Pequena Ameaça escrita por Pipe


Capítulo 4
Seja meu discípulo


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de avisar que vai ser meio escatológico. Portanto, não é recomendado ler comendo. Se você tem nojo de cenas com fluidos... se prepare antes.



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CAPÍTULO 4 – SEJA MEU DISCÍPULO...

No dia seguinte, John se sentiu observado e abriu só um olho para confirmar. Havia um par de olhos azuis inquisidores parado ao lado da cama.

–Eu só queria saber como você abriu as portas dos quartos. -ele questionou enquanto desciam as escadas, Sherlock no colo.

–Subi em cima do Mike.

–Mas a lontra não é tão grande.

–Mike é a baleia.

John levantou o rosto e virou para disfarçar o riso, respirando fundo.

–Ah, Sherlock, vou sentir muito a sua falta... Vamos fazer algo diferente hoje. - Colocou o garoto na cadeira. - Panquecas!

–OBA! Com calda?

–Sim!

–EEEHHH! Mas não de caramelo, ne?

–Definitivamente, você não gosta de caramelo!

–Tenho nojo. Parece diarréia.

Dessa vez, John pode gargalhar. Depois do café, eles se sentaram na sala e John aproveitou um pouco da companhia do ex-companheiro de apartamento diminuído. Mary acordou bem mais tarde nesse dia e o marido achou-a um pouco pálida.

–Não é nada. Vamos ficar bem, não vamos, Sherry?

O menino só levantou uma sobrancelha pra ela. Depois olhou para John e concordou.

Quase na hora do almoço, Mary foi para a cozinha. Sherlock foi atrás dela, para pedir água. Quando ela se virou para entregar o copo, caiu desacordada ao chão. Sherlock se assustou, mas correu atrás do celular.

–Emergência! Qual o serviço você gostaria de solicitar?

–Ambulância! - Sherlock hesitou só por um segundo – minha mamãe, que está grávida, acabou de cair na cozinha.

O poder de uma voz infantil pedindo ajuda. Logo haviam dois operadores em ação.

–Calma, querido. Você sabe seu endereço?

–Sim, eu sei. - ele deu – há alguma coisa que eu possa fazer enquanto eu espero? Ver ela no chão está me dando aflição.

–Ela está sangrando?

–Não.

–Ela caiu de mau jeito? Bateu com a barriga no chão? Ou a cabeça?

–Não. Ela se virou para me dar um copo de água e foi descendo, não levou um tombo de uma vez.

–Talvez seja queda de pressão – Sherlock ouviu um operador dizer para o outro. - Onde está seu papai?

–Trabalhando. Se eu soubesse como desbloquear o celular, eu teria ligado pra ele, que é médico.

–Como ele se chama? Nós ligamos!

A equipe de Mycroft se assustou com a ambulância parando na porta. Mas como foi Sherlock quem abriu, eles só ficaram atentos. Logo John chegava também.

–O que houve?

–Sua mulher passou mal, seu filho entrou em contato com a emergência. Ele é um garotinho muito inteligente para a idade dele!

–Sim, ele é mesmo! - John abraçou Sherlock, que somente aí passou a tremer. - Shhh, shhh, William, pode relaxar agora. Você fez tudo direitinho. Vamos de carro atrás deles.

“Será que a culpa é minha?”

John olhou pelo retrovisor para o garotinho tristonho na cadeirinha e suspirou:

–As grávidas tem esses momentos ruins, Sherlock. Pressão que oscila, glicemia que sai do prumo, hormônios que se descontrolam. Não foi você ontem. Se fosse, ela teria passado mal ontem mesmo. Não pense nisso, ok? Obrigado por ter pensado rápido e ligado para a emergência.

Mas Mary ia precisar de repouso, o que inviabilizou a permanência de Sherlock na casa dos Watsons.

Um John inconformado entregava a mala de roupas e os brinquedos de Sherlock para Anthea.

–Nem se fosse de propósito. - ele bufou. - Planejamos passar o final de semana juntos e acontece isso.

–Não se pode ganhar todas. - ela riu.

Sherlock também não estava animado para ir, mas antes de se despedir, lembrou:

–A minha arca do tesouro! Ficou no quintal! - e saiu para buscar.

Quase dez minutos se passaram e nada desse menino voltar. Anthea olhou para John:

–Seu quintal é tão grande assim?

Mas Watson já estava correndo pela porta dos fundos, gritando o nome dele e parando ao ver pegadas de adulto na terra, perto dos arbustos.

–Alguém entrou aqui e o levou!

–Segurança, alerta máximo! – Anthea deu o sinal. Depois suspirou – Agora é aguentar a fúria do dragão.

Não demorou um minuto para o celular dela tocar. Ela se despediu de John e foi escutando sem retrucar. Watson sacudiu a cabeça e suspirou. Quem seqüestraria um garotinho? Ou melhor, quem levaria Sherlock?

–Quem teria interesse nele? Oh, não...

O dragão transtornado, também conhecido como Mycroft Holmes, demorou menos tempo nesse pensamento. Vestindo o sobretudo e pegando o guarda-chuva, ele rosnava ao pedir o carro:

–Uma coisa simples: trazer um menino para casa. Mas sempre tem um idiota com complexo de deus para atrapalhar nossa vida. Diabos o levem e enterrem no último círculo do inferno, Moriarty. Inspetor Lestrade, boa tarde. Espero não estar atrapalhando seu almoço. Oh, não? Que bom, preciso da sua ajuda.

Lestrade ouviu atentamente e avisou à equipe que ia “dar uma saidinha”. Depois pegou as coisas que Mycroft tinha pedido para ele levar.

–Não é sempre que Mycroft Holmes faz trabalho de campo. Só Sherlock para obrigá-lo a isso. – deu uma risadinha. – Moriarty que se cuide!!

James Moriarty enquanto isso estava no paraíso. Ele tinha tido a idéia de se livrar de Sherlock Holmes através de seu próprio DNA, mas de alguma forma o irmão dele descobriu como suspender a bomba orgânica diminuindo a vítima.

–Ficou tão gracioso... e o melhor, tão fácil de carregar. Agora eu só tenho que curá-lo e criá-lo como se fosse meu. Continua sendo o mesmo Sherlock, inteligente e criativo. Só preciso moldar a sua personalidade à minha própria imagem e semelhança. Um discípulo, para herdar o mundo que eu vou criar pra ele. Não é maravilhoso? Oh, é verdade, você ainda está desacordado. – Sacou o celular – Sebastian, estou no parque. Pode passar para nos pegar?

Procurando corrigir o erro, a equipe de Mycroft estava correndo contra o tempo e farejando por todos os cantos. Foi o tempo de Moriarty entrar no carro e a perseguição começou. Sherlock abriu os olhos e estranhou o ambiente.

“Mas eu estava no quintal agora há pouco...”

–Ah, querido, que bom que você acordou. Vamos dar umas voltinhas de carro para nos distrair um pouco, depois eu levo você para casa.

–Quem é você? Cadê o John? E a Anthea?

“Oh, ele não se lembra de mim, que fofo! Posso ser qualquer um, então!”

–Eu sou seu mais novo tutor, Jim.

Sherlock semicerrou os olhos. Olhou ao redor de novo.

–Não, você não é não!!

–Mas eu vou te ensinar tanta coisa legal.

–Não quero saber!

–Se segurem que vamos fazer uma curva meio abrupta agora! – gritou Sebastian. – Droga! Não adiantou. Tem uma barreira à frente também!

–Então é no corpo a corpo. Temos um belo escudo, que também é um trunfo! – saiu do carro, com um Sherlock esperneando e se encostou na vidraça de uma cafeteria.

Todos foram evacuados pelos fundos. Se algum tiro escapasse, não ia atingir nenhum inocente. Eles estavam cercados, mas óbvio que os policiais estavam esperando alguém. Que chegou suspirando.

–Limpem a área. Eu cuido disso. O atirador vai tentar fugir pelo lado contrário do seqüestrador. Moriarty, devolva meu irmão e se entregue.

–Por que eu faria isso? Ele é uma gracinha. Eu quero ficar com ele. Além do que, ele está doente e só eu tenho a cura.

–Nem morto eu lhe entregaria Sherlock. Preparado, Lestrade?

–Sim.

–Você não tem coração, Mike. Seu irmão está até febril com essa atividade estressante toda e você não quer vê-lo mal, quer?

–Me poupe da chantagem emocional, James. Não funciona comigo, você sabe.

–Então por que você está aqui, louco para tirá-lo dos meus braços?

–Por que eu sou uma pessoa que acredita no cumprimento do dever. E eu tenho essa obrigação para com a minha mãe. Solte-o, agora.

–NÃO! Eu vou levá-lo comigo. Vou criá-lo à minha maneira. Fazer comidinha pra ele...

–Sherlock, James vai fazer seu café da manhã todos os dias. Cheio de caramelo.

–Caramelo? - o menino gemeu – você gosta de caramelo?

–Adoro caramelo. Vamos comer muita panqueca com molho de caramelo, bolos de caramelo, sucrilhos de caramelo, vou...

Mycroft sorriu. Moriarty estava tão empolgado que não estava prestando realmente atenção no pequeno no seu colo, que estava ficando mais e mais esverdeado. Se ele estava com febre por causa do vírus, também devia estar enjoado. E como ele condicionou bem o irmão, a reação não ia demorar.

–CARAMELO, Sherlock. Bastante caramelo, irmãozinho...

–Oooh, não, não... - e o pequeno Holmes começou a vomitar.

Exatamente como Mycroft previa, Moriarty pego de surpresa e com nojo deixou o pequeno cair. Sebastian demorou um pouco para reagir também, afinal, sujeira de criança deixa a maioria dos homens transtornados. Foi o suficiente para Lestrade puxar Sherlock para si e escondê-lo atrás de um escudo da polícia.

–Le... - e teve outra crise de vômito.

–As ideias do seu irmão. - Lestrade colocou um gel gelado na nuca do garoto. - Venha, vamos sair da linha de tiro...

Para cobrir o resgate do pequeno, Mycroft passou o guarda-chuva de uma mão para a outra. Moran riu.

–Tá de brincadeira, ne?

Moriarty estava ainda tirando a roupa “batizada”, com a vontade de brigar reduzida. Ele realmente ODIAVA aqueles Holmes.

Mas Sebastian nem pode rir muito. O cabo do guarda chuva bateu na sua mão, mais pesado do que ele imaginava e jogou o revólver para cima. A guarda de Mycroft não ficou aberta com o movimento, facilitando um possível contragolpe. Quase no mesmo instante, com o outro braço, ele bateu em suas costelas com uma mini bengala, igualmente pesada. Moran gemeu, mas agarrou a bengala, procurando atrair Mycroft. Ele se manteve equilibrado e atacou com o guarda chuva novamente, agora batendo na parte de trás do joelho de Moran. No ínfimo desequilíbrio do outro, ele aproveitou para enfiar a bengala entre as pernas, fazendo o companheiro de Moriarty cair.

Assim que Sebastian caiu, Mycroft encostou o cabo do guarda chuva em sua garganta:

Touché! James, nem pense em se arrastar para a arma, porque Lestrade está só esperando um movimento seu para atirar. E sinceramente, por mais que eu adoraria ver isso, meu irmãozinho pode passar sem essa cena em suas retinas infantis.

–Como o inspetor Lestrade consegue aguentar esse cheiro, essa... essa... meleca? ARGH!

–Primeiro, que a maior parte ficou aí com você. Depois, ele é pai. Já viu coisa pior.

Podem levá-los.

Mycroft só se afastou de Moran quando se abaixaram para pegá-lo e mesmo assim, Lestrade não saiu detrás do escudo com Sherlock. Ele tinha instruções para só liberá-lo quando eles não estivessem mais à vista mesmo. O que salvou o dia. Moriarty foi fácil de algemar, mas Moran teve que ser erguido do chão e aproveitou esse movimento para render seu captor, pegar a arma dele e atirar em Mycroft.

Com o impacto, ele caiu, e chegou a levantar o guarda chuva para responder ao tiro, mas Sherlock se assustou e correu em sua direção, chamando por ele. Só teve tempo de acionar o mecanismo de abrir para proteger os dois, antes do próximo disparo. Que nem foi em direção deles, foi para libertar Moriarty e fugir com ele, enquanto a equipe corria para junto de Mycroft.

–Oh, pelo amor de Deus, estamos bem! O que adianta usar equipamento do M16 se vocês se deixam levar pelas emoções e não cumprem seus papéis de acordo?

Lestrade entregou o escudo a outro policial e se aproximou:

–Perdão, ele escapou.

–Inspetor, você cumpriu seu papel direitinho. Eu que não previ que meu irmão ainda está naquela fase sentimental.

–O peso do cabo do guarda chuva é por conta da arma embutida?

–9mm. E o tecido é à prova de balas. Posso aprovar, utilizei muito bem hoje.

–E por baixo do sobretudo tem um colete?

–Não, o sobretudo é um colete. Mas vou ficar uns dias com o hematoma. Vamos, Sherlock, para a clínica. Precisamos parar a ação do vírus novamente.


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Notas finais do capítulo

N/A: Ninguém sabe como é duro escrever cenas de ação. Mas agradeço a Kingsman, cujo clip da luta na cafeteria me influenciou favoravelmente. 29/01/15.



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