Pequena Ameaça escrita por Pipe


Capítulo 5
Mais ou menos normal




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/590294/chapter/5

CAPITULO 5 – MAIS OU MENOS NORMAL

Quando eles chegaram à clínica, Ronald estava irritado.

–Combinamos de diminuir o primo Sherlock para uma idade menos estressante para por o vírus em hibernação e ele fica estressado mesmo assim.

–Coisas imprevisíveis, Ronald. Ele ainda está bem enjoado.

–Claro que está. Esse maldito vírus deixa ele podrinho, tadinho. Vamos, Sherry. Um bom banho e um quarto ventilado vai fazer maravilhas no seu dia hoje.

–Mycroft, agora me conta o segredo do enjoo encomendado.

–Quando ele tinha três anos, ele aprendeu a subir em todos os móveis. E começou a comer tudo que conseguia por as mãos. Até E PRINCIPALMENTE as minhas coisas. A única maneira que eu encontrei de salvar meu caramelo foi fazer ele pegar nojo. Eu o convenci que caramelo era idêntico à diarréia. Crianças são impressionáveis, principalmente com sons.

–Como você é maquiavélico...

–Foi o que salvou meus doces naquela época e salvou o dia hoje. Ele vomitou em você?

–Não. Ao contrário do Moriarty, eu tenho bons reflexos contra vômitos e cocôs fora de hora.

Mycroft deu uma risadinha e se encolheu levemente.

–Por que você não pede ao seu primo que dê uma olhada nesse ombro?

–Depois. Frederick! Conseguiram achar a cura?

–Sim! Assim que Sherlock for para o quarto, aplicaremos. Mas só vamos fazê-lo voltar ao tamanho normal depois de curado e estabilizado. Não vamos sobrecarregar o pequeno organismo. Vocês aguentam mais dois dias?

–Não vai ser um prazer, mas sim.

–Posso te ajudar, Mycroft?

–Ah, as pessoas ficam tão sensíveis perto de um bebê adorável... Certamente, inspetor Lestrade. Ficarei honrado – e aliviado – com sua ajuda em pajear meu irriquieto irmão.

–Sherlock! Está se sentindo melhor?

–Não. Estou com fome. - O pequeno tormento cruzou os braços e fez beicinho – Não gosto de vomitar.

–Quem gosta? - Frederick riu. - Mas olha, Marie tirou a casca da maçã em uma tira inteira e cortou a fruta em pedacinhos, do jeito que você gosta de comer.

Uma alimentação leve e um pequeno descanso fizeram o mau humor de Sherlock esvanecer. Marie aproveitou a soneca para inocular a cura no pequeno. Ele só gemeu no sono mas continuou dormindo.

–E agora?

–Agora esperamos. Por favor, inspetor Lestrade, seja o anteparo entre esses dois chatos. Sherlock precisa estar descansado e desestressado para estabilizar antes que o façamos voltar ao tamanho normal. Os dois próximos dias vão ser cruciais.

–Sim, sim, eu pretendo. - Greg baixou a voz – e Mycroft? Tudo bem com ele mesmo?

–Oh, sim. O sobretudo não deixou a bala atravessar, mas ainda não foi inventado um que absorva o impacto a ponto de não machucar. - Frederick olhou para Marie – Era uma coisa que a gente podia trabalhar em cima, não? Fibras que não só servissem como as cotas de malha de antigamente, mas que absorvessem o impacto da bala quando atingidas.

Lestrade sorriu. O mundo, pelo olhar dos Rutherfords, era um grande objeto de estudo e experiências...

–Bem, se me derem licença, eu vou em casa pegar umas roupas e avisar meu intendente que ficarei uns dias fora. Como eu tenho dias de folga para tirar acumulados, ele vai me liberar. - Greg fingiu não ver o meio sorriso de Mycroft. - Já volto.

–Vá direto para minha casa, Lestrade. Temos cadeirinha, você sabe.

Arthur se intrometeu:

–Por favor, inspetor Lestrade, volte. Talvez Sherlock não queira ir com Mycroft nessa boa vontade toda. - diante da sobrancelha erguida, o primo retrucou – Você fez ele vomitar. Em público!

Mycroft suspirou, Lestrade riu e duas horas depois estavam arrumando Sherlock para ir. Ele ergueu os braços, pedindo colo. O irmão reclamou:

–Você já sabe andar, mocinho.

–Não quero. Vocês tem pernas compridas e eu tenho que correr atrás. - Ele continuou com os braços estendidos, fazendo beicinho. Greg sorriu e o pegou. Sherlock mostrou a língua para Mycroft.

–Se comporte, Sher. Eu só vou te levar porque vai economizar mesmo nosso tempo até o carro e você ainda está febril.

–Febre é um saco! - Ele abraçou Lestrade e deitou a cabeça no ombro dele. Notou que o outro travou no lugar – O que foi?

–Nada. É que seu cabelinho está cheiroso. Vamos?

Nunca Greg ia confessar que ficou emocionado com o fato de Sherlock tê-lo abraçado com total confiança e abandono, e que aquela forma infantil era deliciosamente apertável. Mas sim, a desculpa era válida, porque o pequeno cheirava muito bem, os primos tinham usado todos os melhores produtos de higiene infantil que havia.

Mycroft deixou-os em casa, se Lestrade ia ficar, ele não precisava. A primeira coisa que Sherlock quis fazer foi falar com John.

–Olá, parceirinho!

–John! Como está Mary?

–Descansando. Mas está bem, graças a você. Passou um mau bocado com Moriarty de novo, hein?

–Mas Mycroft me salvou, igualzinho James Bond.

–Somos ingleses, graças a Deus. Ele não te feriu?

–Eu causei mais dano, vomitando em cima dele. - Sherlock deu uma risadinha – Precisava ver a cara que ele fez, praticamente me jogou no chão! Daí Lestrade me puxou para atrás de um escudo da polícia. Queria fazer de novo, sem a parte da nojice.

–Três anos e já gosta da adrenalina. - Greg riu. - Porque nosso lado saiu vitorioso, estamos aqui rindo e querendo repetir a dose. Mas não, Sher, não foi legal, e eu fiquei muito nervoso, principalmente na hora que Mycroft levou o tiro e você correu pra cima dele.

–Cristo! Mycroft foi atingido? Ele está bem?

–Sim, ele estava usando equipamentos do Serviço Secreto, então o colete à prova de balas segurou o tranco, e ele tinha seu próprio escudo, assim ele protegeu a si mesmo e ao Sherlock de um possível próximo disparo. Mas eu gelei.

–Eu pensei que aquele bastardo do Moran tinha machucado meu irmão. Eu ia enfiar aquele guarda chuva no nariz dele.

John e Lestrade disfarçaram como puderam o riso diante da ira infantil. Ele era inocente ainda, mas indiscutivelmente já tão Sherlock...

–Mary acordou e está me chamando. Espere um pouco, Greg, com certeza ela vai querer ver o Sherlock...

Alguns minutos depois, John voltou e ergueu o note:

–Vou levar o notebook para ela...

–Olá, meu querido!

–Oi, Mary. Você 'tá bem?

–Eu estou, a neném também. Sua febre passou?

–Passou.

–Você parece tristinho...

–Ahn – e Sherlock fungou – eu não queria 'tar aqui. Eu queria 'tar aí, dormindo com vocês. - E ele fez beicinho.

–Hoje foi um dia em que deu tudo errado, Sher. Acontece.

–Odeio quando as coisas dão tudo errado. - Sherlock passou as costas da mão nos olhos.

–Você já jantou?

–Ainda não. É cedo. Mas eu comi no hospital. Marie cortou a maçã do jeito que eu gosto, descascando numa tira única.

–E você come primeiro a casca, depois a fruta?

–Isso! Como 'cê sabe, Mary?

–John faz isso. - ela riu. - Agora vai jantar. Depois brincar com o Lestrade até Mycroft chegar, senão não dá tempo.

–Tá bom. Tchau, Mary.

–Opa, manda beijo. Espera, John também quer. - e ela fez sinal para o marido vir em frente à câmera.

Lestrade fechou a mão em punho e colocou na frente da boca para disfarçar o riso. Eles estavam abusando muito do menino. Quando Sherlock voltasse ao normal e se lembrasse daquilo, ia ficar possesso. Fechou o Skype.

–Então, o que você quer comer, mocinho?

–Qualquer coisa com frango.

Quando Mycroft chegou, eles estavam brincando de corrida com carrinhos de controle remoto, Sherlock subindo em qualquer móvel ao invés de desviar deles.

Assim que viu o irmão, ele jogou o controle e avançou para pular em Mycroft, que rolou os olhos, largou a pasta e o guarda chuva no chão para poder segurar o furacão de olhos azuis.

–Oh céus, você foi, é e sempre será uma pequena ameaça, não? - mas não só aceitou o abraço e o beijo do pequeno, como retribuiu.

Vindo ao encontro deles e vendo a cena, Lestrade teve uma revelação. Mycroft chamava sempre Sherlock de “pequena ameaça” não porque ele fosse hiperativo e destruidor, mas porque ele era literalmente isso. Uma pequena ameaça ao parâmetro mycrofitiano de não se importar, não ter laços sentimentais com ninguém. “Amar é uma desvantagem” não se aplicava a Sherlock e Mycroft sabia que o irmãozinho era sua mais perigosa fraqueza.

Sherlock riu:

–Eu gosto quando você me chama assim. Um dia eu vou ser uma Grande Ameaça.

–Capitão Grande Ameaça, o terror dos sete mares, eu suponho. - Mycroft colocou o irmão no chão e cumprimentou Lestrade, antes de recolher suas coisas e pendurá-las nos cabides. - Já jantaram?

–Ele já. Estávamos gastando um pouco de energia antes de dormir. Ele realmente sobe em qualquer coisa, não?

–Meu pai dizia que ele seria um grande marujo das esquadras antigas ou que poderia comprar um veleiro. Mas a realidade é que o Sherlock de hoje em dia não gosta de praia nem mar. Ele acha tedioso.

Lestrade riu. Enquanto eles jantavam, Sherlock viu um pouco de TV. Chegou a hora de dormir:

–Por que eu não posso dormir com você?

–Porque eu acordo cedo para trabalhar.

–Mas amanhã é sábado!!

–Pessoas trabalham aos sábados, mocinho. E às vezes aos domingos também. Não entendo como os outros pijaminhas ficaram tão bons e esse ficou grande nas pernas.

–Estou com calor, não quero dormir de meias. Não, não quero dormir com nenhum bicho de pelúcia. Pode deixar a luz acesa.

Lestrade abriu o Skype.

–John, estamos com problemas.

–Ele está dando trabalho para dormir, ne? Não, melhor não colocá-lo no note, talvez ele abra o berreiro e piore a situação. Onde ele vai dormir? Sozinho? Durma com ele, Greg, se você não se importar. Sei que ele não é mais bebê, mas pegue-o no colo e ande com ele. Acalme-o. Ele só está sendo impertinente porque quebraram a rotina dele. Nessa idade eles gostam da rotina. Deixa-os seguros. Qualquer coisa, ligue.

Lestrade voltou para o quarto, pegou Sherlock no colo e disse:

–Ok, mocinho, você vai dormir na minha cama. Nada de chutar nem roubar minhas cobertas, combinado?

–Sim, senhor! - o menino bateu continencia.

–Vamos dar uma volta enquanto você não tem sono. Quer levar algum amigo seu junto?

–Pega o Benny, a lontra. John disse que é uma lontra, mas podia ser um furão, ne? Mycroft, por que a gente não pode ter um furão?

–Porque eu não aguento duas pequenas ameaças aos meus móveis. Boa noite, Sherlock.

Lestrade foi andando com ele pela casa, conversando baixinho. Logo ele tinha se rendido e foi posto na cama, com travesseiros rodeando. Greg foi ver mais um pouco de TV, antes de se deitar. No meio da madrugada sentiu um negócio peludo no nariz. Era o Benny, Sherlock tinha se encostado nele, com a lontra entre os dois e o rabo do bicho de pelúcia estava em seu rosto. Greg riu, virou o animal e abraçou os dois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Sim, eu amo Mycroft. Próximo capítulo, o fim. 01/02/2015.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pequena Ameaça" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.