Fernando estava sozinho em casa com Jiló. As crianças estavam na escola e Lety havia saído com Carolina. Ele estava começando a ficar com fome, já havia vasculhado toda a geladeira e os armário e não encontro nada que lhe agradasse.

–Mais que droga! -Fernando resmunga sozinho ao bater a porta da geladeira.

Jiló o olhava desconfiado.

–Não pode ser assim tão difícil fazer uma comida, pode Jiló?

Fernando vai até a cozinha, pega um grande livro de culinária da Lety e começa a folheá-lo. Para ao deparar-se com uma receita de biscoitos amanteigados. Lety sempre fazia aqueles biscoitos e ele adorava. Pela receita parecia ser fácil. Tentaria.

Pegou todos os ingredientes, farinha, manteiga, açúcar e essência de baunilha. Ficou impressionado ao ver que o delicioso biscoito levava tão poucos ingredientes.

Começou a colocar a mão na massa, literalmente, Colocou a farinha, a manteiga e, com certo nojo, começou a amassar. Viu que levava apenas uma colher de café de baunilha, achou pouco e colocou logo duas de sopa. Adorava baunilha.

Quanto mais amassava mais a massa grudava nas mãos. Tacou mais farinha. Já não estava grudando tanto, mas achou que ficou com farinha demais e então colocou mais manteiga. Por medo de faltar baunilha, colocou mais uma colher.

Depois de muito custo, a massa começou a desgrudar das mãos, devia estar no ponto já, ele pensou.

Pegou um rolo e começou a passar na massa, mas, por sua falta de jeito, ele colocava força demais e a massa grudava toda no rolo e na mesa. Tacou mais farinha para resolver o problema. A massa desgrudou, mas era mais farinha que manteiga.

Pegou os moldes em forma de estrelinhas e começou a cortar a massa já esticada. Ficaram até bonitinhos. Ele espalhou-os por uma forma e colocou no forno. Agora era só aguardar os benditos minutos que estavam na receita.

O tempo pareceu uma eternidade e quando finalmente deu a hora, Fernando correu por seus biscoitos. Tirou do forno com cuidado. Estava orgulhoso ao ver os biscoitinhos prontos. Tinham queimado um pouco o fundo, mas a aparência era boa.

Retirou um, raspou o fundo com o auxilio de uma faca, tomou coragem e o experimentou. O gosto era de baunilha pura com farinha queimada. Comeu mesmo sendo ruim. Tivera tanto trabalho para fazer que não os jogaria fora.

Nesse momento Lety chegou e assustou-se com o estado de sua cozinha. Fernando tinha retirado todas as panelas do lugar procurando o tabuleiro, a pia estava coberta de farinha e manteiga, a mesa estava cheia de utensílios sujos e Fernando estava parado perto do fogão com um avental coberto de farinha, segurando um potinho de biscoitos e comendo com cara de nojo.

Lety aproxima-se dele e ele ri sem graça. Ela estende a mão e pega um biscoito. Ao comer entende o quão desastroso seu marido é na cozinha.

–Sou um desastre, não? -Fernando pergunta rindo ao ver a cara de Lety.

–Ainda terei te ensinar a cozinhar. Isso está terrível, querido. -Lety lhe dá um rápido selinho.

–Preciso mesmo. Quando você não está quase morro de fome em casa.

–E quase destrói a cozinha... Tenho também que te ensinar onde guardo todas as coisas.

–O que acha de começarmos agora?

–Acho que não vai dar tempo. Temos que buscar as crianças na escola, esqueceu?

–Já está na hora?

–Já.

–Levei esse tempo todo para fazer essa porcaria?

–Parece que levou, mas não se preocupe. Com o tempo você terá agilidade e fará esses biscoitinhos em pouco tempo.

Lety, no final das contas, teve que limpar e arrumar toda a cozinha, mas achou uma graça ao ver Fernando tentando cozinhar. A partir daquele dia, sempre que ele quisesse algo, o ajudaria e tentaria ensinar-lhe a cozinhar. Não queria que ele explodisse a cozinha.

Continua.