Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 19
Capítulo 19 – Mirkwood




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Seguiram a canção e fizeram eu melhor para partir antes do amanhecer. Apesar de saberem que isso era o previsto, tinham esperança de que Gandalf mudasse de opinião e não se separasse deles nesse momento. Apesar de ter se assegurado de que mandariam os pôneis de volta para Beorn junto com o cavalo que a elfa estava cavalgando, ele mesmo não se preocupou em deixar o seu próprio cavalo voltar com eles. Thorin estava ressentido de ter que mandar todos os pôneis embora sendo que tinham uma carga pesada para carregar enquanto Gandalf estava ficando com o cavalo emprestado por Beorn para seu próprio uso.

“Thorin, meu amigo, eu jurei que devolveria o cavalo para ele, e assim farei, no devido tempo. Agora um mago está com pressa, e ele sabe disso. Boa viagem! Não esqueçam de confiar nos olhos e ouvidos de Bilbo, e em mais do que isso!”

E assim o homem vestido de cinza foi embora, enquanto a Companhia terminava de encher seus cantis no riacho perto da entrada da floresta e reorganizar os suprimentos proporcionalmente de acordo com a capacidade de cada um.

“Lembra, Tia, da primeira vez que fomos fazer trilha com você?”

A elfa riu.

“Com certeza! Vocês reclamaram do peso das mochilas do começo ao fim, eu estava à beira de prometer nunca mais levar vocês para uma trilha!”

“E agora estamos aqui.”

“É, estamos aqui.”

As três mulheres se abraçaram apertado, como se soubesse que estavam para trilhar um caminho que as levaria para além de qualquer coisa que já tivessem sonhado ou temido.

Mirkwood não era nada divertido. Assim que ficaram sob a sombra de suas folhas, um tipo de ‘sensação de ser observado e de algo ser esperado’, como Bilbo descreveu, caiu sobre eles. Estava totalmente escuro, quase como se fosse noite, e conforme adentravam mais a luz em sua orla sumia como a lembrança de um sonho.

Nenhum deles tinha a menor vontade de cantar, como costumavam fazer especialmente quando em tepor atribulados. As mochilas pesadas eram um caso de dupla aproximação-rejeição, porque estavam pesadas de comida, mas a comida tinha que ser economizada tanto quanto se atrevessem, então elas ficariam mais leves aos poucos conforme o consumo, mas quando ficassem mais leves significaria que a comida estava acabando.

Ellen tentou esquecer a caminhada tediosa calculando quanto teriam que andar com base do que Gandalf havia dito sobre dar a volta na floresta ao invés de atravessá-la. Lily tinha tido aulas de geometria o suficiente para que pudessem discutir o assunto.

“Veja, se Gandalf disse para o Bilbo que haveria trezentos quilômetros para o norte e o dobro disso para o sul para circular a floresta, e sabemos pelo nosso mapa que o formato dessa floresta é quase circular na parte norte, então temos um perímetro semicircular de novecentos quilômetros.”

“Isso, e precisamos atravessar o diâmetro, ou seja, duas vezes o raio desse círculo imaginário.”

“Sendo que o perímetro é duas vezes pi vezes r, então podemos mudar a fórmula para raio igual a perímetro dividido por dois pi, certo?”

“Claro! Então temos duas vezes novecentos quilômetros dividido por seis ponto três, para simplificar.

“Certo, menos de trezentos quilômetros, então? Podemos chutar uns duzentos e noventa quilômetros, talvez?”

“Hmm, parece bom para mim. À taxa de 20 quilômetros por dia ou talvez um pouco menos, devemos conseguir atravessar em uns quinze ou dezesseis dias, com sorte.”

“Que conversa esdrúxula é essa?”

As duas riram do questionamento indignado do Fíli.

“Só fazendo umas contas para passar o tempo, por quê?”

“Parece que estão falando numa língua quase completamente estrangeira.”

“Hmm, mais fácil que Khuzdul, aposto.”

“Você não tem nada para apostar, eu sei que suas latas de atum acabaram!” Ele provocou.

“Hah, mas você não sabe o que eu descobri! Tia, e nem você! Você ainda está com a sua carteira?”

“Hmm, acho que sim, minha carteira de motorista, meus cartões de crédito, esse tipo de coisa eu sempre mantenho junto ao corpo quando faço uma trilha como essa que começamos faz uma era, então eu não a perdi no covil dos goblins, estão bem aqui na minha cintura, mas como eu não tive necessidade não me preocupei em olhar.”

“Então se dê esse tempo e dê uma olhada, você vai se surpreender.”

A elfa apalpou a própria cintura e puxou uma carteira, que agora mais parecia um saquinho de couro, então a abriu enquanto andavam. Um assobio agudo saiu de seus lábios. Lily sorria para si mesma, satisfeita por ter sido ela a descobrir aquilo. O Fíli curioso estava oa lado delas e também deu uma olhada.

“Uau, o que você tem aí?”

Ellen pegou algumas moedas de ouro da carteira para mostrar para ele e para Lily.

“Parece que todos os limites dos meus cartões de crédito se transformaram em dinheiro!”

Lily riu.

“Eu sabia que você ia adorar saber! Eu só tinha um pouco de dinheiro comigo, então eu só tenho um pouco de dinheiro da Terra-média, mas eu não imaginava que os seus cartões de crédito fossem mudar também.” Ela se voltou para o anão loiro ao seu lado. “Quanto você acha que isso significa em termos do dinheiro que vocês usam?”

Ellen entregou a bolsinha de couro para Fíli para que ele a avaliasse. Ele a sopesou nas mão por algum tempo, olhou dentro para confirmar que a maior parte do conteúdo era ouro, e a devolveu para a elfa.

“Claro que em termos do tesouro de Erebor isso não é mais que uma migalha, mas em termos de, hmm, vamos dizer, pessoas comuns vivendo vidas comuns, dentro dessa bolsa tem o suficiente para comprar, hmm, um monte de coisas.”

“Quantos ‘montes’?”

A elfa perguntou enquanto guardava a bolsa de volta em seu lugar escondido na cintura.

“Não o suficiente para comprar um casa, mas o suficiente para manter uma casa muito bem equipada e abastecida por um ano inteiro, mais uma boa montaria no seus estábulo.”

“Hmm, parece bom. Onde é a Victoria’s Secret mais próxima na Terra-média?”

“A o que mais próxima?”

“Esqueça! Tudo que sei é que agora eu tenho algo para apostar com você se eu quiser!”

E esse foi o único momento feliz em toda a travessia de Mirkwood. Não demorou para que odiassem a floresta como se fosse uma criatura de coração mau. Os dias eram escuros como noites, e as noites eram escuras como piche. Na primeira noite tentaram acender uma fogueira, mas isso atraiu mariposas grandes como pássaros pequenos e morcegos perplexos, e ficou totalmente impossível dormir. Então abriram mão de fogueiras e só se aninharam juntos para se manterem aquecidos, fazendo turnos de vigília em duplas para que um pudesse olhar para além das costas do outro, como se fosse possível ver o que quer que fosse. Digamos, o que quer que fosse a não ser olhos. Havia centenas de olhos, olhos grandes, olhos de inseto, olhos de todo tipo, olhos a granel, olhos por atacado.

Estavam racionando os suprimentos, mas ficaram sem água rápido demais. Andar era um trabalho seco, e os cálculos de Lily e Ellen foram baseados numa linha reta, ou, como os anões costumavam dizer, ‘como o corvo voa’, e não ‘como o lobo corre’, o que significava um caminho real com curvas e meandros. Além disso, os pães baseados em mel feitos tanto por Beorn como pelas mulheres aumentavam a sede, apesar de que lembas levava mais nozes do que mel.

“Eu não entendo. Galadriel jurou que uma das lembas dela seria suficiente para um dia inteiro de trilha. Fizemos quantas?”

“Dez para cada um de nós, e tinha o pão do Beorn também, mais mel e frutas secas. Ou estamos gastando mais tempo do que o esperado para atravessar a floresta ou estamos comendo mais do que deveríamos; mas então, as necessidades nutricionais de um anão podem ser diferentes das de um elfo; como todo mundo está passando fome nos últimos dias, acho que estamos levando mais tempo do que o esperado.”

“Estamos todos com sede, também. Quase consigo ouvir o burburinho de água, como se tivesse um rio aqui perto.”

“Na verdade, havia um rio alí perto, mas não um que pudessem se alegrar em encontrar. Era o rio de águas escuras que Beorn havia alertado que não bebessem dele nem nadassem nele. Se não estivessem tão aflitos pela falta de comida, água e luz, teriam lembrado que ele disse que esse rio era quase no final da floresta, e isso teria aliviado seus corações. Do jeito que era, o rio era só um obstáculo com que tinham que lidar. Bilbo e Iris foram os que se saíram com boas notícias a partir do nada.

“O rio não é muito largo, acho.”

“Vejo alguma coisa na outra margem.”

Ellen tentou ver, também, mas estava com o espírito tão abalado desde há alguns dias que estava afetando suas habilidades físicas assim como sua mente. A escuridão era um veneno pior para ela do que o quer que houvesse naquela ponta de flecha de orc. No seu mundo anterior ela sofria de depressão sazonal, o que se resolvia com antidepressivos leves durante alguns meses do ano, mas ela não havia nem pensado em levar aquele remédio para um evento de LARP e uma sema perto do solstício de verão. Foi ficando mais quieta a cada dia, seus sorrisos ficando mais esparsos e mais curtos, sua energia decaindo. Kíli não sabia o que fazer, temia que fosse alguma coisa relacionada à sua última discussão antes de entrar na floresta, ao que ela jurou que estava tudo bem, ela só sentia falta de luz. Alguns dias antes haviam conversado sobre isso.

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“Suas sobrinhas têm nomes de flores, mas é você que está murchando pela falta de luz, como uma flor delicada.”

A mão de Kíli traçou seu braço, trazendo para perto de si tanto quanto ousava.

“Desculpa, eu não devia ser tão fraca.”

“Não é fraqueza ser quem você é.” Ele ficou em silêncio por alguns momentos, abraçando-a de encontro ao peito, tentando protege-la da friagem da noite. “O que significa?”

“O quê?”

“O nome de quem você é. O que significa ‘Ellen’? Veja, eu sei muitas vezes as pessoas dão nomes a seus filhos de algo que é significativo para elas; eu e meu irmão temos nomes baseados no que nosso pai trabalhava.”

“Você contou que ele morreu em batalha, então, ele era um guerreiro. O que os seus nomes significam?”

Kíli baixou os olhos, olhando para as mãos.

“Ele era um guerreiro do mesmo jeito que todo anão tem que ser guerreiro nessa era de tristeza, infelizmente. Mas esse não era o trabalho principal dele. Ele era um latoeiro.”

Ellen pensou um pouco.

“Um artista que faz coisas de metal?”

“Sim. Não um ferreiro que forja armas, como o Tio. Assim, nossos nomes são relacionados ao trabalho dele.”

“E o que significam?”

O anão de cabelos escuros riu para si mesmo.

“Fíli significa uma grosa, uma lima. E o meu nome significa uma cunha, ou uma plaina.”

A elfa riu.

“Combina. Mesmo.”

“E o seu nome? O que é uma ‘Ellen’?”

A elfa ajuntou suas memórias da Terra-média e de seu mundo anterior, as que ela ainda tinha.

“Se eu pensar no meu nome como elfa, ‘Elen’ significa estrela, porque foi a primeira palavra que os primeiros elfos disseram quando despertaram nas margens do lago Cuiviénen. Também significa ‘olhe!’ na língua antiga, pelo mesmo motivo.”

“Você com certeza é alguém para ser olhada.” Ele sussurrou, e o sorriso maroto que ela adivinhava pelo tom da voz dele fez o dia dela.

“Você é bonzinho demais...” Ele se aconchegou ao pescoço dela, tirando proveito da escuridão em volta.

“E na sua própria língua, o que o seu nome significa? Por que foi escolhido para você?”
“Hmm, não é todo mundo que se preocupa com o significado real do nome de uma criança, lá no meu mundo antigo; as pessoas escolhem nomes pela tradição da família, costumes da comunidade, ou simplesmente por gostar do som do nome. Eu não sei qual foi o motivo para o meu nome ter disso escolhido, ou para o nome do meu irmão ter sido escolhido, por falar nisso. Mas eu sei o significado deles, pelo menos.”

“E quais seriam, se me permite saber?”

“Bom, o nome do meu irmão é Wolfram, que significa ‘tungstênio’; acho que foi escolhido para ele ser resiliente como esse metal é.” Ellen baixou o olhar por um momento. “Nossos pais sabiam que ele ia ter que ser resiliente, acho.”

Ele assentiu, pensando em qual seria a história de seu cunhado, mas sem querer perturbar sua amada já deprimida.

“Às vezes nossos nomes mencionam algum tipo de metal ou de pedra; mesmo tendo nascido fora dos círculos de Arda, o nome do seu irmão combina com os costumes e tradições Khazad.” Ele ficou em silêncio por algum tempo. “Eu gostaria de conhecer o seu irmão pessoalmente; ele deve ser um bom camarada. E o que significaria ‘Ellen’?”

A escuridão em volta a fechou nos braços protetores dele enquanto ela sussurrava de forma a não perturbar o descanso de ninguém.

“Ouvi dizer que significa algo como ‘uma tocha na escuridão’. Lamento que eu me sinta muito mais necessitada de um tocha do que em condição de ser uma tocha para quem quer que seja, nesse momento.”

Kíli apertou o abraço, tendo pelo menos a friagem da noite como desculpa.

“Você já iluminou muito mais do que pode imaginar, acredite em mim.” Correu os dedos pelo cabelo dela. “Agora durma. Você diz que está bem, mas acho que não se recuperou direito do sangramento.”

“Você me superprotege.”

“Tenho certeza de que não estou fazendo nada diferente do que você mesma faria para mim se nossos lugares estivessem trocados.”

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Agora ela se esforçava para ver a outra margem através da luz fraca e não conseguia ver mais do que Bilbo e Iris podiam, apesar de isso ser mais do que os anões conseguiam.

“Pode ser um bote de algum tipo?”

“Sim, parece ser. Se pudéssemos puxá-lo...”

“Alguém tem um gancho? Podíamos jogar um gancho com uma corda amarrada e puxar o bote.”

Não tinham muito equipamento, dado que a maior parte dele havia sido perdida no covil dos goblins, mas alguém produziu um gancho que Beorn havia providenciado junto com outras ferramentas. Dwalin tentou fazer o gancho aterrissar dentro do bote, mas, o que ele tinha de força, carecia de precisão, ainda mais porque não sabia para onde mirar. Fíli tinha a melhor vista entre os anões e foi quem conseguiu acertar.

Os anões puxaram a corda, mas o bote estava realmente amarrado na margem do rio, e veio só até a metade do caminho. Então puxaram com mais força e a corda que o amarrava arrebentou, fazendo o bote vir rápido até a margem deles.

“Não temos remos, o que vamos fazer?”

“Kíli, amarre a corda numa flecha e atire na outra margem.” Thorin distribuía ordens. “Fíli, amarre a corda naquele mourão para termos um corrimão.” Era tudo o que restava de uma velha ponte que deveria estar lá. “O bote é pequeno, vamos atravessar em duplas, para ser mais seguro. Vou primeiro com os pequenos.”

E assim fizeram. Kíli teve que atirar três vezes até que a flecha se fixasse com firmeza num tronco de árvore, e então começaram a travessia. Era uma tortura estar tão perto da água e não se atrever a tomar um gole, mas não havia nada a ser feito. Pularam para fora do bote e Thorin amarrou a corda com firmeza ao mourão do mesmo jeito que Fíli havia feito do outro lado, enquanto os outros puxavam o bote de volta. Dori e Ori vieram em seguida, e Ori amarrou a corda na proa enquanto o anão de cabelos prateados os puxava ao longo do corrimão de corda.

As coisas pareciam estar indo bem até que o último par estava para atravessar. Estavam no meio do rio quando o som de cascos foi ouvido, e um pequeno rebanho de cervos veio pisoteando pelo caminho, quase derrubando a Companhia. Lily tentou atirar num deles, mas se ela tinha acertado era impossível de ver, porque ele pulou sobre o rio como os outros. Então ouviram um grito desesperado vindo da margem do rio.

“Me ajudem! Bombur caiu no rio!”


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