Lealdade, Honra, e um Coração Disposto escrita por Dagny Fischer


Capítulo 12
Cap. 12 – Pé na Estrada




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O próximo nascer do sol os encontrou bem adiantados no caminho. A Companhia saiu de Imladris no frescor da manhã, cheios de esperança e com um humor muito melhor do que quando chegaram. Para a maioria deles era um descanso mais que necessário, uma vez que estavam viajando praticamente sem pausa desde as Montanhas Azuis, e isso fora há meses. A única coisa a atrapalhar seu humor era que Gandalf não estaria com eles, já teria que participar de uma reunião do Conselho Branco - aparentemente, o chefe dele chegaria naquele dia.

No começo houve um pouco de diversão para os anões, porque as três mulheres descobriram no pior momento que teriam que cavalgar e nenhuma delas tinha a mínima ideia do que fazer com um cavalo ou pônei. Se alguém tivesse pensado nisso, poderiam pelo menos ter tentado aprender o básico ainda em Imladris, mas estava totalmente fora de cogitação que isso seria necessário, uma vez que haviam encontrado os anões à pé e nenhuma delas nunca havia tido a necessidade de usar um cavalo como meio de transporte; por outro lado, nem anões nem elfos imaginariam que elas nunca haviam cavalgado antes.

“Fique tranquila, Senhora Iris, você vai pegar o jeito logo logo.”

Bilbo estava tentando carinhosamente acalmar o medo de Iris de cair do pônei que Elrond lhe emprestou. Ela riu.

“Bilbo querido, por favor não me chame de senhora! Eu fico constrangida, isso não se usa mais no meu mundo há séculos!”

Era a vez dele de ficar constrangido.

“Mas então, como eu deveria lhe endereçar respeitosamente? Você definitivamente não é uma senhora - digo, uma garota, se você acha melhor assim - que não deveria ser tratada o mais respeitosamente que alguém possa.”

“Mas Bilbo, você me trata com todo respeito que alguém possa sonhar! Na verdade, as vezes você é até mais respeitoso do que deveria, sabia?”

Ele considerou o que aquilo poderia significar, mas as coisas não encaixavam direito.

ooo000ooo

Lily e Ellen tiveram uma longa conversa na noite anterior, depois do incidente da dança. A elfa se divertia com o que pensava ter visto e queria que Lily confirmasse suas suspeitas, mas a anã relutava em se abrir com a tia, e também ainda estava zangada por Thorin ter mencionado a dança deles como uma lição para seus sobrinhos. Agora, com as duas tentando se equilibrar num pônei e num cavalo, Ellen tocou no assunto de novo.

“Lily, flor querida, você não precisa ficar acanhada com a sua titia! Você sabe que eu sempre fiquei do seu lado, não sabe?”

“Sim, Ellen.”

A garota respondeu baixinho.

“E quando foi que eu arruinei alguma coisa que você realmente queria?”

“Em ordem alfabética ou cronológica?”

Ambas riram da própria piada interna. Então Lily ficou séria de novo, baixando o olhar para as rédeas do pônei.

“Titia, eu sei o que eu sinto por… alguém… mas não tenho tanta certeza quanto a ele. Não mais.”

“Você sabe que estamos entre pessoas que têm costumes e tradições diferentes do que estamos acostumadas, não sabe?”

“Sim, tenho ideia, mas diferente o quanto?”

“Eu diria que diferente o suficiente para que sentimentos fortes serem mal compreendidos; os anões têm um jeito diferente de mostrar que se importam com alguém. Eles precisam mostrar que são fortes e protetores, e às vezes isso pode ser confundido com aspereza ou gênio ruim, especialmente nos mais maduros, se entende o que quero dizer. Outro ponto é que no nosso mundo é mais comum que a mulher espere o homem tomar a iniciativa, e isso não é bem assim com as criaturas de Mahal. Um mineiro pode encontrar uma joia, mas é a joia quem escolhe quem vai ser seu guardião, porque ela não é sua propriedade.”

“Você já está falando feito um anão, Tia! Como é que sabe tanto sobre eles, ou sobre como eles mostram seus sentimentos?”

Ellen riu baixinho.

“Eu tive certas oportunidades de conhecer mais sobre eles enquanto você estava tendo suas aulas particulares de esgrima, querida! Agora, preciso falar contigo sobre um assunto importante. Se você estiver… interessada… no alguém que eu acho que está, então precisa saber que vai ter um preço alto a pagar, ou não sabe?”

Lily balançou a cabeça;

“O que quer dizer? Qual é o preço?”

“Ter Fíli e Kíli chamando você de ‘Titia’!”

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Depois da conversa com Lily, Ellen se acomodou entre Dwalin e Balin e eles conversaram como velhos amigos trocando notícias. Na verdade, desde o duelo os dois costumavam discutir assuntos bélicos com ela, que tinha seu mestrado em estratégia e estava fascinada pela oportunidade de comparar estratégia de negócios com guerra de verdade. Cavalgar perto de Kíli era impossível com a nuvem escura particular de Thorin flutuando sobre sua cabeça, e eles quase não tiveram oportunidade de conversar depois da negativa de Thorin. Haviam se abraçado e beijado calorosamente depois da festa de Solstício de Verão, e se separaram sabendo que seria difícil encontrar uma oportunidade de ficar juntos na estrada, agora que o plano de Fíli havia falhado. Mas a Dança da Joia e a conversa com Lily estavam dando ideias para Ellen, e ela achava que havia uma chance de negociarem as coisas e virar a maré.

Lily ainda estava infeliz, mas ponderando as coisas que sua tia havia lhe explicado. Não era de todo diferente do que Kíli havia sugerido dias antes, e lançava um pouco mais de luz sobre a personalidade indecifrável de Thorin. Ele era responsável por seu povo, como ela mesma havia dito à sua irmã, e estavam indo reconquistar seu próprio lar de uma besta maldita, e ter três estranhas na Companhia era perturbador, ainda mais porque anãs nunca iam para a guerra; assim, ela não era só estranha por não ser conhecida previamente, mas também uma estranha esquisita, uma combatente anã nos ermos, algo impensável para a mente de um anão. Então ela se deu conta. Se ele estava sendo áspero para mostrar que se importava, era a vez dela de mostrar que ela apreciava seu cuidado e proteção. Deu um jeito de avançar seu pônei para o lado dele.

Ele assentiu, olhando de lado, para indicar que sabia da presença dela ao seu lado, mas mais nada. Ela teria que ser mais ousada se quisesse esclarecer as coisas.

“Foi uma dança agradável.”

“O quê?”

“Ontem à noite. Quando você me salvou de ser rodopiada. Eu teria caído se não fosse pro você. Eu não tive oportunidade de lhe agradecer até agora.”

Ele olhou para ela com um pequeno sorriso.

“Não foi nada.”

“Para mim, foi muito.”

Continuaram por mais um tempo em silêncio. Na frente da Companhia, parecia ser mais fácil tirar leite de pedra do que conseguir uma conversa decente com Thorin. Ela teve uma ideia.

“O que uma joia deveria fazer?”

“O quê?”

“Enquanto dançava, você disse coisas que um anão deve fazer quando encontra uma joia. E a joia, o que deve fazer?”

Ele sorriu. Era bom que ela quisesse saber mais sobre a cultura anã. Se os planos saíssem como ele desejava, ela deveria ser versada em tudo sobre seu povo.

“Não é muito diferente do que o guardião da joia deveria fazer. Cuidar mesmo nas coisas que lhe pareçam menores, é o primeiro verso para ambos.”

“E depois?”

Ele começou a declamar em voz baixa, pensando que ela provavelmente não iria gostar muito do segundo verso.

“Uma joia é formada nas forjas do tempo, então, ela não deve ter pressa; uma joia deve brilhar de modo vivo para honrar seu guardião, e faze-lo orgulhoso dela; uma joia deve sempre polir-se, para brilhar mais e mais verdadeiramente, para que quem a encontre não pense que é um mero pedregulho; uma joia tem luz própria, então ela deve iluminar quem estiver à sua volta; e uma joia deve ser inteira, intacta e inquebrável.”

“Isso é bonito.”

“Sim, mas também é sério. Se prestar atenção aos versos, verá que é um código de conduta, uma lista de instruções de como um homem e uma mulher deveriam comportar-se em relação ao outro. Cuidado, respeito, independência, confiança, paciência, auto-aperfeiçoamento contínuo, integridade, e, é claro, compromisso para toda a vida.”

“Eu ainda acho que é bonito. No meu mundo é difícil encontrar pessoas dispostas a comprometer-se por toda a vida.”

“Para um anão, qualquer coisa diferente de compromisso por toda a vida não é uma opção.”

“Por quê?”

“Um anão pode até namoricar um pouco, apesar de que isso não é muito bem visto, mas é tolerado; para além disso, só há um caminho.”

“Eu não entendo.”

Ele se voltou para ela, assegurando-se de que ela olhava em seus olhos quando disse.

“Um anão ama somente uma vez na vida, e é pelo resto da vida.”

ooo000ooo

Tinham percorrido uma boa distância durante o dia, parando brevemente para comer e descansar um pouco, sendo que as mulheres precisaram de ajuda para descer dos pôneis e do cavalo, sentido-se doloridas pela primeira cavalgada de suas vidas. Iris descobriu que havia músculos doendo que ela nem sabia que existiam. Pelo menos, não tinham que carregar tudo nas costas, o que era uma bênção. Thorin tinha mandado parar perto de um riacho e começaram a armar acampamento.

Lily se deu conta de que era a primeira vez que acamparia com os anões e estava curiosa sobre como eles lidavam com as coisas ao ar livre. Não haviam trazido barracas, seguindo o conselho de Elrond de seguir rápidos e leves até chegarem ao outro lado das montanhas, tendo que manter seu calor à noite apenas com os sacos de dormir. Como era verão, não seria problema enquanto estivessem na planície, mas ela via neve no cume das Montanhas Nebulosas e ficou preocupada.

Foi até o riacho lavar as mãos e o rosto e perturbou um par de galinholas, que grasnavam furiosamente por ela chegar muito perto de seu ninho. Isso lhe deu uma ideia e ela começou a vasculhar ao longo da margem.

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Fíli, Kíli e Iris estavam vigiando os pôneis enquanto pastavam, já que depois do incidente com os Trolls Thorin não queria permitir que seus sobrinhos fizessem isso sozinhos, mas ainda assim eram uma boa escolha para essa tarefa devido à sua boa visão. Ele só não podiam ter chance de se distrair um com o outro, e Iris era quem tinha a habilidade de faze-los focarem, acredite ou não. Geralmente era ela quem os fazia calar quando falavam demais e se distraíam, mas essa noite Kíli estava estranhamente silencioso, e Iris percebeu.

“Certo, Kíli, qual é a travessura do dia?”

Ele só sacudiu a cabeça, olhos perdidos em pensamento, fingindo olhar para os cavalos. Fíli percebeu que não havia absolutamente nada certo com seu irmão.

“Kíli, o que há de errado contigo?”

O anão de olhos escuros fechou os olhos, não querendo se abrir. Durante a cavalgada havia sido mais fácil, mas agora ele não tinha como evitar o questionamento deles.

“O Tio está errado.”

“Como geralmente descobrimos quando ele não concorda com o que queremos, não é?”

“Fíli, dessa vez é diferente. Eu não estou namoricando, isso não é uma brincadeira, não é um desejo passageiro! Sem a Ellen eu vou morrer! Como resolver isso?” Ele olhou para seu irmão com olhos muito abertos, vítreos como se de febre.

“Falando pragmaticamente, poderia ser só uma questão de tempo, uma vez que Thorin é mais velho que você e no longo prazo o mais provável é que ele morra antes de você e então você não vai mais ter que concordar com as decisões dele, mas eu preferiria resolver as coisas bem antes que o passamento dele ocorra, uma vez que o respeito muito e realmente adoraria ter a bênção dele sobre nossa união.”

Os três vigias de cavalo olharam para Ellen, que havia aparecido no meio deles como que do nada. Kíli pulou em pé e a abraçou, enterrando o rosto no cabelo preto e longo dela.

“Eu senti tanto a sua falta!” A voz dele estava rouca. Ellen abaixou a cabeça até o ombro dele e se reabasteceu com o cheiro do corpo dele e o calor das suas mãos. Ela murmurou suavemente para só Kíli escutar.

“Esse dia longe de você foi como um ano inteiro para mim!”

Ele deu um passo para trás e olhou com severidade nos olhos dela.

“Mas eu vi você conversando com Balin e Dwalin durante todo o dia. Você não parecia sentir minha falta!”

Ela balançou a cabeça, sorrindo.

“Kíli, Kíli, Kíli, tenta ser um pouco mais auto-confiante, vai?” Pelo olhar dele, Fíli e Iris sabiam que não era a primeira vez que esse tipo de assunto tinha surgido. “Não fique bravo com meus Irmãozinhos, ou quem você acha que está distraindo Thorin nesse instante para eu poder chegar perto de você? Ele é pior que um maldito cão de guarda, o seu tio!”

Kíli olhou para cima, afastando-se dela menos que cinco centímetros.

“O que vamos fazer? Eu vou perder a cabeça se tiver que ficar mais um dia longe de você!”

“Como um velho professor meu costumava dizer, você pode negociar qualquer coisa.” Ela tinha um ar travesso no olhar. “Fica frio, eu tenho um plano.”

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Depois do jantar Ellen deu um jeito de chamar a atenção de Thorin mencionando alguma coisa sobre os pôneis, e eles caminharam até onde o pequeno rebanho estava amarrado para a noite depois de pastar. Ele percebeu que alguma coisa esquisita estava para vir, mas estava com a mente tão ocupada com a lembrança de Lily procurando-o durante o dia para conversar que estava quase de guarda baixa. Quase.

“Lorde Thorin, eu gostaria de ter palavras mais diplomáticas, mas não tenho. Precisamos conversar. De líder para líder.”

“Não temos nada a conversar.”

“Sim, nós temos, pelo bem da segurança da Companhia.”

“O que quer dizer?”

“Você precisa da sua Companhia íntegra, focada, unida, ou você nunca vai conseguir fazer o que precisa ser feito para ter Erebor de volta, e você sabe disso, uma vez que é um líder de pessoas.”

“Sim. E…?” Ele levantou uma sobrancelha.

“Um só homem aflito pode trazer problemas para todos. eu não arriscaria nossa segurança por orgulho, se eu fosse você.”

“Escute aqui, elfa, se alguém na minha Companhia está aflito é só por sua causa! Então, se você realmente se importa com segurança, deveria parar de afligir aquele sobre quem estamos falando!”

Ele estava zangado agora, mas ela não estava menos que ele.

“O que o aflige não sou eu, mas sentir falta de mim, e isso é por sua causa e somente por sua causa! Thorin Escudo-de-Carvalho, filho de Thráin, a quem eu jurei lealdade, eu lhe peço que use seu bom senso e suspenda sua proibição. Eu sei que a linhagem de Durin já teve mulheres sem barba antes, seja menos Neanderthal e use a razão! Não há nada em mim que possa manchar sua linhagem!”

Thorin não tinha a menor idéia do que era um Neanderthal, mas soava como se ele fosse preferir não saber mesmo.

“Você é uma elfa, e isso é suficiente.”

Ela fechou os olhos e soltou um longo suspiro. Não ia ser fácil.

“Você confia na opinião de Balin e Dwalin?”

“É claro que sim. Eu confiaria minha vida à eles.”

“Então por que não confia na opinião deles sobre mim? Se eles crêm que somos da mesma amálgama, por que não você? Eles serem meus Irmãozinhos não me faz um pouco anã também? Não sou teimosa o suficiente para você?”

Ele tinha certeza de que ela era, mas ele mesmo era mais.

“As coisas não são tão simples, mulher! Eu não posso concordar com um relacionamento que só vai trazer frustração e tristeza para meu sobrinho!”

“Eu nunca faria algo que pudesse entristecer Kíli!”

“Não? Por que está indo para Erebor, para começo de conversa?” Ele não esperou pela resposta. “Para encontrar o Portal e fugir de volta para o seu mundo, é isso, deixando um rapaz de coração partido para trás! Você não tem ideia do que pode acontecer com um anão que ama e é abandonado!” Ela tentou dizer alguma coisa, mas ele continuou, amargo. “Sim, eu sei que elfos podem morrer de tristeza, mas nós anões não temos essa graça; continuamos nos debatendo, cada dia uma tortura, a lembrança da amada assombrando noites insones e dias de pesadelo, até chegar o dia em que você deveria morrer, e isso pode estar a centenas de anos de distância quando se fala de um jovem. Então, se houver qualquer chance de você causar esse dano a Kíli, cuidado comigo, porque vou te caçar e garantir que você se arrependa de cada lágrima que o fizer chorar!”

O silêncio era cortado pelo som de sua respiração pesada. Ele estava realmente zangado, e agora Ellen entendia o porquê. Não tinha nada a ver com ela ser uma elfa. Mas, graças à Varda, as coisas já estavam resolvidas em seu coração.

“Senhor Thorin, eu reconheço suas preocupações, mas juro que pode descansar seguro de que não vai precisar me caçar em lugar nenhum, porque eu já fiz minha escolha. Eu preciso encontrar o Portal de Erebor porque meu irmão, pai das minhas sobrinhas e minha única família, precisa pelo menos saber o que aconteceu conosco. Creio que Iris é muito nova para decidir por ela mesma, e acho que ela deveria voltar para casa; Lily já atingiu a maioridade, ela pode decidir por ela mesma, ainda que eu creia que sei qual vai ser a escolha dela, mas não é minha para dizer; e quanto à minha própria escolha, senhor, ela já foi feita. Eu vou ficar. Meu lugar é onde Kíli estiver. Eu não vou partir o coração dele. Eu daria meu próprio sangue por ele.”

“Cuidado com o que promete, Mahal costuma conceder os desejos de quem o tenta.”

“Thorin, eu estou disposta a abrir mão da minha vida inteira, na verdade do meu próprio mundo. Estou deixando tudo para trás, você realmente me negaria sua benção? Você me contou o que acontece com um anão que é amado e então abandonado, mas o que acontece com um anão que ama e é proibido de realizar seu amor? Sua vida será menos miserável sabendo que existe uma joia para ele, que ele nunca poderá ter? Ou o que mais você tem contra mim?”

“Se você é capaz de entender, quero dizer que meu sobrinho não deveria ser importunado por alguém de menos do que uma linhagem real.”

“Bem, senhor, eu não tenho certeza de que você é capaz de entender que um título de mestrado em administração de empresas pode ser bem mais significante no lugar de onde venho do que uma linhagem controversa.” Ele a encarou com olhos de aço e ela continuou antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. “E antes que pense que sou mau educada, por linhagem controversa quero dizer uma linhagem sobre a qual já se discutiu muito.”

“Na verdade, você não está no lugar de onde veio, então pode ser mais sábio para sua saúde que meu sobrinho não seja mais importunado.”

Ellen lhe deu um sorriso acanhado, finalmente pondo seu plano em ação.

“Como queiras, senhor, desde que minha sobrinha também não seja mais importunada.” Ele lhe deu um olhar penetrante. Até então, estivera certo de que de que não estava sendo assim tão óbvio. Isso mudava o equilíbrio, apesar de que ele já estava quase convencido pelos argumentos dela. Quase. “Não que eu me importe se ela for importunada por alguém de menos do que uma universidade de primeira linha, desde que ela esteja feliz. Diferente de muitos tios e tias, eu confio no discernimento das filhas do meu irmão.”

Não é que não confie no discernimento do meu sobrinho, é que eu sou responsável por ele, eu preciso ficar de olho nele.”

“Hmm. Então, assim, acho que podemos pensar nisso numa troca de favores.” Disse a elfa, estreitando os olhos, com um sorriso matreiro nos lábios.

“”Que tipo de troca?”

“Eu fico de olho no seu sobrinho, enquanto você fica de olho na minha sobrinha.”

Essa era provavelmente a melhor desculpa de que ele precisava,

“Feito.”

ooo000ooo

Na manhã seguinte a Companhia acordou com o cheiro de bacon frito. Lily e Ellen, que havia se oferecido para o último turno de vigília, estavam fritando ovos na frigideira grande de Bombur e servindo numa fileira das tigelas de uso geral que a companhia usava para todas as refeições, junto com pedaços de pão e manteiga que os elfos lhes haviam provisionado. O cheiro celestial entrou nas narinas de Thorin enquanto ele dormitava para fora de seus sonhos, quase esperando ver sua mãe sorrindo para ele na porta de seu quarto de volta em Erebor, uma vida atrás. Abriu seus olhos para encontrar Lily a seu lado com uma tigela de ovos fritos e uma caneca de chá de hortelã pronta para ele.

“O que você está fazendo aqui?”

“Só estou tomando conta do café da manhã. Eu achei uns ninhos ontem e coletei os ovos. Nós tínhamos um pouco de bacon das nossas provisões anteriores. Eu…” Ela baixou os olhos, timidamente. “Eu percebi em Imladris que você gosta de ovos fritos de manhã. É só uma coisinha, mas…”

Thorin levantou o queixo dela com um dedo para que ela olhasse para ele.

“Isso não é uma coisinha. O café da manhã nem era sua obrigação hoje. Por quê?”

“Eu… eu sei que não é adequado para uma anã estar aí fora nos ermos; seria diferente se eu pudesse; mas do jeito que é, eu não quero ser um fardo, eu quero ser útil, e se eu puder fazer os seu dia começar melhor com esse esforcinho, por que não?”

“Você fez o dia da Companhia inteira começar melhor, não só o meu.” Ele estava sorrindo agora.

“Não seria justo trata-los diferente só porque você é aquele…” Sua voz desapareceu.

“Aquele o que, criança?”

Ela deu um jeito de disfarçar e disse baixinho, enquanto se levantava e tentava desaparecer.

“Aquele que eu chamo de rei.”


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