Your Selection - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 45
Denzel, O Filho da Duquesa


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/593724/chapter/45

Capítulo 44

Denzel, O Filho da Duquesa

“Fatalidade – nome com que acobertamos nossas covardias” – Francisco de Bastos Cordeiro

Bastille – Weight Of Living, Part I

– Eu juro! – o velho riu de forma descontrolada – Peguei ela pelas pernas e meti tudo! Ela antes queria fugir, mas se entregou para o papai aqui. – ele se vangloriou. Denzel já conhecia de cor a história de como tinha sido feito. – Depois de nove meses ela me chamou numa viela deserta e me entregou o bebê. “Cuide dele, Albert, será o símbolo do nosso amor”. Quase joguei você pela privada. – o pai arrotou guturalmente e estalou os dedos. – Mas sua voz de menina chorando me fez pensar que talvez pudesse ser útil, afinal não é todo dia que nascem bastardos reais por ai, certo?

“Bastardo real”, era um dos maiores títulos que gente da laia dele poderia receber. Denzel nunca conheceu a tal duquesa, nunca seu pai falou dela que não fosse o estupro e a entrega do bebê na viela. Crescer na América, nas cidades do Sul, principalmente, era quase um pedido explícito de morte. Porém ele era filho de um forte homem que o ensinou tudo o que precisava: como fugir da polícia, como roubar, como levar mulheres para a cama e acima de tudo: como fugir da peste. Era incrível que, em todos os anos que viveu correndo sobre constante ameaça ao lado do pai, nunca tenha visto de fato qualquer notícia sobre a peste, policiais prendendo-o ou mesmo fome. Nunca passou fome, lembra-se vivamente de como era emocionante atirar pedra nos vagões de trem cheios de soldados indo treinar na América do Norte.

– É como diz o ditado, me diga quantas mulheres já comeu e te direi qual o tamanho da sua virilidade. – a voz do pai, sempre bêbado, ecoava em seus ouvidos. Quando foi mesmo que decidiu fugir? Talvez depois dos dezoito, quando notou que escolhera um caminho sem volta.

Entreabriu os olhos, a cabeça doía demais. Esfregou o rosto até estar desperto. Levantou-se, rapidamente, encarando o ambiente ao redor. O oceano jogava as ondas contra o cais com violência, negro. As nuvens no céu anunciavam a tempestade que vinha do Oeste. O cheiro de peixe chegou às suas narinas, cheirou-se por alguns segundos, antes de entender que o fedor era o seu próprio. Dormiu sobre os restos de peixes, sal e caixotes velhos. Arrancou a camisa pela cabeça e arrependeu-se brutalmente, o frio atravessando a pele como setas de flechas. Mais um vez olhou ao redor. Onde estava? Havia inúmeros barcos no caís, pescadores e comerciantes, todos com olhares vazios ou irritados. Outros portavam armas, o que parecia ser a polícia. Estreitou a visão, até identificar a braçadeira do primeiro soldado, refletindo a bandeira norte-americana. Então lembrou-se: estava na Inglaterra, com o exército americano. Contrabandeando pessoas, para ser mais exato. Pessoas que poderiam ter algum valor no comércio de “resgate de entes queridos”. E ele tinha um trunfo. Fugiu, mas não totalmente despreparado. Procurou por ela, em vão. De repente sentiu o desespero subindo as veias. Perdeu. Perdeu seu trunfo.

Percorreu todo o caís, tentou encontrar alguma cabeleira loira, ou qualquer vestígio. Quando a encontrasse, esfolaria toda a sua pele até que aprendesse a não fugir mais. Então parou. Como fora parar no caís, entre caixotes, peixe e sal? Havia uma lacuna entre suas memórias, algo lhe faltava. Alguma coisa não estava certa. Sabia que tinha de se lembrar, mas como? Batendo a cabeça contra um poste? Denzel não era tão idiota a ponto de tentar isso. Então... O que acontecera?

Se a tivesse, conseguiria um bom dinheiro para recomeçar a vida. E agora perdeu essa oportunidade única. Todavia, ao invés de deixar tudo como estava, Denzel não conseguia parar de pensar que deveria ter acontecido algo entre seu encontro com Octor e acordar pela manhã ali. Revistou os bolsos, estava com a arma e a carteira, também tinha um pedaço de tecido no bolso direito da camisa e um lenço branco.

Cheirou o pedaço de papel, e de repente se inundou de um perfume doce como mel, impregnando as narinas com voracidade. Cheiro de mulher. Cheiro de trunfo. Quando foi que retirara um pedaço da roupa de Ashley? Piscou, atônito, abrindo o lenço branco e encarando a marca de batom, com os traços perfeitos de lábios bem desenhados, vermelho intenso. Piscou. “Eu estou de ressaca?”, tentou levar adiante esse pensamento, mas desistiu. Mesmo não sendo o maior dos cavalheiros, jamais traria uma mulher para um caís e comeria ela entre peixes, caixotes, cordas e redes de pesca. Até ele sabia ser gentil. Talvez fosse um adeus de Ashley, uma daquelas coisas que as donzelas fazem quando se despedem de seus príncipes. Riu, que idiotice. Com certeza não era aquilo também. Ashley teria corrido sem olhar para trás, caso pudesse. Sua única chance de saber qualquer coisa era Octor, talvez ele soubesse o que acontecera. Enfiou a mão no bolso escondido da perna e arrancou de lá o celular. Discou rapidamente o número.

– Sim? – a voz sonhadora e embargada de Octor dizia que o homem estava dormindo.

– Eu disse para onde ia, depois de te encontrar no beco? – perguntou, sem rodeios.

– Espere – a pausa se prolongou – Denzel? É você?

– Sim, é o Denzel, querido. Agora me diga tudo o que sabe que eu fiz ontem.

Octor ficou em silêncio por alguns minutos e então suspirou.

– Acho que você deveria vir até aqui. – ele parecia quase preocupado.

– Eu só quero saber o que aconteceu!

– Sei, sei. Mas tem de vir até aqui. – Octor parecia determinado – De outro modo, não poderei explicar. Venha o mais rápido que puder. Até logo. Ah, vou fazer café. Você parece precisar. Tente tomar um banho, odeio peixe.

E então desligou. Ainda com o celular no ouvido, Denzel virou abruptamente para cima, procurando onde estaria a câmera. Encontrou-a não tão longe. Além de um ótimo médico, Octor também era um crânio em computação e robótica, conseguia violar qualquer sistema da Inglaterra ou países vizinhos. Não era surpresa que ele tivesse acesso às câmeras de todo o reino. Suspirou, guardando o celular e sacando a arma. Tinha uma bala, o suficiente para se proteger por pouco tempo, caso encontrasse confusão. Encontrou um iate ancorado entre dois navios pesqueiros modernos. Aproximou-se e observou por algum momento, até que o dono do iate surgiu. Um idoso com traços orientais. Andava lentamente, curvado. Abriu um sorriso quando o viu.

– Rapaz? – perguntou ele, parando diante das escadas do iate.

– Olá, senhor. Sou Denzel Foxweell, primo de segundo grau do Príncipe Adam e primo de primeiro do Rei. Filho da Duquesa Foxweell. – apresentou-se. – Posso abusar de sua gentileza e pedir para tomar um banho?

– Pensei que a Duquesa Foxweell não tivesse filhos. – o idoso comentou, mas deu de ombros. – Mas em todo caso, pode tomar banho, fique à vontade, vossa senhoria.

– Obrigado. Lembrarei do senhor quando estiver jantando com meus primos. – curvou a cabeça levemente e desceu as escadas do iate, sentindo-se vitorioso. – E o senhor é...?

– Gao Fujiwara. Irmão do Imperador Isao Fujiwara Primeiro e tio do príncipe Isao Fujiwara Segundo.

º º º

Tocou a campainha do apartamento de Octor. Encontrar o irmão do Imperador japonês fora algo que não esperava. Mas também não se surpreendera tanto. Em tempos como aquele, ter olhos em todos os cantos era essencial. Só esperava que isso não colocasse sua pequena mentira contra ele mesmo. Mas Gao era velho e não se lembraria do que acontecera em dois dias. Tocou novamente a campainha de Octor, e ele abriu a porta. O cheiro de pizza escorrendo para fora do ambiente. Ele convidou-o a entrar e aceitou, sentando-se sobre a cama de Octor, o único lugar disponível. Computadores, fios e luzes piscavam por todos os lados. As janelas estavam fechadas com estacas e a porta possuía quase quinze fechaduras diferentes. Ele tinha sua própria forma de se manter em segurança, pelo visto.

– Pedi pizza para nós. – ele informou, trazendo um pedaço para Denzel. Deu a primeira mordida, engoliu e então ergueu a cabeça para Octor. O rapaz não parecia realmente querer contar o que acontecera. Talvez ele tivesse algum dedo metido nisso. Talvez roubara sua menininha de propósito.

– Ande, fale algo. – encarou-o e Octor suspirou, colocando as mãos sobre o joelho e limpando a garganta. Uma introdução que dizia que logo viria uma longa história.

– Para começar, Den, eu quero que saiba que você estava longe demais para que eu pudesse ajudar e além disso, foi muito rápido. – Octor sentou-se diante de um dos computadores e apertou os botões rapidamente. Indicou o monitor, e Denzel encarou a tela, esperando ver o que havia acontecido. A câmera estava posicionada em uma esquina, talvez em uma padaria ou confeitaria. Era tarde da noite, e só conseguiu ver a rua e os demais comércios. Tudo silencioso e vazio. De repente alguém surgiu na tela, andando de costas. Era ele. Suas mãos estavam erguidas e o revólver apontado na direção dos inimigos, embora não fosse possível vê-los. De repente um deles se aproximou e apontou uma arma para ele, enquanto mais dois o rodeavam, um com um taco de beisebol e outro com uma faquinha. O de arma em punho dizia coisas, talvez estivesse gritando, mas ele não recuou. Quando ameaçou disparar, todos os três homens vieram para cima com velocidade. Enquanto disparava no primeiro, o armado, e o derrubava sem muito esforço, o segundo tentava golpeá-lo com a faca. Desviou adoravelmente, entretanto esqueceu-se do taco de beisebol. O grandalhão arremeteu o taco contra sua nuca e caiu, desacordado. Piscou os olhos por alguns segundos. Ele realmente não se lembrava dessa luta.

No canto da câmera, de repente alguém caiu na rua. Era loira, uma menina. Mais homens armados com diversas coisas (espadas, lanças, revólveres e tacos de beisebol com pregos na ponta) a empurravam pela rua, um prendeu seus braços e outro a amordaçou, e assim levaram seu trunfo, enquanto jazia inconsciente no chão. Trincou os dentes e cerrou os punhos.

– Onde estão? – perguntou, já sabendo o que faria. Não engolia facilmente algo assim. Ainda quebraria os dentes daquele grandalhão.

– Veja, consegui encontrá-los nesta câmera – Octor mostrou – Alguns minutos depois do incidente, estavam aqui. – ele indicou o caís. A câmera gravou o momento em que a gangue e Ashley adentraram um dos barcos e partiram. Piscou, atônito, afinal o porto estava permanentemente trancado pelos americanos. – Octor ergueu os olhos – E não é apenas isso. – ele mudou a câmera para a mesma rua onde havia apanhado e então viu-se levantar. – No mesmo instante, você acordou e começou a caminhar, meio desnorteado, para o caís. – Octor mudou a câmera, após alguns minutos, enquanto ele alcançava o caís e caía sobre as cordas, redes, caixotes e peixes no caís. “Então foi assim que fui parar lá”. – Talvez você soubesse para onde queriam levá-la. – Octor deu de ombros – Mas agora já foi. Tentei entrar em uma câmera no porto da União Eurásia ou da França, até mesmo da Península, e nenhum sinal do barco. Seja lá para onde a levaram, está perdida. É melhor resgatar outra filhinha de papai.

– Eu preciso encontrar. – respondeu, com firmeza, ignorando completamente a sugestão de Octor. – Vou quebrar a cara destes desgraçados.

– Você está falando sério? – Octor girou a cadeira na sua direção – Cara, você é um orgulhoso ridículo.

– Eles roubaram meu trunfo, vou roubar de volta. É a lei da vida, fui criado para isso. E além, aposto que essa menininha vai ficar muito agradecida quando eu a salvar, pela segunda vez. Vou ganhar mais dinheiro, talvez uma esposa rica, e me mandar daqui. Ir pra China morar no meio do arroz.

– Ah, claro, senhor cavalheiro. Esqueci do seu sangue nobre.

– É a duquesa. – piscou, sorrindo.

– Claro. Meio-vagabundo, meio-príncipe. – Octor suspirou. – Se precisar de ajuda, já sabe. Sou seu amigo. Mas não abuse. As autoridades ainda estão me procurando.

– Certo, certo. – esticou as pernas. – Mas antes de salvar o mundo e receber minha fortuna, vou dormir um pouco.

– É melhor não se atrasar, Romeo. As mulheres odeiam esperar.

Não respondeu, apenas riu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem e recomendem, por favor! *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Your Selection - Fanfic Interativa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.