Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 18
Capítulo 18 – Ciúme




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A Companhia teve um dia preguiçoso, comendo e descansando à vontade; o rio tinha bons trechos para nadar e tomar um bom banho, e outros bons trechos para pescar, e alguns deles pescaram, garantindo a carne que os anões adoravam tanto para seu jantar. Gandalf voltou logo antes do pôr do sol, como se para se resguardar da encrenca de desobedecer as ordens de Beorn. Apesar de gratos pelo dia de descanso, estavam preocupados sobre sua real condição naquela casa, e Thorin questionou Gandalf tanto sobre seu anfitrião como sobre onde ele havia estado durante o dia todo.

“Uma pergunta de cada vez, bom amigo! E vou responder a segunda primeiro.”

Então ele explicou que havia seguido pegadas de urso de volta até o Carrock e que lá havia mais do que apenas um conjunto de patas, significando que havia vários ursos reunidos; depois disso, as pegadas levavam de volta aos pinheiros queimados dos quais eles haviam estado pendurados alguns dias antes, e depois ele não podia mais ir adiante sem perder o horário de chegar de volta à casa de Beorn antes do anoitecer.

“E penso que isso responde à primeira questão, também.”

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No dia seguinte foram despertados pelo próprio Beorn, amistoso e de bom humor.

“Então, ainda estão todos aqui, heim? Não foram comidos por wargs, mortos por goblins nem esmagados por ursões maus, heim?” Bilbo olhou para ele como se temendo que o homem pudesse ler seus pensamentos perturbados. O homem grande voltou-se para Iris, que estava meio que escondida atrás de Bilbo. “E essa pequenina aqui não é nenhum filhote, heim?” Riu alto. “Abrir a garganta do Grande Goblin com um corte é coisa de gente grande, não acha?”

Iris ficou tão vermelha como seu cabelo pelo elogio, e todos seguiram seu anfitrião até a mesa para tomarem seu desjejum com ele. Beorn estava num bom humor extremo, e antes que pudessem perguntar por que estava tão amistoso para com eles, ele mesmo contou.

“Quando vi a clareira queimada no bosque de pinheiros soube que pelo menos alguma coisa do que contaram era verdade. Mas então tive a sorte de achar um orc vagando com o que tinha restado do seu warg, e fiz com que cantasse o que quer que houvesse para ser cantado, se é que me entendem.”

Beorn encheu a boca com pão de mel e contou que descobriu que goblins e orcs estavam juntos na caçada à Companhia dos anões, e que pretendiam dar batida em tudo à volta em sua procura, assim que se reunissem.

“Agora que sei com certeza que o que me disseram é verdade, estou pronto para lhes oferecer toda a ajuda que puder. Podem usar os pôneis para os pequenos e os cavalos para os grandes até chegar à orla de Mirkwood, e suprimentos para alimentá-los por semanas, se forem cuidadosos. Bolsas de água grande vão ajudar, também.”

Deixou claro que dentro da floresta teriam pouca ou nenhuma chance de conseguir água ou comida, e os alertou sobre um rio de águas escuras quase no fim da trilha a ser tomada.

“Não bebam nem se banhem nesse rio, as águas são encantadas e podem fazê-los dormir profundamente ou cair no esquecimento. E nunca, prestem atenção, nunca, saiam da trilha.”

Começaram imediatamente a preparar coisas para partirem assim que possível, mesmo que fosse levar algumas horas para assar alguns suprimentos necessários. As mulheres lhe pediram permissão para usar a cozinha para fazer uma receita de pão de viagem que haviam aprendido em Imladris, e ele permitiu que pegassem o que quer que precisassem em sua despensa.

“Espero lembrar tudo o que a Senhora Galadriel explicou sobre fazer esse pão lembas do qual ela nos falou.”

“Não deve ser muito difícil, quando se tem meia dúzia de anões quebrando as nozes. Eu gostei dessas que o Beorn tem aqui, parecem castanhas do pará.”

“Hmm, castanha do Pará torrada seria perfeito!”

“E o resto das coisas não é tão difícil de conseguir, aveia, mel, farinha, manteiga, coisas que se acha em qualquer cozinha da Terra-média.”

“Mas a receita perfeita só existe na floresta de folhas douradas lá no sul!”

As três riram entre si enquanto preparavam a massa para receber as nozes que Kíli, Fíli, Bombur, Ori, Dori e Nori estavam quebrando e picando. Apesar de preocupadas com uma possível caçada orc e quanto à floresta ameaçadora que tinham que atravessar, seria bom estar no lombo de cavalos de novo, ao invés de sobre os próprios pés. Para quem havia andado à cavalo pela primeira vez nem bem um mês atrás, era uma mudança e tanto.

Beron deu arcos e aljavas de flechas novos para Kíli e Lily, mesmo acreditanto que não encontrariam nada que valesse a pensa atirar na floresta. Mas, em todo caso... Logo após a refeição do meio dia despediram-se de Beorn, de coração pesado pelo estrada escura que teriam que tomar quatro ou cinco dias depois adiante.

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A Companhia seguiu num bom passo, galopando sempre que o terreno era plano, para ganhar tempo, e chegaram à beira da floresta em quatro dias. Acamparam para a noite para garantir pelo menos uma boa noite de sono antes de entrar naquele lugar escuro, e Kíli foi com Ellen coletar mais lenha para a fogueira durar a noite toda. Ele estava falando bastante sobre Dís, talvez por saudade de casa, talvez prevendo como seria quando se reunissem de novo em seu lar reconquistado, Erebor.

“Acho que vou gostar de conhecer a sua mãe. Quando você fala de Dís é quase como se eu já a conhecesse. Ela me lembra a minha mãe. Ela sempre fazia eu e meu irmão fazermos as coisas que tinham que ser feitas, não importa como. Não lamento.”

“Tenho certeza de que ela vai gostar de você! Ela não gosta muito de elfos, afinal é irmã de Thorin, mas como você é Irmãzinha de Balin e Dwalin, é capaz de ela ter mais boa vontade.”

“Espero que sim! Não costumo ter sorte com sogras.”

“O que eu quer dizer com isso?”

Ela não tinha percebido a aspereza na voz dele.

“Eh, a mãe do companheiro de alguém?”

“Eu sei o que é uma sogra!” Ele estava zangado agora. “O que você quer dizer com não ter sorte com elas?”

Ela fechou os olhos e respirou fundo. “Culturas diferentes, não esqueça a diferença entre culturas!” Tratou de lembrar-se.

“Kíli, o que eu quero dizer é outra vida, em outro mundo. Por favor.”

“Você tinha um companheiro, lá?”

Kíli estava obviamente magoado. Ela ia ter que explicar.

“Sim, eu tinha alguém comigo, muito tempo atrás. Por favor, lembre-se que eu era humana então, certo? Ele morreu faz tempo, estou sozinha desde então. Ele...”

“Eu não quero saber sobre o seu ‘companheiro’.” Ele olhou para o outro lado, bufando.

“Kíli, escuta aqui, eu posso nunca mais mencionar essa pessoa para você ou para qualquer outra pessoa, se for a sua vontade, porque estou vendo que isso te machuca. Mas eu não posso mudar o passado e as coisas que aconteceram comigo, e com o meu corpo, se entende o que quero dizer.”

Ele fechou os olhos, mordendo os lábios e cerrando as mãos. Ela tocou o rosto dele gentilmente.

“Kíli, olha para mim.” Ele olhou para o outro lado. “Eu entendo que eu posso não ser o que esperava de alguém que se atrevesse a ficar do seu lado; eu sei que o seu povo tem costumes que... não são mais costumeiros, comuns, entre o meu povo. Mas isso não muda o que eu sinto por você, nem muda o que eu sou. Você veio até mim porque eu sou quem eu sou, não é?” Ela não esperou por resposta. “Eu sou quem eu sou dentro de mim, mesmo se tenho a forma de uma elfa no seu mundo, e isso não impediu você de vir até mim!”

“Você... se deitou... com um homem...”

Ellen mordeu a língua para não dizer que pelo menos não tinha sido com outra mulher, e raciocinou.

“Agora escuta aqui, e você, você nunca beijou ninguém? Por acaso as suas mãos se comportam como se nunca tivessem acariciado um corpo feminino?”

Kíli foi pego de surpresa.

“Não, mas, veja, isso é totalmente dif...”

“Não, isso não é totalmente diferente! E quer saber o que mais?” Agora era a vez dela ficar brava. “O Senhor Elrond calculou a minha idade de elfa em pelo menos trezentos e trinta anos. Isso significa que estou há mais de trezentos anos sem um único beijo antes dos seus. E você, pode dizer a mesma coisa?”

“Ei, essa comparação não é justa!”

“E comparar mundos diferentes é justo?”

“Eu não me importo com mundos, eu me importo com você!” Ele ainda estaza zangado.

“Então, por favor, se importe comigo e com você, e com o nosso futuro, e não com o passado e uma pessoa morta, pelo amor de Durin!”

Houve um silêncio aturdido por algum tempo.

“Você me pediu ‘pelo amor de Durin’?”

“Sim.”

“Por quê?”

Ela se acalmou um pouco.

“Kíli, se for para eu ser uma com você, eu tenho que uma com o seu povo; eu sou ou não sou Irmãzinha de Balin e Dwalin? Isso não significa nada? Se seu povo é o povo de Durin, é Durin que eu vou considerar como pai do meu povo, e Mahal como Criador, mesmo que seja sangue élfico que corre nas minhas veias e que seja Varda quem eu saúdo como Vali. Eu posso ser uma elfa, e ter sido humana, mas estou tentando ser a melhor anã que posso.”

“Você está mesmo fazendo isso por mim?”

“Estou. Mas às vezes parece que não é o suficiente.”

Os olhos dela mostravam sua mágoa.

“Eu...” Ele se sentia envergonhado por seu egoísmo e preconceito agora, mesmo que as coisas ainda fosse completamente diferentes na opinião dele. “eu acho que minha mãe vai gostar de você quando ela tiver a oportunidade de te conhecer.” Ele disse baixinho, correndo os dedos pelo cabelo dela, tocando de leve as orelhas pontudas, e então alcançando o rosto dela, traçando a linha do queixo com seus dedos ásperos. “Eu não devia te julgar.” Ela assentiu de leve, concordando. “Você está aqui agora, minha elfa incomum, e você escolheu a mim, e a ninguém mais.”

Kíli abraçou Ellen com força e a beijou avidamente, como se para compensar os trezentos anos que ela tinha ficado sozinha.

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Um pouco depois de terminarem de comer e ajuntar as coisas para poder começar cedo na manhã seguinte, sentaram-se para a costumeira hora de fumar e cantar antes de dormir. Lily deu um jeito de afastar Iris do Bilbo, ao qual ela parecia grudada já fazia algum tempo, e tentou ter uma conversa com a irmã.

“Iris, você tem certeza do que está fazendo? Quero dizer, você parece estar dando muita esperança para o nosso amigo hobbit, mas, e quando a gente chegar em Erebor e encontrar o Portal, e aí?”

“Nah, o Portal é uma lenda, não ouviu o seu precioso Thorin dizendo isso? Por que eu deveria me preocupar? Não estamos indo para mundo nenhum além do que estamos, pode acreditar.”

Lily respirou fundo.

“Iris, isso é o que você quer acreditar. Mas o problema é que você está pensando só em si mesma e não nos sentimentos do Bilbo. O que vai acontecer quando você voltar para o nosso mundo?”

“E por que você acha que eu preciso voltar para o nosso mundo sendo que você e a Tia vão ficar? Ou você acha que sou cega? Eu sou é humilde demais, enquanto você está se arranjando um rei a Tia pegando um príncipe, eu só estou cobiçando um simples hobbit dono-de-casa, qual o problema?”

A anã balançou a cabeça.

“Pela idade dele, ele podia quase ser seu pai, Iris!”

“E o quanto Thorin é mais velho que você? “Iris replicou. “Os sobrinhos dele são mais velhos que você, você não pode dizer nada!”

Lily suspirou.

“Você está certa, eu não posso. Mas eu já sou adulta, mesmo se jovem, e no nosso mundo eu já vivia de acordo com as minhas próprias decisões, e arcava com as consequências delas, há algum tempo. Eu terminei o ensino médio, que você acabou de entrar, estou na faculdade, eu trabalho e vivo do meu dinheiro faz anos, e mesmo assim eu respeito o Pai e me reporto a ele para quase tudo. Você ainda é uma adolescente, você muda de opinião como troca de calcinha, como é que você pode tomar uma decisão tão definitiva como essa, de ficar aqui para sempre? Presta atenção, eu quero dizer para sempre. Sem volta. Sem matar a saudade, sem retorno. Tem certeza de que está pronta para isso? Foi uma decisão difícil para mim, é mesmo tão fácil para você ou você ainda não pensou de verdade em todas as consequências?”

A garota hobbit ficou quieta. Era óbvio que ela não tinha pensado.

“Eu... Eu preciso pensar nisso.” Iris olhou para as próprias mãos. “Vou para a cama. Quero dizer, para o saco de dormir. Boa noite.”


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