Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 28
Capítulo 28: Boas-vindas


Notas iniciais do capítulo

168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai 168rai
dezesseis oito rai
um seis oito rai
cento e sessenta e oito rai
um sessenta e oito rai
sou uma mulher de palavra



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Capítulo anterior: "Logo os portões podiam ser vistos por entre as árvores, e o que veio em seguida não parecia ser a visão mais relaxante do mundo.

O mundo de mortos nos cercava, mas os vivos estavam em guerra novamente."

POV THEA:

Bastão de beisebal e zarabatana. Galpão queimando como uma grande fogueira.

Passo meus olhos pelo grupo, buscando pelos rostos conhecidos, procurando saber se todos estavam ali.

Meu coração batia tão forte que a concentração parecia se acumular no peito e sair pela boca com a respiração entrecortada. Recomeço a contagem, sem sucesso em terminar. Os rostos conhecidos pareciam se misturar, enquanto apontavam armas para os homens a nossa frente.

A adrenalina corria tão forte em minhas veias tudo parecia zunir, enquanto ouvia as batidas do meu coração em meus ouvidos. Tão alto quanto um bumbo, fazendo meu sangue correr cada vez mais rápido, e o medo sair de forma gélida em minhas mãos.

Olho de esguelha para Daryl, que parecia tão tenso quanto eu. A mão ainda enrolada a minha num aperto forte, como se isso pudesse garantir que ficaríamos seguros.

Não importava o quão perigosa era a situação, uma coisa que Daryl sabia passar, era segurança.

O cara com o bastão fala alguma coisa para nosso grupo, fazendo um arrepio percorrer minha espinha. Não era um bom arrepio. Ele não era boa pessoa, e seus homens não pareciam muito comprometidos em ser.

Não consigo ouvir muito bem o que dizia, talvez por causa do som de minha respiração pesada ou por causa das batidas fortes de meu coração. Fecho os olhos, respirando fundo e tentando me concentrar.

Daryl me olha com a expressão lívida, os olhos azuis tão frios que faziam meu sangue gelar. Quando o perigo parecia bater em nossa porta e ameaçar os nossos, ele se transformava em outra pessoa, e eu não podia dizer que isso me deixava confortável. Ele se arriscava, colocava a vida dos outros à frente da sua, e o medo de perdê-lo parecia me sufocar a cada segundo.

Rick dá um passo à frente, a expressão assustadora no rosto coberto de fuligem. Ele diz alguma coisa com a expressão séria, aquele tom de negociação parecendo sair por seus lábios. O homem com o bastão ri, fazendo os outros dez homens ao seu lado gargalharem. Não haveria diplomacia.

Atento meus olhos na cena, tentando a todo custo diminuir o ritmo de minha respiração e as batidas em meu ouvido.

O galpão queimava, o cheiro pesado de cinzas e chamas subindo ao céu e se dispersando na mata. Logo a sua frente, os nossos. Cerca de quinze pessoas, armadas até os dentes e que fariam de tudo para manter os seus a salvo.

Do outro lado, como se tivessem saído da mata, o grupo do cara com o bastão. Dez homens, sem muito armamento, e não consigo entender como eles ainda tinham aquela expressão vitoriosa no rosto. Estavam em menor número, com menos armas e ainda se davam ao luxo de gargalhar. Sinto meu maxilar travar com força, e vejo Daryl fazer o mesmo a meu lado.

Tento recomeçar a contagem, mas ainda não tenho sucesso com isso.

Judith chora alto, e sei que isso logo irritaria os caras. Carl tenta calá-la, e fico aliviada em ver Beth tentando ajuda-lo, enquanto segurava firme uma pistola em suas mãos. Éramos fortes, estávamos fortes. Podíamos ganhar uma dessas.

O homem com a zarabatana ri de um pensamento qualquer, dizendo algo sobre dardos tranquilizantes logo em seguida. A expressão de Rick parece acender, e o brilho psicótico toma conta de seu olhar.

Prendo a respiração, sentindo a mão de Daryl ainda enrolada na minha mão, tão gelada quanto nunca, enquanto assistimos o embate escondidos sobre as árvores densas daquela parte da floresta.

O cara do bastão fala alguma coisa, a expressão maliciosa na direção de Maggie e Beth. Meu coração dá um salto, e fixo os olhos no objeto de madeira com arame farpado em sua volta. Sangue seco parecia colorir o bastão, e não consigo deixar de imaginar quantas pessoas foram feridas por ele.

Passo os olhos sobre nosso grupo novamente, vendo todas as nossas armas apontadas na direção dos homens. Eles estavam em menor número, tínhamos mais armas e éramos habilidosos. E eu não conseguia entender por quê simplesmente não atirávamos.

Como uma resposta rápida, o vento bate forte, movimentando algumas plantas a nossa frente, dando uma visão completa da cena, e meus olhos recaem sobre cinco corpos deitados no chão. Entre eles, uma mulher com as roupas rasgadas e cabelos desgrenhados ao lado de um ruivo gigantesco e um gordo molenga. Meu coração perde um salto.

– Daryl... – sussurro, com a respiração pesada, apertando sua mão em espanto.

– Fica quieta. – ele sussurra de volta, mas sinto minha respiração saindo cada vez mais alta.

– Rosita, Abe e Eugene...

– Eu vi, Thea, agora cala a boca.

Engulo em seco, fechando os olhos em concentração. Minha respiração não se acalma, mas gemidos pesados se sobressaem, fazendo minha mão livre rumar automaticamente para pistola em minha perna.

– Carniceiros. – sussurro tão baixo quanto posso, vendo Daryl apertar mais a besta no braço livre.

– Onde? Quantos são? – pergunta, me puxando para mais perto.

– Eu já disse que não é um sonar! – sibilo entredentes, tentando me concentrar.

– Thea, não é hora para isso.

Reviro os olhos, respirando fundo e ouvindo os gemidos se aproximando cada vez mais.

– Estão vindo de onde viemos... acho que podem ser os vinte de Washington.

– Consegue saber se estão vindo por dentro, pela mata, ou pela estrada? – pergunta, soltando minha mão para firmar a besta nos braços.

Engulo em seco com a falta de contato, mas acabo balançando a cabeça para distanciar tais pensamentos. Não era hora.

– Não sei, acho que por dentro. – respondo, e fecho os olhos com força, tomando uma longa respiração. A floresta parece silenciosa como nunca, sem nenhum animal se sobressaindo, e os gemidos misturados com barulhos de galhos secos me dão a confirmação. – Por dentro, definitivamente.

– Vão atacar os homens por trás. – Daryl diz, em tom pensativo. Ele olha em volta, como se pensasse em um plano e só consigo me manter concentrada em nosso grupo.

Rick dá um passo à frente, em direção aos homens, a shotgun que havia decepado a mão de Gareth em riste, como se pudesse disparar a qualquer momento. Engulo em seco, sabendo que aquilo significaria uma guerra. O homem com o bastão manda ele abaixar a arma e recuar, enquanto outro a seu lado aponta um fuzil para cabeça de Abe.

Rick abaixa a arma, com a expressão calculista, e sei que aquilo não acabaria bem.

– Daryl. – chamo de modo urgente, ele me olha de esguelha, parecendo pensativo. – Temos que fazer alguma coisa, Rick está tramando algo.

– É arriscado. – responde, com aquele ar duro que ele sempre assumia quando estávamos em perigo. - Temos cinco reféns no chão, três deles são nossos...

– Se não agirmos, Rick vai fazer por si só e os nossos vão morrer.

– E, se agirmos, pode ser que o filho da puta descarregue aquele fuzil na cabeça de Abraham e nos nossos. Vamos esperar.

– Sério que você pretende deixá-los lá? Daryl, estamos em vantagem!

– Não estamos em vantagem, Thea. Eles tem três dos nossos desarmados sob suas miras.

– E nós temos um grupo armado até os dentes e uma pequena horda vindo na direção daqueles homens. Não podemos desperdiçar essa chance.

– E o que você pretende? Entrar no meio da confusão só com essa pistola e sua cara mimada? Seja realista e cale a porra da boca, Thea.

– Então agora o problema sou eu? Essa pistola e minha cara mimada, junto com sua idiotice e essa sua besta ridícula são as únicas chances de Abe, Rosita e Eugene saírem de lá sem um tiro ou uma mordida, Dixon. Então pode parar de frescura e começar a bolar um plano. – respondo, olhando de modo sério para o homem a meu lado.

Daryl estreita os olhos para mim de forma impaciente, e sustento seu olhar, mostrando que não mudaria de ideia tão cedo. Ele passa as mãos pelos cabelos, balançando a cabeça como se não acreditasse no que iria fazer.

– Eu não acredito que estou dizendo isso, mas você está certa.

– É claro que estou certa. – respondo, jogando o cabelo para o lado.

– Se você quer fazer isso, é melhor calar essa boca grande. – diz, me olhando em repreensão, e somente dou de ombros. - Você consegue saber o quão perto eles estão? – diz, após olhar em volta por um longo segundo, como se analisasse nossas chances. Eram boas chances, e ele tinha que admitir. Mais do que os 50/50 que estávamos acostumados, pelo menos.

– Os gemidos estão mais altos, a mata cada vez mais silenciosa. Uns três minutos, eu acho.

– Certo. O plano é o seguinte: avisamos Rick de que estamos aqui e que tem mordedores na área; os carniceiros atacam, e nós logo em seguida. O objetivo é tirar Abraham, Rosita e Eugene dali e ir para formação o mais rápido possível. E isso não é um pedido, Thea, é uma ordem. – fala, me olhando seriamente, e sei que quem assumia a situação não era o Daryl que me dava uns beijos no meio do mato, e sim o cara que comandava o grupo de buscas.

Assinto, mordendo a língua para não soltar uma provocação.

– Sim, senhor. Já disse que sou uma buscadeira super obediente.

– Eu estou falando sério, Thea. – fala, dando um passo em minha direção. - Nada de se arriscar. Atire para matar, não é uma negociação. Ou eles, ou nós. E eu falo sério quando digo para você chegar o mais rápido possível à formação.

– Eu entendi, Daryl. Matar ou morrer, tipo os filmes com o Bruce Willis. – comento, sem muito prestar atenção, vendo se minhas facas estavam todas no coldre

– Eu já estou começando a me arrepender. – Daryl diz, como para si mesmo, e posso ouvir o barulho do galão de água sendo preso em sua mochila.

Reviro os olhos e dando um passo em sua direção. Nossos corpos ficam a milímetros de distância, e me permito sorrir minimamente.

– Claro que não está, você sabe que trabalhamos super bem juntos. – digo, e não consigo esconder o tom de provocação na voz. – Vai dar tudo certo, Dixon, e depois podemos comemorar com umas explicações no meio do mato. – termino, num roçar suave de lábios.

– Você ainda vai me matar, Thea. – ele diz, balançando a cabeça e se afastando um passo. Sorrio, mordendo os lábios. – Agora para de fazer isso antes que eu te ataque e nós dois viremos comida de errante, sua idiota. – termina, assumindo o tom sério, e desisto de continuar a provoca-lo.

– Como você pretende avisá-los? – pergunto, desfazendo o sorriso idiota que parecia colado em meus lábios.

– Coruja. – Daryl diz simplesmente, e assinto com a cabeça.

Nós tínhamos códigos para situações como estas. Rick e Daryl tinham, na verdade. Descobri alguns desses após as semanas que passamos na estrada.

Coruja indicava uma situação envolvendo floresta e errantes, e Daryl geralmente usava quando íamos caçar.

– Um minuto. – digo, me referindo aos mordedores, enquanto conferia se o pente da pistola estava cheio.

Ouço o click baixo do metal se chocando quando coloco o pente de volta, e Daryl me olha com atenção, a expressão preocupada de sempre pendendo nos olhos azuis.

– Thea. – Daryl chama, me fazendo prestar atenção em seu cenho franzido. – Nada de se arriscar, nada de perder o foco. Fique longe dos errantes, perto dos nossos. Não faça nenhuma besteira.

Reviro os olhos, tentando um sorriso despreocupado.

– Ok, pai. – digo, recarregando a pistola com uma expressão divertida no olhar, apesar do frio na barriga que parecia me paralisar.

Eu não gostava de machucar pessoas e gostava menos ainda de mata-las, mas eu sabia o que era necessário, e não mediria esforços para manter os nossos a salvo.

– Thea, eu estou falando muito sério. Se eu pudesse simplesmente te deixar longe disso... – Daryl começa, passando a mão pelos cabelos de modo aflito. - Mas eu não posso. Então, por favor, fique segura.

Sorrio para sua preocupação, apesar da tensão a nossa volta. Ia dar tudo certo, sempre dava tudo certo, no final das contas.

– Coruja, Daryl. – digo de forma despreocupada, ouvindo o som cada vez mais alto dos errantes.

Daryl suspira de modo impaciente, me dando uma última olhada antes de imitar o som da ave.

O barulho atravessa a mata, alto e claro, como um grito assustado. Vejo Rick franzir o cenho, disfarçando um sorriso de satisfação. Meu olhar pousa em Abe, Rosita e Eugene deitados no chão. Abe vira o rosto em nossa direção, e é como se ele conseguisse nos ver por entre as árvores.

Seguro um sorriso, vendo o homem de bastão fazer uma pergunta a Rick, que somente dá de ombros, respondendo algo como “existem milhares de corujas por aqui”.

Daryl me dá uma última olhada firme, enquanto ouço os errantes se aproximando.

Meus olhos se prendem em um dos homens, posicionado mais atrás, apontando um arco e flecha na direção de Michonne.

Ele era miúdo, um porte tão pequeno quanto o meu, e a constatação de que aquele arco seria uma ótima arma para mim me encanta ao mesmo tempo que me assusta desesperadamente.

Eu estava mesmo premeditando a morte de alguém para roubar suas coisas?

“Roubamos dos mortos a todo momento, queridinha. E tenho certeza que ele está fazendo o mesmo com nossas armas.”, minha mente se posiciona, e só consigo dar de ombros, apesar de ainda me sentir culpada.

Os gemidos ficam cada vez mais altos, e um barulho de galho se quebrando chama atenção do cara do arco e flecha. Ele se vira para trás, e é o primeiro.

O baixinho grita quando uma errante lhe alcança, cravando os dentes em seu pescoço. Uma flecha escapa do arco, voando para longe, em direção ao galpão pegando fogo.

– Ei, Daryl, evite me olhar com essa cara de preocupação no meio da treta, ou meus pretendentes vão acabar percebendo. – provoco, antes de dar um passo em direção às chamas.

– Cala a boca e se mantenha a salvo. – Daryl diz, tomando a dianteira.

Os tiros começam rápido, tirando qualquer provocação de minha língua.

Os errantes avançam famintos, atacando quem estivesse em sua frente. Os homens se assustam, enquanto Abraham e mais um rapaz ajudam Rosita e Eugene a se levantarem. O quinto corpo continua parado, jogado ao chão enquanto uma guerra entre errantes e humanos parece ser travada. Engulo em seco ao ver o buraco em sua cabeça e a poça de sangue a seu lado.

Abraham desarma um dos homens, roubando seu fuzil e dando-lhe um tiro na perna. Tínhamos que atirar para matar, era a única regra nessas situações, mas Abe parecia ter outra ideia. Alguma coisa tinha acontecido com eles pela mata, e eu não conseguia esconder o quanto aquilo me deixava assustada.

Daryl derruba um errante que se adiantava em nossa direção, e faço o mesmo com uma mordedora careca.

Avançamos lentamente, os homens na mira tanto quanto os mortos, e tudo parece um caos geral.

Os errantes gemem, enquanto gritos parecem se sobressair aos tiros, e o fedor de queimado ao cheiro de morte. Respiro fundo antes de apertar o gatilho na direção de um dos homens, que tinha Tara na mira.

Ela me olha em agradecimento, enquanto tenta se concentrar em manter a formação. Michonne dá um passo à frente, assentindo para mim com um sorriso aliviado, enquanto decepa a cabeça de um mordedor. Passo os olhos pelo grupo, percebendo algumas pessoas desconhecidas em meio aos nossos. Carol me olha com um sorriso malicioso, atirando em um dos homens.

Eles estavam em cerca de dez, mais preocupados em atacar os mortos que se defender dos vivos.

Estávamos em maior número, mas isso não é o suficiente para me aliviar. Ninguém joga todas as cartas de uma vez, nem o jogador mais inexperiente. Aqueles homens não eram um grupo de dez, eram um grupo de, no mínimo, vinte.

– Temos que correr. – Rick grita para Daryl, quando chegamos perto da formação.

Judith chora alto, me fazendo perder o compasso da respiração. Eu odiava quando ela chorava, era extremamente desesperador.

Carl se esconde a contragosto em meio aos nossos, tentando calar a irmã em seu braço, enquanto o outro segura firmemente uma pistola.

– A Fábrica. – Abraham diz, chegando com Rosita desacordada em seu colo. Meu peito se aperta, e Tyreese se adianta em colocar a mulher em seus ombros. O homem ao lado de Abraham, até então desconhecido, assente para a afirmação do ruivo, e tenta passar confiança a Rick em meio aos tiros.

– Somos confiáveis. – diz, e troco um olhar com Daryl, que volta os olhos azuis desconfiados para o homem.

“Confie na Fábrica”

– Não temos muitas chances, temos que sair daqui rápido. Então é bom que vocês sejam mesmo confiáveis. – Rick intima o homem, e começamos a recuar lentamente.

Os errantes pareciam estar ganhando a guerra, e os homens recuavam cada vez mais em direção à mata. Olho para o arco jogado há alguns metros, e sinto o olhar de Daryl em meu rosto enquanto os nossos começavam a se preparar para correr.

– Não. – Daryl diz, dando um passo em minha direção. Ele estava há uns dez de distância e isso me dava tempo o suficiente para eu correr até o arco e pegá-lo antes que ele me alcançasse.

Olho mais uma vez para o objeto e depois para Daryl. Mais uma olhada em volta e planejo um caminho. Eu poderia passar despercebida pelos homens desesperados e desviar dos errantes sem dificuldades, aliás, era nisso que eu era boa.

– Thea... – Daryl diz, como se me repreendesse, e olho para seu rosto como um pedido de desculpas.

Aquele arco e flecha era minha única chance de ser completamente útil para o grupo, e eu não deixaria isso escapar por minhas mãos. Não agora que estávamos em guerra e as vésperas da neve de inverno.

– Eu corro bem rápido, Daryl Dixon. – digo, com um sorriso amarelo, olhando para os nossos já se distanciando, antes de acelerar na direção contrária.

Meus olhos se prendem no objeto há poucos metros de distância, ao lado do que antes foi seu dono. Engulo em seco, tentando não cair nos pensamentos sobre certo e errado, aquele não era o momento para ficar pensando em quão tênue era a diferença entre os dois, e desvio de um errante enquanto tento me desvencilhar desses pensamentos.

Suas unhas compridas e podres passam a centímetros de meu rosto, e respiro fundo quando continuo a correr em direção ao objeto.

Um dos homens me olha num pedido de ajuda, enquanto um errante deitado sobre ele lhe devora a perna já decepada. Ele abre a boca para pedir por ajuda, mas a dor parece ser tanta que nenhum som, além de um grito esganiçado, saí de sua garganta.

Engulo em seco, desviando os olhos, sem tempo para julgamentos. Meu dedo é rápido no gatilho, e a bala acaba por penetrar certeira o olho direito do rapaz, tirando-lhe o sofrimento.

O errante se vira em minha direção, se levantando num salto desajeitado e se arrastando até mim. Dou um passo para trás, um pouco desnorteada, e bato minhas costas de encontro a um corpo.

Prendo a respiração, puxando o ar com força logo em seguida, torcendo para não ser um dos homens, enquanto me preparava para correr.

Algo se ergue sobre meus ombros, e uma flecha passa raspando em meu rosto. O errante a minha frente caí, o objeto afiado cravado bem no meio de sua cabeça.

– Da próxima vez, me lembre de te deixar bem presa no topo de uma árvore, Thea. – a voz de Daryl soa como um trovão em meu ouvido, e engulo em seco, sentindo sua respiração em meu pescoço.

Olho para trás rapidamente, evitando encarar os olhos azuis que eu sabia estarem cheios de raiva, e volto a correr em direção ao arco e flecha, sem me preocupar com os errantes em meu caminho, que sempre acabavam por cair com flechas no meio da testa.

Alcanço o objeto, que pego nas mãos com um suspiro rápido. Empurro o corpo do homem com o pé, sem muito cuidado e sem parar para pensar no que aquele descaso significava. Enfio uma faca em sua têmpora, para evitar que se transformasse em errante, e desprendo a alijava de seus ombros, colocando-a no meu, sobre a mochila.

Me viro para Daryl, com um sorriso vitorioso no lábios e o arco na mão, mas o sorriso morre ao ver o cara do bastão apontando um fuzil em sua direção.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, que parecem se estender por séculos. Os errantes parecem perceber a tensão, pois acompanham a falta de som e movimento com a inércia de seus corpos.

Daryl me olha sério, e retribuo o olhar, sabendo que ele estava planejando algo. A pistola em minha mão fica cada vez mais pesada, enquanto o arco na outra parece pesar uma tonelada. Sinto minha garganta se fechar, e a voz de Daryl chama minha atenção.

– Corre. – ele grita, e não penso duas vezes antes de obedecê-lo, mas o estampido alto do fuzil disparando me paralisa logo em seguida.

Daryl solta um rosnado, como um animal de grande porte sendo abatido, e o homem com o bastão ri.

– Isso são só as boas-vindas. – diz, e se volta mata a dentro com um sorriso nos lábios. O bastão envolto de arame farpado pingando sangue podre em sua mão esquerda, fazendo minha cabeça rodar.


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Notas finais do capítulo

fo
de
u
fo
deu
fod
eu
daryl
(sou uma mulher de sms subliminar tb)
beijos de luzzzz