A tale of Nevareth escrita por Yokichan


Capítulo 8
De como eles acabaram encontrando seu Devon




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No fim daquele ano, Jhony precisou partir para o norte com metade da guilda para pôr fim a uma rebelião que estava devastando aldeias inteiras e, como era costume, Whuthering teve de ficar tomando conta da casa — devia haver sempre um líder na Stormborn. Era véspera de Natal, e enquanto as criadas davam duro na cozinha para preparar o grande banquete do dia seguinte, os homens se ocupavam em arrastar mesas e bancos para o lado de fora da guilda, onde havia mais espaço e seria realizada a cerimônia de condecoração aos melhores guerreiros, que acontecia todos os anos. Durante esses eventos, todos costumavam beber além da conta, e ao passar pelo pátio decorado com as bandeiras vermelhas da guilda, Whuthering sorriu ao imaginar que alguns homens seriam jogados por sobre as mesas na próxima noite.

Uma jovem criada, talvez apenas uma menina, veio ao seu encontro carregando um vaso de flores brancas.

— Devo colocar flores sobre as mesas, senhora?

— E por que faríamos isso?

— Porque... Fica bonito?

— Não seja tola. – ela riu. — Aqueles bêbados irão arruinar minhas flores.

Mas Whuthering não estava com cabeça para pensar em flores, e à pergunta da garota sobre o que fazer com elas, respondeu que as colocasse em qualquer lugar, onde lhe parecesse melhor. Naquele momento, ela só se importava com Jhony e com o fato angustiante de não saber quando ele voltaria. Havia recebido um bilhete escrito às pressas, avisando sobre a vitória das tropas de Nevareth e derrota dos rebeldes, mas isso fora há mais de vinte e quatro horas e desde então não recebera mais notícias do norte.

Já era quase noite quando ela largou o livro que estava lendo e caminhou até a grande sacada do quarto. Debruçou-se sobre a murada e ficou observando os criados indo apressados de um lado para o outro lá embaixo, as luzes escapando pelas janelas de todas as casas e tavernas que se apinhavam ao redor da guilda, o rangido das rodas das carroças cheias de fogos de artifício, aquelas coisas brilhantes e barulhentas que Jhony adorava. As sombras caíam devagar e de repente, ao olhar para longe, para a estrada Real que levava às montanhas, Whuthering viu alguma coisa.

Primeiro, era apenas um pontinho escuro que parecia se mover. Mas então ela apertou os olhos e teve certeza de que aquela sombra realmente se movia, e que vinha em direção à guilda. Ela mal teve tempo de se perguntar se seria mesmo Jhony, pois logo o som de uma corneta avançou pela noite e ela reconheceu o sinal dele.

Jhony estava de volta.

Antes de deixar o quarto, Whuthering parou diante do espelho para se certificar de que estava tudo no lugar e que ela seria a coisa mais bonita que ele veria ao chegar em casa. Então desceu correndo as escadas, passou feito um tufão por criados que penduravam as últimas fitas da decoração — acabou derrubando um deles enquanto gritava pedidos de desculpas —, atravessou em agonia o comprido e interminável salão comunal e abriu caminho aos berros pela multidão que havia se aglomerado às portas da guilda para receber o grupo que retornava. Entreviu o elmo dourado de Jhony e estendeu os braços para jogar-se sobre ele e pendurar-se em seu pescoço, mas assim que ficaram frente a frente, Whuthering congelou.

Porque nos braços de Jhony havia uma criança.

O menino de cabelos e olhos negros feito uma noite sem lua a olhou curioso. Ele vestia uma roupinha surrada e manchada de fuligem, uma túnica meio esfarrapada, cor de nada, e agarrava com as mãozinhas pequenas um dos braços de Jhony.

— Jhony... – ela mal conseguia se fazer ouvir. — O que você...

— Eu não pude deixá-lo.

— Mas quem...

— Ele não tem mais ninguém. – silêncio. — Estão todos mortos.

E ao olhar nos olhos dele, Whuthering entendeu. Aquele garoto não era apenas um órfão de uma guerra que ainda não conseguia entender, assim como tantos outros, mas o sonho que sobrevivera. Aquele garoto era Devon, e só então ela compreendeu que durante todo aquele tempo Jhony também não havia esquecido.

Quando o menino estendeu os bracinhos para ela, Whuthering sentiu como se o amor fosse uma coisa molhada e quente que transbordava. Ela o pegou e o abraçou, observou como ele escondia o rosto na curva de seu pescoço, como os dedinhos se fechavam com força sobre o tecido de sua roupa, e decidiu que jamais se separaria dele.

Porque aquele menino agora era seu filho.

Era Devon.


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