A Rainha Dourada. escrita por AnaBonagamba
Notas iniciais do capítulo
Muito obrigada pelos comentários do capítulo anterior! Espero que este também lhes seja agradável. Boa leitura!
Muitas das risadas cessaram instantaneamente quando Thorin e Tauriel surgiram juntos na base da escadaria, dando lugar para o barulho de outros visitantes e da natureza matinal. O líder, ainda desprovido de seus trajes de combate, utilizava apenas uma túnica azul marinho que lhe servia como roupa de baixo, calça de montaria e botas, típico conjunto de trabalho como ferreiro. Os cabelos pretos desgrenhados insistindo em ocultar seus belos olhos azuis. Lied percebeu a tristeza irrompendo deles, mas foi compreendida de outro ângulo:
– Ele não gosta de elfos. - explicou Bálin, temeroso. - Mas aprova humanos. - acrescentou para tranquilizá-la.
Já a elfa que dizia não ser companheira de Kíli mantinha um sorriso contido nos lábios rubros. O olhar complacente e gentil. Naquele momento era impossível acreditar que a moça fosse uma guerreira, como antes tinha dito Fíli, a ameaçar seu irmão que agora aguardava ansiosamente que ela tomasse o lugar a seu lado, e tão logo o fez.
Com um aceno de cabeça vindo do recém-chegado, todos retomaram suas atividades com o dobro de energia.
– Venha, quero que conheça alguém. - disse Fíli, seu olhar tão desperto como estrelas de verão. - Ele é muito especial para mim.
– Parece tenso, um tanto aborrecido. - Lied cogitou negar o pedido, pouco receosa.
– Não se acanhe, nada vai dizer para chateá-la. É meu tio, Thorin. - declarou, por fim.
O jovem anão esperou o consentimento da outra antes de tomá-la pela mão uma segunda vez naquela manhã, porém, a forma com que o fez era totalmente diferente da anterior, muito mais segura e precisa, com passos curtos decididos e a postura rija esbanjando superioridade. Os olhos azuis escuros fitaram-na sem emoção, pousando alguns segundos no aperto firme de Fíli entrelaçando seus dedos nos dela.
Ao pararem, o loiro hesitou, inspirando o máximo de ar antes de pronunciar de uma vez:
– Tio Thorin, quero lhe apresentar Lied, nossa nova amiga de Dragon Forest. – o anão robusto intensificou o olhar. - Lied, este é Thorin Oakenshield, líder desta comitiva e irmão mais velho de minha mãe.
– Nossa nova amiga? - repetiu desconfiado.
– A companhia não pôde ser mais cortês. - sorriu o jovem.
Lied mensurou as palavras com carinho, porém, entre os seus era pouco provável a construção de uma amizade em apenas um dia e tão poucos agrados. Thorin relaxou os ombros, reverenciando-a com um aceno de cabeça. Ela, por sua vez, surpreendeu-o ao baixar-se perante sua figura, nivelando as alturas. Tomou a mão calejada e grossa entre as suas com delicadeza, beijando-a em seguida. Fíli piscou descrente enquanto todos observavam com igual assombro, num sobressalto, o herdeiro de Erebor virou a palma da mão para o rosto da jovem, afagando-o com o polegar.
– É tradicional em meu reino prestar cumprimento a líderes com a mesma soberania de um monarca, senhor Thorin. - ilustrou um sorriso luminoso em sua face, levantando-se. - O mais nobre de nossos afetos.
– Poderia eu deter uma parcela deste carinho? - questionou uma voz sutil em suas costas.
– Estérela! - Lied virou-se num ímpeto, abraçando-a com fervor. - Cheguei muito tarde, já estava recolhida, e seu pai absorto em preocupações por seu sumiço repentino!
– Que fora resolvido em total acordo, creio? - os anões assentiram em comum opinião pela comida e abrigo.
– Não vi as criaturas de Yamar nas redondezas. Aconteceu alguma coisa?
Ester ensaiou uma piscadela para Gandalf ainda que não pudesse enxergá-lo.
– Receio que não. Minha querida vai para o Norte? - interrogou-a com interesse.
– Pretendia partir ainda esta tarde. - respondeu displicente.
– A caminhar? - a outra parecia ligeiramente surpresa.
– Sim, mas assumiria uma cavalgada assim que chegasse em Spaceport Alpha.
– Então terá de passar por StarCity de qualquer maneira, presumo.
Lied assentiu, sem compreender até onde a loira chegaria.
– Importa-se de guiar mestre Gandalf e a companhia de Thorin Oakenshield?
– Para onde? - interrompeu Thorin agressivamente, atento a conversa.
– Sei que não será de um todo satisfatório, acredite, mas o tempo em Stellaevi passa bem mais rápido para vocês que para nós. - a tentativa de explicação deixando-o mais confuso. - O Istar necessita de conselhos, e estes devem vir de uma supremacia que não possuímos.
– Istar? - Lied repetiu maravilhada. - Eis que é um mago cinzento... Mestre em magia?
Gandalf estava preparado para argumentar quando Ester tocou o braço de Lied, virando-a para si.
– Mjeshtër? A jo. Kujdestar.¹
Apesar de nada entender do que foi dito por Estérela, Bilbo notou que sua expressão se dissolveu, a voz melodiosa soando metálica e significante. Lied não contestou, apertando as mãos da amiga fraternalmente.
– Será um gosto poder ajudá-los.
– Faça-o como um favor pessoal a mim. - interviu Ester, tateando um espaço para acomodar-se. - Aviso que são dois longos dias e três noites antes de chegarem ao destino prometido, em trilhas pouco amistosas.
– Ao que se compara as nossas, ela diz. - explicou Lied a Thorin prontamente. - Mas já passei tantas vezes que meus pés poderiam ir sozinhos.
Dwálin não parecia convencido.
– A madame possui alguma aptidão para combate? - indagou com escárnio.
Bombur, Glóin, Kíli e Thorin riram, ao passo que Fíli franzia o cenho e Bilbo aparentava estar engasgado.
– Apenas quando necessário. - respondeu docemente diante da brincadeira.
– Lied tem diretrizes distintas em batalha. - defendeu Ester. - Suas palavras são tão poderosas quanto as armas que carregam.
Gandalf assentiu:
– E isso é uma dádiva incomum.
– Logo que encontrar o que busca em nossos domínios - finalizou, especialmente para Thorin. - serão orientados a retornar para sua jornada inicial, tenho certeza.
Terminada a refeição, Bilbo Baggins deu seu último suspiro aliviado ao deixar a estalagem de Midgard, um lugar seguro ante ao mundo completamente inexplorado. Lhe foi assegurada toda assistência com alimentação e acampamento, e basicamente todos os pertences tomados pela viagem anterior foram repostos, mas isso não era suficiente para tranquilizá-lo. O silêncio estava se tornando uma maneira ágil de defesa contra a indiferença; de longe podia ver os membros da companhia reunidos com suas armas de guerra e suprimentos, sendo Óin privilegiado com caules e ervas medicinais que provavelmente seriam úteis no retorno ao Ermo. Ori rabiscava seu diário o mais rápido que podia, tentando concentrar em um dia milhares de informações válidas para suas histórias.
Kíli e Tauriel, os únicos um tanto distantes, observavam admirados a beleza do céu, um azul primaveril inspirador. Lied e Fíli acercaram-se em seguida, o segundo com ânimo aflorado pela possibilidade de passar algum tempo ao lado da moça, de modo que a despedida iminente pudesse ser retardada. Lied se arranjara, rápida e objetiva, tão leve quanto elegante. Bilbo não pôde deixar de notar o olhar de Thorin sobre ela, desvendando-a através de bucólicas atitudes, como reorganizar o peso da bagagem para que nenhum deles fosse prejudicado pelo cansaço.
Seu cumprimento deixara-o desnorteado, já que há muito não experimentava do protocolo real de seu povo, mesmo que fosse respeitado entre os seus, herdeiro de um trono perdido. Entretanto, a jovem nada conhecia sobre suas origens para tratá-lo com tamanha pompa, e por tal ganhara parte de sua afeição.
– Não se aflija, pequeno. - disse Ester em suas costas. - Nem todo desconhecido é perigoso.
– O que enfrentaremos daqui por diante? Que perigos teremos de vencer? - ousou questionar.
– Há guerras que são fundamentais, mestre Baggins.
– Como?
Ester aproximou-se, tocando-lhe o ombro exatamente como fizera com Lied no desjejum.
– Vence a ti mesmo e estará apto a vencer qualquer outro. - sussurrou. - A pior batalha é aquela travada com sua consciência.
O hobbit ergueu a cabeça num semblante mais calmo, reparando como a maioria reagia bem às novidades. Encontrara, sim, uma bondade inexplicável entre aquelas pessoas, um misto de felicidade e conforto.
– Lembre-se, Bilbo, há coisas que você pode fazer, outras que deve. Mas não abra mão de suas opções diante de uma obrigação.
– A propósito, devemos partir. - notificou Gandalf, entregando a Bilbo sua diminuta espada elfica e alcançando a comitiva.
– Vocês estão indo para o berço do conhecimento e sabedoria de nosso povo. Guardiões da essência e da magia que rege nossos domínios e garante nossa paz. - Estérela parou ao lado de Lied, consideravelmente mais alta. - Desejo a todos a maior sorte dos mundos, que tenham o sucesso esperado e prosperidade.
Midgard apressou-se a abanar as mãos do alpendre até que não fosse mais avistado, a filha logo abaixo, o olhar comumente vago. Assim que contornaram a campina, a paisagem mudou instantaneamente de esplanadas para uma vasta floresta, Greenwood Forest, as fronteiras se desfazendo a cada movimento estimulado pela jovem humana.
Lied os conduziu por passagens bem iluminadas, embora os pinheiros e salgueiros fossem grandes o suficiente para encobrir o sol. Contrastando com as planícies, o terreno montanhoso aos poucos foi se mostrando desbravado e, sem parada, penetraram mata adentro, ficando cada vez mais nítido que aquele espaço sem dúvidas era inaugural, de uma beleza e harmonia indiscutível. Aves exóticas piavam em dueto, seguidas pelo tilintar gracioso de esquilos correndo na pedra; flora da mais variada cor e tamanho alegrava o ambiente, plantada com tanta perfeição que era difícil crer em seu crescimento genuíno.
– É tudo tão lindo... - Ori colecionou algumas margaridas dispostas no chão, entregando-as para moça num buquê singelo.
– Obrigada, mestre anão. - agradeceu ela, guardando o ramalhete no bolso frontal do casaco.
– Eu poderia fazer uma coroa, se quisesse. - comentou Fíli, acercando-se. - Apesar que ficaria bem mais bonito se coletássemos flores frescas.
– Elas morreriam da mesma forma. Não faremos isso, deixe que suas cores perdurem.
– Prefere que adornem os jardins invés da tua fronte, Lied?
– Oh sim! - confirmou ela sorridente, apoiando-se em uma pedra tombada. - Estarão aí para enaltecer outras almas com sua formosura.
– Não o faria por vaidade?
– Para quê? Tudo que na terra habita possui o direito incontestável de viver, Fíli.
Bilbo acelerou a caminhada, aproximando-se:
– A natureza não faz nada em vão*.
– Precisamente, senhor Baggins.– Lied sorriu para o hobbit, que retribuiu o gesto em instância. - E quando agredida, ela não se defende. Apenas se vinga.**
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Traduções do Eldarien (/Albanês).
¹. Mjeshtër? A jo. Kujdestar: Mestre? Não. Guardião.
Referências.
(*) A natureza não faz nada em vão. Aristóteles, filósofo grego.
(**) A natureza não se defende quando agredida. Apenas se vinga. Albert Einstein, físico-teórico alemão.
Nada mais a declarar, e vocês?