Depois que o bebê se fora — e que Jhony desaparecera para que ninguém o visse chorar —, as criadas vieram cuidar dela. Em seu estado entorpecido de dor e delírio, tomada pela febre que lhe cobria o corpo de um suor frio e pegajoso, Whuthering não percebeu quando elas entraram no quarto e nem mesmo como retiraram os lençóis manchados de sangue e vestiram-na com roupas limpas. Enquanto a embebedavam com chás fortes, apenas os rostos velhos e sábios daquelas mulheres e suas lamentações sobre “a vontade de Deus” ficaram em sua memória. Encolhida sobre uma cama agora grande demais e abraçando a barriga onde ainda deveria estar seu filho, ela ouvia coisas sobre como Deus sempre tinha um motivo maior para tudo o que fazia e que, se ele havia levado “o pequeno herdeiro”, era porque precisava ser assim.

Então Whuthering odiou aquele maldito Deus. Ela o amaldiçoou com toda a sua alma que sangrava, sangrava sem parar. Praguejou entre dentes que, se Deus fizera aquilo, se arrancara a vida de seu Devon ou sua Anya apenas porque “precisava ser assim”, ele era pior do que o diabo. Ao ouvirem isso, as mulheres se entreolharam e saíram assustadas do quarto, cochichando que “a senhora estava certamente possuída por um espírito ruim”.

Nos dias que se seguiram, ela mal suportava olhar para Jhony. Havia tanto sofrimento no rosto dele, como se lhe estivessem afundando um punhal no peito, bem devagar, que Whuthering sentia vontade de chorar. À noite, na cama, ele a abraçava com força e dizia que a culpa não era de ninguém, que simplesmente acontecera, e que poderiam ter outros filhos porque havia muito tempo pela frente. Dizia que a amava, que ela era toda a luz de sua vida, e que morreria se ela se apagasse. Então Whuthering sentia as lágrimas dele caindo sobre si.

E tudo aquilo apenas porque um Deus sádico quis.

Com o tempo, eles não tocaram mais no assunto, mesmo que nenhum médico ou sacerdote conseguisse responder por que ela não engravidara mais. Era como se seu corpo tivesse secado — embora se entregasse à Jhony com o mesmo ardor de quando se conheceram e o desejasse tanto quanto antes. Mas nada acontecia depois, nada vingava, e então Whuthering parou de sonhar com aquilo.

Ou achou que tivesse parado.