Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 20
Capítulo 20 – Uma Ajuda Inesperada




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Quando os cervos começaram a pular por sobre o rio, os irmãos ainda foram capazes de se puxar até a margem, mas o último cervo, no qual Lily atirou, entrou em pânico e pulou meio que para o lado do caminho, Bombur se assustou e se desequilibrou. Bofur foi incapaz de equilibrar-se a si mesmo e também seu irmão, e quase caiu no rio também. Felizmente o anão de barba vermelha estava perto da margem, e foi, relativamente, fácil pesca-lo para fora. Ele não se afogou, visto que toda sua gordura fez com que flutuasse, mas estava pregado no sono quando conseguiram colocá-lo no chão seco.

“O que vamos fazer agora?” Bofur gritou deseperado. “Acorda, irmão, acorda!” Ele sacudiu Bombur, estapeou seu rosto, e nada.

“É tudo minha culpa! Se eu não tivesse atirado no cervo ele não teria pulado esquisito e desequilibrado vocês dois!”

Lily estava quase chorando pelo sentimento de culpa.

“Por que você atirou, em primeiro lugar?”

Thorin não estava sendo gentil com ela, preocupado como estava e agora com mais um problema com que lidar.

“Desculpa, Thorin, eu só estava com fome! Achei que tinha tanta carne que todos teríamos uma refeição decente, eu não queria fazer nada errado!”

Ela fechou os olhos, mas não caiu nenhuma lágrima deles, já que todos estavam desidratados à essa altura. Ele balançou a cabeça, tentando se recompor.

“Você teve boa intenção, mas precisamos pensar com clareza! Não desperdice mais nenhuma flecha a não ser que eu lhe diga para usar.” Ela assentiu. Ele se voltou para a Companhia. “O que está feito, está feito. Vamos carregar Bombur em turnos, nenhum de nós será deixado para trás, nunca.”

E dizendo isso, ele mesmo pegou o braço esquerdo de Bombur e sinalizou para Fíli e Kíli o ajudarem, assim como Bofur.

Se a trilha através de Mirkwood estava sendo desagradável arte então, dali por diante se tornou terrível. Sede, fome, preocupação, e agora uma carga pesada. Os carregadores trocavam de lugar de vez em quando, mas ninguém estava em condição de aguentar muito tempo. Thorin mandou que parassem quando o pouco de luz que tinham começou a se apagar. Deveriam pelo menos descansar, já que não havia nem água nem comida, e na escuridão completa da noite poderiam tropeçar para fora da trilha e se perder para sempre. Lily estava macambúzia, de fome e de culpa, quando Iris chegou perto dela.

“Ei, Mana, se anima!”

“Como é que eu posso em animar, Iris? O Thorin ainda está bravo comigo, o Bombur ainda está pregado no sono, e todos nós ainda estamos com fome.”

“Certo. Então, hora da sobremesa.”

“O quê?”

“Sobremesa! Onde é que você escondeu o chocolate? Chocolate sempre te anima, talvez funcione para os outros também.”

“Mahal, eu esqueci o chocolate!”

Lily tirou o casaco e descosturou o forro com o canivete. Iris achou engraçado como Lily estava usando palavras em Khuzdul como se tivesse nascido falando essa língua.

“Quando a Titia disse para esconder o chocolate, pensei que se estivesse fácil de pegar eu cairia em tentação e comeria antes da hora certa. Se tem uma hora certa para chocolate, é agora!”

A garota anã pegou punhados de barras de chocolare. Lily era uma chocólatra assumida e havia trazido chocolate para ela e sua família o suficiente para durar o acampamento de LARP inteiro, com uma boa margem de segurança. Ela e a irmã começaram a distribuí-los para todos.

“O que é isso?” Perguntou o suspeitoso Dwalin.”

“Comida de emergência. Não o suficiente para matar a fome, mas vai nos dar forças para aguentar um pouco mais.” Lily estendeu as duas últimas barras para Bofur e leh falou baixinho. “Fique com uma para quando o seu irmão acordar.”

“Obrigado. E,” Ele tocou as costas da mao dela com os dedos.” Eu sei que não foi sua culpa, Senhora Lily.”

Ela baixou o olhar.

“Eu lamento do mesmo jeito. Espero que ele acorde logo.”

“Todos nós esperamos.”

A jovem anã estava cansada e sentou-se ao lado de Bofur, mastigando seu chocolate sem sentir o sabor. Thorin não estava exatamente evitando-a, ams depois da bronco quando Bombur caiu no rio ele entrou no modo ‘ataque de silêncio’ no qual ela não se atrevia a tentar alcançar.

“Eu sei que é do seu costume, mas não precisa me chamar de senhora, Bofur. Somos amigo há quanto tempo? Meses? Se bem que parece um vida inteira. Você não precisa ser tã formal.”

Ele deu uma risadinha.

“Não é simples formalidade, garotinha. Você sabe, entre nosso povo dizemos que em qualquer relacionamento aquele que pode, manda, e o que tem bom senso, obedece. Desde que estou na Companhia de Thorin Escudo-de-Carvalho descobri que tenho muito bom senso.”

Lily riu.

“O que quer dizer?”

“Todo mundo viu o bonito trabalho na bainha da sua espada. Thorin não permitiria que seu nó pessoal fosse lavrado na bainha de alguém que não merecesse uma abordagem respeitosa de seus seguidores. Então, eu tenho o bom senso de te tratar como Senhora de vez em quando, quando acho adequado, porque isso demonstra respeito não apenas para com você, mas também para com nosso rei.”

Ela sentiu-se corando. A cultura anã era complexa, e ela estava tendo vislumbres dela que faziam com que se sentisse... amada.

“Então, se eu entendi direito, você me chama de senhora porque Thorin acredita que eu seja adequada para estar ao lado dele?”

“Não.” Bofur balançou a cabeça, sorrindo. “Eu e os rapazes te chamamos de senhora porque nós concordamos com Thorin nesse assunto. E, se alguma vez na vida conheci alguém capaz de dar conta do temperamento dele, essa pessoa é você.”

Lily ficou em silêncio durante um tempo, pensando. Bofur era um bom amigo, e quase tão aprontão quanto o pequeno bando que congregava a família dela, Bilbo e os sobrinhos de Thorin. Mas ele era mais velho que os rapazes, e conhecia Thorin a mais tempo.

“Ele está tão zangado comigo. Tenho medo de chegar perto dele por enquanto.”

Bofur deu-lhe um tapinha tranquilizador no ombro.

“Você se esquece que ele costuma ficar zangado com aqueles com quem ele se importa”

Essa constatação aliviou o coração dela. Respirou fundo e se decidiu, lembrando da primeira vez que se sentaram juntos para conversar, lá atrás em Imladris.

“Obrigada, Bofur, pelo seu conselho. Eu vou até ele. Se ele quiser falar, vou estar lá para falar. Se ele quiser ficar em silêncio, vou estar lá para compartilhar o silêncio. Ele ficou sozinho anos demais para ser deixado por conta própria quando está tão preocupado.”

O anão com o chapéu engraçado sorriu para si mesmo enquanto a ex-estranha caminhava cuidadosamente na escuridão crescente até que chegou perto de Thorin. Então ele estendeu uma mão para ajuda-la a se sentar, e fez com que ela se aproximasse. Nenhuma palavra foi trocada, mas Bofur pôde ver os ombros de seu rei relaxando enquanto as mãos destras da garota anã massageavam seu músculos nodosos. Sim, para um pônei velho, o melhor remédio era capim novo...

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Iris foi com sua própria barra de chocolate sentar ao lado de Bilbo, que estava de vigília, apoiado num tronco de árvore e um pouco afastado da Companhia amontoada. Não que fosse possível ver qualquer coisa na escuridão que os cercava, mas pelo menos podiam ser avisados se algum som estranho se aproximasse. Se Iris fosse capaz de parar de tagarelar, é claro.

“... e então Kayla e Fran, que tinham tanta certeza de que iriam respectivamente prestar vestibular para fisioterapia e terapia ocupacional, chegaram da orientação vocacional com as escolhas trocadas entre elas. Eu não entendo, às vezes acho que psicólogos são mais loucos que pessoas comuns mas espertos o suficiente para ganhar dinheiro dos outros fazendo com que acreditem que são loucos. O que você acha?”

Bilbo estava tão surpreso pelo fim do monólogo que quase não achou o que dizer. Mas se ele não fosse do tipo esparto não teria escapade do covil dos goblins.

“Eu acho que não entendo metade do que você diz...”

A garota abriu a boca como que para responder mas ele colocou um dedo sobre os lábios dela.

“...e que a maior parte da outra metade não faz muito sentido...” Ele raídamente pegou o punho dela com a outra mão para evitar ser socado de novo, e sorriu. “...mas eu amo o som da sua voz e o jeito que suas palavras fluem como a água de um riacho num leito de pedras; e eu amo o jeito que os seus olhos seguem as histórias que você conta, e o jeito que os seus lábios ficam um pouquinho abertos quando você termina o que você diz; Eu poderia te beijar cada vez que eu vejo os seus lábios me convidando desse jeito.”

Iris corou na escuridão.

“Não é justo, Bilbo, você está me zoando, fazendo poesia de uma garota desajeitada!”

Ele acariciou o cabelo dela, brincando com os cachos que caiam pelos ombros, e beijou seus lábios com gosto de chocolate.

“Você esgrima com duas espadas com mais destreza do que eu consigo lidar com uma só e você diz que é a desajeitada?”

Ela o socou de leve de novo.

“Você sabe o que quero dizer. Eu consigo passar um dia inteiro tagarelando sem parar, mas é você que escolhe as palavras certas para me fazer ter calafrios debaixo do sol.”

Bilbo traçou a linha do queixo dela com as pontas dos dedos e sentiu que a pele dela estava fria, e lembrou-se das horas que tiveram sozinhos nos jardins de Beorn. Ele não se lembrava de nada em especial eu houvesse dito então, mas lembrava com um sorriso como os olhos azuis dela, combinando com a cor do céu, se fechavam sob os longos cílios quando ele começou o jogo de beija-la toda com exceção dos lábios. Era verdade, ele havia provocado calafrios nela debaixo do sol.

“Não é verão agora, e você está ficando arrepiada. Venha aqui, se você vai dividir essa vigília comigo, então deixe que eu te esquento um pouco.”

Ele sentou Iris entre suas pernas e segurou-a perto dele, com a desculpa de aquece-la, que ela não contestou. Era a hora da escuridão de piche novamente, e ele moveu o cabelo dela de lado para que pudesse sussurrar no ouvido dela sem perturbar a Companhia adormecida.

“Eu ainda não acredito direito que você era humana antes, mas se isso é verdade, preciso te alertar que nosso povo precisa ficar especialmente atento quanto a hipotermia, por causa do nosso porte pequeno. Me diga quando estiver se sentindo mais aquecida.”

O hobbit esfregou suavemente os braços dela e embaraçou as pernas em volta das dela. Puxou o casaco para cobri-la do pescoço para baixo, e Iris se sentia quase que encasulada no calor dele.

“O que mais eu tenho que aprender?”

“O que quer dizer com isso?”

“O que preciso saber para viver no Condado com você? Tenho certeza de que não existe faculdade para aprender a ser uma hobbit!”

Ele riu baixinho.

“Você é jovem. Vai ter tempo de sobra antes de atingir a maioridade para aprender tudo o que precisa, e tudo o que tiver vontade de aprender.”

“Como assim, tempo de sobra? Estou só a dois anos de atingir a maioridade, eu estava quase arrumando minha habilitação de motorista!”

Bilbo segurou-a mais apertado, abafando o próprio riso.

“Minha Iris louca, você tem vinte e cinco, e nós hobbits chegamos à maioridade aos trinta e três. Isso perfaz oito anos, não dois!”

“O quê? Eu vou ter que esperar todo esse tempo?”

“Sim, nós temos, Iris. O preço de me apaixonar por uma jovem guerreira é esperar o tempo certo chegar, e já estou decidido quanto a isso. Eu certamente não poderia me casar com uma garota antes dela chegar à maioridade.”

O coração de Iris pulou uma batida. Ela gaguejou, confusa.

“O que... o que você disse?”

“Eu disse...” Bilbo chegou mais perto da orelha pontuda dela para sussurrar mais de perto. “...que eu preciso esperar você chegar à maioridade para poder me casar com você.”

Ela engoliu em seco. Iris estava se divertindo muito com Bilbo, e sentia que ele realmente a fazia se sentir diferente de qualquer namorado que tivera em seu mundo anterior. Mas ela ainda pensava em temos de seu mundo anterior, e morar junto era totalmente diferente de casar-se, ou pelo menos era no seu ponto de vista adolescente. Sua tia tinha morado junto com alguém por vários anos antes dele morrer naquele estúpido acidente de snowboard, e ninguém nunca questionou a decisão deles de não ter um casamento. Para Iris e a geração dela, não ser casada significava que a dupla estava junto por livre e espontânea vontade, não por obrigação.

“Você... você quer casar comigo quando eu chegar à maioridade?”

Houve um silêncio desconcertante, e então um suspiro profundo de Bilbo.

“Não.”

Iris virou-se no abraço dele tentando em vão achar um jeito de soca-lo, mas ele a estava segurando forte dessa vez.

“Eu quero casar com você assim que sentirmos a terra de Hobbiton debaixo dos nossos pés. Que uero te chamar de minha noiva assim que chegarmos à ponte do Brandevinho. Eu quero que um sacerdote nos abençoe antes de sairmos de Buckland, e outro sacerdote para nos abençoar de novo quando chegarmos em Tuckborough; e eu quero uma festa de casamento espantosa quando chegarmos em casa, em Bolsão. E vou pedir ao meu vizinho Hamfast Gamgee que arrume as flores mais bonitas para enfeitar o seu cabelo, e à Buganvilia Villa que lhe faça um vestido de noiva, e à equipe da Estalagem do Dragão Verde que providencie uma festa surpreendente onde vai chover bebida e nevar comida em volta do Bolsão. E quero que isso aconteça assim que possível, mesmo que eu tenha que mentir a sua idade.”

A garota hobbit ruiva sentiu o corpo inteiro arrepiar, e não era de frio. De tudo o que Bilbo havia dito, havia tanto que ela desejava, tanto que ela temia, que se sentia totalmente confusa. A cultura ocidental do século XXI era muito forte na estrutura dela, mas o estilo de vida de Bilbo e da Terra-média a envolviam e Iris percebia que se sentia mais confortável, e desejada, como nunca se sentira em casa. Sabia que era muito nova para se casar, mas então...

“Você realmente mentiria minha idade para casar comigo?”

Bilbo a provocou, respondendo com outra pergunta, mordiscando o lóbulo da orelha dela levemente.

Você mentiria para casar comigo?”

Pela primeira vez em muitos anos, Iris não soube o que responder. Talvez porque era a primeira vez que estava realmente na companhia de alguém que não fosse adolescente que a tomasse pelo que ela era, e não pelo que esperavam que ela fosse.

“Não creio que fizesse isso sozinha. Quero dizer, mentir. Mas, se você mentisse também...” (1)

Ele estava se sentindo completamente divertido com a confusão dela com o jogo de palavras.

“Se você não se sentir à vontade em mentir sozinha, poderíamos mentir juntos.

Ela bateu no braço dele, divertindo-o ainda mais.

“Bilbo! Você é um peste!”

“Talvez, mas estou disposto a mentir com você sempre que quiser.”

Não era justo. Ela é que costumava ser a pestinha que provocava os outros com palavras de duplo sentido. De qualquer forma, Bilbo conseguira travá-la, e ela não reclamava.

“Eu... podemos falar sobre mentiras outra hora?” Ela acentuou a palavra para deixar claro que queria dizer com ela. Bilbo acariciou seu rosto de forma que ela se inclinou sobre ele, uma jovem garota hobbit confusa em finalmente encontrar alguém que ela não podia desafiar, e adorando isso. Ele beijou seu cabelo e a segurou bem perto, sorridente.

“Você pode falar comigo sobre mentir quando quiser, ainda que eu mesmo não tenha muita experiência nesse assunto. Mas pode contar comigo para mentir com você sempre que quiser.”

“Me lembre de te matar depois que a gente sair dessa floresta.”

“Posso te lembrar. Mas talvez eu esteja apenas mentindo.”

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Por alguns dias mais se arrastaram ao longo da trilha, revezando-se para carregar Bombur. As vezes ele murmurava em seus sonhos, mas nada conseguia faze-lo acordar realmente. A falta de água estava ressecando seus lábio e seus humores. Também estava ficando mais frio. Cada cansativo dia de carregar Bombur os deixava mais exaustos do que o anterior, e no terceiro dia começou a chover, fria e depressivamente. Se tivessem algum jeito de coletar a chuva para bebê-la, teria sido uma bênção, mas era tão pouco mais que uma garoa, apenas o suficiente para fazer com que se sentissem pior, como se isso fosse possível.

No dia seguinte Bombur finalmente acordou, para o alívio de todos, até que ele descobriu que não havia comida nenhuma e começou a reclamar. Quando Thorin estava prestes a se arrepender da decisão de não deixar ninguém para trás, Bofur lembrou-se da barra de chocolate extra que Lily havia lhe dado, o que fez seu irmão feliz mas a Companhia inteira ficar de água na boca lembrando de suas próprias barras de chocolate, terminadas fazia dias.

Tinha passado um bom tempo do cair da noite, que agora eles chamavam de cair do piche, quando Bilbo estava de vigília junto com Iris; tiveram a impressão de ter visto algo e chamaram Thorin.

“O que foi?”

“Ali adiante, acho que vi uma luz de algum tipo.”

“Sim, e acho que ouvi alguma coisa também.” Completou Iris.

“Aqui é terra élfica, pode ser perigoso.”

“Não mais perigoso do que morrer de fome, imagino.”

Desesperados de fome como estavam, a possibilidade de encontrar alguém que pudesse ajudá-los na floresta fazia qualquer precaução desaparecer. Ouvir os hobbits falarem com seu líder fez todos se sacudirem acordados na esperança de que alguma coisa viesse a acontecer. Foi exclusivamente devido à fome que Thorin concordou que deveriam tentar chegar às fogueiras.

“Certo, vamos todos juntos quando eu disser ‘três’. Estão prontos?”

Resmungaram concordando.

“Três!”

Arrancaram para onde as fogueiras pareciam estar, e ela se apagaram imediatamente. Houve uma confusão de anões e colegas tentando se reunir na floresta durante um tempo, o que conseguiram até certo ponto, e então correram para outra luz d fogueira que viram na distância. Esse foi seu pior erro, se é que havia erro pior do que sair da trilha em primeiro lugar. As luzes se apagaram como da primeira vez, e se dispersaram. Bilb logo descobriu que seu braço esquerdo e ambas as pernas estavam enrolados num tipo de corda forte e grudenta, que felizmente ele foi capaz de cortar com sua lâmina élfica. Não só isso, mas ele mais sentiu do que viu uma aranha muito grande que provavelmente era a dona daquelas cordas; conforme voltou suas costas para ele ao dar atenção à um barulho na clareira perto deles, ele estocou sua lâmina fundo nas entranhas da aranha, fazendo a coisa se amarrotar sobre suas próprias oito patas.

“Quero só ver o Balin chama-la de abridor de cartas de novo!” Pensou consigo mesmo.

Sentindo que era certo haver mais problema adiante do que nenhum, o hobbit rapidamente colocou o anel que encontrara nas cavernas dos goblins nas Montanhas Nebulosas. Ele não havia contado a eles sobre o anel ainda, mas não havia nada mais que ele pudesse pensar em fazer que lhe desse alguma vantagem sobre as aranhas.

No estado estranho em que se sentia quando usava o anel, podia vislumbrar alguma imagem das coisas, mesmo que não claramente, mas melhor do que sem o anel quando estava na escuridão. Dirigiu-se para a clareira para onde a aranha morta estivera olhando. Era perturbador.

Quinze embrulhos pendiam de grandes teias de aranha nas árvores, um deles bem pequeno perto de um que era um tanto longo.

“Iris e Ellen!” Pensou Bilbo.

Os outros treze eram quase do mesmo tamanho, apesar de que um deles era mais avantajado no meio.

“E aquele deve ser Bombur!”

Havia muitas aranhas, algumas cutucando os embrulhos, algumas tecendo mais teias, mas de qualquer forma pareciam muito interessadas neles para dar atenção a um hobbit invisível. Ele jogou uma pedra numa aranha que estava a cutucar Bombur de novo, e ela caiu no chão, fazendo as outras soarem como se tivessem rindo dela, mas olhando em volta para descobrir de onde aquela pedra inesperada viera.

Bilbo começou a jogar mais pedras e fazer barulhos de propósito, com a intenção atraí-las para longe da clareira, o que elas fizeram, mas ao mesmo tempo tecendo mais teias para pegar algum intruso. Quando o hobbit as havia distraído bem e estava a uma boa distância da clareira, ele entrou num perfeito modo hobbit silencioso, o que significava som nenhum, nenhum mesmo, e achou o caminho mais rápido de volta para onde seus amigos estavam, agradecendo aos céus pela chegada do amanhecer.

Foi no tempo exato de matar uma aranha gorda que havia sido deixada para vigiar os prisioneiros e estava cutucando o pobre velho Bombur, o qual pareciam gostar mais.

“Se você gosta de picar, talvez goste se eu te ferroar!” Murmurou para si mesmo enquanto enfiava sua lâmina profundamente na barriga da aranha. E então pensou que Ferroada era um nome adequado para sua até então chamada abridor de cartas.

Seu próximo passo era libertar seus amigos, e pela trança de bigode louro que aparecia para fora de um dos embrulhos, escolheu Fíli primeiro. Era difícil cortar através das cordas tentando não derrubar o anão no chão, mas deu um jeito. Uma vez livre, foi uma questão de momentos para que ele pegasse a faca da sua guarda de antebraço e começasse a ajudar Bilbo. Logo todos estavam livres, mas as aranhas estavam voltando realmente zangadas. Mas agora não estava mais na escuridão de piche, e a Companhia estava ciente da presença delas, e armada, e a luta foi justa.

Ainda assim, eram muitas aranhas, e a Companhia estava ficando cansada, dado que já estavam fracos de sede e fome e de carregar Bombur. Então ouviram um ruído nos arbustos e três aparentemente jovens humanos vieram correndo ajuda-los, todos vestidos com mantos escuros longos até os tornozelos e, para a surpresa das mulheres, camisas de gola branca e gravatas vermelhas e douradas. O rapaz de cabelo escuro usava óculos redondos e parecia ser o líder deles, apesar de todos eles parecerem ter quase a mesma idade, e gritou par a Companhia.

“Vocês fogem daqui, nós distraímos as Acromantulas!”

A única garota entre os recém chegados pegou uma varinha de dentro do manto e a agitou no ar enquanto gritava.

Arania Exumai!”

Ao que foi seguida pelo garoto ruivo e o outro de óculos. A Companhia os olhou com olhos arregalados conforme as aranhas caíam no chão, atordoadas ou mortas, e então correram, sem nem tempo para agradecer adequadamente.

Acrescentando à esperança deles, conforme se afastavam da área do ataque das aranhas, chegaram a um trecho em que alguns pontos queimados podiam ser vistos, e a luz estava menos fosca, até um pouco mais verde, e o ar estava mais limpo. Não lhes tomou muito esforço para perceber que estavam num dos lugares em que os elfos festejavam e nos quais eles tropeçaram na noite anterior, ou um lugar semelhante. As aranhas não chegavam perto daquela magia élfica, e Liy pensou que tipo de repelente eles usavam.

Quando descobriram que as aranhas não entravam nas áreas élficas, decidiram ficar lá e descansar conforme pudessem. Não tinham idéia de como achar a trilha, e tinham muitas perguntas a fazer para Bilbo.

Depois dele contar toda sua história desde que havia se perdido deles no covil dos goblins, encontrar o anel, encontrar Gollum, brincar de charadas e encontra-los fora das montanhas, as mulheres já estavam cansadas, dado que soava como uma história que já conheciam; na verdade, elas conheciam, mas a tinham bloqueada em suas mentes; uma vez que estivesse contada, a memória estava livre novamente, até o ponto em que havia sido contada, nada mais. Mas os anões continuavam a perguntar coisas a Bilbo de novo e novamente, até o ponto em que as três mulheres apenas se reclinaram umas sobre as outras e cochilaram de cansaço.

Aparentemente, o restante da Companhia se cansara também, e nas áreas élfics encontraram suas primeiras horas de sono profundo em dias. Talvez por terem caído no sono antes; ou por Iris se tão pequena que precisou só de uma picada de aranha para desmaiar e então não fora mais picada; talvez por Ellen ser elfa e por isso lidar mais rapidamente com envenenamentos; ou por Lily estar apaixonada e acostumada a ter o calor de Thorin ao seu lado e ele não estava lá; o fato é que as três acordaram ao mesmo tempo e com a mesma pergunta nos lábios:

“Cadê o Thorin?”


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Notas finais do capítulo

1: Trocadilho intraduzível com os verbos ‘mentir’ e ‘deitar’, este no sentido de deitar-se com alguém.



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