Um divã para dois escrita por Tulipa


Capítulo 12
Doze


Notas iniciais do capítulo

Pode parecer estranho, mas eu amei que vocês tenham chorado e sofrido com o capítulo anterior. Missão cumprida, né? Deus me livre de escrever algo que não case emoção alguma.


Bom, vamos ao novo capítulo.



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*Tony*




Acordo com o cheiro doce seus cabelos, meu rosto esta em sua nuca, meus braços a envolvem, nossas pernas estão entrelaçadas. É como se estivéssemos fundidos. Acordar assim me dá a certeza de que estamos bem, porque antes até em seu sono ela me repelia, há três dias não acontece mais. Ela geme, se mexe e suas mãos me afagam. Afasto seus cabelos e beijo seu pescoço.

—Bom dia— ela me diz.

—Bom dia, baby.— respondo.

—Que horas são?

—Não sei.— respondo —Jarvis?

Terça-feira, 09:44am, em Malibu faz 27 graus.

—Hummm.— ela murmura —Ele disse terça-feira?

—Disse.

—Eu tinha uma reunião importante hoje, mas realmente não me importo.— ela diz. Segundo sinal de que estamos bem, ela não vai usar seu trabalho pra fugir de mim —Tudo o que eu queria agora é uma caneca de café.

—Isso é uma indireta ou um pedido?

—Qual é a maneira mais fácil de ter o meu desejo atendido?— ela se vira pra mim.

—Levantando da cama, se arrumando e saindo pra tomar café, porque os armários estão vazios, lembra?— pergunto, ela revira os olhos.

—Podíamos ficar na rua até a hora do almoço então.— ela comenta.

—Isso é um convite?

—Você não precisa ir se não quiser.— ela ri. Amo que ela tenha voltado a sorrir pra mim.

—Eu quero ir.— afago seu rosto e ela fecha os olhos, e eu a surpreendo num beijo que ela retribui, a sensação de seus dedos deslizando pelos meus cabelos até chegar a minha nuca me trazendo mais pra perto, a suavidade do beijo e seu gemido baixinho me deixa maluco.

—Quando você vai dizer?— ela pergunta com os lábios roçando os meus.

—Dizer o quê, baby?

—Que me perdoa.— ela segura meu rosto entre as mãos. Olho pra ela e me vejo refletido em seus olhos azuis. Há tanto amor em seu olhar, e preocupação, e decepção, e esperança —Diz que perdoa o meu egoísmo e a minha dedicação em te machucar mesmo sabendo que você não tinha culpa.

—Baby...

—Por favor, Tony?— ela implora.

—Eu te amo demais...

—Eu sei.— ela diz —Mas eu quero que você...— eu a calo.

—Quero que você diga isso pra mim, você não me diz isso há meses.

—Eu...— ela me beija —Te...— beijo —Amo...— beijo —Com todo o meu ser.— e então vem um beijo mais profundo, mais apaixonado, mais... enlouquecedor. Nossos lábios macios se tocando tão intensamente de forma tão mágica, é como se o mundo parasse de se mover. Um momento único. Especial. Levando os nossos erros, tristezas e todo o sofrimento, e deixando a esperança, criando novas raízes —Eu te amo demais.— ela diz depois do nosso beijo.

—Então você sabe que não preciso dizer, não precisava te perdoar.— ela me beija de novo. Sutil no início, mas quando nossas línguas se encontram um fogo explode dentro de mim, dentro dela, dentro de nós. Não somos mais doces e sutis, somos agressivos e famintos, língua contra língua como uma briga de espadas. Ah..., eu amo isso.

Quando nossos lábios se soltam nos olhamos ofegantes tentando recuperar o fôlego. Quase não há espaço entre nós e nossas mãos estão emaranhadas nos cabelos um do outro. Cada um puxando o outro pra mais perto porque somos necessários um pro outro, somos o apoio da vida do outro. O sorriso que vejo em seu rosto é tão grande que me dá vontade de beijá-la mais e evoluir do beijo pra algo que meu corpo anseia desesperadamente.

—Ah, meu Deus, para de me olhar assim.— ela morde o lábio inferior.

—Assim como?— eu rio, e com o indicador escorrego a alça de sua camisola preta.

—Tony, agora...?— ela me faz parar, porque eu tenho quase certeza de que vem um “não” aí. Faço a minha melhor cara de pidão, e começo a espalhar beijos pelo seu ombro, colo, pescoço —...Agora sim.— ela sussurra a permissão que eu precisava.

Me coloco sobre ela e beijo seus lábios, um beijo tão bom quanto ao anteriores, desço, escorregando as alças da camisola e liberto seus seios. Lindos, perfeitos, tomo um em minha mão direita e dou atenção ao outro com a boca. Ela geme. Reveso-me dando atenção igual a ambos. Desço um caminho de beijos por seu corpo e chego ao umbigo, mais ao sul eu paro no limite imposto pela renda da calcinha que eu puxo junto com a camisola que ela vestia. Ela está completamente nua, pronta, entregue, esperando por mim e eu não consigo parar de olhar pra ela. Pepper enrubesce e leva as mãos entre as pernas cobrindo a região do baixo-ventre e parte do seu sexo.

—Me deixa te olhar, baby.— beijo sobre suas mãos —Mostre-se pra mim, você é tão linda, eu amo cada parte do seu corpo.— sussurro enquanto beijo a parte interna de suas coxas, sei que a sua vergonha é que eu repare na cicatriz que a cesariana deixou, mas eu não me importo, aliás, é quase imperceptível. Continuo sussurrando quão linda e perfeita pra mim ela é, e o quanto eu a desejo e logo eu a tenho de volta. Meus dedos deslizam com facilidade por entre suas dobras úmidas. Deus, ela está tão pronta.

Livro-me da boxer preta que era tudo o que me separava dela e logo estou onde queria estar desde o primeiro beijo que ganhei esta manhã. Ajoelhado entre suas pernas eu a penetro num vagaroso vai e vem. Quando ela envolve as pernas ao meu redor eu a puxo sobre mim. Deixando que ela faça o que quiser comigo. Tornamo-nos frenéticos, nossa necessidade mútua vibrando em nossos corpos, não há nada mais sensual do que assisti-la, sem pudor algum, subindo e descendo sobre minha ereção. Seguro sua cintura, ela enlaça os braços em meu pescoço e me beija, me cavalga, acelerando o ritmo. Gememos juntos, e chamando o nome um do outro gozamos, primeiro ela, depois eu.

—Definitivamente eu acordei.— ofegante ela sorri contra a minha boca.

—Não precisa mais de café?— mordo seu queixo de leve.

—Claro que preciso, é o meu segundo vício.— ela diz olhando em meus olhos.

—Te amo, baby.— acaricio suas costas.

—Também te amo, e poderia ficar aqui o dia inteiro, mas logo estarei com fome e posso ficar mal-humorada.— ela dá um beijo em meu nariz, se desconecta de mim, me desmonta, se levanta da cama e caminha para o banheiro. Também preciso de um banho agora, mas não com ela, ou não sairemos de casa.

Por falar em casa, embora o inverno esteja em seus últimos dias o clima em NY parece que não vai mudar tão cedo e eu já não aguento mais aquela cidade sem cor. É tão bom acordar aqui e ver o mar verde-azulado da sacada, areia, sol, pássaros, ondas batendo nas pedras. Aqui é minha casa. Não tenho pressa pra me levantar, sei que, por mais que entre no banho depois dela sempre acabo me arrumando primeiro. Perco-me um pouco em meus pensamentos, os minutos passam e o celular dela toca, olho para o aparelho na mesinha e vejo a foto de Jessica Walsh na tela, acho que é ela a dona da voz do toque também. O telefone silencia e segundos depois volta a tocar. Insistente Jessica Walsh. Pepper vem correndo atendê-la.

—Você ainda está assim aí?— ela pergunta ao pegar o telefone.

—Estava esperando você desocupar o banheiro.

—Como se não houvesse outros.— ela diz ao atender —Não, nada, estava falando com o Tony.— ela fala ao telefone e senta na cama —Sim, estamos bem(...)Não sei...— caminho em passos lentos pra tentar ouvir o máximo que posso, mas o caminho é curto. Logo não consigo mais ouvir. Fico sob o chuveiro tempo o suficiente pra que ela termine a conversa com sua melhor amiga, mas quando saio ela ainda está lá, seminua dentro do closet com o viva-voz ligado. —O Tony saiu do banho, Jess, vou falar com ele e depois dou uma resposta.

Tá, mas faz uma forcinha. Jessica pede —Quero muito te ver lá. Beijo.

—Tá, beijo.— Pepper responde.

—Onde ela quer que você vá?— pergunto enquanto procuro o que vestir.

—Eu não, nós.— ela responde —Jess vai fazer um pocket show na sexta pra uns executivos da gravadora, eles disseram que ela poderia convidar algumas pessoas.

—Em NY?

—Não, aqui em LA mesmo.— ela diz.

—Então ficaremos por aqui até sexta?

—Se você quiser.— ela responde, é claro que eu quero, não penso em voltar pra NY, e se assistir a um show da Jessica vai nos fazer ficar mais alguns dias, que seja.

—Tudo bem.— respondo.

Tento me concentrar no que estou fazendo, mas ela está andando de um lado pro outro no closet apenas usando um conjunto de lingerie branca. Eu nunca fui de reparar no corpo das mulheres com quem eu saía, quer dizer, reparava, mas nunca foi como eu reparo nela. Antes dela eu não tinha uma parte preferida no corpo de uma mulher, mas nela eu gosto das pernas, do bumbum pequeno, da barriga, dos seios que se encaixam perfeitamente nas minhas mãos. Gosto de tudo nela.

—Quando eu estiver pronta saio e deixo você aí.— ela diz ao se enfiar numa calça jeans que fica folgada em seu corpo.

—Já estou praticante pronto.— replico.

—Sei.— ela diz, ela sabe que eu estava a olhando. Pepper coloca uma camisa branca, um blazer vermelho e sandália. Ela deixa o closet e volta ao banheiro, acho que para se maquiar. Visto-me rapidamente, jeans, camiseta, tênis. Passo as mãos pelos cabelos úmidos colocando os fios em seu devido lugar —Pronto?

—Faz tempo.— eu rio.

—Então vamos, preciso de café na minha veia.— ela diz, Pepper é viciada em café, muito. No entanto, durante a gravidez, seguindo as recomendações da minha sogra, ela abandonou o vício por alguns meses.

De casa à cafeteria foram 15min. e, quando chegamos, surpreendentemente já passava do meio dia, Pepper apenas comprou um copo de café pra saciar sua abstinência e nós saímos para o restaurante. Acabamos num italiano.

—A gente podia viajar.— comento.

—Me deixa adivinhar... Itália?

—Sou tão óbvio assim?

—Não, acho que você está sendo influenciado pela comida.— ela responde —Itália é sempre um perigo pra nós, sempre acabamos fazendo apenas duas coisas.— ela ri.

—Mas a última vez que estivemos na Itália foi na nossa lua-de-mel então, era meio óbvio que só comêssemos e... comêssemos.— digo com malícia.

—Eu quis tanto ir a Positano e mal saí do hotel.— ela diz —No entanto, não me arrependo.

—Podemos voltar pra realmente conhecer a cidade.

—Um dia— ela responde —Agora estou mais interessada nesse Gelato de amora e iogurte.— ela me mostra o cardápio —O que você vai pedir de sobremesa?

—Nada, estou pensando em outra coisa agora.— respondo.

—Você é muito pervertido.— ela semicerra os olhos e chama o garçom para fazer seu pedido. Depois de alguns minutos o sorvete dela vem numa taça transparente enfeitado com algumas folhas de hortelã. É sorvete demais e eu sou forçado a tomar também. —Hum...— ela murmura.

—Dois.— eu digo ao limpar o cantinho de sua boca sujo de sorvete.

—...Precisamos comprar comida pra abastecer os armários de casa.

—Você não vai querer que eu vá ao mercado, né?— eu pergunto, ela sabe que eu odeio.

—Você tem duas opções, vai comigo ou deixa o carro e volta pra casa de táxi.— ela me sorri seu sorriso mais perverso.

Odeio supermercados, mas se há algo que realmente odeio mais, táxis, é péssimo pra quem tem TOC, e eu fico pensando quantas milhares de bundas sentaram ali antes de mim.

—Certo, você venceu, vamos às compras.— eu digo e ela bate palminhas.





(...)



Pelo menos o local está quase vazio, acho que só desocupados vêm ao supermercado numa terça-feira à tarde. A quantidade de mercadorias no carrinho me dão esperança de que ficaremos mais tempo na cidade. O pacote de macarrão e a bandeja de queijo me indicam que não escaparei da cozinha.

—Acho que acabei.

—Tem certeza, não esqueceu nada?— ironizo.

—Se esqueci depois você vem buscar.— ela provoca.

—Faço melhor, compro online e eles entregam em casa.

—Online.— ela diz —Como alguém pode comprar frutas online? A textura, a cor, o cheiro nada disso dá pra sentir através de uma tela. Eu adoro mercados e feiras.— ela não precisava dizer, eu sei disso.

—Dindaaaa?— estamos guardando as compras no porta-malas quando ouvimos uma voz de criança, Pepper olha pra trás e eu também, Alex está correndo ao nosso encontro e Kate vem logo atrás.

—Oi, meu amor.— Pepper diz ao abraçá-la, Alex literalmente pulou no colo dela —Tudo bem?— ela move a cabeça em afirmação.

—Eu estava achando que era coisa da cabeça dela.— Kate diz ao se aproximar —Ela está há uns dez minutos dizendo "Mamãe, eu vi minha dinda."

—Você reconheceu a dinda?— Pepper pergunta, Alex assente —É muito amor pela dinda relapsa, né?— ela brinca —Meu deus, você está enorme e pesada.— ela comenta afagando os cachos da nossa afilhada —Tudo bem, Kate?

—Tudo e vocês?

—Bem.— Pepper responde.

—Vocês estão na cidade há muito tempo?— Kate pergunta.

—Desde o final de semana.— respondo.

—James não me disse nada.— ela comenta.

—Não falei com ele ainda, nós não íamos ficar por muito tempo.— olho pra Pepper —Agora já não sei.

—Com certeza ficaremos até o final de semana.— Pepper diz.

—Então vocês podiam jantar em casa, amanhã ou depois, quando for melhor.— Kate convida.

—Hoje.— Alex fala.

—Hoje? Você quer que a dinda vá até a sua casa hoje?— Alex assente.

—Também pode ser.— Kate diz —Por mim tudo bem.

—Melhor amanhã.— Pepper diz —Agora vai dar um abraço no padrinho pra ele ver o quanto você cresceu.

Alex está mesmo enorme, se as minhas contas estão certas ela está com quase quatro anos, e nós não a víamos há meses. Depois que mudamos pra NY eles estiveram lá apenas uma vez e não me lembro de Pepper ter sido tão amorosa como está sendo agora, porém era até compreensível que ela estivesse arredia na presença de uma criança.

—Bom, amanhã à noite você mata toda essa saudade, tá? Precisamos ir agora. — Kate diz pra Alex ao pegá-la —Às 20h é um bom horário pra vocês?

—Ótimo.— respondo e Pepper concorda. Kate vai embora com Alex. Pepper e eu, terminamos de guardar as nossas compras e deixamos o estacionamento do supermercado.

—Viu, se você tivesse feito compras através de um aparelho eletrônico não teria encontrado ninguém.— ela comenta.

—Devo admitir que tudo pode ter seu lado positivo.— eu falo.




(...)



Na noite seguinte, quando chegamos na casa do Rhodey, é Alex quem nos recebe, ela tem um gatinho branco nos braços e apesar de abrir a porta pra nós não parecemos mais tão interessantes.

—Papai, já abri a porta!— ela grita.

—Disse boa noite?— Rhodes pergunta ao surgir atrás dela.

—Boa noite, dindo. Boa noite, dinda.

—Boa noite, meu amor.— assim que Pepper responde ela corre de volta pra dentro.

—Vamos entrar também.— Rhodes diz, e assim que chegamos a sala ele nos dá um bronca por não avisarmos que estávamos na cidade.

—Não foi uma viagem programada.— eu digo —Cadê a Kate?

—Lá em cima.— Rhodey responde —Ela foi dar remédio pra Alex, acabou sujando a roupa, uma cena. Fiquei imaginando como deve ser com as crianças no hospital.

Kate é pediatra, ela e Rhodey estão juntos há mais ou menos seis anos. O pai dela é um general, superior do Rhodey na base, eles se conheceram durante um evento da força aérea num feriado de 4 de julho.

—As crianças de lá não fazem manha porque Kate não é a mãe delas.— Pepper comenta —Mas Alex está doente?

—Inflamação na garganta.— Rhodey diz —Ela estava chatinha, ontem acordou com febre. Resultado: Kate não foi trabalhar, ela não foi pra escola e vocês se encontraram.

.

—Eu ouvi que tudo pode ter seu lado positivo.— Pepper me provoca.

—Desculpa a demora.— Kate diz ao surgir na sala —Mas é que eu estava cheirando remédio sabor morango.— ela ri —Onde está a Alex?

—Onde você acha?— Rhodey pergunta.

—Amor, eu falei pra você não deixá-la ficar lá.

—Eu não deixei, ela correu pra lá. E eu não vou ficar me enfiando em baixo da escada atrás dela. Me desculpe.— ela diz.

—O que tem embaixo da escada?— Pep pergunta.

—A gata deu cria há algumas semanas.— Rhodes responde —Nós já doamos alguns filhotes sobrou apenas um.

—Ele nos recebeu.— eu brinco.

—Ela apresentou ele pra vocês, então.— Kate diz.

—Não foi bem uma apresentação, ela abriu a porta, Rhodey apareceu e ela sumiu com o gato.— Pepper diz.

A gata mãe surge na sala coloca-se sob a mesa de centro e começa a nos encarar enquanto estamos sentados ao sofá. O gatinho vem logo atrás seguido por Alex.

—Filha, agora deixa ele com a mamãe dele, tá?— Rhodes diz e ela assente.

—Vou ficar com a minha dinda.

—Vamos lavar as mãos e bater esses pelos da roupa.

—Não, Kate, pode deixar.— Pepper diz.

—Semana passada ela viu no jornal que em NY havia muita neve, ela queria ir até lá de qualquer jeito, não é?— Kate diz.

—Eu queria mostrar a neve pro Olaf.— Alex diz.

—Olaf é o gato.— Rhodey esclarece —Por causa do personagem do Frozen, conhecem? — balançamos a cabeça em negação —Sorte de vocês.— ele diz.

—Olaf ama brincar na neve, dinda.

—O gato?— Pepper pergunta.

—Não, Pepper, o personagem do desenho.— Kate responde —Mas ela queria saber se o gato gostaria de neve também.

—Isso é meio confuso.— Pepper ri.

Eu deixo Pepper tentando entender as histórias que Alex conta e vou até o escritório com Rhodey, ele me serve um uísque e puxa assunto. Pergunta como foram os últimos meses, como está sendo a terapia e, por fim, porque voltamos pra casa.

—Não voltamos pra casa. Quer dizer, não sei.— respondo —A terapia estava indo bem até a última terça, mas quando ela percebeu que teríamos que falar sobre Mariah ela meio que surtou. E se afastou.

—Bem, vocês parecem bem entrosados.— ela me mostra um tablet com uma foto nossa no restaurante hoje à tarde. Papparazzi.

—Agora estamos.— eu digo —Mas na sexta, eu realmente achei que havia acabado.

—Você e ela, acabados?— ele ri —Impossível.

—Eu enchi o saco, sabe? Tinha cansado de carregar uma culpa que não era minha, de fazer tudo pra vê-la bem e não sentir que ela fazia o mesmo por mim. E quando ela me disse que abandonaria a terapia eu decidi abandoná-la. Acho que era disso que ela precisava, ver que eu não estaria sempre a disposição.

—E então ela veio atrás de você.— ele conclui, aquiesço.

—Confesso que fiquei com medo de que ela não viesse, mas ela veio. Foi um final de semana difícil e dolorido, falamos sobre tudo que evitávamos. Agora acredito que definitivamente ficaremos bem.— eu falo.

Conversamos um pouco mais, sobre casamento, vida, trabalho, SHIELD, até que Kate veio nos avisar que o jantar seria servido. Depois do jantar Alex não parou de tagarelar, o assunto: os gatos.

—Quantos eram?— Pepper pergunta.

—Assim.— Alex mostra uma mão cheia e a outra com apenas um dedo levantado —Mas ninguém quis cuidar do Olaf, porque ele é diferente.

—Diferente como?— mostro curiosidade.

—Olaf é menina.— Kate avisa.

—Então ela não pode ter esse nome.— Pepper se manifesta.

—Convença a sua afilhada disso.— Rhodes diz.

—Meu amor, se ela é menina deve ter um nome de menina.— Pepper argumenta —Coloque o nome dela de Mimi, quando eu era pequena tive uma gata com esse nome. O que você acha?

—Acho que ela pode chamar Olaf, porque tem um menino na minha escola que se chama Alex.— Alex responde.

—É, faz sentido.— Pepper a aperta em seus braços.

Uma hora depois Alex dorme em seu colo, mas sou eu quem tem que levá-la pra cama. É impossível não pensar que um dia eu poderia fazer isso pela minha filha, já não sei mais se vai acontecer. Quando volto à sala Pepper está tomando café com Kate como se fosse cinco da tarde, no entanto passa das dez da noite.

—Não me julgue como se eu fosse uma viciada.— diz a minha esposa.

—Até porque você não é, né?— sou irônico.

—É descafeinado, Tony.— Kate a defende.





(...)



No caminho de volta pra casa Pepper não é muito eloquente, ela é quase monossilábica, bem diferente das últimas 24h, e seu silêncio me preocupa. Me lembra os retornos pós sessões de terapia.

—O que foi?

—Nada.— ela me responde, desembarca do carro e embarca no elevador. Claro que há algo errado. Não sei se insisto ou a deixo. Nunca sei. Hoje decido insistir.

—O que foi?— novamente pergunto quando ela entra no quarto e senta-se à poltrona para tirar os sapatos. Assim que pergunto ela desaba no choro —Baby...?

—Eu sou uma pessoa horrível.— ela diz entre lágrimas —À noite inteira eu fiquei pensando "Porque eles têm tudo e eu não tenho nada?". Um casamento perfeito, uma filha que é a coisa mais doce do mundo, animais de estimação, eles são tão completos que me dá inveja. Eu não fui embora daqui só pra me livrar das lembranças ruins, fui embora porque eu não suportava ver a felicidade alheia, ver que as pessoas mais próximas de nós têm tudo o que não temos. Tudo o que eu queria ter.

Mesmo sem conseguir parar de chorar ela levanta livra-se do vestido lilás e se joga na cama. Faço o mesmo, me livro das roupas e me deito ao seu lado. Ela vira pra mim e me abraça.

—Eu queria ser o bastante pra te ver feliz.— eu digo ao beijar seus cabelos, passo o polegar pelo seu rosto tentando conter suas lágrimas. Ela suspira.

—O problema não é você, a estragada aqui sou eu que sempre esperei demais da vida. Eu só preciso aceitar que não posso ter tudo.— ela diz —Ou talvez eu precise apenas não desistir. Parece confuso, mas foi assim com outra coisa que eu quis muito.

—Qual outra coisa?— eu pergunto quero desesperadamente que sua resposta seja apenas uma.

—Você.— ela fala e me beija. É a resposta que eu desejava.


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Notas finais do capítulo

Pepperzita superou, mas nem tanto, né?
O importante é ela estar bem com o Tony, certo?



Até o próximo ;)