Fernando, Lety e as crianças estavam num sono profundo quando são acordadas por um batuque e cantarola. Fernando saltou na cama assustado e acabou se enrolando nas cobertas e caindo no chão. Lety levantou em seguida e o ajudou a ficar de pé.

–Mas que algazarra é essa? –Fernando questiona, irritado.

–Deve ser alguma serenata para alguma vizinha.

–Mas parece um carnaval. Que raios de serenata é essa com batuque?

–Não sei, querido. Vá lá ver que eu vou olhar as crianças. Elas também devem ter acordado.

Lety vai para o quarto das crianças e Fernando coloca o roupão e vai para a rua. Chegando lá tamanha é a sua surpresa ao ver Fábio, o brasileiro e seus músicos cantando e tocando samba. Junto a eles também estavam Luigi, o quartel, Ariel e Aline, Roger e Márcia.

–Fernandito! Vem, vamos sambar. –Fábio o puxa para a algazarra.

–Para, Fábio, não vou sambar de pijama. Que fazem aqui?

–Viemos buscar você, a Lety e seus filhos para nossa despedida. Amanhã partimos para os Estados Unidos e queríamos aproveitar nossas últimas horas com nossos amigos mexicanos.

–Mas vocês não tem que irem de manhã? Porque não estão descansando?

–E brasileiro lá descansa? Nós só queremos festejar. Depois dormimos no avião.

–Vocês são loucos.

–Não mais que vocês. Anda, vá lá colocar sua camisa florida e seu short roxo e vem para cá sambar.

–Como sabe de minha camisa florida?

–O Luigi colou uma foto sua vestido assim lá na Conceitos. Adorei os trajes. Acho que vou até comprar um pra mim.

–Eu mato o Luigi. Falei para ele sumir com aquela foto.

–Anda, Fernando, vai se arrumar e traga a família.

Fernando entra resmungando e encontra Lety e as crianças descendo a escada.

–O que houve, amor? –Lety questiona.

–Fábio e a turma estão lá embaixo nos esperando para sambar. Vou me arrumar. Troque de roupa e arrume as crianças. Aqueles locos só saem com a gente e, antes que os vizinhos chamem a policia e nos metam na cadeia, vamos obedecer.

Lety sai rindo e vai se arrumar. Dentro de poucos minutos, Fernando, com a Sua famosa camisa rosa florida, Lety e as crianças descem. Nessa altura, toda a vizinhança já acordou e está na rua se encantando com a música diferente.

–Linda camisa, Fernando. –Ariel brinca.

–Até você, Ariel? Já não basta o Luigi para me tirar sarro?

–Calma, Fernando. Só estou brincando. Esses aí são meus sobrinhos? Vocês não irão dizer um oi para o tio?

Ariel se abaixa e abre os braços para as crianças. Elas se escondem atrás de Fernando.

–Vão lá abraçar o tio de vocês. –Fernando fala.

–Mas você disse que o tio Daniel era louco, papai. Não vou abraçar um louco. –Marcelo protesta.

Fernando fica sem graça e Ariel cai no riso e responde:

–Segundo seu pai, Marcelo, eu caí de cabeça quando era criança. Posso ser doido, mas não mordo.

–Crianças, indiferente do que seu pai e eu achamos do tio Daniel, ele é o tio de vocês e isso não vai mudar. Vão lá e deem um forte abraço nele. Ele gosta de vocês. –Lety fala para as crianças.

Aurora é a primeira a tomar coragem. Chega timidamente perto de Ariel e o abraça. Ele pega a pequena e a gira no ar a fazendo rir. Logo Marina e Marcelo correm para os braços do tio. Queriam ser girados no ar também. Fernando olhava incrédulo a cena. Pela primeira vez na vida via uma faceta de Ariel que desconhecia. Viu que no fundo ele não era mal, mesmo tendo caído de cabeça quando era pequeno.

As crianças enchiam o tio de perguntas e Ariel se divertia com os pequenos. Ele ficou surpreso ao ver que levava jeito com crianças. Aline também adorou conhecer seus “sobrinhos”.

Fábio e sua banda saíram tocando pelas ruas animando o bairro. Dentro de pouco tempo, uma multidão se aglomerou e começou a interagir, a dançar ao som do autêntico batuque do samba.

Fernando passou a noite dançando e escutando piadas sobre sua camisa. As crianças ficaram a noite toda brincando com Ariel e Aline.

A grande festa só acabou com o dia amanhecendo. As crianças já dormiam nos braços de Ariel, Aline e Lety. Os músicos teriam que pegar o voo dentro de poucas horas. Lety, gentilmente ofereceu-lhes um café. Depois de tomarem eles se despediram de seus amigos. Naquele dia, Márcia teve que dar folga para todos que estavam na farra. Nem ela mesmo conseguia manter os olhos abertos depois de uma noite de batucada. Luigi, o quartel, Márcia, Roger, Ariel e Aline se aglomeraram na casa de Fernando e Lety. Dentro de pouco tempo, alguns dormiam no chão, outros nas cadeiras, alguns no sofá. A casa se tornou pequena para tanta gente.

Lety e Fernando, apesar de estarem cansados, adoravam ver a casa cheia. Agora também contavam com a presença de Ariel e isso os enchia mais ainda de alegria. Finalmente o homem amargurado estava dando-se uma chance de conhecer a felicidade e tudo graças a uma mulher: Aline.

Fim.