Another Selection escrita por Enthralling Books


Capítulo 2
A visitante


Notas iniciais do capítulo

Hey, dears.
Cheguei aos quarenta e cinco do segundo tempo, mas cheguei. Minha internet resolveu implicar comigo hoje.
Para um primeiro capítulo, tivemos bons números. 5 comentários, 7 acompanhamentos e 2 favoritamentos. Vamos continuar assim, okay? kkk

Enjoy!



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– Não é estranho? É a primeira vez que vamos ao palácio sem ser para um baile.

– Eu acho estranho é que a gente tenha que ir logo quando começa a Seleção. Aquilo vai ser irritante. – Disse, olhando a paisagem pela janela do carro.

– Por que você odeia tanto a Seleção, Meri? Eu não entendo você. É o sonho da maioria das garotas.

– Competir com outras trinta e quatro garotas por um príncipe antipático? Não obrigada. – Disse ainda sem fitá-lo.

– Como você pode saber se ele é antipático ou não? Nunca trocou duas palavras com ele.

– Eu apenas sei. – Respondi simplesmente.

O que Ahren fez? Ele riu da minha cara, o que lhe custou um belíssimo soco no braço.

Estávamos a caminho do palácio depois de eu ter meu ombro servindo de travesseiro para o meu amigo dorminhoco por horas no avião. E o pior é que, quando a aeromoça apareceu, ele recusou o travesseiro. Mas acho que essa eu mereci por tê-lo feito ficar comigo esperando minha cólica passar por horas no início do mês.

Enfim, o ponto é que já estávamos quase chegando ao palácio e as Selecionadas chegariam no dia seguinte.

Acho que essa será a semana mais longa da minha vida.

Avistei os muros daquele presídio enfeitado e suspirei, tentando me preparar psicologicamente para essa semana.

– Majestade.

Assim que entramos no palácio, a rainha Amberly nos recebeu no Grande Salão e nós fizemos uma reverência bem dramática, na minha mais que humilde opinião.

– Joseph, meu caro, é um prazer revê-lo. E como vai, Ahren?

– Muito bem, majestade. Obrigado.

– America, querida, como tem passado? – Surpreendi-me em saber que ela se lembrava do meu nome, embora eu desconfiasse de que, se alguém pudesse ser gentil comigo no palácio, esse alguém seria a rainha. – Eu não sabia que viria.

– Estou bem, majestade. E também é uma surpresa para mim. – Comentei.

– Não quis deixar minha protegida sozinha em minha casa por tanto tempo. Com a ameaça rebelde, todo cuidado é pouco. Prefiro mantê-la por perto, se não se incomodar. – Lord Joseph explicou devido ao olhar questionador – mas suave – da rainha, que assentiu compreensiva.

– Não me incomodo. Pedirei a uma criada que prepare um quarto para America. Joseph, Clarkson o espera na Sala de Reuniões e suponho que Ahren vá acompanhá-lo. – Ambos assentiram – America, querida, que tal me fazer companhia no Salão das Mulheres enquanto os homens cuidam de nosso país?

– É claro, majestade.

Troquei um olhar com Ahren antes de seguir a rainha ao Salão das Mulheres. Olhando em volta percebi que o palácio me assustava e me deslumbrava ao mesmo tempo.

– Sei que deve estar cansada da viagem, mas perdoe-me por não poder acomodá-la imediatamente. Com o início da Seleção, a maioria dos quartos estão sendo preparados para as moças e temos mais cem criadas trabalhando para a chegada delas.

– Eu entendo. Deve ser um período bastante... Hum... Agitado por aqui. – Ela deu um pequeno sorriso.

– Agitado é uma boa maneira de se explicar. Você se inscreveu para a Seleção, America?

Abaixei a cabeça, um tanto constrangida com a pergunta direta.

– Não, majestade. Não me inscrevi.

Vi que seus olhos brilharam em sinal de curiosidade, mas ela não me perguntou o porquê.

– Isto sim é uma surpresa. A maioria das Dois amaria uma chance de vir ao palácio.

– Eu não sou uma Dois, majestade.

– Não? – Ela me olhou um tanto confusa – Mas não é a protegida de Joseph?

– Sim, senhora. Mas sou uma Cinco.

– Pois então me surpreende ainda mais que não tenha se inscrito, querida.

E o assunto se encerrou. Eu não queria dizer que não tinha a menor vontade de competir por seu filho e ela não me pressionou para saber algo claramente pessoal.

Chegamos ao Salão das Mulheres e eu nunca havia visto tantas criadas juntas na minha vida. A rainha provavelmente percebeu meu olhar assustado, porque logo me explicou.

– Será aqui onde as moças serão transformadas.

– Transformadas? Mas o príncipe não deveria conhecê-las como elas são? Estamos falando da futura esposa dele afinal.

– Em sua personalidade sim, mas tudo isso é apenas para igualar as chances das moças que vem das castas mais baixas no quesito aparência. E oferecer de presente a elas um dia de princesa.

O que eu entendi? Que a aparência tem mais importância do que eu achei que teria na escolha do príncipe. Talvez eu estivesse sendo muito rigorosa ao analisar seu caráter sem conhecê-lo, mas não pude evitar pensar no quanto tudo ao meu redor me parecia superficial. Sem poder expressar meu ponto de vista, procurei algo inteligente e gentil para dizer.

– Imagino que, na realeza, a imagem da rainha seja muito valorizada. E, se me permite dizer, majestade, a senhora cumpre essa imagem elegantemente.

Ela me olhou de uma forma que não compreendi, mas tudo o que disse foi...

– Considerarei como um elogio. E obrigada.

Curvei minha cabeça numa pequena reverência e fiz companhia à rainha enquanto ela se inteirava acerca da minha vida e da minha estadia e proteção na casa dos Crane. Diferentemente do filho, ela se mostrou profundamente angustiada quando descrevi a morte de Lady Anne, cujo enterro não pôde comparecer devido a um problema de saúde. Segundo ela, Lady Anne era uma boa mulher e não merecia o destino trágico que teve.

Depois de suas doces palavras, passei a sentir certo carinho por ela, o oposto ao que senti por seu filho.

As cinco, eu tomei chá com a rainha, ri um pouco da ocasião mais que inusitada para uma Cinco como eu e ela me acompanhou.

As seis, ela pediu que eu a chamasse de Amberly, já que ela me chamava pelo nome.

As sete, meu quarto ficou pronto e nós nos despedimos.

Quando entrei no quarto, três moças estavam em formação para me receber. O silêncio era um tanto constrangedor então eu mesmo o interrompi.

– Oi. Meu nome é America. – Que afirmação estúpida. Elas são minhas criadas. Sabem meu nome.

– Sim, senhorita. Eu me chamo Anne, e essas são Lucy e Mary. – Anne tinha uma postura rígida e isso lhe dava uma aparência de mais velha, embora eu suspeitasse que deveríamos ter a mesma idade. Lucy parecia estar quase quicando de animação e Mary estava mais tranquila, apenas com um sorriso constrangido nos lábios.

– Muito prazer em conhecê-las. – Anne franziu as sobrancelhas, mas logo mudou de assunto.

– Seus pertences já foram devidamente arrumados, senhorita. Agora precisa se preparar para o jantar.

–Tudo bem. – Fui até o meu armário escolher uma roupa pra vestir, deixando três criadas boquiabertas para trás.

– Senhorita! Isso não é adequado. – Anne me repreendeu, não sei se por eu ter feito o trabalho dela ou se por estar com uma calça jeans em mãos.

– A família real vai jantar com a gente? – Perguntei.

– Não sabemos, senhorita. – Mary respondeu e pegou um dos vestidos longos que Lord Joseph pedia para eu usar. Lucy pegou a calça jeans da minha mão e me lançou um olhar de desculpas.

– Tudo bem, mas não precisam me chamar de senhorita. Podem me chamar de America, ou de Meri.

– Não é adequado, senhorita. – Anne replicou. Aquela parecia ser sua frase favorita. Não sei o porquê, mas acho que essa não será a última vez que ouço isso.

– Se nos ouvirem falando assim, ficaremos enrascadas. – Lucy me segredou.

– Bom, se quiserem, podem me chamar assim quando estivermos dentro do quarto então.

Tomei uma ducha enquanto paquerava a imensa banheira que tinha na minha suíte, lamentando o pouco tempo para me arrumar. Mary fez um penteado simples, segundo ela, mas que eu jamais conseguiria copiar nem em um milhão de anos.

No jantar, éramos apenas Lord Joseph, Ahren e eu. E as dezenas de soldados e criadas que andavam de uma ponta a outra do salão. Percebendo minha confusão, Lord Joseph esclareceu que a rainha estava ocupada com os preparativos para a chegada das moças e o rei e o príncipe estavam resolvendo uma questão sobre os rebeldes.

Eu já conhecia o suficiente sua forma de falar para saber que “uma questão sobre os rebeldes” significava que eles tinham atacado de novo e bastante gente tinha morrido.

Depois do jantar, fui direto para o meu quarto emprestado, já que não tinha muito que eu pudesse fazer sozinha por ali. Antes de sairmos de Carolina, Lord Joseph havia dito que eu e Ahren não poderíamos dormir no mesmo quarto no palácio, se eu não quisesse acabar presa. Ali, ninguém pensaria que esse era um ato fraternal.

Minhas criadas me ajudaram a colocar o pijama e embora eu soubesse o que uma criada fazia, eu não tinha nenhuma em Carolina, o que me fez estranhar bastante a situação. Dispensei-as depois de muita discussão, já que elas insistiam para que eu mantivesse ao menos uma delas no quarto enquanto eu dormia.

– America?

– Estou aqui, Lady Anne. – Peguei uma rosa do jardim e a entreguei, fazendo com que ela sorrisse para mim.

– Obrigada. Mas fale baixo, querida. Não queremos que alguém saiba que estamos aqui, certo? – Eu apenas ri baixinho. Lady Anne tinha escapado da festa de Ahren para respirar ar puro, como ela explicou. Muita gente no mesmo espaço a deixava agitada.

Sim, senhora. – Sussurrei

– Por que você não toca alguma coisa? – Sugeriu, olhando para a lua.

– O que a senhora quer que eu toque?

– Por que não toca aquela que você está ensaiando há meses? Acha que já consegue? – Me encarou, querendo saber como estava o meu desenvolvimento. Lady Anne sempre esperava o melhor de mim.

– Não sei. – Disse simplesmente – É difícil.

– Por que não tenta? – Disse carinhosamente.

Peguei meu violino, respirei fundo e comecei meu solo.

Quando terminei, esperei um segundo antes de olhar para Lady Anne e, quando o fiz, vi seus olhos lacrimejarem de orgulho enquanto ela me abraçava.

– Ah, querida! Isso foi tão lindo. Você é uma grande artista, America. E eu tenho muito orgulho de você.

– Eu... eu...O que foi isso? – Me assustei com um barulho ao longe. Lady Anne ficou rígida do meu lado e se levantou de súbito. De repente, começou a me puxar pelo braço para dentro da mansão.

– Lady Anne?

– Shhh. Não faça barulho, America.

Então ouvi um disparo.

E Lady Anne parou.

– Vá, America. Chame ajuda. – Ela segurou com força o lado esquerdo da sua cintura.

Comecei a chorar com força assim que percebi o que estava acontecendo.

– Não, Lady Anne. Eu não vou sem a senhora. – Sacudia a cabeça freneticamente em uma negativa desesperada.

– Peça ajuda, America. Chame a alguém. – Ela insistiu, caindo sobre seus joelhos.

– Não. Não posso. Eu não...

– Você precisa ir, Meri. – Sua voz continha cansaço e uma pitada de desespero. Eu precisava ajudá-la, mas não poderia deixar que ela ficasse para morrer.

– Mas... Mas...

– Agora! – Ela gritou e eu chorei ainda mais, tanto que meus olhos embaçaram e eu não conseguia enxergar um palmo a minha frente. Passei a mão esquerda de forma nem um pouco delicada sobre meus olhos e com a mão direita segurei o vestido para correr.

Antes de virar no corredor, olhei para trás mais uma vez e vi Lady Anne olhar assustada para algo que eu não conseguia ver. E olhou pra mim mais uma vez.

– Corra, America!

Acordei suada, tremendo e chorando compulsivamente. Olhei o relógio na minha mesa de cabeceira e constatei que ainda eram quatro horas da madrugada. Sabendo que não conseguiria dormir de novo, me levantei e fui relaxar na banheira onde, algum tempo depois, percebi algo que me escapara pelos dedos em toda a minha confusão mental.

A Seleção começa hoje. Droga!


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Notas finais do capítulo

Caso o link do vídeo que pus no texto não queira abrir, aí está:
https://www.youtube.com/watch?v=R_tu63ypB6I

O que acharam?
Nos vemos no próximo capítulo, que vou me esforçar pra postar na sexta.
Beijos!