Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 5
Capítulo 5: Boca suja


Notas iniciais do capítulo

Gente, não irei postar no sábado e no domingo. Acho que, como posto todos os dias, mereço uma folga ao menos no fim de semana. Minha mente inacreditavelmente criativa merece, na verdade! hahaha (não mesmo)
Bom mato pra vocês.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/588334/chapter/5

Capítulo anterior: "- Não é uma boa amiga, Michonne. Só me dá bronca, parece uma louca! - falo alto, recebendo o silêncio como resposta".

– Ninguém me leva a sério nessa porcaria de apocalipse. - reclamo, me levantando e pensando em ir deitar um pouco.

Eu não precisava dormir, só precisava me esticar em uma cama macia para ordenar meus pensamentos antes que eles detonassem o meu cérebro incrível. Ficar louca nessa merda de mundo era muito fácil, e as vezes eu me sentia a beira da insanidade.

Entrei na casa, indo em direção ao porão com minha mochila nas costas. Empurrei uma estante vazia que havíamos colocado ali propositalmente, para esconder o pequeno quadrado sob o chão de madeira. Caso alguém tentasse nos saquear, só iria encontrar o que deixávamos a mostra.

Abri o que se parecia com um alçapão e desci as escadas, pegando uma lanterna no primeiro degrau.

– Devem existir aranhas extremamente grandes e mortíferas aqui dentro. - sussurro, contendo um arrepio.

Eu tinha um medo completamente insano de aranhas. Elas eram feias, sagazes e enganadoras. Apareciam nos lugares mais escabrosos, te davam um susto de mijar nas calças e quando você conseguia se recuperar suficientemente para tacar algo nelas, elas simplesmente sumiam. Aranhas eram ardilosas. Mais perigosas que os errantes, se não me engano.

Revirei os olhos com meus pensamentos idiotas.

– Por que você sempre pensa tanto em coisas nada a ver, Thea? - pergunto para mim mesma, continuando meu caminho até o que nós chamávamos de despensa.

Não era bem uma despensa, eram só um monte de alimentos não perecíveis empilhados em um canto.

– Talvez porque seu cérebro seja super evoluído e pense sobre tudo. - me contentei com a resposta, colocando um pouco de comida na mochila. Só o suficiente para uma fuga rápida, caso necessário.

A despensa estava quase vazia, logo eu teria que ir atrás de suprimentos na cidade. Enquanto isso, me viraria para alimentar aquele bando de gente tentando caçar algo.

Subi as escadas, coloquei a estante de volta no lugar e me joguei na cama, olhando para o teto de modo entediado.

Alguns feixes de luz adentravam pelas frestas da madeira, dando uma leve iluminada pelo local.

– Que clichê. - resmungo, jogando minhas botas longe. Me estico mais na cama, tentando relaxar.

– Falando sozinha? - Rick entra, com a pequena Judith em seus braços. Ela se estica em minha direção, quase pulando dos braços do pai. - Acho que perdi minha filha para você.

– O que eu posso fazer se sou assim, um encanto... Além de super legal e cuidadora de crianças. - respondo, me sentando, enquanto Judith batia palmas em minhas bochechas. Aquela menina gostava de bochechas.

Rick me sorri de forma doce, quase paternal, mas fica sério logo em seguida.

– Carol me contou o que você fez por eles. Por Judith, principalmente. - Rick diz, se sentando ao meu lado, um pouco desconfortável. - Ela me contou que você foi à cidade várias vezes atrás de comida e remédios para minha filha, que cuidou de tudo sozinha. Ela não era sua responsabilidade e você a assumiu como se fosse.

Dou de ombros, sem entender onde ele queria chegar.

–Judy é só uma criança, eu não podia simplesmente virar as costas e deixar ela passar por tudo que nós passamos como se isso fosse o certo.

– E é por isso que eu nunca vou poder te agradecer o suficiente. Você ajudou minha família quando eu não estava, mesmo não sendo sua obrigação, e eu retribui desconfiando de você. Isso não foi justo.

– Não tinha como você saber, Rick. Você não me conhecia. Estava fazendo o certo em desconfiar de mim, estava mantendo seu grupo a salvo. - ele assente, um pouco perturbado. Acho que Rick ainda estava confuso com tudo que havia acontecido. Com o reencontro de sua família.

Faço cócegas na pequena Judith, que solta uma gargalhada, puxando meus cabelos até quase arrancá-los de minha cabeça.

– Aí, sua doidinha! - reclamo, massageando o couro cabeludo. Essa menina era forte como a peste.

Rick ri, se levantando, com a pequena ainda rindo em seus braços.

– Eu vou indo. Se precisar de alguma coisa, estaremos aqui fora.

– Ei, Rick. - chamo.

Ele se vira para mim, a confusão ainda presente em seu rosto coberto pelo emaranhado de pelos que ele chamava de barba.

– Quando Michonne me contou eu desconfiei de Judy, mas não tomei nenhuma atitude porque achei que se eu abrisse o bico e a bebê não fosse sua filha, a frustração de pensar que a encontrou e não tê-lo feito seria pior do que simplesmente não saber. Se eu tivesse certeza, teria falado antes.

– Fez o certo, Thea. - assente, se virando e indo em direção a porta.

POV DARYL:

Sentei na varanda do pequeno barracão, sem conseguir conter um sorriso ao ver Carol e Tyreese conversando com os outros. Eu realmente não esperava que o tão famoso grupo de duas pessoas e meia daquela louca seria, justamente, minha família. Pelo menos metade dela.

Coincidências assim não pareciam acontecer nem quando o mundo era mundo, quem dirá no meio de uma merda dessas.

Ouço passos atrás de mim, olho para trás e vejo Rick sair de dentro do barracão com Little Ass Kicker nos braços, a expressão confusa em seu rosto denunciava que ele ainda não se encontrava em seus melhores dias, mas parecia feliz.

Dá um tapinha em meu obro, sentando ao meu lado.

– Me sinto culpado por tê-la julgado. - diz simplesmente, dando um beijo na testa da pequena. Eu sabia que ele estava falando de Thea.

– Não sabíamos se ela era confiável ou se era só mais uma louca que sobreviveu todo esse tempo. Fizemos o certo em ficar com um pé atrás.

– Tyreese me disse que ela os abrigou enquanto fugiam de uma horda. Se ela não tivesse os ajudado, poderiam estar mortos agora.

– Não se martirize por isso, estão todos bem.

– Eu expulsei Carol do grupo e ela salvou minha filha. Isso também não me parece justo.

– Você fez o certo, Rick.

Eu não havia ficado satisfeito com o banimento de Carol, mas também não via como o grupo poderia sustentar aquela situação se ela tivesse continuado lá. Tyreese a teria matado, e as coisas teriam fugido do controle antes do Governador chegar.

– Carol foi contra os princípios do grupo, não podíamos simplesmente fingir que nada havia acontecido. - continuei. Rick assentiu, tentando se controlar.

Ele não era o mesmo desde a morte de Lori, mas agora não podia se dar o luxo de jogar tudo para o alto e voltar a ser o fazendeiro bonzinho que era na prisão. Estávamos largados a própria sorte novamente, e ele tinha que manter o controle, não por nós, mas por seus filhos.

– Maggie e Glenn: Você acha que eles estão em Terminus?

– A última placa que Maggie deixou para Glenn estava com a tinta ainda úmida, e depois não encontramos mais nada. Ela estava seguindo os trilhos do trem, mas alguma coisa aconteceu.

– Talvez tenha desviado o caminho, ido pela floresta.

– Eu não sei. Não encontrei nenhum rastro, nenhuma trilha...

– Alguma ideia? - Rick suspira, cansado.

– Vigiar Terminus pelas grades, ver se encontramos algo suspeito. Temos que ficar de olho, talvez um dos dois ainda esteja a caminho.

– Ou talvez todos os nossos. Glenn estava no ônibus com os doentes. Bob, Sasha fugiram com Maggie, logo após o ônibus com Glenn sair. Talvez eles ainda estejam juntos, não imagino porque se separariam. Ty disse que fugiu com Lizzie, Micah e Judy. Carol os encontrou logo depois, e Thea abrigou os três. Carol disse que as meninas não sobreviveram.

Engoli em seco, fazendo um carinho nos cabelos de Judith. Esse não era um mundo para crianças.

– Beth? - Rick continua, tentando manter os pensamentos em ordem.

– Eu não sei. - passei as mãos pelos cabelos. - Eu vi ela correr sozinha atrás de Maggie quando a prisão caiu. Tentei ir atrás, mas atiraram em mim e eu tive que usar a porcaria de um walker como escudo antes de fugir, mas fui desviado do caminho.

– Ela pode estar com a irmã. - semi cerro os olhos em direção a Rick. Era uma afirmação perigosa. - Temos o direito de nos sentirmos esperançosos, Daryl. Encontramos Carol, Tyreese, Judith. Michonne encontrou Thea. Esse mundo é pequeno, agora. Os nossos são fortes, temos chances! - se levanta, indo em direção a Michonne para anunciar o que havíamos combinado.

– Que movimentação é essa aqui fora? - Thea aparece na porta, se escorando no batente para calçar as botas.

Ela parecia ainda mais bonita com aquela cara amassada e o cabelo bagunçado. Os olhos verdes brilhavam, grandes.

– O que foi? - pergunta, passando a mão pelo rosto, procurando por algo errado. - Por que você está me olhando com essa cara de psicopata, Daryl?

Balanço a cabeça, voltando o olhar para frente.

– Nada, me distraí. - respondo, pensando em como aquela desculpa tinha soado falsa.

– Sei. Acho que você estava encantado com a minha beleza. - brinca, se sentando ao meu lado.

– Cala boca, Thea. Só abre a boca para falar um monte de porcarias. - tento soar firme, mesmo após ter sido pego no flagra, como um garotinho de onze anos apaixonado.

– Só me manda calar a boca. Toda hora é isso! Nem parece que estava encantado comigo segundos atrás! - ela ri sozinha. Eu somente reviro os olhos. - Então, vai responder a minha pergunta ou vai ficar com essa cara mal humorada para sempre?

– Que pergunta? Do que você está falando?

"Por que você ainda está falando?", penso. Ela revira os olhos, impaciente.

– Qual o motivo de toda essa movimentação aqui fora? - pergunta, com a voz entediada.

– Eu e Rick acreditamos que nossa família esteja viva, indo em direção a Terminus.

– E isso é bom? - franze o cenho para o sorriso esperançoso de Rick. - Pensei que vocês tinham entendido sobre Terminus ser uma porcaria de merda fodida e fedorenta.

– Você nunca recebeu um bom tapa por causa dessa sua boca suja? - pergunto, um pouco impaciente com esse negócio de Terminus e de família.

– Então é isso que você tem vontade de fazer comigo, Daryl? Me dar uns bons tapas? - sorri de modo malicioso, se levantando e indo em direção a Rick, antes que eu pudesse lhe dar uma boa resposta.

(...)

Já era noite e estávamos todos dentro do barracão, envolta de uma pequena mesa de madeira, discutindo o plano para fazer vigia em Terminus.

– Todos os dias duas pessoas vão até as grades de Terminus e ficam vigiando com o binóculo. Voltam para o barracão no meio do dia e mais duas pessoas vão fazer a vigia. É isso? - Rick pergunta para Ty, que apena assente.

– Não sei, não me parece prático. - Carol comenta, olhando de rabo de olho para Thea.

A maluca estava há alguns minutos de olhos fechados, com os pés sobre a mesa, como a pequena folgada que era, e dando soquinhos em sua testa, como se tentasse pensar em algo.

– Porque não é pratico! - solta num rompante, sobressaltando a todos na mesa, menos a pequena Judith, que gargalha divertidamente com sua tempestuosidade.

– Você é muito foda nesse negócio de matar errante, Ty, mas seus planos são uma porcaria. Sem ofensas, claro! - Thea fala, fazendo o homem arquear as sobrancelhas, escondendo um sorriso.

– Não consigo entender o porquê desse plano ser ruim, sinceramente! - Carl comenta, empurrando as mãos da irmã, que batia feliz em suas bochechas, de forma delicada.

– Porque você é lerdo, Carl! - Thea diz, tirando os pés de cima da mesa, e recebendo uma careta do menino.

Os dois pareciam ter se tornado bons amigos em pouco tempo. Era como se conhecessem um ao outro há tempos. Talvez Michonne e suas histórias sobre Thea tenham ajudado.

– O problema desse plano é que ele tem um espaço de mais ou menos três horas sem vigia! Uma hora e meia para o primeiro grupo ir e voltar, e uma hora e meia para o segundo grupo ir e voltar. - Ela fala, como se fosse algo óbvio. - Se considerarmos que estamos no começo do outono e temos cerca de nove horas de sol por dia, perdemos um terço do dia só andando no meio do mato!

– E o que a senhorita sugere? - Michonne provoca, com um sorriso orgulhoso no rosto.

– Eu sei lá! Mostrei para vocês o problema, agora arranjem uma solução. - fala, recolocando os pés na mesa. - Eu não posso ser o único ser pensante envolta dessa mesa, gente! - joga os cabelos para trás teatralmente, pegando Judy e colocando a menina sentada sobre suas pernas esticadas.

Ergo uma sobrancelha, vendo um sorriso divertido no rosto de cada um ali.

– Então fazemos uma permuta. O primeiro grupo vai, faz a vigia até metade do dia e volta quando o segundo grupo já tiver chegado ao local. - Rick diz, tentando chegar em um consenso.

– Continua não sendo prático. - Carol diz. - Vamos cansar a toa.

– Passamos a noite lá, então. - falo, já perdendo a paciência. - A primeira dupla vai, vigia o dia e a noite toda e é substituída por outra dupla ao amanhecer. A primeira dupla só volta quando a outra tiver chegado ao ponto de encontro.

– Parece bom. - Ty comenta, se espreguiçando na cadeira.

– Estamos de acordo? - Rick pergunta, olhando para todos nós. Ninguém se opõe ao plano. - Então é isso.

Thea sorri satisfeita, tirando do bolso um mapa dos trilhos que levam a Terminus. Abre este sobre sobre a mesa.

– Esse ponto aqui é um ótimo lugar de observação. É uma área cega para quem está dentro de Terminus. - aponta para uma área verde no mapa.

– É longe o suficiente para não nos verem, mas ao alcance dos binóculos? - Michonne pergunta.

– Sim. É um lugar mais elevado que Terminus, e fica no meio de um mato alto o suficiente para esconder alguém deitado, mas aí que está o problema... Se ficarmos abaixados, podemos ver o que acontece em toda a área de containers de Terminus e nos portões principais sem sermos vistos, mas se ficarmos de pé, os caras que fazem ronda em cima dos prédios nos verão. Para chegar e sair do local, temos que nos arrastar.

– Isso não é problema. - Rick afirma, confiante.

– Então é isso. Só falta nos dividirmos em duplas e resolver qual será o primeiro grupo a ir. - diz Carol, olhando para todos nós em busca de uma opinião divergente.

Ao que parece, havíamos voltado a ser uma democracia.

– Thea vai ajudar? - Carl pergunta, emburrado.

Ele também queria participar da vigia, mas Rick não havia deixado com a desculpa de que alguém tinha que ficar com Judy.

– Claro que vou!

– Você tem certeza? - Rick pergunta, compreensivo. - Não é sua obrigação, sabe disso, não é?

– Claro que é minha obrigação! Aquele bando de doidos insanos que vivem em Terminus são minha família. Se não for minha responsabilidade, de quem vai ser? Sem falar que esse era o meu trabalho antes de ser o de vocês, então nem pensem em me demitirem do cargo que eu criei.

– Dá para você parar de se culpar por uma coisa que não foi sua maldita culpa? - Michonne se irrita.

Elas pareciam ter conversado, mas Mich ainda não estava conformada com o fato de Thea se culpar pelas desgraças que as cercavam.

– Eles terem ficado loucos não é da sua conta, Thea. Eles te expulsaram de lá e, a partir desse momento, você deveria ter seguido com a sua vida. - continuou.

– Se eu tivesse seguido com a minha vida, talvez vocês não passassem de churrasco agora. - Thea fala, dando de ombros.

Todos ficam em silêncio, sem conseguir negar a verdade nas palavras de Thea.

– Certo, quem vai primeiro? - Rick fala, buscando acalmar a situação.

– Não vejo problema em ir primeiro. - diz a Dona Encrenca, fazendo cócegas na barriga de Judith, enquanto essa apertava sua bochecha com as mãozinhas gordas.

– Ficou nessa floresta por cinco dias, Thea. Dormiu amarrada em uma árvore por todo esse tempo! Será que não dá para sossegar um pouco? - Michonne pergunta, impaciente.

– Eu e Ty vamos. - comenta Carol, olhando para Tyreese, que apenas assente em concordância. - Vivemos nesse barracão, dormindo e comendo bem, há dias. Estamos mais fortes e dispostos.

Thea abre a boca para falar algo, mas é impedida por Mich.

– Seja razoável.

– Que merda, Michonne! Eu não fugi de casa aos dezesseis para ter que ouvir você mandar em mim na porcaria do fim do mundo! - reclama, fazendo um bico de menina mimada.

Michonne revira os olhos, impaciente.

– Seja razoável, Thea! - sibila para a garota, que lhe manda um sorriso como provocação.

– Então está combinado, depois decidimos qual será o próximo grupo e o que faremos quando encontrarmos os nossos. - Rick diz, de modo conciliador, se levantando e pegando Judith no colo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Resumo do apocalipse: mato

Nota na nota sobre o capítulo: Aqui na história Daryl não fugiu com Beth. Como ele disse, ela fugiu sozinha atrás de Maggie e ele tentou acompanhá-la, mas não conseguiu.