Diário de Sobrevivência escrita por Pedro Pitori, WillianSant13


Capítulo 27
Diário 4 - Canni




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/591777/chapter/27

O sol lá fora havia sumido. O tempo havia fechado e estava ficando mais frio agora. Everthon continuava a sorrir para mim no fundo da sala, e Derby ainda me observava com expressão de dúvida. Eu sabia que essa proposta era perigosa, mas era em parte, o que eu queria. Queria ajudar a defender o lugar e as pessoas, mas isso poderia valer a minha vida. Uma parte minha queria ir e ajudar, e outra hesitava sobre o assunto. Minhas mãos tremiam e a garganta estava seca, fitei os dedos por alguns segundos.

– Então cara, vamos. Era o que nós queríamos desde que chegamos. - Everthon se aproximou.

– Eu aceito. - respondi seriamente. - iremos.

– Ótimo, eu sabia que podia contar com vocês. - Derby sorriu e tirou um rádio de baixa frequência do bolso. - Joe, poderia vir aqui por um instante? Sim, sim é sobre aquilo mesmo. Tudo bem.

– Isso vai ser demais. Imagina só: nós acabando com zumbis e fugindo da cidade enquanto levamos os mantimentos e uma horda tenta nos matar. - Everthon sorria.

– Ei, ei, calma aí. Vamos com calma, não torça para que isso aconteça. - rebati.

– Ah, qual é? Está com medo? Isso vai ser demais. - Everthon se afastou.

Joe entrou na sala após alguns segundos.

– Estou aqui.

– Ótimo, sabe a missão? Eles estão preparados. - Derby sorriu. - Podem ir.

Joe nos indiciou a saída e caminhamos juntos até o pátio na ala leste.

– Certo, as armas vocês levarão consigo amanhã. Irão obedecer todas as minhas ordens sem exceção, ouviram? A missão é simples, - ele pegou um marcador azul no bolso e começou a fazer anotações na lousa branca. - Iremos direto ao ponto na cidade, um hipermercado e depois talvez, até algumas outras lojas na zona sul. Só precisamos entrar, pegar tudo, e dar o fora de lá. Simples.

Fitei Everthon por alguns segundos, ele estava animado.

– Quero vocês no estacionamento aberto às sete em ponto, sem atrasos. - Joe batia o marcador na mão. - Alguma dúvida? Ótimo, podem ir.

***

Como eu havia pensando. Estávamos de volta no nosso quarto escuro, Everthon estava sentando em cima da mesa observando a chuva forte e os raios que caíam lá fora. Ele usava uma camiseta xadrez preta com as mangas cortadas e um jeans surrado, e parecia preocupado com algo.

– Espero que eles estejam bem, Jimmy e os outros.

Levantei da cama e me sentei.

– Devem estar. O garoto, Jimmy, é bem inteligente. Devem estar abrigados em algum lugar.

– Devem estar bem longe. Afinal, três meses já. Na boa, espero que estejam bem porquê o inverno vem aí e tudo mais.

– O que importa é que estejam bem e longe daqui. - rebati.

– Parece que o John está tendo problemas com os infectados na ala norte. - Everthon sussurrou. - Um acabou entrando e ele quase não conseguiu dar conta dele.

– Ele dá conta. Por quê o alarma não soou?

– É apenas um, não há motivos para pânico desnecessário. Só se fosse uma horda, aí sim ele soaria. Vou dormir, até amanhã. - Everthon subiu na cama e ficou quieto.

Observei a chuva cair por alguns minutos e então me deitei e acabei adormecendo.

***

Acordei às seis horas da manhã e vesti o uniforme camuflado, acordei Everthon que logo se vestiu também. Ainda estava escuro e haviam apenas indícios do sol nascendo no horizonte. Uma garoa super fina caía e estava frio agora. Saímos do quarto e atravessamos os corredores estreitos do lugar.

– Bom dia. - respondi enquanto passávamos por John.

Entramos no corredor central da ala.

– Oi. - avistei Zoe se aproximando.

– Ah, vejo que já estão acordados.

– É, vamos nessa missão. - rebati.

– Também vou, estou procurando por Ashley há quase vinte minutos, vocês a viram?

Fiz que não com a cabeça.

– Droga. - Zoe bateu o pé na parede. - Enfim, deveriam ir comer algo. - ele tocou meu ombro enquanto se afastava. - Será um dia longo.

– Louquinha de pedra. - Everthon observou.

Eu ri e continuei em direção ao refeitório.

O refeitório estava praticamente vazio. Apenas um pessoal da missão estava comendo em uma mesa no centro, eles riam enquanto Matthew fazia imitações de alguém. Não íamos muito com a cara deles desde que chegamos aqui, eles faziam certo tipos de piadas que não eram legais. Quase arranquei o braço de Matthew uma vez mas fui impedido por Everthon, aquele dia foi louco.

– Ei, olhem quem chegou do apocalipse. - Matthew zombava.

– Cale a boca Matt, eles ainda devem estar constrangidos pela última vez. - Uma cara moreno dizia enquanto todos riam em torno da mesa.

Passamos direto e me virei quando alcancei o balcão.

– A última vez? Qual foi mesmo? Não lembro.... - todos na mesa se viraram até mim. - Ah, a vez em que eu quase quebrei o teu braço Matthew?

Todos se viraram até Matthew e começaram a balbuciar algo que não entendi.

– Vamos. - Chamou Everthon. - Não vale a pena, vamos sentar no fundo.

Pegamos nossos cafés e fomos para uma mesa perto das janelas. Tomei o café enquanto olhava a fina garota cair, Matthew me observava com expressão de ódio mortal. Apenas ignorei enquanto ele continuava a soltar sussurros. Observei o relógio na parede, indicava que eram seis e cinquenta, cerca de dez minutos para nos encontrarmos com ele no estacionamento.

– Vamos. - Everthon se levantou.

Saímos do refeitório sob olhares dos outros e caminhamos até a saída.

***

Alcançamos o estacionamento a tempo de ver Joe arrumando as armas em um caminhão. Zoe sorriu ao me ver e correu até nós.

– Prontos? Isso não é demais? - ela parecia agitada.

– Hã... Acho que sim, talvez. - respondi.

Ela deu um soquinho no meu braço.

– Qual é? - ela arrumou o cabelo castanho claro dela atrás da orelha. - Nossa primeira missão, digamos...

– Canni, você, Everthon e Zoe vêm comigo. - Joe apontou para um carro prateado próximo a uma árvore. - John, você vai com os outros, ok?

– Tudo bem. - John entrou no caminhão e deu sinal para que o guarda da torre abrisse o portão, e saiu em disparada.

Entramos no carro, Joe dirigindo, Everthon ao meu lado e Zoe na frente.

Joe alcançou a estrada que cortava a floresta. Ele atropelou uma infectada que estava na estrada na saída.

– Opa, olha a infectada aí. Adoro isso, posso atropelar quem eu quiser sem ser preso. - Joe riu.

Zoe soltou um sorriso de canto.

– Ah, foi engraçado vai. - Joe riu.

– Vamos entrar por onde? Fiquei sabendo que a maioria das rodovias de acesso estão bloqueadas. - Everthon perguntou à frente.

– Vamos pelo oeste e descer até o sul pelas estradas. O oeste está aberto pelo que soube de relatórios. - Joe disse enquanto nos observava pelo retrovisor.

– Certo, e se algo der errado? - perguntei.

Houve um silêncio de alguns segundos.

– Bem, não acho que irá. Mas caso dê errado, temos que dar continuidade ao plano haja o que houver. - Joe disse seriamente enquanto focava na estrada.

Entramos na alça de acesso à estrada e Joe acelerou mais. Passamos pela placa que indicava "São Paulo - 334 KM - Oeste", e continuamos em frente. Zoe pareceu se assustar a medida em que passamos por uma horda de infectados que comiam um cervo a beira da estrada. Alguns nos observaram e correram atrás do nosso carro, e outros nem nos notaram.

Zoe abriu o porta luva do carro e começou a fuçar em uns panos.

– Olha o que eu achei!

Observamos Zoe por alguns segundos até ela tirar uma espécie de câmera.

– É uma daquelas câmeras de impressão Instantânea! - Zoe sorriu.

– Uma polaroid. - observei.

– Isso. Ainda tem bateria - ela ligou a câmera e começou a fuçar. - Nossa quanta foto, fotos de comida, animais, e festas. O dono era muito gato, na boa.

Nós caímos na risada.

– O que foi? É verdade. Vem vamos tirar uma foto. - Zoe apontou a câmera para nós.

Everthon sorriu para a câmera.

– Essa é a hora certa para isso? - perguntei. Era tarde, ela já havia tirado a nossa foto.

– Ei, mas o que? - perguntei.

– Ficou ótima, exceto por ti Canni, que saiu com a boca aberta. - ela ria. Ela imprimiu três cópias da polaroid e deu para mim e Everthon. - A outra é minha.

Observei a foto por alguns segundos e então a guardei no bolso.

Zoe era uma garota legal, e muito bonita. Algo dentro de mim sabia que eu deveria me aproximar dela, e era isso que eu planejava fazer. Joe continuou dirigindo em silêncio. E algo me dizia que aquela missão não seria fácil.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diário de Sobrevivência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.