Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 9
Nove


Notas iniciais do capítulo

Hey, olha eu aqui, pra alegrar umas e desiludir outras.



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*Pepper*




Foram três meses, mas pareceram anos. Três anos. Trinta. Trezentos. Não é exagero. Eu já sabia que o amava, mas não imaginava que o amava tanto, doía não saber se ele voltaria. Doía tanto quanto a minha culpa em dormir ao lado do Adam e chorar pelo Tony.

—E como foi pra você?

—Eu...— nós dois começamos ao mesmo tempo.

—A pergunta foi pra mim ou pra ela?— Tony pergunta.

—Pra ela.— o dr responde. Eu não tinha dúvida de que era pra mim, ainda mais depois da sessão a que vim sozinha.




Meu aniversário, eu completava 30 anos e não me lembrava quando tinha sido a minha última tarde de folga. À noite, durante o jantar, eu fiz planos com o meu marido, planos de uma vida nova, numa cidade nova. Há meses conversávamos sobre nós, Adam e eu sentíamos que nosso casamento não estava bem, estávamos dispostos a fazer dar certo, mas tinha que ser longe do Tony.

Foram três dias sem notícias, nem um telefonema, eu não sabia como a apresentação do Jericó havia sido porque ele era o único representante da Stark, já que havia decidido que, se eu não iria, ninguém além dele precisava ir. E quando eu estava pronta pra deixar a empresa a secretária do Obadiah foi até a minha sala me chamar pra uma reunião de última hora. Quando entrei na sala Rhodes estava lá e o Tony não. Algo estava muito errado.

—Após a apresentação do Jericó sofremos uma emboscada, o carro onde Tony estava foi abatido e desde então ele está desaparecido...— depois disso eu não consegui prestar atenção em mais nada. Não sei como consegui me manter em pé, mas continuei firme, eu não podia desabar diante de todos aqueles homens. Quando James terminou de falar eles saíram e eu fiquei. Eu e James. Então eu desabei.

—Ele está morto?

—Nós não encontramos o corpo, então acreditamos que não.— ele me diz —Provavelmente o sequestraram com a intenção de que ele crie alguma coisa, há quase um ano os rebeldes talibãs fizeram isso com um outro engenheiro.

—Mas eles vão matá-lo não vão? Quando ele não for mais útil, eles vão matá-lo, Rhodey.

—Nós vamos encontrá-lo antes, não vamos parar de procurá-lo.

—Você promete?

—Prometo.

Quando eu cheguei em casa com os olhos vermelhos e inchados Adam não entendeu nada. Me fez uma porção de perguntas que não soube responder, então ele concluiu que eu havia sido demitida. Ou pedido demissão.

—No primeiro momento parece difícil, mas vai ser melhor pra nós, amor.— ele disse. Adam não fazia ideia de porque eu chorava tanto.

No dia seguinte, quando eu não tive forças pra sair da cama, ao ligar o computador e a tv Adam soube por que eu estava sofrendo. Estava em todos os veículos de comunicação. Uns afirmavam que Tony havia morrido. Outros falavam do sequestro. Mas até então a empresa não havia se pronunciado. Eu levantei, me arrumei e fui até a Stark, horas depois estava diante de uma porção de jornalista ávidos por notícia. Obadiah queria ser o porta-voz na coletiva, mas eu dei a missão ao Rhodey porque pra mim ele passava muito mais credibilidade.

Passaram-se 30 dias. 45. 60... E os acionistas cobravam uma posição de como a Stark ficaria caso Tony não voltasse. Eu não conseguia pisar na empresa, não conseguia lidar com a ideia de que ele pudesse não voltar, por isso ia a casa dele quase todos os dias. Eu queria acreditar que talvez ele fosse aparecer de surpresa. Mas ele nunca voltava.

—Pepper?— uma voz masculina chamou.

—Tony?— eu despertei.

—Não, sou eu, Rhodey.

E eu me senti estúpida por estar dormindo na cama dele. Eu tive inúmeras chances de ter estado lá nos braços dele e agora tinha chorado tanto, sozinha, que peguei no sono.

—Me desculpa, eu vim só...

—Não precisa explicar.— ele me disse num tom complacente, aquele tom que as pessoas usam quando têm de dar uma notícia ruim.

—Acharam ele, não foi? Morto?— as minhas lágrimas voltaram.

—Não, mas... Querem suspender as buscas...

—Você está desistindo?— perguntei.

—Faz 90 dias, Pepper, três meses, pela nossa experiência é muito difícil que ele esteja vivo.— Rhodes responde.

—Você me jurou que o traria de volta. Por favor, o traga de volta pra mim? Nem que seja só pra eu...— eu não queria dizer pra que não se tornasse verdade, mas até eu já estava desistindo —Nem que seja só pra eu enterrá-lo, mas traga ele pra mim.— supliquei.

Na tarde do 94° dia meu telefone tocou, era o Rhodes eu tive medo de atender. Tocou outras vezes e quando me cansei de ser covarde eu atendi.

—Oi, Pep.— chorei instantaneamente, só uma pessoa no mundo me chamava assim e graças a Deus ela estava viva.

Eu queria ouvi-lo mais, mas o Rhodey tomou o telefone dele e me disse que eles chegariam à Los Angeles na manhã seguinte, é claro que eu não consegui dormir.



—Você sofreu por mim dessa maneira e quando eu cheguei você teve coragem de dizer aquilo?— ele me pergunta.

—O que ela disse?

—Quando eu pisei no hangar ela foi a primeira pessoa que eu vi, seria impossível não reparar naquele sorriso, e nos olhos brilhantes, apesar de vermelhos, então eu provoquei "Olhinhos vermelhos, andou chorando pelo seu chefe desaparecido?"

—"Lágrimas de felicidade, detesto procurar emprego".— eu respondi —Ainda bem que não te dei mole logo de cara, já que você sentiu mais saudades de fast-food do que de mim.

—E então houve aquela coletiva.— diz o dr —Acho que o país inteiro viu aquela cena ao vivo, a sua imagem com o hambúrguer na mão é icônica. Não mais do que aquela em que você diz pra todo mundo que é o homem de ferro, mas...

—Ele nunca consegue agir como o esperado. É impressionante.— eu falo o censurando e ele sabe o motivo.

—Você foi a primeira a saber?

—Segunda.— ele responde no meu lugar.




A coletiva foi um desastre. A experiencia de ter ficando meses sabe Deus onde havia mexido com ele, eu não podia julgá-lo, afinal, sempre fui a única a pressioná-lo pra tomar as rédeas. E ele estava tomando. Mesmo que aquilo custasse o futuro da empresa.

—Fechar o setor de armamentos? Você não vai permitir que ele faça uma coisa dessas, vai?— Stane me perguntou.

—A empresa é dele, Obadiah. É ele quem decide.— E eu estava decidida a apoiá-lo na sua decisão, porque pela primeira vez eu vi que ele estava sendo maduro. Ele não estava fugindo de seu compromisso, até porque, Tony compraria uma briga enorme contra os acionistas pra fazer a sua vontade valer.

Arrumei uma desculpa pra dormir na mansão, pois eu precisava vê- lo quando eu acordasse, eu tinha que ter certeza de que ele ter voltado não era um sonho muito real. Quando acordei na manhã seguinte a primeira coisa que fiz foi procurá-lo e não o encontrei no quarto, Jarvis me disse que Tony estava na oficina e não queria ser incomodado. Eu tinha dezenas de chamadas do Adam no celular e estava ilhada na mansão, já que havia um mar de jornalistas além dos portões e eu não estava nem um pouco a fim de enfrentá-los. Quando eu pensei em retornar as ligações do meu marido Tony me chamou na oficina.

—Me deixa ver as suas mãos... Hum, pequenas, elas devem servir.

—O que você...?— não consigo terminar a minha frase quando vejo o aro azul em seu peito —O que é isso?— pergunto atordoada.

—É um eletroímã e, basicamente, ele me mantém vivo.— ele diz com uma naturalidade assustadora —Só que esse é o protótipo e eu preciso trocar por esse que acabo de fazer.— ele mostra o outro dispositivo em sua mão. Tony me explica o que eu tenho que fazer, e eu faço.

—Nunca, nunca mais peça pra eu fazer isso novamente.— as minhas mãos estão melecadas e tremulas, acabo de vivenciar a experiência mais bizarra da minha vida.

—Eu só tenho você.— ele replica. Não sei como e por quanto tempo ele pode ficar vivo com auxílio desse dispositivo, mas espero que seja por muito tempo.

—O que eu faço com isso?— pergunto desconcertada.

—Jogue fora, incinere, não preciso mais dele.— ele diz batendo no novo disco azul em seu peito.




—Há!— Tony me assusta —Tá vendo você também nem sempre faz o que eu peço.

—O que ela fez, ou não fez?— dr Hayden pergunta.

—Eu disse "Jogue o reator fora" e ela fez um objeto de decoração.

—Objeto esse que você guarda até hoje.

—Porque foi você quem me deu.— ele diz —Foi você quem provou.— ele me dá a mão.

—O que ela provou?— pergunta o curioso dr.

—Que eu tenho um coração.— ele diz —Foi o que ela mandou gravar na borda do reator "Prova de que Tony Stark tem um coração".

—Foi um belo gesto.— o dr elogia —Mas...

—Mas...?— pergunto.

—E o Adam?





Há dias eu evitava o Adam. Evitava ter aquela conversa definitiva onde fatalmente um de nós sairia magoado. Talvez nós dois saíssemos. Eu voltava de um evento da empresa, um evento onde o Tony não deveria estar, e se ele não estivesse nada teria acontecido. Quer dizer, nada havia efetivamente acontecido, mas ficar no quase foi o motivo que eu precisava pra pôr um fim no meu casamento. Quando cheguei em casa Adam estava de malas prontas pra ir embora, ele sempre foi bom em me interpretar.

—Você está linda nesse vestido azul. É novo?— afirmo com a cabeça, coloco minha bolsa e as chaves sobre o móvel ao lado do sofá, e ele larga as malas —Não achei que você fosse chegar cedo.

—Você iria embora assim?

—Os nossos planos não são mais os mesmos, certo?— Adam pergunta —Você não está mais comigo nisso.— "Isso" era nosso o casamento.

—Você viu o caos que tomou conta da empresa, Adam? Não posso abandonar meu emprego agora.— não sei porque eu dei essa desculpa, já que não era esse o meu motivo.

—A questão não é a empresa ou o seu emprego. Nunca foi.— Adam conclui —Seja honesta comigo porque eu serei extremamente sincero com você. Cheguei a desejar que ele estivesse mesmo morto. Que ele nunca voltasse.— ele diz, se eu não tivesse dado aquela desculpa nos pouparia dessa situação —Eu pensei "Bem, a pessoa que afasta a mulher que eu amo de mim saiu do nosso caminho, nós vamos ficar bem", mas aí eu me dei conta de que não era ele quem a afastava de mim, e que você seria capaz de criar um altar aqui em casa pra endeusar o santo que Anthony Stark nunca foi.— ele disse —Você se acha mais especial que as outras porque é a única mulher que ele mantém por perto, certo? Deixa eu te contar uma coisa...— ele sussurra como quem vai me contar um segredo —Você é tão usada quanto elas. Elas dão sexo e você vem depois pra suprir a carência afetiva daquele cretino solitário.— Adam se afasta, pega as suas malas.

—Pode até ser verdade isso o que você disse, mas não posso mudar o fato de que eu não te amo mais.

—Já amou pelo menos?— ele me pergunta da porta.

—Amei, ainda amo, mas não é mais da forma como deveria ser pra nós continuarmos juntos.— respondo.

Adam foi embora. Não discutimos, nenhum de nós estava certo ou errado, só estávamos cansados de fingir que tudo estava ou ficaria bem. Ele me abandonou como o Tony fez horas antes. E se Tony Stark não era capaz de me trazer uma bebida, eu não podia esperar que ele me desse amor.




—Você sabe que ele estava errado, certo? Você sabe por que eu não voltei.— ele diz quase desesperado como se tudo aquilo fosse recente.

—Hoje eu sei, Tony, mas naquela época eu não podia imaginar.— digo pra ele.

—E como vocês ficaram?

—Não ficamos.— ele responde.

—Porque ele não quis.— completo —Porque assumir ser o Homem de Ferro despertaria inimigos. Inimigos muito piores do que Peter Harris. E foi isso o que aconteceu.

—Quanto tempo levou até se acertarem?

—Seis meses.— respondo —Nesse meio tempo ele me nomeou CEO da empresa e depois disso quase morreu várias vezes.

—E, na tentativa de me atingir, quase a mataram várias vezes também.— Tony diz —Então eu vi que não adiantaria tentar ficar longe dela, ela era o meu ponto fraco e, ao mesmo tempo, me fazia forte. Então...— olho pra ele, foi exatamente isso o que o Tony me disse logo após os nossos beijos no telhado na Expo Stark "Você vai ser sempre o meu ponto fraco e, ao mesmo tempo, é quem me faz mais forte, por isso vou parar de fugir do que eu sinto. Eu quero ficar com você, Pepper, eu amo você" —Então eu parei de negar o que sentia por ela, e nós decidimos apostar em nós.

—Apostamos alto, todas as fichas. Quando os meus pais souberam que eu estava com o Tony foi um caos.— eu digo.

—Então você não se dá bem com os pais dela?— pergunta o dr.

—Susan, a mãe dela, finge que não me suporta até hoje, mas Jonathan e eu nos damos super bem. Só no começo foi difícil.— ele diz —Ela havia saído de um casamento com um cara que todo mundo achava que era o mais certo pra ela, pra ficar comigo, um cara que...

—Que era o certo pra mim.— eu digo e ele me sorri.




Sem dúvida alguma. Ele é mesmo o homem da minha vida. E contrariando meus medos, ignorando o seu histórico de cafajeste eu disse sim quando com menos de um ano de namoro ele me pediu em casamento. E mesmo depois do meu sim ele fez questão de ter a permissão dos meus pais também, logo ele que nunca pediu a permissão de ninguém pra nada.

—Você foi casada com um rapaz infinitamente melhor que esse que está na sala com o seu pai e nunca o trouxe aqui...— mamãe resmunga.

—Pare de julgá-lo, mãe, você se quer o conhece.— eu o defendo.

—Se eu o julgo a culpa é toda sua.— ela me diz —Quantas vezes você já chorou por ele? Quantas vezes você já me fez ir a Los Angeles porque ele a havia decepcionado? Quantas vezes...?

—Eu também não queria aceitar que ele era o homem da minha vida, mas é ele, mãe. Tony foi um cretino por anos, imaturo, inconsequente, e não posso afirmar que ele tenha mudado, até porque desisti de tentar mudá-lo, e se você sabe o quanto eu chorei, também sabe o quanto eu tentei me manter longe dele e nunca consegui. Eu amo esse homem mais do que já amei qualquer outro.

—Você mal assinou os papéis do divórcio.— ela argumenta.

—Faz mais de um ano, mãe. E o fato de noivarmos não quer dizer que casaremos agora.— argumento —Mas eu me casar com ele é um fato, ninguém vai me fazer mudar de ideia. Eu não estou pedindo que a senhora o ame, deixe que isso eu faço. Só estou pedindo pra que você o aceite e o trate bem, por mim.— eu peço.

Pego a bandeja do café, que a essa altura já deve estar frio, e volto para a sala, quando olho por cima do ombro vejo minha mãe me seguir. Coloco o nosso café sobre a mesa de centro e me sento ao lado do Tony, minha mãe senta ao lado do meu pai no sofá em frente ao nosso.

—Pequena, eu estava aqui pensando enquanto conversava com seu noivo, pra que tanta pressa, não vai me dizer que você...?

—Que ideia, pai.— rio sem graça.

—Se eu engravidá-la ganho o consentimento de todos?— Tony pergunta olhando principalmente para a minha mãe, ele sabe que ela é mais difícil —Se for isso podemos providenciar.

—Mesmo?!— meu pai se anima.

—Pai, menos, tá?

—É, Jonathan, menos, não é hora pra fazer graça.— mamãe o censura.

—Amor, achar graça na situação é tudo o que nos resta.— meu pai diz —A nossa filha é uma mulher adulta e independente, Sue, eles não precisavam do nosso consentimento e ainda assim estão aqui. Por isso estou dando a mão da minha filha pra você, Sr Stark, e porque a mão dela é dela e não minha.— meu pai é sem duvida o homem que eu mais amo no mundo, o mais sensato e o que eu mais admiro também.

—Sra Potts?— Tony chama a sua atenção —Talvez eu não mereça a sua filha, mas dei sorte de ela ter me escolhido e eu a farei muito feliz.

—Espero que faça mesmo. Porque se você não fizer eu mesma acabo com você.— eu amo a minha mãe com todas as minhas forças, ela só tem um defeito, sua personalidade é igual a minha, ou o contrário.

—Eu vou deixar que você planeje tudo dessa vez, mamãe.— digo para agradá-la, apesar de saber que ela fará algo grandioso, tudo o que não permiti que ela fizesse no meu primeiro casamento.

—Você não vai se intrometer?— movo a cabeça em negação —Então nada de Los Angeles dessa vez, quero que seja no hotel, na primavera.

—Teremos alguns meses de planejamento, então.— comento já que é outono —Mas porque no hotel?

—Eu sei por quê.— papai diz sorrindo —Desde que você era só uma menininha, e o hotel ainda era uma pousada, ela sonha com isso, você sabe que já houve dezenas de cerimônias lá, Sue sempre quis que o seu casamento fosse lá também.

—Porque você nunca me disse?— pergunto.

—Ainda bem que ela não disse.— Tony observa.

É, eu jamais me casaria com o Tony no mesmo local onde casei com Adam. Ainda bem que ela não disse.

—Eu amo aquele lugar, mãe, você não poderia ter escolhido melhor.

—Tudo bem pra você e sua família que o casamento seja aqui em Portland, Anthony?

—O Tony não tem família, papai...

—Oh... me desculpe.

—A minha família é a sua filha, Sr Potts.— ele diz —Quer dizer, tem o Rhodey e a Kate, que com certeza serão os padrinhos, e os pais dele.

—Entendo.— meu pai diz.

—Mãe, assim que voltarmos pra casa eu redijo a lista e mando pra Gabby.— aviso —Gabrielle é minha prima, é ela quem gerencia o hotel.— digo ao Tony.

—Eu posso ver esse lugar que você tanto adora?— Tony pergunta.

—Mais tarde, nós ficaremos lá.— aviso ao Tony e meus pais por tabela.

—Porque vocês vão pra lá, se o seu quarto está aqui?

—Mãe, eu não vou dormir com o meu futuro marido num quarto com as paredes revestidas de papel com florzinhas.

—O que tem o papel de parede? É lindo.

—É infantil, mãe, eu não tenho mais doze anos.

—Ela está fazendo charme, Anthony, mas adora tanto aquele lugar que colocou moveis de adulto e manteve a decoração das paredes.— fala o meu pai.

—Em meia parede.— eu ressalvo.

—Mas manteve.— papai diz. É verdade, mantive, amo o meu quarto e nunca nenhum namorado, noivo ou marido dormiu lá.

—Eu posso ver?— Tony pergunta.

—Nós vamos lá em cima só um minutinho, tá?— falo pros meus pais.

—Respeite a minha casa, hein, Anthony, ela nunca recebeu um homem nesse quarto...

—Pai!

—...A não ser que eles tenham entrado pela janela.— papai brinca quando estamos no alto da escada.

—É sério isso que ele falou?— assinto —E o seu ex-marido?

—Meus pais iam mais a Los Angeles, porque eu tinha um chefe que sugava a minha alma.— eu provoco antes de abrir a porta.

—O seu quarto de menina-mulher é lindo.— ele diz —E eu vou ser o primeiro a dormir aqui.— ele provoca e me beija enquanto lentamente vai me direcionando até a minha cama.

—Pode ser, mas não hoje.— eu lhe dou um último beijo depois de uma longa série de beijos sobre a minha cama.





Dr Christopher abre o seu famigerado caderninho de capa marrom. Sempre sinto um frio na espinha quando isso acontece, porque mesmo que ele baixe os olhos na direção das folhas eu sinto que ele me observa sobre o aro dos óculos, e isso quer dizer que ele está anotando algo contra ou sobre mim. A minha mão umedecer de suor quando ele começa a folhear o caderno, provavelmente, procurando "arquivos" das sessões anteriores.

—Dr Hayden, você ainda tem algo pra nos perguntar? Algum veredicto?— Tony indaga.

Não tenha, por favor, não tenha. Não hoje, estamos tão bem, me deixa acreditar que estamos bem.

—Não.— ele olha para a ampulheta e fecha o caderno —Não hoje, acho que pra uma sessão que começou atrasada fomos além do horário— ele diz —Conversamos daqui alguns dias.




(...)





Estou evitando qualquer conversa desde a saída da consulta, porque sei qual é o próximo assunto. Faz quase um ano e eu não esqueço. Podem passar anos, e mesmo que eu viva por mais oitenta, acho que jamais conseguirei superar. Tony me escolheu no lugar dela e eu deveria me sentir amada por isso, mas eu não consigo. Me sinto quebrada, me falta um pedaço. O nosso pedaço que carreguei dentro de mim.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a pieguice e o excesso de clichê, mas eu amo um drama familiar.

Ainda tem história pela frente, espero que vocês continuem acompanhando.


Beijos ;)



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