"I know there's something in the wake of your smile
I get a notion from the look in your eyes"

Albafica não gostava de ter de se afastar todas as vezes em que alguém se aproximasse dele, não gostava de ser rude ou parecer arrogante, não gostava de ter um sangue venenoso, não gostava de se isolar e acima de tudo não gostava de que seu companheiro teimoso e imaturo ignorasse tudo isso.

O cavaleiro de Câncer nunca fora alguém muito gentil ou educado, chegava a desrespeitar até mesmo seu mestre Sage, o Grande Mestre do Santuário, e provavelmente faltaria com respeito se encontrasse um dos deuses inimigos, sem medo algum de morrer, talvez fosse a falta desse medo que o pisciano temesse tanto.

Manigold nunca temeu o jardim carmim que ninguém se atrevia a se aproximar, tentou tocar na pele clara e nos cabelos azulados do menor inúmeras vezes, se alimentava perto dele e permanecia próximo mesmo quando ele se feria e seu sangue perigoso estava à mostra, mas apesar de saber que isso poderia matar seu parceiro, o cavaleiro de Peixes se permitia ser egoísta e ficar alegre pela lealdade e companhia do outro, que não hesitava em sorrir sempre que o via.

Ele gostava dos variados sorrisos que recebia, mais intensos e afiados quando era observado em batalha, mais acalorados e abertos quando estava sendo importunado para ficar com o mais velho, suaves ao falar das rosas e maliciosos quando o outro elogiava sua aparência, mas existia um que ele ainda não havia descoberto o significado. Os olhos do italiano eram igualmente expressivos como seus sorrisos, apesar de sempre serem intensos, como a personalidade do portador deles, exceto pelo olhar que acompanhava o sorriso misterioso.

Apesar de sempre estar distante, ele observava o companheiro sempre que saiam juntos em missões ou ficavam juntos, ele de certa forma era cativante, seus cabelos azuis escuros e arrepiados eram rebeldes como o dono, era grande e forte como os outros guerreiros, seus olhos eram de um violeta bonito e brilhante e suas olheiras conseguiam ser um tanto charmosas e harmoniosas com o restante do rosto, sua pele não parecia tão macia quanto a do menor, mas ainda assim aparentava ser gentil ao toque.

Albafica pensava em como seria poder tocar em outras pessoas sem se preocupar, se aproximar e se manter próximo delas, poder conversar com o canceriano sem medo de que ele faça alguma besteira, ou de que alguém faça alguma coisa imprudente apenas por causa de sua beleza, que mascarava o fato de que o corpo dele era perigoso, de que ele era um homem perigoso, porém o outro dourado também era destrutivo, talvez ele pudesse resistir a amizade que o mais novo tanto temia, mas ele nunca colocaria a vida do outro em risco.

Ele havia escolhido a armadura dourada de Peixes, escolheu proteger a décima segunda casa, escolheu o poder para proteger as pessoas, e se orgulhava de ter este veneno em seu sangue, mesmo com a solidão.

Ele era uma lembrança viva e quente de seu mestre Lugonis, antigo cavaleiro de Peixes, que o achou em meio ao seu jardim envenenado ainda bebê, e então o criou, cuidou, ensinou, protegeu e amou, como um pai ama um filho, ele não poderia apenas odiar o legado dele, ele se orgulhava apesar de detestar o sangue envenenado que matou seu mestre, que trouxe a solidão, mas também trouxe o poder de proteger, como seu mestre havia feito, as pessoas e a deusa a quem eram fiéis, e isso bastava para ele.

Ele esperava que o canceriano se distanciasse, percebesse o perigo que corria ao lado dele, mas esperava que ele ficasse, demonstrasse como também apreciava a herança mortal e brevemente afastasse a solidão como fazia quase todos os dias por alguns minutos, esperava esses momentos de proximidade para observar o amigo enquanto mandava ele ir embora, esperando o sorriso sem significado e o olhar estranho, para finalmente entender o que eles queriam dizer e ele finalmente poder aceitar a solidão novamente.