P.O.V Sam

Após vinte minutos dirigindo nas gélidas e movimentadas ruas de Los Angeles, finalmente chego no Hospital Debra McCurdy... Os funcionários de lá até permitem minha entrada sem questionamentos, afinal, já sabem que se trata da problemática Pamela Puckett, ou como prefere ser chamada, Pam... Entro no elevador principal, e me dirijo até o terceiro andar, sala 8... Dois duas leves batidas na portas, e escuto o doutor assentir minha entrada. Me assento na cadeira que está á sua frente, e me afundo no estofado, numa falha tentativa de aliviar a tensão...

– E então Doutor Jerry, qual é o estado dela? - Resolvo quebrar o silêncio

– Olha Sam... - Como já nos conhecíamos a um certo tempo, dispensávamos formalidades desnecessárias - Eu vou ser bem sincero... Hoje completam 5 meses desde que a Pam iniciou o tratamento, mas infelizmente ela não apresenta resultados positivos... Inclusive, hoje pela tarde a polícia recebeu o telefonema de um vizinho, alegando ter ouvido barulhos estranhos vindos da residencia de Pam. Quando chegaram, a encontraram desmaiada na escadaria com vários estilhaços de garrafas de vodka por toda a parte... Acionaram a emergência, e ela deu entrada no hospital por volta das 18:00 horas. Realizamos um hemograma, e foi constatado um altíssimo teor de álcool, o que implica que ela tenha ingerido no mínimo 3 garrafas médias... O fígado dela já está 75% comprometido, tanto que realizamos um biópsia, e o resultado apresentou riscos de se formarem tumores... Em resumo, se ela não parar de ingerir bebidas alcoólicas imediatamente, ela corre o risco de não resistir...

De repente um silêncio mortal se instalou naquela sala... Aquelas palavras pesaram fundo em mim... Por mais que Pam e eu não fossemos nem um pouco próximas, por mais que ela me insultasse, e por mais que quase todos os nossos diálogos fossem brigas, ela é minha mãe, e eu sempre vou amá-la...

– Me desculpe Sam... - Ouço o Doutor Jerry se pronunciar novamente - Eu sei que essa é uma coisa muito difícil de aceitar, mas você precisava saber...

– Tudo bem, não precisa se desculpar... Afinal, foi ela mesma quem escolheu seguir esse caminho... - O silêncio se instalou por mais alguns segundos, mas foi quebrado por mim mesma

– E... Como ela está agora?

– Permanece inconsciente, no entanto sua situação é instável - Respondeu ele

– Será que... Eu... Poderia vê-la?... - Indaguei

– Claro! Dirija-se ao corredor 7, sala 12...

– Obrigada Doutor Jerry...

– Disponha Sam...Qualquer coisa é só chamar...

Após isso, me retirei da sala e me dirigi até o quarto onde ela estava... O cômodo estava silencioso e a porta se encontrava encostada, por isso, não hesitei em entrar... Assim que adentrei, presenciei uma cena com certeza chocante:
Ela estava deitada na cama com os olhos fechados, havia uma agulha de soro em seu braço, uma máscara que a ajudava a respirar, além de vários eletrodos espalhados pelo seu corpo, que se misturavam com os diversos hematomas do mesmo... Eu me aproximei da cama onde a mesma estava e toquei em sua mão... Ela estava fria, e seu rosto continha uma expressão de dor... Vê-la nesse estado, doeu mais do que eu poderia eu poderia imaginar.... Sempre vi um Pam animada, orgulhosa, incontrolável, e determinada. Agora, vejo um Pam frágil, indefesa, e sem forças pra continuar... Eu sei que foi ela que escolheu seu próprio destino, mas eu não queria que ela acabasse com a vida dela desse jeito...

Fiquei ali a observando por um tempo considerável, até que percebo a presença no Doutor Jerry adentrando no cômodo:

– Desculpe Sam, mas teremos de realizar alguns exames com a Pam agora. Infelizmente você não poderá estar presente...

– Sem problemas Jerry, eu já estava indo mesmo... Qualquer novidade boa ou ruim me avise...

– Claro! Mas faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que ela possa se recuperar o máximo possível...

Eu apenas assenti em silêncio, e me retirei da sala... Não é querendo ser pessimista, mas eu sei que a situação da Pam com certeza não é das melhores, o fígado dela está praticamente comprometido, e ela não para de beber... Mas eu vou confiar no Doutor Jerry, ele é um excelente profissional...

Assim que sai do hospital, me dirigi até a casa da Carly. Ela já tinha me ligado horrores, e além do mais, eu não sei se estou em condições psicológicas o suficiente pra ficar sozinha por hoje... O vento gelado batia em meu rosto, diante da velocidade com a qual eu descia pelas ruas... Por algum motivo desconhecido, eu realmente queria encontrar o Freddie novamente por acaso... Sei lá, é como se eu necessitasse da presença dele aqui nesse momento...

Em questão de dez minutos, cheguei no Cosgrove Plaza. O hospital não ficava muito longe dali, mas já eram umas 22:30 quando estacionei a moto no térreo do prédio... Entrei no elevador como sempre, eu só subiria as escadas se fosse um caso de extrema emergência, tipo vida ou morte e tals... Afinal, pra que andar quando se pode ser carregada? Por fim, chego no apartamento 8C... Dou duas leves batidas na porta, e escuto um "Já vai!". Eu não costumo bater antes de entrar, mas da última vez eu paguei um mico gigante com o Spencer e a tal Sasha Striker, a dona do Pak Rat Deluxe, um fliperama ultra conhecido aqui de Los Angeles... Não demorou muito, e uma morena escandalosa praticamente voou em cima de mim e me abraçou:

– Sam! - Exclamou ela - Finalmente! Eu te liguei umas cem vezes, achei que teria de chamar o F.B.I pra ir atrás de você!

Eu já mencionei alguma vez que a Caly é a rainha do exagero? Pois então, Carlotta Taylor Shay é a pessoa mais exagerada da face da terra, literalmente...

– Foi mal morena... - Tentei responder o mais relaxada possível enquanto me jogava nos sofá como sempre - Foi só um contratempo...

– Que tipo de contratempo? - Indagou ela pegando o controle remoto, e se sentando ao meu lado

– É... Digamos que... Envolve uma tempestade... Um reboque... E um hospital... - Respondi receosa

– O QUE? - Esbravejou ela - Ai Meu Deus Sammy ! O que aconteceu?! Você atopelou alguém? Sofreu um acidente? Você tá bem? - Exclamava a morena com os olhos arregalados, enquanto me balançava pelos ombros fazendo uma enxurrada de preguntas...

– Ei, ei, ei... Fica fria Carls, eu to bem, acredite... - Respondi também segurando-a pelos ombros, caso contrário não pararia de me chacoalhar nunca... Ela foi se acamando gradativamente, até se pronunciar:

– Graças a Deus! ... Mas... O que houve então?

– Bem... - Suspirei - Quando eu ia saindo do Set, fui até o estacionamento pegar a moto, mas a gasolina tinha acabado -_- Eu liguei pro reboque, mas eles não apareceram, então fiquei mofando e com fome naquela tempestade que deu por uns 30 minutos...

– E por que não me ligou? Você podia ficar doente sabia - Interrompeu a morena com um ar de reprovação

– Eu não liguei porque que não queria te incomodar por pouca coisa, e também não é qualquer resfriado que derrubaria Sam Puckett - Respondi enquanto balançava sugestivamente os polegares para mim mesma

– Sammy... Você sabe que não me incomoda... Basta não comer comida étnica na minha cama...

– Eu sei... Mas você também estava com o Spencer lá no aeroporto, e nós duas sabemos que ele pode dar mais trabalho que um bando de adolescentes...

– Isso é verdade! - Rimos do comentário, e ela prosseguiu com a conversa - Mas... Se o reboque não foi, como conseguiu reabastecer a moto?

– Bem... É que... Meio que o... Freddie... Apareceu e me ofereceu carona... Depois passamos numa lanchonete... - Por que diabos eu gaguejo toda vez que falo o nome daquele bocó?

– Você e o Freddie saíram??? - Gritou ela com agudo tão fino, que era capaz de quebrar uma taça - Ai... Meu... Deus! Eu não acredito! Por que não me contou antes que gostava dele? - Sabe aqueles mangás com olhos enormes e brilhantes? Agora imane-o dando pulinhos freneticamente por toda a sala... Essa era Carly Shay naquele exato momento...

– O que??? E-eu na-não gosto do Freddie! Ele apenas é um bom colega de trabalho que me ofereceu uma carona! Até eu poderia ter feito isso! - Respondi com o rosto enrubescido

– Ah é "senhorita generosidade"... Então por que nunca te vi oferecer carona pra ninguém??? Eim???

– Eu disse que isso é o que bons colegas de trabalho fazem, e não que eu sou uma - Exclamei vitoriosa

– Que seja... Mas que eu saiba uma lanchonete não tem nada a ver o reboque de uma moto... - Supôs ela lançando um olhar malicioso

– Qual é... Era presunto de grança... P-R-E-S-U-N-T-O de graça! Até se um mendigo me oferecesse eu aceitaria!

– Mas Sam... - Mas morena iria continuar, mas interrompida por mim...

– Mas nada Shay! A única coisa com a qual eu preciso me preocupar agora, é com a minha mãe que está internada... De novo... - Meu tom que voz que antes estava um pouco alterado, foi suavizando gradativamente... Eu havia até esquecido por um breve momento, e também não queria falar sobre isso, mas foi a única forma que encontrei para mudar de assunto...

Sua expressão se enrijeceu, e de um ar malicioso e brincalhão, se tornou tenso e preocupado:

– Isso é sério? ... - Indagou ela

– Sim... - Respondi meio cabisbaixa, mas não tanto ao ponto de que ela pudesse notar

– O que ela fez? Sabe... Dessa vez...

– Bem... Os médicos apenas disseram que ela havia ingerido muito álcool, mas que vai ficar bem...Se ela parar com isso... - Decidi contar apenas por cima... A Carls é uma pessoa muito sensível, ficaria preocupada com qualquer coisa, e além do mais não é muito legal ficar relembrando a cena que presenciei hoje...

Sem que eu percebesse ou deixasse, uma lágrima solitária escorreu pelo rosto, então não hesitei em limpá-la... Carly apenas se aproximou de mim, me abraçou, e sussurrou um:

– Eu sinto muito Sammy... Ela vai ficar bem...

Já solta do abraço, respondi:

– Não sinta... Foi ela mesma quem escolheu esse caminho...

Um curto período de silêncio se instalou na sala, mas foi quebrado pela morena aliviando o clima tenso:

– Bom... Pelo visto hoje o seu dia foi bem cheio, então que tal ir tomar um banho enquanto eu preparo umas coxas de frango pro jantar? - Agora sim ela estava falando a minha língua!

– Com molho picante? - Meus olhos brilhavam só de pensar nessa hipótese

– Sim... Com molho picante... - Respondeu ela rindo do meu entusiamo... Qual é, como não se animar com comida? O mundo seria bem melhor se fosse uma grande peça de presunto!

– Não precisa falar duas vezes! - Comecei a subir as escadas, mas fui interrompida novamente:

– Sam!

– O que? - Percebi que ela me encarava com um olhar estranho

– Só mais uma pergunta...

– Aaaahhhh! Diga... - Exclamei revirando os olhos

– Por está usando uma jaqueta masculina? - Nesse momento, percebi que eu ainda estava usando a jaqueta do Freddie... Droga! Eu devia ter tirado assim que cheguei.... Por que ela tem que ser tão confortável, e ter um cheiro tão bom? - Você ainda não me respondeu... - Fui interrompida dos meus devaneios

– Ah... É que estava frio, então eu peguei a jaqueta de um... Mendigo!... É! De um mendigo! - Okay... Eu sei que essa não colocou...

– Eu não sabia que mendigos usavam Calvin Klein - Ironizou ela

– Já ouviu falar em bom gosto? - Rebati

– Sam...

– O que?

– É do Freddie não é?

– É... - Respondi em um tom quase inaudível, mas foi o suficiente para que ela ouvisse

– Ha!Eu sabia! - Exclamou a morena aparentemente satisfeita, fazendo sua própria dancinha da vitória

– Você me paga Shay! - Respondi dando língua, e subi as escadas na velocidade da luz para evitar mais perguntas... Que droga Freddie Benson! Olha só o que você faz comigo...

P.O.V Freddie

Nunca dormi tão bem em toda a minha vida! Não consigo tirar a noite passada da mente por nem sequer um segundo, e nem quero que isso aconteça... Eu já estava dentro do carro, dirigindo em direção ao Set, quando quando passo em frente em frente a um fast food, e sinto um cheiro delicioso... Nada mais era, do que fatias de bacon frito... Como eu estava com tempo, passei na janela do Drive Thru, e pedi uma porção grande pra viagem... Sinto que uma certa loira vai gostar muito dessa surpresa...

Cheguei no horário de sempre, mas como era de se esperar ela ainda não havia chegado... Fui direto para a sala de lazer e comecei a revisar o roteiro, aquilo já havia virado um costume diário...

Comecei a ouvir passos se aproximando, então ergui cabeça na esperança de fosse a Sam... No entanto, uma morena passou pela porta e se aproximou, era Carly:

– Bom dia Freddie! - Cumprimentou-me ela sorridente

– Bom dia Carly! - A cumprimentei da mesma forma - É... Sabe me dizer se a Sam já chegou?

– Ainda não, ela acordou atrasada, pra variar... Então eu vim na frente, mas daqui uns 15 minutos ela deve chegar...

– Ah sim... - Respondi um pouco desapontado

– Freddie?

– Sim?

– Posso te fazer uma pergunta? - Indagou ela se sentando ao meu lado

– É... Claro...

– Você gosta da Sam? - Ela foi bem direta

– E-eu? Por-por que acha isso? - Certo... Com certeza eu não esperava por isso... Será que ela sabe de alguma coisa? Será que tá tão na cara assim?

– Primeiro, por que eu não nasci ontem, e segundo, qualquer um que tem olhos pode ver... - É, pelo visto tá bem na cara... - Olha Freddie... A Sam ta passando por um período muito difícil da vida dela, e por mais que ela negue, eu sei que ela está sofrendo... Eu nem sei se eu devia estar te falando isso, mas de alguma forma eu sinto que posso confiar em você...

– Pode confiar em mim Carly, eu jamais faria mal nenhum a ela...

– Eu sei disso, mas aí vem o ponto em questão... Depois da última decepção amorosa, ela jurou nunca mais amar ninguém novamente, principalmente pelo fato de que a maioria das pessoas que se aproximam, querem apenas se aproveitar.. Eu entendo que ela não queira mais sofrer, mas se isolar só fará com que ela sofra mais ainda... Por isso Freddie, eu te peço apenas uma coisa: Cuida bem dela, por favor... A Sam é muito importante pra mim, e pelo visto eu vejo que também é pra você... - Ela deu um leve soco sugestivo no meu braço, provavelmente eu já devo estar mais vermelho que um tomate - Então por favor, não a magoe, e a faça feliz como nenhum outro conseguiu fazer... Eu sei que ela pode parecer um pouco fria e insensível, mas no fundo é apenas uma garota frágil que precisa de alguém que aqueça seu coração...

– Pode deixar Carly, eu já havia prometido á mim mesmo que faria aqueles olhos azuis dela sorrirem novamente, e agora estou mais determinado do que nunca a fazer isso!

– Mas eu já vou te avisando, não vai ser naaaaada fácil!

– Tudo bem, eu gosto de desafios - Respondi confiante

– Hey, a Sam vem vindo - Disse ela olhando pra porta e se levantando - Conto com você Freddie... - Dizendo isso, deu uma piscada e saiu...

Logo uma loira estonteante passou pela porta... Estava belíssima como sempre, mas também com aquela mesma expressão vazia... Mas agora, é oficial! É minha a missão de faze-la feliz, e de mais ninguém...

– Bom dia Sam - Disse eu me aproximando lentamente atrás dela

– Bo-bom dia Freddie... - É impressão minha, ou eu a vi se arrepiar? Ah, deve ser coisa da minha cabeça...

– Eu recomendo o bolo sensação, está um maravilha hoje... - Comecei a puxar assunto

– Não faço ideia de por onde começar! Pena que não tem bacon...

– Ah... Então acho que você vai gostar disso! - Retirei a porção de bacon da mochila, e entreguei a ela... Seus olhos brilharam como se estivesse olhando pra coisa mais preciosa do mundo, e um sorriso se formou de uma ponta a outra de seu rosto...

– Vo-você trouxe pra mim?

– Humrum... - Assenti com cabeça

Numa reação inesperada, ela se atirou em cima cima de mim, e envolveu seus braços envolta do meu pescoço na intenção de me abraçar como forma de agradecimento... Sentir o calor do seu corpo ao meu, com certeza é uma das melhores sensações do mundo... No entanto, quando ela iria depositar um beijo na minha bochecha, eu virei meu rosto por impulso, o que fez com que nossos lábios se tocassem em um breve selinho...

Aquele mínimo contato, mesmo que tenha durado uma fração de segundos, me fez sentir como se uma corrente elétrica percorresse todo o meu corpo... Ela permanicia de cabeça baixa, provavelmente estava morta de vergonha... Eu ainda estava com os olhos arregalados, mas então comecei a balbuciar várias coisas, até finalmente conseguir dizer algo que realmente fizesse sentido:

– Me-me desculpa Sam... Na-não foi a minha...Intenção...

– Tu-tudo bem Freddie... Obrigada... Pelo...É...Bacon.... Eu... Tenho que ir! - Dizendo isso, pegou a porção de bacon e saiu em disparada...

Eu fiquei ali ainda parado, observando aquela figura loira desaparecer de diante dos meus olhos, quando sinto algo roçar em meu colarinho... Era uma corrente dourada, com um "S" cravejado de cristais. A Sam deve ter deixado cair enquanto me abraçava... Guardei a corrente cuidadosamente no bolso, e me dirigi em direção ao Set... Eu sei que será difícil encará-la depois disso, mas não tanto quanto olhar para aqueles lábios novamente, e não sentir vontade toca-los outra vez...