Era aniversário do Roger. Ele nunca gostou de festas, mas Márcia resolveu fazer uma pequena surpresa para ele. Faria um jantar surpresa para seu marido. Convidou Lety, Fernando e as crianças; Ariel e Aline; Convidou também Omar e Carolina, mas não poderiam comparecer. Humberto e Terezinha também não puderam ir, estavam de viagem a Londres. Alice, Tomás e as crianças também não puderam comparecer, tinham ido visitar algumas tias do Tomás que moravam em outra cidade.

Enquanto Márcia estava trabalhando na Conceitos com o Roger, Fernando e Lety preparavam tudo para a chegada deles. Ariel e Aline também apareceram para ajudar, mas somente Aline trabalhava, Ariel estava encantado brincando com seus sobrinhos. Naquele momento entendia como havia sido tolo em perder o precioso tempo que perdeu não curtindo a infância de seus sobrinhos. Ele mesmo estava impressionado, nunca achou que pudesse sentir carinho por crianças, ainda mais pelos filhos das pessoas que, durante muito tempo, ele odiou.

Ouviram um barulho na porta, todos se esconderam atrás dos sofás. Assim que Márcia e Roger adentraram no local, os convidados saltaram de seus esconderijos jogando confetes e apitando línguas de sogras. Todos já estavam de chapeuzinhos nas cabeças. Ariel logo correu até a irmã e o cunhado e tratou de vestir um chapeuzinho em cada um. Roger apenas olhava feio para Márcia. Ela ria descontroladamente.

–Nada de festas, você disse. –Roger ironizou.

–E desde quando eu deixei seu aniversário passar em branco? –Márcia respondeu e beijou rapidamente seu marido nos lábios.

Após passar o choque inicial, Roger cumprimentou seus convidados, brincou um pouco com seus sobrinhos e foram jantar. A mesa estava preparada com um belo jantar. Roger, falsamente, se enganou. Achou que ficaria somente no jantar. Assim que acabaram, Fernando foi até a cozinha e trouxe de lá um enorme bolo de 2 andares enfeitado com pequenas 40 velinhas, a idade que completava. Roger já estava se sentindo envergonhado por tudo. Sempre foi muito tímido e esses tipos de surpresa acabavam com ele.

Fernando colocou o bolo sobre a mesa e começaram a cantar os parabéns. Roger já estava vermelho de tanta vergonha. Após assoprar as velinhas, partiu o bolo e todos se deliciaram com o doce.

Márcia estava encantada pela timidez de seu marido. Era o achava um fofo. Ele estava sentado em uma cadeira, num canto afastado da sala, ela se aproxima dele.

–Está chateado comigo, amor? –Márcia questiona.

–Claro que não, amor, mas sabe que não gosto de comemorar meu aniversário. Fico sem graça.

–Você diz isso todo ano.

–E todo ano você me apronta uma. Ano passado foi lá na Conceitos. Todos os empregados e aquele bolo enorme. Não sei como não desmaie de nervoso. Muitas pessoas juntas me afligem. Por isso decidi ser economista, só preciso trabalhar com um computador e não preciso ficar fazendo discursos.

–Desde criança você foi chato assim?

–Sim. Minhas festas de aniversário só apareciam meus familiares e um ou dois amigos chegados.

–Mas aqui estamos em família.

–Fernando, a esposa e as crianças não me incomodam, mas seu irmão me dá medo. Ele sempre foi estranho, me tratava mal e agora mudou de uma hora para outra.

Márcia ri e responde.

–Ele se apaixonou.

Nesse momento Fernando se aproxima deles e entrega um pequeno embrulho para Roger.

–Seu presente, amigo. –Fernando diz.

–Não precisava ter se incomodado, Fernando.

–Não foi incômodo. Só uma pequena lembrança minha, da Lety e das crianças.

Roger abre o pequeno embrulho e tira de lá uma caneta toda em prata. Ele agradece e abraça a Fernando.

Ariel se aproxima e vê o presente que o cunhado acabou de ganhar.

–Poxa, Fernandinho. Copiou o meu presente. Pelo menos a minha é de ouro. –Ariel diz e entrega um embrulho para Roger. –Feliz aniversário, cunhado.

Roger abraça Ariel. Márcia se emociona ao ver que o irmão finalmente aceita seu casamento. Fernando percebe que ela chora e põe o braço sobre o ombro da irmã.

–Finalmente ele mudou, não é? –Fernando questiona.

–Demorou anos, mas nosso Arielzinho mostrou seu lado bom. Acho que devemos agradecer a Aline. –Márcia brinca.

Ariel se aproxima dos dois os abraça ao mesmo tempo.

–Falando mal de mim, Fernando? –Ariel brinca.

–Só o básico, para não perder o costume.- Fernando responde, rindo.

Márcia se solta de Ariel e vai abraçar seu marido que agora estava em pé.

–Cadê o meu presente? –Roger brinca.

–Te comprei um relógio, mas acho que você vai preferir o que preparei mais tarde.

–Me preparou um presente, é?

–Sim, não posso deixar de agradar meu amorzinho.

Roger lhe sorri e dá um demorado beijo em sua esposa. Ele sente que Márcia começa a ficar mole e rapidamente a segura. Ela desmaia em seus braços. Rapidamente a levanta e a deita no sofá. Todos se aproximam assustados. Aline corre até o banheiro e trás uma garrafa de álcool. Após umedecer um pano no liquido e colocar sobre o Nariz de Márcia, ela lentamente começa a recobrar a consciência.

–Meu amor, você está bem? –Roger questionava enquanto acariciava a mão da amada.

–Não sei, estou tonta.

Márcia tenta se levantar, mas sente novamente a tontura e cai no sofá.

–O que foi? –Roger questiona preocupado.

–Estou tonta, enjoada.

–Não é melhor que vá a um hospital, irmã? –Ariel questiona.

–Acho que não, deve ter sido só uma queda de pressão. –Ela diz e tenta novamente se levantar e cai.

–Vamos agora, Márcia. Isso não é normal. –Roger fala.

Roger a pega no colo e todos partem para o hospital. No caminho ela desmaia mais uma vez. Assim que adentram lá, ela estava inconsciente e é rapidamente atendida. Os médicos a levam para exames e não permitem que ninguém entre com eles. Todos ficam na recepção aguardando notícias. Após vários tortuosos minutos, o médico os chama.

–Ela está bem, ao que tudo indica não é nada sério. Tirei um pouco de sangue e mandei para analisarem. Devemos ter o resultado daqui a algumas horas, mas, até lá, podem ficarem com ela. Só façam silêncio. –O médico explica.

Roger agradece ao doutor e ele e seus convidados vão para o quarto de Márcia. Ela já estava se sentindo bem, reclamava que queria ir embora, mas Roger não permitiu. Enquanto aguardavam, conversavam animadamente. As crianças, vencidas pelo cansaço, dormiam rodeando a Márcia na cama. Ela adorava a atenção que recebia por parte dos sobrinhos.

–Leticia, leve os pequenos para casa. Eles estão mortos de cansaço. –Márcia falou.

–Eles estão bem dormindo aí com a tia. Só sairemos daqui quando seu exame chegar. –Lety brincou.

–Nem consegui comemorar o seu aniversário direito, amor. Nem mesmo consegui te presentear. Só dei trabalho. –Márcia diz.

–Meu presente pode esperar. Agora o importante é sua saúde.

Nesse momento o médico chegou com os resultados nas mãos. Todos ficaram apreensivos.

–O que tenho doutor? –Márcia questionou.

–Nada para se preocupar. Quem é o marido? –O médico questionou.

–Sou eu. É algo grave?

–Não deixa de ser. Eu também tenho e me dá bastante dor de cabeça. –O médico diz.

Todos ficam nervosos pelo comentário.

–Fale, doutor. Nós somos fortes e enfrentaremos isso em família. –Roger diz.

–Vocês serão pais. Senhora Villarroel, a senhora está grávida de 3 semanas.

Letícia e Fernando festejam a notícia junto com Aline e Ariel. Márcia e Roger ficam parados, assimilando ainda as palavras do médico.

–Pai, eu vou ser pai? –Roger questiona, com lágrimas nos olhos, olhando para Márcia.

–Vamos, meu querido.

–Mas como isso aconteceu? Quer dizer, sempre nos cuidamos.

–Nem sempre. Esqueceu aquela noite em que nos embebedamos no meu aniversário? Parece que ganhei mais um presente além daquele colar de esmeraldas que você me deu.

–E eu ganhei outro além do tal relógio que eu ainda nem vi.

Roger a abraça com carinho e fala:

–Obrigada, meu amor. Esse é o melhor presente de todos que eu já ganhei nessa vida.

–Digo o mesmo, querido.

Ariel, vendo a felicidade dos dois, cochicha com Aline:

–E aí, não te anima?

–O quê?

–Esse clima dos dois. Não quero ficar ouvindo titio para sempre. Quero ouvir papai.

–Não antes do casamento.

–Olha que eu vou cobrar, hein!

–Me leve ao altar e poderá cobrar o que quiser.

–Depois não reclame.

Eles continuam nesse clima descontraído por vários minutos. Estavam felizes porque agora a família teria mais um membro. Um pequeno Villarroel estava para chegar.

Fim.