardidos e as paredes manchadas de infiltração das chuvas. Rachaduras dominavam a pintura tosca de seu quarto, o carpete parecia quase encharcado e negro, cheio de fuligem e os móveis rangiam, junto com as persianas e as portas. Algumas janelas não tinham vidro, outras não possuíam cortinas. E a maioria abria-se com a força do vento.

– Foi um erro vir para cá. – Hansel suspirou, como se fosse uma criança. Embora realmente fosse. O irmão tinha nove anos, e era doze meses mais velho que ela. Entretanto Gretel ainda pensava que tinha uma inteligência mais avançada. Mamãe dizia que as meninas amadureciam primeiro que os meninos, e que normalmente cresciam mais até os doze anos, o que queria dizer que ela sempre seria mais alta e mais inteligente que Hansel. O irmão tinha aquele ar infantil inocente e bobo, chorava facilmente e tinha pensamentos equivocados sobre a maior parte dos assuntos adultos. Coisas que até mesmo ela já conseguia entender. Porém ainda não se via como irmã mais velha, por algum motivo, era sempre Hansel quem a protegia.

– É o trabalho de nosso pai. Temos de apoiá-lo em qualquer circunstância. – disse, terminando de colocar a corda Mi no lugar certo e entregando o violino para ele. – Agora eu preciso arrumar meu quarto.

Hansel saltou da cama com um movimento já colocando o violino sobre o ombro. Ele tocava muito bem, e Gretel se permitiu ouvir um pouco, antes de enfim se colocar novamente ao trabalho de organizar as bonecas. Colocou algumas sobre o armário e também na penteadeira. Poderiam ser muitas bonecas para uma garota, mas ela tinha fé de que logo conseguiria mais amigas. “E se eu tiver bonecas, elas irão querer vir até aqui para brincar comigo”. Aprendera este golpe fazia alguns meses. Se você tiver o brinquedo, os outros irão querer brincar também. São como os primos mais velhos que não têm a bola, mas você tem a bola, por isso eles te colocam no círculo da brincadeira, apenas por causa do que você tem, não porquê realmente o querem na brincadeira. “Mas o importante é se misturar em um grupo de amigos”, insistiu, colocando os vestidos nos cabides e ordenando por cor no armário.

Gretel já estava quase partindo para as caixas com seus jogos de tabuleiro, quando o mordomo subiu as escadas correndo, chegando a porta do quarto ofegante. Ela o encarou de cima a baixo antes de notar o tom de urgência em seus lábios.

– Senhorita, precisamos ir ao porão! Ao porão, agora! – dizia, com rapidez surpreendente.

– O que houve, Ruan? – caminhou em direção a porta, já vendo Hansel aparecendo no corredor. O mordomo a agarrou pelo braço sem gentileza e a empurrou em direção às escadas. Não houve tempo para questionar, assim que o primeiro abalo tomou conta das paredes da casa, Gretel tomou noção da gravidade de tudo, e Hansel segurou em sua mão, puxando-a escada abaixo, descendo os degraus tão rápido que poderia ser perigoso. O mordomo vinha logo atrás. Ouvia a voz dos pais gritando, mais empregados apavorados indo em direção ao porão, até que as paredes estalaram e por uma das janelas Gretel conseguiu ver o que acontecia: areia. Muita areia. Vinda do lado oposto da praia, onde o deserto estava. – Hansel... – sussurrou, puxando-o até lá, para que o irmão visse também, e então, como que por obra do destino, a janela explodiu e os grãos de areia adentraram o local, o mordomo correu e caiu, sendo coberto pelo amarelo ouro. Gretel sentiu o calor percorrendo seu corpo, enquanto as mãos de Hansel envolviam-se fortemente às suas.

Uma tempestade de areia vinha em direção a casa, que já caía aos pedaços. Ela não suportaria e então cederia até que todos estivessem esmagados. A única opção seria ficar em um local onde não tivessem contato com a tempestade. Porém o porão não era acessível. Gretel olhou ao redor, e sentiu o braço de Hansel envolver sua cintura e puxá-la para cima. Agora estava fora do monte de areia formado perto da janela explodida. O irmão a puxava em direção a porta principal, que ficava na direção da praia, contra a tempestade. Compreendeu o que ele estava pensando. Se ficassem atrás da casa, a tempestade de areia passaria por eles e não seriam atingidos. Ajudou-o a correr até lá, e quando abriram a porta, sentiram o vento e o calor intenso. Gretel precisou fechar os olhos para que nada invadisse-os e a fizesse chorar. Por fim, ambos se esconderam atrás da cadeira de balanço da varanda, encolhidos, juntos e abraçados. Hansel passava seus braços ao redor da irmã, e Gretel sentia-se grata por isso.

Agora era só esperar a tempestade passar. Ao menos, era isso que pensava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Próximo capítulo tem príncipe! Votem:
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