Múltiplos minutos passam em um piscar de olhos, enquanto eu ficava apenas brincando com o copo em que antes havia limonada fresca em cima do balcão. Há tempos, uma música estranha havia começado a tocar no palco. Sons de gritos eufóricos, palmas e dos acordes de guitarra haviam tomado conta da música ambiente que estava tocando antes. Provavelmente o show daquela banda de Unova havia começado. Alcanço meu Pokégear no bolso e olho o relógio. Marcava oito horas e cinquenta e um minutos. Não tem mais nada de interessante para fazer nesse festival chato, então resolvo voltar para minha casa, também conhecida como ginásio de Goldenrod. Pago á senhora de meia idade que havia me atendido e começo a traçar meu caminho.

Quando estava próxima ao ginásio, lembro-me de um pequeno detalhe que eu havia esquecido nesses minutos de pura comida, bebida e conversa com um estranho: Jasmine. Minha amiga de infância que eu permiti que dormisse na minha casa essa noite, antes de voltar para Olivine no dia seguinte, já que eu também iria viajar no mesmo dia, e eu havia abandonado com um Sinnohniano estranho que me chamou de desmiolada. Imediatamente pego meu Pokégear e procuro-a na lista de contatos. Após alguns segundos, ouço a voz de minha amiga, abafada e arfante do outro lado da linha.

–... Alô? – Parecia impaciente e sem a mínima vontade de atender uma ligação no momento.

– Jasmine? O que houve? Parece até que estava correndo uma maratona. –Comento, devido á respiração cansada de minha amiga do outro lado da chamada.

– Whitney? Oiii! – Tenta disfarçar. Eu tenho absoluta certeza que ouvi um diálogo como: “Quem é, amor?” “É a desmiolada.” vindo do outro lado da linha.

– Eu só queria te avisar que eu já estou voltando pra casa, então se não quiser dormir na calçada é melhor vir logo. – Imponho autoridade.

– Hmm... – Ouço-a ponderar. – Eu me esqueci de te ligar pra avisar, não é? Muito obrigada por sua generosidade, mas não precisa mais me emprestar o quarto, eu vou dormir fora hoje. Amanhã cedo antes de você acordar eu passo aí na sua casa pra pegar minhas coisas e voltar pra Olivine, ok?

Eu já sabia quase que com certeza o que estava havendo aqui. Afinal, não precisava ser nenhum gênio. Pelo visto ela e o namoradinho dela levaram o meu “Podem se pegar á vontade!” muito a sério.

– Hm. Vai dormir onde? – Pergunto, tentando forçar o máximo possível a barra dela. Por que, né? Eu sou Whitney! Eu gosto de pôr lenha da fogueira.

– Bem... Em um hotel! – Responde, meio sem jeito. Eu tento conter minha risada.

– Ok, ok. Divirta-se no seu hotel com seu namoradinho de Sinnoh, não vou perturbar vocês. Boa noite!

Desligo a ligação antes que ela pudesse resmungar ou praguejar as ‘Jasminezisses’ dela, mesmo eu duvidando que ela fosse me dar bronca na presença do namoradinho. Ela quer preservar a imagem de menininha delicada que todos têm dela. Entro no ginásio e subo as escadas que levam ao segundo andar. Entro em meu quarto, fechando a porta e deitando em minha cama, sem sequer preocupar-me em trocar de roupas ou tomar um banho. Muitos devaneios voam em minha mente enquanto o sono não vinha, mas por alguma razão não conseguia retirar Morty de meus pensamentos. Eu sinto que queria conhecer melhor aquele rapaz estranho e sua habilidade de ser rude sem perder sua pose. Após alguns minutos apenas rolando de um lado pro outro na cama, o sono finalmente pareceu tomar conta de meu corpo, e adormeci subitamente como em um desmaio.

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Acordo com a luz do sol emitida da janela em meu rosto. Minha visão turva e cansada permite-me ver a movimentação excessiva das cortinas róseas. Droga, esqueci-me de fechar a janela antes de dormir. Sento-me na cama, espreguiçando-me e esfregando os olhos. Olho longinquamente pela janela, vendo o horizonte. O dia estava ensolarado, com o céu azul e sem sinal de nuvens de chuva nos céus. Suspiro aliviada, afinal, viajar de barco em um dia de chuva não é uma experiência agradável, principalmente depois de aguentar aquele dilúvio de ontem. Levanto-me, andando em direção ao banheiro e me olhando no espelho. Uma múmia estaria com uma aparência melhor do que a minha. Os cabelos que ontem estavam ondulados, agora estavam escorridos e desarrumados, e as roupas completamente desorganizadas. Desvisto-me, entrando debaixo do chuveiro e tomando um banho rápido, escovando os dentes rapidamente em seguida. Ainda tenho que arrumar minhas malas para chegar a tempo de pegar o navio e viajar para Mahogany, então tenho que economizar meu tempo o máximo possível.

Pego no guarda roupas minhas vestimentas casuais de sempre, a blusa branca com detalhes róseos e botões dourados, os shorts curtos azuis e as meias listradas azuis e pretas, completando com o par de tênis brancos e rosas. Penteio meus cabelos no meu estilo clássico, os dois pigtails baixos de sempre. Adoro esse penteado e essas roupas, são bem no estilo menininha, do jeito que eu gosto. Aproximo-me da janela, inspirando a brisa fresca da manhã. Fecho meus olhos, sentindo o aroma de orvalho e lavanda que os ventos traziam das árvores. Olho em volta, observando a bela cidade. Algumas crianças brincavam pelas ruas, e outras formavam uma fila em frente á um carrinho de sorvete.

Meus olhos se arregalam em surpresa quando avisto a face familiar, pálida e suada, os cabelos louros caídos sobre o rosto, sentado em um banco de praça em frente ao ginásio na companhia de um rapaz de cabelos castanhos bem claros, que usava um terno roxo com uma gravata borboleta vermelha e uma capa branca estranha. Conversavam em um modo meio desleixado, como se fossem amigos de longa data, o loiro bebendo algo em uma lata enquanto o moreno tomava um sorvete de morango.

– Morty?!- Não consigo conter minha imensa vontade de gritar por seu nome, checar se era mesmo o ‘grande e poderoso mestre de fantasmas de Ecruteak’ que eu havia conhecido noite passada. O loiro olha em volta, procurando a fonte da voz, deixando escapar um sorriso de canto quando me avista. O rapaz de fios pardos também olha, mas não estampa reação.

– Bom dia, senhorita Akane! – Morty diz, acenando em minha direção. Rapidamente saio do quarto e desço as escadas que levam ao primeiro andar. Saio depressa pela porta automática do ginásio, encontrando com os dois. O loiro se levanta para um cumprimento de mãos comigo, que foi retribuído. - Não sabia que morava em seu ginásio.

– Pois é. – Respondo, meio sem jeito. O moreno parecia me avaliar da cabeça aos pés. – Vivo no segundo andar desde que saí da casa de meus pais.

O loiro sorri sem muita expressão. Pelo visto, ele compartilha do mesmo estilo de vida. Analiso suas vestes, eram um pouco mais soltas do que as que usava ontem á noite: uma camisa preta de manga longa com detalhes violetas próximo ás mãos e calças brancas, com uma grossa faixa roxa na cabeça. Tinha em mãos também um cachecol violeta, que tirara provavelmente devido ao calor que fazia.

– Oh, perdoe-me pela indelicadeza. – Diz, pondo a mão livre no ombro do rapaz, segurando a lata com a outra. – Senhorita, este é Eusine, meu amigo de infância e especialista em perseguir um cão azul por todo lugar feito um idiota.

O rapaz o olha com um pouco de desprezo, provavelmente devido ao comentário do amigo. Morty apenas sorri.

– Deixe-me me apresentar propriamente. – Eusine diz, retirando a mão do loiro de seu ombro, e estendendo a própria mão em minha direção para um cumprimento. – Sou Eusine Minaki, especialista no estudo do trio de cães lendários de Johto. Estou em Goldenrod pois ouvi rumores de que Suicune estava por aqui. Tenho um fascínio especial por essa criatura.

Preencho sua mão com a minha, sorrindo.

– É um prazer conhecê-lo. Meu nome é Whitney, sou a líder do ginásio de Goldenrod e especialista em tipos normais.

– Agora que as apresentações foram feitas, podemos, por favor, sentar novamente? Ainda estou cansado daquela perseguição implacável atrás do Suicune que você me forçou a fazer em vão, Eusine. – Morty pede, pondo novamente a mão no ombro do amigo, que dá de ombros e senta novamente no banco, seguido do loiro. – Ótimo!

O loiro fecha os olhos e deixa um suspiro de cansaço sair de seus lábios, deitando a cabeça para trás e fazendo movimentos circulares com a lata em mãos. Fico apenas observando-o de pé, tentando detectar qual era o liquido presente dentro da lata. Ele parece notar minha situação, levantando a cabeça e se ajeitando no banco.

– Senta aqui, senhorita! – Diz, dando dois tapinhas em um espaço vazio no banco, entre eles dois. Fico meio sem graça, mas sento-me, observando ele e Eusine em visão periférica.

– Não precisa ser tão formal comigo... – Digo, meio envergonhada. No fundo, eu não me incomodava com o ‘apelido’, mas preferia ser chamada apenas de Whitney. O loiro ri e toma mais um gole do liquido na lata.

– O que é isso? – Pergunto. Soou como uma garotinha inocente descobrindo o mundo. Morty me olha nos olhos de relance.

– Cerveja. – Responde, tomando mais um gole.

– Nossa. Sempre que te encontro você está bebendo algum tipo de álcool. – Digo, rindo baixo.

– Normal. – Eusine comenta, o loiro o olha com desdém.

– Fala sério, a gente só se encontrou duas vezes, rosada. Me deixa ser feliz uma vez na vida. – Responde, tomando um ultimo gole da bebida, amassando a lata e jogando em um canto qualquer.

– Mas até o seu próprio melhor amigo te delatou. –Argumento, cruzando os braços, com um sorriso de canto no rosto e as sobrancelhas erguidas.

– Esse daí é um filho da puta, não dê atenção pra o que ele fala. – Diz, brincando. Dou uma risada silenciosa. Eusine o olha de modo gélido.

– E você ainda se pergunta por que Ho-Oh não aparece pra você e te oferece seus dotes. Tão otário que chega a ser doloroso! – Responde, cruzando os braços. Morty apenas ignora, rindo.