A tale of Nevareth escrita por Yokichan


Capítulo 9
Stormborn




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/590655/chapter/9

Desde aquela noite de Natal o tempo havia passado como água. Whuthering tentara agarrá-lo algumas vezes, mas ele escapava por entre seus dedos e ia embora como se risse baixinho. Então ela olhava para trás na esperança de que o momento durasse um pouco mais — por favor, por favor, só mais um pouquinho — e percebia, inconformada, que já faziam dois anos. Jhony havia sido nomeado comandante dos reinos do sul e ela por pouco não mandara excomungar todos os médicos de Nevareth quando Devon adoeceu e ardeu em febre durante dias, porque “aqueles senhores” — como ela os chamava entredentes — simplesmente não faziam a menor ideia do que pudesse ser a tal doença misteriosa. Então uma velha criada da guilda percebeu uma picada de inseto na nuca do menino, apenas um pequeno pontinho vermelho, e bastou uma caneca de chá verde para que Devon pulasse da cama no dia seguinte como se nada tivesse acontecido.

E agora ele passava os dias correndo de um lado pro outro da guilda com uma shinai* sem que ninguém pudesse alcança-lo, dizendo que se tornaria o melhor Espadachim de toda Nevareth — o que quase matava Jhony de desgosto, porque ele odiava Espadachins — e pregando peças em todo mundo, como quando colocava sapos ou outros répteis nojentos dentro da caixa de criações de Cloe, a mercadora, ou como quando escondia os amuletos dos magos que trabalhavam no laboratório de alquimia da guilda só para vê-los praguejando e discutindo como crianças de escola. Os velhos supersticiosos da aldeia diziam que o menino era a reencarnação de uma raposa traiçoeira, mas a mãe lhe acariciava os cabelos negros todas as noites e seus olhos brilhavam de orgulho ao pensar que Devon aos cinco anos era mais esperto do que a maioria dos homens aos vinte.

Só ela percebia tudo o que ele viria a ser.

Às vezes, a meio caminho entre o saguão e o escritório de Jhony, ela parava junto à porta da biblioteca e ficava observando Devon discutir com o velho professor de geografia — e não importava o quão errado estivesse, o garoto sempre convencia qualquer um de que sua teoria fazia sentido. Outras vezes, ela o via praticando com o pai na clareira atrás do prédio da guilda e tinha certeza de que, se Devon trocasse a shinai por uma katana, Jhony já teria levado uns arranhões. E nesses momentos ela via aquele olhar no rosto do filho, e sabia, mesmo sem entender como, que ele seria um grande líder na história da Stormborn, maior do que todos os outros.

Então ela o amava ainda mais.

À noite, quando tudo caía em silêncio e a última luz se apagava, depois de terem se beijado e feito amor como se ainda fosse a primeira vez, Whuthering e Jhony conversavam. No escuro, com os corpos ainda úmidos de suor e parecendo incrivelmente pálidos debaixo da claridade da lua que entrava pela janela ao lado, ela encontrava seu lugar preferido entre o ombro e o peito dele.

— Devon me pediu uma katana hoje. – Jhony resmungou.

— E o que você disse?

— Que katana é coisa de Espadachim. E que todos os Espadachins são trapaceiros, não se pode confiar neles. São a pior classe...

Whuthering riu baixinho e fechou os olhos, sonolenta.

— Você sabe que ele não vai desistir. – ela suspirou. — E sabe também que não pode impedir.

Mas um Espadachim?!

— Você vai amá-lo menos?

— É claro que não, mas...

— Então não diga bobagens, querido.

Jhony ainda ia dizer qualquer coisa sobre aquela maldita história de seu filho se tornar um Espadachim — por que não um Guerreiro como ele, ou um Guardião ou qualquer das demais classes? —, mas ela tocou-lhe os lábios num beijo rápido e sussurrou que o amava, então sua voz se perdeu no escuro do quarto. Ele ainda permaneceu acordado por algum tempo escutando a respiração lenta e suave de Whuthering e pensando em como tudo até ali tinha valido a pena, em como um só homem podia ser tão feliz e por tanto tempo. Mas então se lembrou do que a mulher ao seu lado lhe dissera uma vez e simplesmente fechou os olhos para dormir.

Algumas coisas simplesmente não precisam de explicação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Shinai: espada de bambu utilizada na prática do kendo, arte marcial japonesa.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A tale of Nevareth" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.