Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 4
Capítulo 4: Duas pessoas e meia


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado a todos que comentaram, favoritaram e, principalmente, a Cabot, que fez uma recomendação linda que me deixou super emocionada, feliz e com a vaidade subindo acima da cabeça e essas coisas todas de gente metida. Coisa que eu não sou, claro!
Cabot, Lunah, tainar16 e MissPanda esse capítulo é de vocês!



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Capítulo anterior: "- Alguém acordou de mal humor hoje. - Reviro os olhos. - Ou você é mal humorado, tanto faz, não te conheço mesmo."

POV THEA:

Estávamos andando há uns quarenta minutos e tudo que eu queria era me jogar em um lugar macio e ficar lá para sempre.

Eu ouvia os passos leves do grupo atrás de mim, porém, ninguém dizia uma palavra. Acho que estavam compenetrados demais em memorizar o caminho para falarem algo.

Respirei fundo, entediada. Quarenta minutos a pé no meio da mata em um apocalipse não era nada, mas cansava como o diabo. Quieta então... Era um tormento! Um martírio! Eu não tinha nascido para ficar em silêncio.

– Quando vocês vão começar com o interrogatório? - pergunto, sem conseguir frear minha língua.

Eu sempre falei tudo que vinha a cabeça. Às vezes isso me metia em furadas altamente cabulosas e as vezes só simplificava as coisas. Nunca gostei de enrolação, muito menos desse negócio de dois pesos e duas medidas. Era sim ou não. Se acha bom, diga. Se acha ruim, diga também. Esse negócio de omitir opinião era um saco! Qual era a dificuldade em falar o que pensa? Só complicava tudo que não precisava ser complicado, qual a necessidade disso? O mundo já era complicado por si só.

– Interrogatório? - Rick pergunta. Vejo ele olhar para Daryl pelo canto de olho. Daryl, por sua vez, dá de ombros.

Eles pareciam muito unidos, como irmãos. Rick não tomava uma decisão sem contatar Daryl, nem que seja pelo olhar, e vice versa.

– Sim, interrogatório. Vocês não parecem dar ponto sem nó, então pensei que iam começar com as perguntas o quanto antes. Estão demorando demais, sabiam? Estou ficando impaciente!

– Certo. Interrogatório. - Rick diz, como para si mesmo.

Reviro os olhos. Ele se fazia de lerdo de um modo muito interessante.

– Quantas walkers você já matou?

– Walkers? - pergunto, tentando me fazer de Rick.

– Você sabe do que estamos falando. - Daryl diz ríspido, perdendo a paciência.

Suspiro. Eu não era boa em me fazer de lenta, todos sabiam que eu era muito inteligente e rápida. Eu teria que treinar mais.

– Em comparação aos que vocês parecem ter matado, eu arrisco dizer que matei poucos. Eu procuro evitá-los, acho que assim é mais fácil.

– Todos nós meio que os evitamos. - Carl diz, confuso.

– Thea nunca foi uma exímia lutadora. - Michonne explica. - Ela sabe se defender, tacar facas, atirar, mas numa luta corpo a corpo...

– Sou uma negação! Consigo me virar com um ou dois errantes no meu pé, mas pegar uma machadinha, dar na cabeça de um, tirar e fazer o mesmo com outros três, para mim, é suicídio. Eu sempre fui boa em me esgueirar, correr... Acho que é porque sou pequena, ligeira. Então meio que sobrevivi assim. Se tenho que pegar algo, entro e pego. Evito demorar, evito me atracar com errante, evito fazer barulho. Se a situação foge do controle, eu corro. Se tenho mais pessoas comigo, elas me dão cobertura e eu faço o que tenho que fazer sem chamar muita atenção, mas sempre preferi ir nas buscas sozinha ou só com um acompanhante. Quanto mais pessoas, mais barulho e mais errantes.

– Então, se você for cercada por uma pequena horda e não conseguir escapar... - Carl pergunta, sem completar a frase.

– Adeus Thea, adeus mundo. Foi ótimo conhecer vocês.

Faz-se silêncio por algum tempo. Acho que eles nunca pararam para pensar que haviam pessoas que sobrevivem desse jeito. Nem todas as mulheres do apocalipse são Michonne's, com katanas e braços fortes e nem todos os homens, cópias de Daryl's, com bestas mortais e costas largas. Quem dera fossem...

– Quantas pessoas você já matou? - Rick volta ao interrogatório.

– Se querem um número, fiquem sabendo que eu nunca parei para contar. Não é um prêmio... - dou de ombros. - Fiz o que era necessário para sobreviver e para manter os que amo a salvo. Não me orgulho disso, mas também não sinto remorso.

– Por que matou?

– Como já respondi, eu fiz o que era necessário para manter os meus a salvo. Não tive escolha, e nunca mataria alguém se tivesse.

– Está sozinha há quanto tempo?

– Há mais ou menos cinco dias. Não estou completamente sozinha o tempo todo, tenho meu grupo de duas pessoas e meia.

– Certo, seu grupo de duas pessoas e meia. - Daryl resmunga, como para si mesmo. Reviro os olhos para seu mal humor.

Andamos mais um pouco e logo a floresta se transforma em um matagal interminável. Michonne pega sua katana e ruma a minha frente, tentando cortar o mato para passarmos de forma mais confortável.

– Não. - pego seu braço, fazendo-a parar. - É proposital, ajuda a esconder o barracão.

Mich assente e continuo a frente do grupo, logo, uma pequena casinha de toras podia ser vista por entre todo aquele mato velho.

– O mundo é só mato. - sussurro, indo em direção ao barracão.

Bato na porta três vezes e abro, entrando silenciosamente.

– Eu já venho. - digo para o grupo de Rick, fechando a porta em seguida.

Não podia simplesmente chegar com um grupo de pessoas desconhecidas, tinha que avisar os meus antes de apresentá-los.

– Thea? - uma voz pergunta, e logo a mulher mulher de cabelos curtos e feições completamente subestimáveis aparece, segurando firmemente um revólver.

– Por que você sempre aponta esse troço para minha cabeça? - falo, me fingindo de irritada, indo em sua direção, a envolvendo em um abraço apertado. Ela faz um leve carinho em meus cabelos, me empurrando de forma delicada.

Era sempre assim: Eu chegava e Carol aparecia toda desconfiada, com uma arma apontada para quem quer que fosse. Ela era tão na defensiva! Eu a abraçava e ela me sorria aliviada.

Carol não expressava muito seus sentimentos, acredito que tinha passado por muita merda nessa coisa de apocalipse, mas eu sabia que ela gostava de mim.

– Thea? - Ty aparece, com a pequena Judith no colo. Me abraça desajeitado por estar segurando a garotinha. Judith gruda em meus cabelos, rindo feliz.

Nunca me dei bem com crianças, elas eram altamente barulhentas e irritantes, mas Judy era diferente. Era uma das únicas - se não a única, criança que eu via em anos e era completamente adorável. E ela não babava na mão da gente, por incrível que pareça!

– Finalmente apareceu, já estávamos indo te procurar. - Ty me sorri aliviado, e logo sua expressão muda para algo como esperançosa. - Encontrou alguém?

Sorrio, dando um beijo na pequenina, que enrolava o dedo em meus cabelos e se divertia com minhas bochechas.

– Qual o nome do pai de Judith? - pergunto, tentando tirar a dúvida que me assombrava desde que Michonne me contara sobre a pequena filha de Rick, que havia se separado dele e de Carl após a queda da prisão.

– Rick. - Carol responde, indo em direção à porta. Ela era esperta, pegava as coisas no ar e sempre sabia o que estava acontecendo.

A mulher de cabelos curtos abre a porta e paralisa, olhando para o grupo que agora se encontrava um pouco afastado.

– Daryl? - chama, correndo em direção ao caçador. Ele não demora para reconhece-la e apressa o passo em direção a Carol, envolvendo-a em um abraço esmagador.

Desvio o olhar, tentando não me sentir incomodada. Eu, definitivamente, não tinha esse direito.

– Daryl é um homem gostoso que sobreviveu ao apocalipse, Judy. - sussurro para a pequena, indo em direção a porta. - Eu acho ele totalmente gostoso mesmo, de verdade, mas não posso ficar agindo como se ele fosse meu alguma coisa, entende? Ele e Carol parecem ter um lance mas, se estou certa, você deve saber disso melhor que eu... - Judith ri, como se entendesse tudo.

Apareço na porta com a pequena. Ty abraçava Rick, que parecia surpreso em vê-los. Carl olha para mim, os olhos arregalados e uma expressão surpresa. Cutuca o pai, apontando para nós.

Vou em direção a eles, com a pequena ainda em meus braços. Ela parece reconhece-los, pois estica os bracinhos freneticamente em direção a família.

Rick joga suas coisas no chão, e com lágrimas nos olhos corre em direção à filha, com Carl em seu encalço. Segundos depois, Judith é tirada carinhosamente de meus braços.

Sorrio, sentando na pequena varanda do barracão.

– Será que isso vai acomodar todo mundo? - olho para a pequena casinha. - Espero que sim, estou morta demais para ir atrás de barracas a essa hora. - sussurro para mim mesma, pensando se eu podia entrar na surdina e deitar naquela cama macia e dormir pelo resto do dia enquanto esse povo se abraça e beija por horas a fio.

Mich senta ao meu lado, sorrindo orgulhosa.

– Eu sabia que você ainda ia surpreender a todos, mas eu pensei que ia ser com o tamanho da sua língua e não com isso, Thea.

– Eu tenho esse dom de surpreender mesmo, mas você já sabe disso. - Michonne revira os olhos, pigarreando logo em seguida. Fica em silêncio por um segundo e logo desata a falar.

– Eu senti sua falta por todos os dias até você me encontrar, Thea. E, para deixar claro, acho um absurdo essa sua mania de se culpar pelo que aconteceu a Andre. - olho para ela de forma questionadora.

– Você só não para de falar como também fala alto! - reclama - Acho que você deveria manter essa língua um pouco dentro da boca, pelo menos a noite! Fala tanto que acaba atraindo não só errantes, mas também acordando a todos...

– Michonne, você estava me elogiando, não me dando uma bronca. Dá pra continuar assim ou é muito difícil pra você e seu gênio cri cri? - falo, fazendo uma falsa cara emburrada.

Ela revira os olhos e me olha feio, como a mãe mandona e chata que ela era antes dessa porcaria de fim de mundo.

– Daryl estava certo: Eu não te culpo por nada do que aconteceu e também não poderia. Eu era a mãe. Era meu dever, não seu e muito menos de Red. Pense bem nisso e pare de falar tanta merda toda vez que abrir a boca.

– Quando eu penso que você vai me elogiar para sempre, você começa com a bronca! Sério, Mich, acho que estou com saudade de me perder de você! - ela ri, balançando a cabeça, com aquela cara de reprovação que me mostrava toda vez que eu fazia alguma coisa fora do normal ou minimamente insana.

Suspiro, olhando para o casal vinte. Carol ainda estava abraçada a Daryl, os olhos chorosos e com um sorriso satisfeito no rosto.

– Eles são casados ou algo do tipo? - pergunto, apontando para os dois com a cabeça, como quem não quer nada. Eu também não era boa nesse negócio de fingir que não estou interessada, mas eu tentava. Às vezes as pessoas caiam, as vezes não. Elas não caiam na maior parte das vezes, para falar a verdade.

– Quem? Carol e Daryl? - pergunta, meio chocada.

– Não. Rick e Tyreese! - reviro os olhos - Óbvio que Carol e Daryl!

Como ela podia ser tão foda nesse negócio de apocalipse e tão lerda nesse negócio de vida?

– Daryl é como um filho para Carol, Thea. Não sei bem a história mas, ao que parece, Carol tinha uma filha da idade de Carl e ela se perdeu enquanto eles estavam na estrada. Daryl foi o que mais procurou a menina e ela é grata a ele desde então.

– Quer dizer que eles não...

– Não, Thea. Carol bem que tentou, mas Daryl não estava muito interessado.

– Quer dizer que ele é um gostoso descompromissado?

– Sim... E eu nem sei porque ainda estou conversando com você sobre isso. - ela se levanta, revirando os olhos. - Não mantém a língua na boca por um segundo, mas não tem coragem de ir perguntar isso diretamente na fonte.

– Você é minha amiga, mulher. Ir na fonte descobrir o que anda acontecendo deveria ser o seu trabalho, não o meu!

– Cala a boca, Thea. - fala, indo em direção a Carl, que segurava a irmã nos braços de forma protetora.

– Não é uma boa amiga, Michonne. Só me dá bronca, parece uma louca! - falo alto, recebendo o silêncio como resposta.


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Notas finais do capítulo

Gente, vocês são demais! Eu dei uma de louca que tá doida de forma leve e vocês entenderam do jeito mais legal e simples do mundo que tudo que eu precisava era de um pouco de carinho, amor, comentários e recomendações!

Obrigada, galera! Continuem sendo lindos que eu fico muito feliz e muito escritora inspirada!

Beijos de luz que brilha feliz, alegre e contente.