Diário de Sobrevivência escrita por Pedro Pitori, WillianSant13
Alcançamos a entrada da cidade, uma placa caindo aos pedaços informava " São Paulo, bem vindo.", passamos por uma avenida de seis faixas e desviamos de alguns ônibus até alcançarmos uma ponte que cruzava um rio. Joe desacelerou o carro e parou no ápice da ponte. Descemos do carro e olhamos ao redor da ponte: estava vazia e sem carros, ventava muito e o tempo estava fechado. Uma garoa fria continuava caindo e muitos raios caíam no horizonte, atrás de alguns morros. Nos aproximamos da mureta de segurança da ponte e observamos lá, em baixo.
– Esse rio fede. - Zoe sentou na mureta de segurança quebrada.
– Cuidado. - Joe levantou a mão esquerda.
Observamos a linha férrea que havia lá em baixo, um trem com metade dos vagões na linha esquerda e outra metade tombado na ribanceira, estava infestado de infectados que soltavam grunhidos. Joe colocou o óculos escuro e se apoiou na mureta. Um grupo de infectados estava na plataforma da estação mais a frente, eram tantos que eu mal conseguia enxergar o piso da estação, senti até um frio na espinha. Joe abriu o zíper da sua jaqueta de couro preta e se espreguiçou por alguns instantes.
– Vamos embora. - Joe se afastou.
– Onde estão os outros? - perguntei curioso.
– Se separaram, foram atrás de coisas pessoas em outra área da cidade. - Joe entrou e ligou o carro.
Zoe olhou para mim e me deu uma cotovelada de leve.
– Vamos. - ela correu até o banco de passageiros ao lado de Joe.
***
Avançamos pelas avenidas da cidade até chegarmos a um grande supermercado na beira de uma rodovia lotada de carros parados. Everthon desceu do carro e abriu o portão do gigantesco estacionamento com certa dificuldade, Joe estacionou o carro perto da porta do supermercado e descemos.
Alguns infectados que vinham da rodovia, batiam na grade do estacionamento tentando entrar.
– Certo. - Joe pegou uma M-9 no porta-malas do carro. - Everthon você e Zoe peguem tudo o que está na lista que te dei no carro.
Everthon assentiu.
– Canni, você vem comigo por este lado. - Joe fez um sinal com a cabeça para eu segui-lo.
Zoe e Everthon arrombaram a porta de vidro do supermercado e adentraram, enquanto eu e Joe íamos pelos fundos.
– Por aqui. - Joe chutou uma porta de ferro algumas vezes até ela se abrir. Entramos em um corredor de funcionários do supermercado, as paredes eram feitas de tijolo cinza e vários canos coloridos passavam pelo teto. Haviam muitas goteiras, o que fazia daquele lugar assustador. Estava escuro e algumas luzes piscavam de forma desordenada, passamos por alguns caixotes e viramos à direita no final do corredor. Passamos por uma porta dupla branca de madeira entramos num armazém grande cheio de contêineres, Joe se abaixou e puxou a corda de um gerador duas vezes até o local ficar todo iluminado.
– Isso não vai chamar atenção deles? - perguntei sobre o barulho do gerador.
– Sei lá, não ligo. - ele se afastou.
Observei ele ir até o fundo do armazém e passar por trás de uma estante de metal. Ouvi som de metal caindo no chão
– Merda. - Joe sussurrou.
– Está bem? - perguntei.
– Sim. - Joe gritou.
Ele voltou com uma espécie de ferramenta em mãos. Era um pé de cabra grande e vermelho.
– Isso pode ajudar. Vem.
O segui até uma outra porta nos fundos do armazém. Estava trancada com uma corrente que ele cortou rapidamente com a ferramenta.
– Como você sabia que estaria trancada? - perguntei.
Ele riu.
– Eu trabalhava aqui. Você tinha que ter visto quando tudo começou. Ficamos trancados aqui enquanto as pessoas pediam para entrar e batiam na porta de vidro gritando "Me ajudem, me ajudem, me deixem entrar.", foi horrível. Os infectados quebraram o vidro e entraram, o primeiro a morrer foi o meu chefe. Ri muito, tive de correr até esta sala e trancar os outros para fora.
Entramos na sala e ele acendeu a luz fraca.
– Como pode ver, aquela porta ali - ele apontou para uma porta pequena que dava acesso ao supermercado. - Dá acesso aos caixas. Sai do armazém e passei a corrente nessa porta, todos morreram... Eu acho.
Ele revirou umas gavetas e alguns papéis.
– Tem que estar aqui em algum lugar... - Joe puxou um objeto.
– O que é isso? - perguntei.
– Uma câmera filmadora. Gravei tudo na hora que começou. Veja. - ele deu play em um vídeo da câmera e me deu.
O vídeo mostrava a invasão dos infectados no supermercado. Pessoas corriam de um lado para o outro e uma mulher corria com o seu bebê para os freezeres, um senhor foi cercado por dois e teve seu corpo todo desmembrado enquanto gritava por ajuda. Um cara gordinho que usava uniforme branco teve seu braço arrancado por uma infectada loira.
– Ah, esse era meu chefe, super chato... Ah, cigarros. - Joe pegou uma caixa de cigarros do chão.
O vídeo continuou, uma moça jogou uma máquina de soda em cima de dois infectados, mas tropeçou e caiu em frente a uma infectada ruiva. Logo Joe correu para chutar a porta que dava acesso ao armazém, a que estava ao meu lado. Ele entrava na sala e filmava o chão por alguns segundos enquanto recuperava o fôlego. Ele virou a câmera para ele mesmo, ele usava um boné branco e começou a falar: "Certo, certo... Eu já vi isso na TV algumas vezes... Mas não sabia que poderia se tornar real..." ele foi interrompido por um grito angustiante. "então... Preciso dar o fora daqui logo, até mais." O vídeo ficou com a tela escura e ouvi barulhos de corrente ao fundo.
– Como você mudou. - sorri.
– Cale a boca. - Joe ria enquanto fumava. - Admita, estou mais gato. Vamos sair daqui. - Joe chutou a porta que dava acesso ao supermercado e entramos.
– Quem está ai? - Zoe apontava a arma para nós.
– Desculpe senhorita, estamos meio perdidos. Poderia nos ajudar? - Joe ria.
– Vá se lascar! Que susto que me deram. Quase atirei. - Zoe suspirou e riu.
– Pegaram tudo? - perguntei.
– Sim, Everthon colocou tudo no carro. Estávamos esperando vocês. - ela deu as costas e foi em direção a saída.
***
Alcançamos o carro no momento em que Everthon fechava o porta malas.
– Tudo pronto! - ele sorriu.
– Ótimo, bom trabalho, vamos sair daqui. - Joe entrou no carro e jogou o pé de cabra atrás do banco. Zoe sentou ao seu lado e ajustou o retrovisor. Entrei atrás e Everthon foi abrir o portão, ele voltou e saímos em disparada para o meio da cidade.
Depois de alguns minutos dirigindo por avenidas vazias apenas com alguns infectados, Joe puxou o rádio e o levou até a boca.
– Droga, o sinal está fraco. Mas acho que consigo falar com John.... John, esá me ouvindo? Saímos do mercado e vamos até o ponto marcado. Repito, saímos do mercado e vamos até o ponto marcado!
Depois de alguns segundos uma voz respondeu.
– Certo, Joe! Estamos a caminho também.
Joe sorriu e continuou à dirigir. Chegamos até uma praça média, uma árvore de natal gigantesca estava no meio dela e ao redor da praça, haviam muitos arranha-céus. Descemos do carro e fomos até a árvore de natal, John e os outros nos esperavam. Joe e o John se abraçaram por uns segundos.
– Pensei que tinha morrido. - Joe disse.
– Também te amo, irmão. - John sorriu enquanto se abraçavam.
– Espera aí... - interrompi - vocês são irmãos?
– Sim, mas ele é idiota. - Joe riu.
– Somos sim, infelizmente. - John o soltou e riu também.
No momento em que Joe caminhava em minha direção, ouvimos sons de turbinas vindos do céu e logo vimos o prédio espelhado a nossa frente sofrer uma explosão, mais ou menos no décimo andar. E logo o prédio maior ao lado sofreu uma explosão também, o fogo cortava o céu e acertava o arranha céu. Pedaços de vidro e concreto caíam ao chão.
– Oque é isso??! - perguntei enquanto procurava de onde estavam vindo os tiros.
– PARA O CHÃO, AGORA! - John pulou em cima de nós e caímos.
Foi aí que percebi, estávamos sendo bombardeados.
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