Duas semanas passaram-se desde que Thalia e Nico descobriram que são primos. Os dois resolveram ser amigos, apesar de tudo, esquecer o que eles sentiam. Ser os primos que eles deveriam ter sido desde o começo. Thalia continuava morando com Nico, no apartamento, mesmo que a situação fosse completamente desconfortável. Eles contaram a Jason, o loiro ficou igualmente surpreso, mas estava mais preocupado pelos dois.

Não demorou nem um pouco para que a notícia de que Thalia e Nico eram primos se espalhasse. Teorias e boatos desagradáveis começaram a passara de boca em boca, mas não demoraram muito para que o assunto se esquecesse.

A teoria de primos/amigos morando juntos e convivendo bem era perfeita. Mas apenas a teoria, mesmo. Ambos tentavam passar o menos tempo que podiam em casa e se evitavam ao máximo. Nico ficava horas no galpão, na casa de Percy ou de Clarisse, na rua com alguns amigos, na biblioteca. Thalia costumava passar seu tempo na casa de Annabeth ou de Piper, passava sempre que podia na casa de Leo e visitava seu irmão, Jason.

Os dois estavam bem para os outros. Suas vidas tinham voltado a ser como eram antes, só que sem as brigas. Mas, quem conhecia-os, sabia que havia alguma coisa errada. Thalia vivia nervosa, ganhara alguns quilos a mais por causa disso, mais uma desculpa para ir caminhando até a escola e dispensar a carona de Nico.

Já o garoto, conseguia estar ainda mais fechado do que antes. Várias garotas tentaram se aproveitar da história, falando que era uma pena que tivesse acontecido e Nico, ao invés de se fazer de vítima como geralmente fazia, só dava respostas curtas e evasivas.

E ali estava ele, na biblioteca, lendo o terceiro livro do dia. A porta da biblioteca se abriu e ele não deu atenção, mas logo uma loira sentou-se numa cadeira ao lado da sua e estendeu-lhe um copo de café.

– Se pretende ficar acordado a noite inteira, eu sugiro que beba isso. - Annabeth disse. Nico fechou o livro e agradeceu-a, aceitando o café.

Se aquela situação estava sendo difícil para os amigos de ambos, imagine para Annabeth e Clarisse, que não puderam escolher um lado por serem amigas dos dois.

– Obrigada. - Ele agradeceu sem tirar a atenção do livro.

Annabeth agora trabalhava na biblioteca, por isso ela e Nico podiam fiar até mais tarde ali sem serem incomodados, já que a função da loira era fechar o local. Originalmente, era para ela ficar ali sozinha, mas sabia o quanto o amigo precisava ficar longe de Thalia, pelo menos por um tempo, por isso acabou deixando que ele ficasse com ali.

Ela se levantou e passeou pelas inúmeras prateleiras, parando aqui e ali e pegando um ou dois livros. Estava com uma pilha bem grande enquanto voltava para a mesa onde Nico estava sentado, quando alguém bateu na porta de vidro da biblioteca. Annabeth se assustou e deixou os livros caírem.

Nico levantou os olhos primeiro para a porta, depois para a loira. Ele riu de lado e andou até ela.

– Não derrube os livros, loira. - Brincou enquanto se abaixava para ajudá-la a pegar os livros.

Percy, quem tinha batido na porta, entrou na biblioteca rindo. Nico olhou para ele, depois para Annabeth, e se levantou.

– Terminei meu livro, melhor eu procurar outro para ler. - Disse e, antes que algum dos outros pudesse contestar, sumiu entre as prateleiras. Annabeth encarou Percy.

– Ele parece estar melhor. - Percy concluiu. Anabeth deu de ombros.

– É, ele está superando, apesar de tudo. - Ela concordou. - O que você está fazendo aqui?

– Vim te raptar. - Ele respondeu confiante.

– Nossa, socorro. - Ela revirou os olhos e riu, Percy riu também.

– O que acha de uma festa? - Ele perguntou. - Estou te convidando também, Nico, eu sei que você está ouvindo.

Nico apareceu de trás de uma prateleira revirando os olhos e com dois livros na mão.

– Enfim, vocês estão muito fechados aqui dentro, é bom pegar um ar puro sem pó e pum de traça de vez em quando, sabe? - Percy explicou.

– Acho que hoje não vai rolar. - Nico disse se sentando. - Tem essa saga que eu encontrei e preciso terminar, entende?

– Para ser sincero, não, eu não entendo. - Percy respondeu. - E quanto à você, Annabeth?

– Eu preciso ficar aqui, para fechar a biblioteca. - A loira respondeu. Percy pegou o telefone. Nico olhou-o.

– O que está fazendo? - O moreno perguntou. Percy guardou o telefone novamente.

– Chamando meu plano B. - Ele não tinha acabado de pronunciar, quando a porta da biblioteca se abriu novamente. Piper e Silena entraram lá, usando roupas e maquiagem com brilho.

– Escutem aqui, vocês têm duas alternativas: - Silena pronunciou, brava. - Ou vocês vão, ou vocês vão, entenderam?

Nico se levantou, se rendendo. Sabia que não teria chances se tentasse negar. Talvez ir a uma festa não fosse tão ruim assim. Annabeth cruzou os braços na frente do corpo.

– Eu não tenho roupa para ir em uma festa. - Ela disse. Silena e Piper abriram um grande sorriso.

– Não seja por isso. - Piper riu. - Nós temos para todos os gostos!

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– Espera, essa não é a casa de quem eu estou pensando, é? - Annabeth perguntou, arregalando os olhos. Silena deu de ombros.

– Se for do meu namorado que você está falando, então sim, é. - Respondeu.

– Eu estava me referindo ao irmão extra idiota do seu namorado. - Annabeth retrucou.

– Não fale assim do Leo, ele é legal. - Piper sorriu. - Você só não gosta dele porque ele perdeu seu coelhinho de estimação quando éramos pequenos.

– Não é só por isso. - Annabeth negou. - Eu tenho muitas razões para não gostar dele.

– Que seja, vamos entrar. - Silena disse sorrindo. Piper a acompanhou. Percy pegou a mão de Annabeth e a levou até lá dentro. Nico ficou para trás, andando um pouco mais devagar e pensando em como ele tinha mudado. Em como ela o tinha mudado. Se fosse antes ele já estaria lá dentro, dançando e com um copo de bebida na mão.

Havia algum tempo que ele não via tantas pessoas juntas. Em geral, ele ia da escola para o galpão ou para a biblioteca e depois de tarde da noite voltava para casa. Foi um choque a música alta e as luzes piscando.

Ele passou o olhar ao redor e a primeira coisa que viu foi Thalia, sentada de costas para ele. Nico fez o maior caminho que podia até a cozinha, desviando de todos os campos de visão dela. Não estava pronto para uma conversa com Thalia. Talvez nunca estivesse.

Algumas garotas vieram falar com Nico, mas ele as ignorou. Se sentou de frente para um balcão que dividia a sala da cozinha e pegou um copo de cerveja.

– Olha quem resolveu sair da toca. - Ele ouviu uma voz conhecida ao seu lado. Se virou e se deparou com Reyna, sorrindo para ele.

– Falo o mesmo, pensei que a sua vida se resumisse a estudar. - Ele respondeu. - Nunca soube que gostava de festas.

– E não gosto. - Ela bebeu um gole da cerveja dele. - Mas eu fui arrastada para cá por um idiota que me deixou sozinha.

– E posso saber quem é o tal idiota? - O moreno perguntou, pegando a cerveja.

– Leo Valdez. - Reyna respondeu.

– Na verdade, a festa é para ela. - Jason disse aparecendo sabe-se lá de onde.

– Nossa, que importante você é, Rey. - Nico sorriu de canto. Reyna revirou os olhos.

– Ela tomou um pé na bunda, estava para baixo e Leo resolveu fazer uma festa para animá-la. - Jason explicou. - E a festa é um pouco para você também Nico, já que Silena aproveitou a ideia para te tirar de dentro da biblioteca, e para minha irmã também, que está praticamente vivendo na cozinha do meu apartamento.

– Mas parece que os motivos da festa são os únicos que não estão se divertindo. - Silena disse com uma careta. - Vem cá, Nico, vamos dançar.

– Eu não quero. - Ele disse. Silena pegou a mão dele e o forçou a se levantar.

– Eu faço tudo por você, então faça algo por mim. - Ela disse com uma voz chorosa. Nico suspirou e, por fim, concordou.

– Tudo bem, então. - Ele respondeu. - Mas só uma música.

E os dois sumiram na multidão. Leo apareceu da mesma direção que eles desapareceram e sorriu.

– Venha, Rey-Rey, eu não fiz essa festa para que você ficasse com essa carinha. - Ele sorriu. A garota olhou-o, brava.

– Não vou dançar com você. - Ela respondeu.

– Dance comigo, então. - Jason retrucou. Reyna olhou-o incrédula.

– Nem pensar. - Respondeu. - Um elefante dança melhor do que você!

– Nossa, assim você magoa os sentimentos do loirinho, Rey-Rey! - Leo disse, então puxou levemente a garota para si. - Venha, vamos dançar. Prometo que sou um bom dançarino.

Três músicas depois, Nico já tinha bebido o suficiente para se esquecer que não queria dançar. Reyna tentava se esquivar de Leo, mas ele não a deixava quieta. Prometera a si mesmo que ia conseguir uma risada dela naquela noite. Thalia também tinha ido a posta de dança, obrigada por Jason.

E, assim, trocavam constantemente seus pares. Nico as vezes dançava com Annabeth, as vezes com Piper, as vezes voltava a dançar com Silena, as vezes com Reyna, e, até mesmo com Clarisse. Reyna alternava entre Jason, Leo e Nico, e Thalia dançava com qualquer garoto que se disponibilizasse.

Até que aconteceu. Eles ficaram frente a frente. Azul no Preto. Thalia e Nico.

Era como se tudo em volta deles congelasse. Era a primeira vez que se olhavam olho no olho desde aquele dia. Ficaram sem saber o que fazer, até que se lembraram que estavam em uma pista de dança. A música agora um pouco mais lenta, mas nada que não fosse demasiado devagar.

– Eu posso? - Nico perguntou sem jeito, se referindo a aproximá-la para que pudessem dançar. Thalia assentiu e o garoto passou um de seus braços pela cintura dela, aproximando-a. Ela colocou suas mãos no pescoço dele e começaram a dançar, um pouco desajeitados no começo, por causa da vergonha, mas depois se soltaram.

E assim a noite passou. Os dois, mesmo que silenciosamente, concordaram que não iam voltar naquele assunto. E acabaram se divertindo mais do que planejavam. Juntos.

Talvez não fosse tão impossível assim serem primos. Talvez fosse tão possível quando aqueles dois, Thalia e Nico do passado, que se odiavam, se amarem.