Tempestuoso escrita por babsi


Capítulo 29
Capítulo 29: O som do silêncio


Notas iniciais do capítulo

Eu não sou igual aquelas autoras do Nyah! que escrevem mil palavras por segundo, que tem criatividade saindo pelos buracos do ânus e que conseguem fazer uma história por noite. Eu tenho vários bloqueios criativos, eu sou perfeccionista demais. Eu travo. Travo e fico meses longe de vocês, mas não é maldade ou filha da putagem, é porque eu não consigo escrever. Eu simplesmente travo numa parte e fico lá pra sempre!
Eu sei que eu não sou uma autora muito presente, sei que já decepcionei vocês algumas vezes por conta disso, e sei também que não sou muito boa em cumprir minhas proposições, mas uma coisa eu posso dizer com muita certeza: eu NÃO vou abandonar Tempestuoso.



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POV THEA:

Sinto meus olhos se enxerem de lágrimas tão rápido quanto Daryl sufoca um rosnado de dor na garganta. Ele respira fundo, os dentes cerrados tão fortemente que é possível ver os ossos do maxilar travados sob a pele bronzeada pelo sol.

Tudo fica quieto quase que imediatamente após o estampido do fuzil, o silêncio mórbido que tentávamos evitar a todo instante parecendo envolver o ambiente, como se tudo a nossa volta estivesse cercado por uma bolha. O eco do disparo, que parecia ricochetear pela mata, morre lentamente por entre as árvores com um chiado enervante, fazendo um soluço subir por meu peito, sendo reprimido pelos meus lábios fechados numa linha firme.

Sinto meu pulso martelar em meus tímpanos, enquanto tento não desviar os olhos em direção à Daryl. O que ele menos precisava agora era de um escândalo, e eu sabia era bem provável que eu o fizesse.

Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas e me manter firme. O silêncio ainda nos cobria como um manto, tão negro quanto a fumaça que subia ao céu saída do galpão em chamas. Tudo estava envolto pela bolha, até mesmo os errantes, que pareciam paralisados demais com toda aquela confusão.

Meus olhos se desviam sem permissão ao som de um tecido sendo rasgado. Primeiro eles encontram a manga da camiseta xadrez, subindo vagarosamente em direção ao ombro.

Fecho os olhos com força ao encarar o tecido empapado de sangue, mas me recomponho tão rápido quanto, a adrenalina parecendo subir à medida que me dou conta do que estava acontecendo.

O arco parece pesar uma tonelada em minha mão, e o solto sem mesmo perceber. Ele caí com um baque surdo no chão morto e úmido daquele Outono. Engulo em seco, tentando evitar os pensamentos envergonhados, e dou um passo na direção de Daryl.

Um rasgo na horizontal, não um furo. É tudo que consigo ver, e me permito sentir alívio. A bala não tinha penetrado, só passado de raspão.

Balanço a cabeça, olhando para Daryl com seriedade. Eu não sabia o que diabos aquele olhar significava, mas ver nos olhos azuis do homem a minha frente o opaco oblíquo e calculista de sempre parece me acalmar.

Daryl era a estabilidade, e enquanto esta fosse mantida, tudo acabaria bem.

– Raspão. – ele diz simplesmente, a voz tão firme que faz minha cabeça girar. – Preciso estancar essa merda. – completa, tentando um nó desajeitado no tecido.

Puxo o pedaço de pano de sua mão, vendo que a adrenalina parecia começar a fazer efeito, ao passo que os errantes pareciam cada vez menos letárgicos.

– Desculpe. – digo, antes de apertar o nó envolta de seu ombro.

Daryl reprime um rosnado, e isso parece me dilacerar por dentro. Desvio meus olhos para o arco no chão, e a culpa me atinge como um soco na boca do estômago.

Maldito momento que eu havia resolvido agir como uma puta egoísta.

Sinto meus olhos arderem, e logo as lágrimas começariam a nublar minha visão novamente. Engulo a saliva com força, ignorando o olhar de Daryl sobre mim e a vontade de me enfiar em algum buraco no chão.

– Vamos sair daqui. – ele diz, me fazendo assentir sem muito pensar.

Recolhemos as flechas pelo local, conseguindo pegar algumas armas dos mortos a nossos pés. O arco ainda no chão úmido faz minha cabeça doer, e penso seriamente em simplesmente deixá-lo onde está.

“Daryl quase morreu por causa dessa coisa, Thea. Por causa de você. Então nem pense nisso”, minha mente avisa, e assinto sozinha, sem conseguir discordar.

O objeto parece pesar mais que um corpo inerte e sem vida em minha mão, mas não me permito pensar nisso, vendo os errantes começarem a tomar o local.

Eles apareciam tão rápido quanto uma praga, seguindo qualquer som que pudesse indicar uma fonte de comida.

Os mortos se debruçam sobre os corpos frios ao chão, e sinto Daryl me empurrar levemente.

– Acorda, Thea. – diz, apontando com a cabeça impacientemente para frente, como se me chamasse há algum tempo.

Vejo a besta cuidadosamente apoiada no ombro bom, enquanto o braço machucado se mantinha estendido e seus dedos no gatilho, mesmo que o sangue empapasse o torniquete. E não consigo evitar me sentir mal por isso, me sentir culpada por tê-lo arriscado.

O homem ao meu lado toma a dianteira, e é quase impossível decifrar suas reações. Daryl em combate era uma máquina, frio e calculista o suficiente para ignorar uma dor excruciante como o tiro em seu ombro.

Aperto com mais força o arco em minhas mãos, sentindo meu coração se apertar cada vez mais ao passo que sentia o objeto em meus dedos. Balanço a cabeça, ignorando os pensamentos que viriam a seguir. Não era hora para aquilo, definitivamente não era.

Daryl continua a frente, seguindo pelo caminho que grupo a pouco fizera. Passamos em frente ao galpão, que já não passava de um monte de brasas e fumaça negra subindo ao céu.

Meu cenho se franze instantaneamente, enquanto um arrepio percorre minha espinha. Um sussurro baixo, tão baixo que poderia ser somente coisa da minha imaginação. Logo fico em alerta, o medo arrepiando todos os pelos em meu corpo e aguçando os sentidos.

– Você ouviu isso? – pergunto, me virando para Daryl com um pouco de receio.

Talvez ele achasse que eu estivesse louca. Talvez eu realmente estivesse. A única coisa que eu sabia era que eu sentia medo. Medo daquele tiro em seu ombro, medo daqueles homens que todos desconheciam, e medo das palavras que pareciam sussurrar em minha cabeça.

– Não. – responde, dando de ombros. Ele dá um passo pretendendo continuar, mas continuo parada, olhando em volta com aquela sensação horrível em minha nuca.

– Não tem mais nada aqui, Thea. – ele completa após alguns segundos, olhando em volta como para dar ênfase.

As dezenas de corpos inertes pelo chão são a confirmação de suas palavras, e acabo por me sentir estúpida o suficiente para me explicar.

– Parecia alguém pedindo ajuda.

– Estão todos mortos ou condenados, Thea. – aponta com a cabeça para os homens e para os errantes no chão úmido. - Não há nada que possamos fazer.

Somente assinto, sem dizer nenhuma palavra, confusa e culpada demais para dizer algo que não fosse um balbuciar de ideias, que acabaria por se mesclar obscenamente com o mórbido som do silêncio a nossa volta.


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Notas finais do capítulo

REPITO:
Eu não sou igual aquelas autoras do Nyah! que escrevem mil palavras por segundo, que tem criatividade saindo pelos buracos do ânus e que conseguem fazer uma história por noite. Eu tenho vários bloqueios criativos, eu sou perfeccionista demais. Eu travo. Travo e fico meses longe de vocês, mas não é maldade ou filha da putagem, é porque eu não consigo escrever. Eu simplesmente travo numa parte e fico lá pra sempre!
Eu sei que eu não sou uma autora muito presente, sei que já decepcionei vocês algumas vezes por conta disso, e sei também que não sou muito boa em cumprir minhas proposições, mas uma coisa eu posso dizer com muita certeza: eu NÃO vou abandonar Tempestuoso.

EU NÃO VOU ABANDONAR VOCÊS, MEUS FILHOS. Eu amo isso aqui, amo escrever. Mas tem que ser no meu tempo, porque isso é meu prazer. Entendem isso? Eu tento o máximo agradar vocês sempre, e fico muito triste em não fazê-lo, mas tem coisa que não cabe só a mim. (cabe a minha mente e as vezes ela é loca) (sempre)
(eu descobri que se eu travo, eu tenho que apagar e escrever de novo. é um começo pra resolver essa treta, mas é triste pra caralho você escrever umas coisas lindaaaas e ter q apagar... FAZER O Q É A VIDA, NÃO É MSM)
Beijos de luz! (coração)
(o nyah já tá aceitando emoticon de coração)
(ainda estamos numa ditadura?)
(estamos)
(mas vou tentar mesmo assim) (vê se foi)