Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 13
Cap. 13 - Morro acima




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O restante do dia se passou sem novidades; aqueles da Companhia que haviam percebido as ocorrências entre o tio rabugento e seus sobrinhos se sentiram aliviados ao ver Kíli sorrir novamente. Ele e Ellen apenas cavalgavam lado a lado, conversando amenidades, mas era óbvio que a tensão que corria há alguns dias havia passado. Mesmo Thorin parecia estar de coração mais leve, como se decidir sobre esse assunto o liberasse para seguir adiante com seus próprios pensamentos.

Vários dias depois Lily e Iris estavam dividindo uma das vigílias noturnas. No começo Thorin achou que as mulheres não deveriam fazer isso, mas então lhe ocorreu que se elas deviam ser tratadas como iguais pelos seus homens na lida de guerra, então deveria ser assim em tudo o mais. A única excessão que fez foi que elas não deveriam vigiar sozinhas até que ele se sentisse mais seguro sobre elas.

Elas tentaram ficar o mais quietas o possível, para não perturbar o sono da Companhia, mas Iris não conseguiu conter sua curiosidade sobre o que Lily estava fazendo perto do fogo com a bainha de sua espada nova que Thorin lhe havia dado antes de saírem de Imladris. Ela chegou mais perto e sussurrou.

“O que você está fazendo?”

“Pirografando.”

“Como? Você não tem um pirógrafo aqui!” Disse Iris, constatando o óbvio.

“Mas eu tenho fogo, e meu canivete suíço. Estou esquentando a chave de fenda e usando-a para marcar o couro.”

“O que é esse desenho? Acho que já vi em algum lugar.”

“É uma surpresa. Agora fica quieta, a gente não pode perturbar os outros.”

Deu o estalo na garota hobbit de onde ela conhecia aquele padrão.

“Você devia beijá-lo.”

O quê?”

“Você devia beijá-lo. É óbvio que está apaixonada, por que mais se daria ao trabalho de pirografar o nó pessoal dele na sua bainha?”

“Iris, eu não posso simplesmente beijá-lo, o que ele pensaria do meu comportamento?”

“E quando na vida você se importou com comportar-se mau ?”

Lily suspirou e Iris continuou.

“Escuta aqui, esses caras não conseguem ver o óbvio mesmo que você o chacoalhe na frente de seus olhos, você tem que ser sutil como um elefante numa loja de cristais para faze-los entender o que você sente, ok?” Ela olhou me volta para se certificar de que não tinha acordado ninguém. “Beije-o, estúpida!”

“Ah, cala a boca, Iris, por que você não vai beijar o Bilbo?”

“E por que você acha que eu ainda não beijei?”

ooo000ooo

No dia seguinte começou a chover, para o desgosto da Companhia, uma vez que estavam se aproximando das montanhas e escalar as econstas íngrimes com chão molhado não soava com um passeio no parque. Thorin ordenou uma parada precoce, considerando melhor começarem cedo nas trilhas decentemente descansados. Não havia jeito de acender uma fogueira, e se amontoaram sob as árvores em pequenos grupos, pelo calor e pela companhia. Thorin deu um jeito de sentar ao lado de Lily com a desculpa de ter uma vista melhor do acampamento. Conversaram algumas amenidades, e então ele notou as coisas de Lily ao lado deles. Seus olhos se arregalaram.

“O que você fez com a sua bainha?”

“Eu…” Ela gaguejou, temendo ter feito algo inapropriado. “Eu só fiz uma decoração nela, eu achei que não fosse fazer mal.”

Ele tomou a bainha em suas mãos, observando as marcas de fogo feitas cuidadosamente no couro. Lembrou do dia que fez a espada, lá atrás em Imladris. Ele devia ter percebido que alguma coisa estava acontecendo entre Kíli e Ellen já naquela época.

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Ele pediu permissão para usar a forja de Elrond e foi até ela, a idéia da espada já na sua mente. Lily estava se saindo bem com seu arco, mas ela devia ter sua própria espada para qualquer emergência, no caso de se ver sem flechas. Não havia sentido em treiná-la se ela não tivesse uma espada para usar.

Ele fechou a primeira porta antes de abrir a segunda, perguntando-se quem poderia estar lá, uma vez que ouvia o som de conversa e de risos. Abriu a segunda porta.

“O que você está fazendo aqui?” Tio e sobrinho perguntaram ao mesmo tempo. Agora Ellen tinha certeza de que era um traço de família, sem dúvida. Kíli pegou uma flecha da pilha para mostrar o que queria dizer.

“Estou trabalhando, Tio.”

“E eu também vou.”

Thorin se assegurou de que o fogo estava bem cuidado e vestiu um avental de couro.

ooo000ooo

“Lily, eu preciso… explicar algo sobre… costumes anões… o significado de alguns símbolos, e como eles são usados…”

“Tenho certeza de que eu fiz alguma coisa errada agora! Eu te ofendi!”

“Não, na verdade não! Eu… Eu gostei do que você fez. Muito, na verdade. Mas eu… Preciso ter certeza de que você entende o significado e se você quer dizer o que isso significa, entende?” Era confuso, mas ela assentiu assim mesmo. Pelo menos saberia o que tinha feito de errado dessa vez. “Se depois de eu explicar você chegar à conclusão de que não quer meu nó na sua bainha, você etá livre para remove-lo, você entende?”

Ela franziu as sobrancelhas.

“Você quer que eu o remova?”

“Não!” Ele respondeu depressa. Então respirou fundo enquanto pensava em com explicar. “Esses nós são muito pessoais, imagino que você tenha notado.” Ela assentiu de leve. “Cada um de nós tem o seu próprio. São usados como… uma marca de família, por assim dizer.”

“Mas Fíli e Kíli têm nós diferentes, e eles são irmãos, e os nós deles são diferentes do seu, também.”

“Sim. Isso é porque essa é a marca de quem é, ou será um… patriarca. Quando Kíli e sua tia… noivarem, ela usará o nó pessoal dele.” O exemplo era útil por não ser totalmente direto. “Quando ela usar o nó dele significará que o pertence à ela pertence à ele também; que eles se pertencem um ao outro.”

O coração dela bateu mais depressa.

“Então, quando eu coloquei o seu nó na minha bainha…”

“Você deu o significado de que esse seu pertence também pertence a mim, para dizer o mínimo.”

Ela tremia de mais do que o frio. Tinha escutado direito? Tinha realmente entendido o que ele disse? A voz de Iris veio à sua mente. “Beije-o, estúpida!”

“E você não quer que eu remova o seu nó da minha bainha?”

Ele percebeu o tremor dela e pensou que realmente parecia uma delicada flor de lírio branco soprada pelo vento (1). Cuidadosamente, como se ela fosse quebrar se fosse de outro jeito, colocou o braço em torno dela e a puxou para mais perto.

“Não.” Ele olhou fundo em seus olhos de azul marinho. “E você, você quer remover o meu nó da sua bainha?”

A voz de Iris gritava dentro da cabeça de Lily. “Beije-o, estúpida!

“Não.”

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A decisão difícil do dia seguinte foi deixar os pôneis para trás. Alguma exploração deixou claro que a trilha era muito íngrime e estreita para qualquer criatura de quatro patas que não fosse um cabrito conseguir escalar, então o único jeito era carregar as coisas nas costas e deixar o pequeno rebanho ir. Gandalf não estava a vista, apesar de ter dito que os alcançaria antes de começarem a caminhada montanha acima.

Apesar de ter amainado durante os primeiros dias de subida, a chuva voltou mais tarde, num entardecer escuro, fazendo a companhia se sentir miserável. Pior que uma tempestade eram duas delas se chocando nas alturas, e a única luz a ser vista era a dos relâmpagos. Uma rocha colidiu perto de onde estavam, fazendo com que grudassem no penhasco, tremendo de frio e medo. Mais um relâmpago mostrou que o barulho era mais do que trovões: abaixo, no vale, podiam ver a forma assustadora de um gigante de pedra, jogando uma rocha em direção a outro, maior ainda que o primeiro.

“As lendas estão ganhando vida!” Gritou um Bofur assustado. Iris lhe gritou de volta.

“Qual o problema? No meu mundo, vocês é que são lenda!”

Bem então outra pancada reverberou, uma rocha jogada mais alto que o campo de batalha dos gigantes bateu logo acima deles, mandando para baixo uma chuveirada de pedras.

“Corram!” A voz poderosa de Thorin comandou do início da fila. “Mantenham-se junto à parede, e corram!”

Mais fácil de dizer do que de fazer, mas se esforçaram para adiante o melhor que puderam na trilha de pedra escorregadia, quando a montanha debaixo deles começou a se mover. Era difícil de acreditar, mas estavam no joelho de um gigante de pedra. Enquanto corriam ele se moveu, fazendo com que perdessem o equilíbrio; o gigante deu um passo para longe de seu lugar de descanso, carregando os últimos da companhia para longe do penhasco; Ellen, que estava perto do fim da fila, deu um jeito de empurrar Iris de volta à trilha, mas ela mesma, junto com Kíli, Bombur e Bofur, saiu no joelho da criatura, para o desalento dos outros. Kíli ouviu Fíli gritar seu nome, mas tudo o que podia fazer era olhar de volta aterrorizado, assim como os outros junto com ele, até que o passo do gigante fez com que os perdessem de vista.

Um estampido alto de pedra contra pedra e conseguiram pular de volta para o caminho, numa pequena saliência que Thorin e os outros alcançaram com rapidez.

“Cadê a Iris?” Ellen gritou, sem conseguir ver a pequena garota hobbit.

“Estou aqui!” Ela gritou de trás, arrastando-se para longe da beirada. “Ajudem Bilbo!”

Bilbo, de fato, estava pendurado uns trinta centímetros abaixo de onde Iris estava antes, olhando para cima com olhos arregalados de desespero, tentando firmar pé mas não encontrando nada que não escorregasse sob seus pés peludos. Alguns dos rapazes tentaram alcançar sua mão, mas estava muito abaixo, então o próprio Thorin achou um lugar onde se segurar e pulou para baixo da trilha para empurrar Bilbo para cima. Várias mãos se prontificaram a puxar o hobbit para cima assim que suas mãos chegaram ao alcance, mas Dwalin teve que dar sua mão para que Thorin pudesse escalar de volta.

“Quase perdemos nosso gatuno!” Constatou Bofur, aliviado de ver seu amigo a salvo.

“Que diferença faria? Ele está perdido desde que saiu do Condado.”

A voz de Thorin era amarga, mas ele mesmo estava para além do cansaço e sem paciência para qualquer tipo de apupo à sua volta. Quando se virou para encarar a trilha novamente, Iris estava bem na frente dele, seus olhos de azul celeste relampejando de raiva.

“Como pode ser tão bronco? Bilbo salvou a minha vida!”

Ele só olhou para baixo na direção dela, balançou a cabeça e liderou-os para se afastarem da briga dos gigantes. Ainda havieria muito perigo a encarar para perder tempo se preocupando com sentimentos feridos, de qualquer forma.

ooo000ooo

Algumas horas depois acharam o que parecia uma pequena caverna onde poderiam se abrigar pela noite. Não havia jeito de acender um fogo para secar suas roupas e ânimos encharcados, mas era o suficiente para descansarem. Compartilharam um pouco de pão de viagem e a última lata de atum de Iris.

“Agora não vou mais ter atum para apostar com você!” Ela disse com tristeza para Fíli, que estava a seu lado.

“E eu nunca mais vou ter a chance de ter uma lata de atum só para mim!” Ele reclamou, de brincadeira.

Ninguém na Companhia estava mesmo com ânimo para muita conversa. Alguns deram jeito de acender seus cachimbos, como uma recompensa exausta por seu dia miserável. Ellen tentou disfarçar sua aversão pela fumaça indo sentar na boca da caverna, olhando para fora, mas Kíli a seguiu com seu cachimbo numa mão, abraçando-a com a outra.

“Há qualquer coisa que eu possa fazer para você ficar mais confortável, minha elfa incomum?”

Ela riu para si mesma em silêncio.

“Acho que não. Eu… eu estou só tentando não ser um esquadrão anti-fumo, tudo bem? A caverna é pequena, aqui o ar é mais fresco.

Ele olhou para cima na direção dela, franzindo as sobrancelhas e deixando o cachimbo o mais longe dela que podia.

“Eu não sabia que te incomodava. Desculpe. Se quiser, eu…”

“Não, fica quieto, seu bobo! Pelo cheiro eu sei que o que é usado para fumar aqui não é a mesma coisa que eu usava no meu mundo anterior; e se isso fizesse algum mal tenho certeza de que Gandalf não o fumaria. É só que desde que parei de fumar, uns anos atrás, eu não dou mais conta de fumaça, nem mesmo fumaça de incenso. Ou talvez seja uma coisa de elfo, não lembro de ter visto nenhum deles fumando lá em Imladris, você viu algum? Talvez meu corpo mudado só não tenha muita tolerância para fumaça.

Ellen descansou a cabeça no ombro de Kíli, e ele acariciou a nuca dela suavemente com a mão sem cachimbo. Ela havia trançado o cabelo para trás quando estavam para começar a subida, não querendo que ele a atrapalhasse num ambiente adverso, mesmo que ele costumasse ‘se comportar’, como ela dizia. A elfa suspirou.

“Foi um dia comprido.”

Kíli assentiu.

“Vá descansar um pouco. Você deve estar exausta.” Ela balançou a cabeça, discordando. Ele continuou. “Eu vi o seu olhar quando descemos do joelho do gigante e você não achou a Iris. Foi muita tensão para você, vá descansar um pouco.”

“Tenho certeza de que não foi diferente do olhar que vi nos olhos de Thorin quando ele te viu no joelho do gigante.”

“Você não é o Tio, e ele já foi descansar, por que você não vai?”

“Estou inquieta. Não sei porquê. Acho que vou dividir a primeira vigília com Bofur, se você não se importar.”

Ele esvaziou as cinzas do cachimbo batendo-o levemente numa pedra, então guardou-o num bolso interno do casaco.

“Só fique do meu lado e me acorde quando for descansar.”

“Eu não ouvi o seu nome ser chamado para a segunda vigília. Você dorme essa noite.”

Eles se beijaram suavemente, então se levantaram e ele lhe deu o sorriso maroto que ela tanto amava.

“E como é que eu vou saber que você foi dormir depois da primeira vigília?”


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Notas finais do capítulo

1: Lily significa lírio



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