Ingleses também matam escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 5
Ninguém sai desta casa, até segunda ordem.


Notas iniciais do capítulo

Preparem os caderninhos, anotem as suspeitas, comentem!



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Jennifer se levantou muito assustada com os gritos de Albert. Imediatamente, ela se levantou da cama, mesmo se sentindo levemente enjoada. Desceu as escadas com certo desespero e foi até a cozinha. Encontrou o irmão com a pele amarelada e encarando alguma coisa do lado de fora da casa, na garagem.

–Albert, o que foi? - Ela gritou, desesperada.

–Jennifer... - Ele murmurou, se virando bruscamente na direção da irmão. - Jenn...

Ele cambaleou até ela e acabou perdendo o equilíbrio, caindo desacordado nos braços dela. Sem tempo para ver o que o tinha assustado, ela o carregou até o sofá, bem no momento que Henry também descia as escadas. Ele tinha uma expressão que era uma mistura de dor e susto. Quando viu o amigo no sofá e Jennifer tentando socorrê-lo, seus olhos semifechados pelo sono arregalaram-se e ele foi ajudar a loura.

–Ele se assustou com alguma coisa. - Jennifer explicou. - Fique com ele, eu vou ver o que é.

–Tudo bem. - Henry concordou, colocando as mãos no pulso do rapaz inconsciente. - Albert, por favor.

Jennifer também gritou e bateu as mãos na porta quando viu o corpo de Hillary. Seu enjôo aumentou consideravelmente, mas como uma futura médica, ela manteve a calma diante daquela cena. Sabia exatamente o que fazer, de alguma forma. Respirou fundo, tentando controlar o nervosismo e gritou um recado.

–Henry, não deixe ninguém sair da casa, por favor!

Então Jennifer bateu a porta da cozinha. Caminhou até o corpo de Hillary e se abaixou perto dele. O sangue estava fresco, sinal de que aquilo aconteceu há pouco tempo. Do ferimento com a faca, ainda escorria um pequeno fio vermelho. Ela sabia que não deveria tocar no cadáver, mas seria inevitável. Entrou na cozinha e pegou o celular que havia deixado em cima da mesa e tirou fotos de todos os ângulos.

Em seguida, ela abriu os olhos de Hillary, que já não tinham mais expressão. A pele dela também não tinha cor e seus lábios eram simplesmente roxos. Ainda assim, era reconhecível o rosto de uma garota que havia sido muito bonita. Analisando os seus braços, Jennifer viu cortes não muito profundos, além de arranhões e marcas de socos. Sinal de que ela havia sido agredida e reagiu. Como ninguém ouviu aquilo?

A roupa que ela usava era uma camiseta regata, parte do pijama, completamente ensopada de sangue. Tinha também um shorts curto e uma blusa branca, de frio. Naquela noite, não havia ventado... por que ela estaria usando aquilo? Um pouco receosa e limpando algumas lágrimas, Jennifer retirou a peça de roupa do corpo de Hillary e a examinou. Tinha manchas de sangue, que com certeza não saíram do ferimento com a faca.

Observando a cena ao redor, os olhos que tudo veem de Jennifer também notaram que uma trilha de sangue levava até o cesto de lixo, perto da porta da cozinha. Também viu que a mesa dobrável havia sido fechada e havia uma lasca em um ponto dela, como se alguém tivesse a acertado com um martelo sem motivo algum. Sem material para recolher digitais, seria praticamente impossível descobrir quem fez aquilo, mas Jennifer queria acreditar em si mesma. Queria descobrir quem era aquele assassino, e só chamar a polícia em último caso. Mas... o que fazer com uma garota morta?

Enquanto pensava nisso, ela caminhou até o cesto de lixo e o abriu. Estava suando frio quando examinou se havia algo de diferente ali. Claro que ela não esperava muitas evidências, afinal; mesmo ela sendo muito observadora e ter uma memória quase fotográfica, ela não costuma reparar muito no conteúdo dos cestos de lixo. O cheiro a fez querer vomitar novamente, então ela decidiu deixar aquilo para depois. Sua cabeça não estava pensando direito e ela só sentia as mãos tremerem.

Albert ficou um bom tempo desacordado. Henry ficou do lado dele o tempo todo. Peter e David levantaram logo depois. Os dois com olhar de ressaca e expressão cansada. O maior correu assim que viu o olhar de Henry para o rosto de Albert. Peter o seguiu da mesma forma.

–O que houve?

–Eu não sei... Jennifer disse que ele se assustou.

–Onde ela está?

–Lá fora, mas pediu para que ninguém fosse lá e se eu fosse vocês, seguia o conselho. O que quer que seja, traumatizou meu melhor amigo.

Os dois estremeceram, como se estivessem ligados por uma espécie de elo. Um silêncio mortal tomou conta da sala... todos esperavam que Katherine e Thom acordassem, mas nem sinal deles. A única coisa que se ouviu minutos depois foram gritos abafados e desesperados de Lily, em seu quarto.

–Darla, pelo amor de Deus, você vai morrer! - Ela gritava. - Está desidratada.

Darla. Henry não se lembrava direito do que tinha feito, mas sabia que tinha sido ruim. Provavelmente, havia sido pior ainda para a garota, já que ela, que sempre foi tão falante, não respondia aos chamados de Lily. De repente, um flash da noite passada voltou à mente de Henry, para destruir sua alma em mil pedaços.

–Darla... - Ele murmurou – Eu... acho que...

Henry se levantou, deixando o pulso de Albert. Ele abriu a porta do quarto das meninas e trombou imediatamente com Lily, que corria desesperada. Ela se segurou nos braços de Henry e o olhou com certo rancor, como se já soubesse o que ele tinha feito. Passou por ele sem falar nada e correu para a cozinha, pegando um copo enorme de água para levar para a companheira de quarto.

–Darla, eu... - Henry ia falar algo, mas se assustou com o que viu. Darla estava enrolada nos lençóis, encolhida em um canto da parede, seu rosto não tinha expressão, apenas grandes olheiras e um inchaço incomum. Não eram sintomas apenas de ressaca. - Meu Deus...

–Sai da minha frente... - Ela tentou falar. - Sai daqui, Henry. - Ela não olhava para ele.

–Darla, não foi por querer, eu...

–Eu disse... - Ela se levantou e pegou um vaso de flores que ficava no criado-mudo que separava a cama dela e de Lily. - Sai da minha frente!

Com uma força que não possuía no momento, Darla arremessou o vaso na direção de Henry. O projétil acertou a parede ao lado dele e os estilhaços voaram e seu pescoço, assim como a água que havia ali. As flores caíram no chão e o lençol da cama dela foi molhado. Ela estava arfante, como se tivesse acabado de arremessar um elefante contra o “homem”.

Lily apareceu repentinamente atrás do rapaz e puxou ele pelo ombro, o jogando para trás e o fazendo perder o equilíbrio. Ele caiu, batendo o cóccix com força no chão. A loura pisou no peitoral dele e falou, entre dentes.

–Você não é homem de verdade. É um covarde, um... - Ela rosnou e chutou o queixo dele. - Lixo.

Ela saiu de cima do rapaz e levou o copo de água para Darla, a fazendo se sentar na cama e beber o líquido à força. Peter não sabia se ajudava David a zelar Albert ou se ia ver o que tinha acontecido no corredor ao lado. Assim que Henry se levantou, ele logo foi perguntar o que houve.

–Mano, que bicho mordeu elas?

–Não é da tua conta. - Henry respondeu, encarando o quarto com raiva.

–Oh, não precisa ser tão... - Peter começou a falar, mas foi segurado pela gola por Henry.

–Ser o quê, viadinho? - Ele perguntou, encarando o rapaz, que arregalou os olhos de tanto medo.

–Nada. Eu juro, nada.

–Foi o que eu pensei. - Henry soltou o rapaz e subiu as escadas com dificuldade, voltando para seu quarto.

Darla foi retirada do quarto por Lily, ela praticamente arrastava a garota. A morena tremia tanto que parecia tão mal quanto Albert. A loura se fechou no cômodo com a colega e só se pôde ouvir o barulho do chuveiro e ocasionalmente, da descarga. Provavelmente aquilo era um banho misturado com sessões de náuseas. Pouco a pouco, a desgraça se espalhava pela casa de praia. Os únicos que não tinham um problema em mãos eram Katherine e Thomas, que não acordavam por nada.

Finalmente, Jennifer abriu a porta da cozinha, entrou na casa e fechou todas as saídas da casa com chaves e as escondeu num lugar que nem mesmo Albert sabia qual era. Ninguém entendeu o que ela tinha feito, a princípio, mas ela simplesmente fez um comunicado.

–Nos próximos dias, ninguém além de mim e quem mais eu autorizar sairá dessa casa. - Ela falou, para os dois rapazes na sala.

–Por quê? - Os dois perguntaram, em uníssono.

–Ficarão sabendo mais tarde. - Ela não tinha autoridade na voz. Sua expressão era a de alguém que havia trabalhado por horas debaixo do sol. - Irei falar quando achar oportuno.

Lily saiu do banheiro para buscar mais um copo de água potável, enquanto Darla provavelmente estava morrendo debaixo de um chuveiro. Não era bom gastar água, mas era uma situação que exigia conforto. Dentro de dez minutos, ela retirou uma garota morena toda molhada, enrolada em um monte de toalhas de dentro do cômodo. De algum modo, ela convenceu a garota a se trocar, mas ela usou as roupas mais longas que tinha.

Darla com uma saia que ia até os pés e uma camiseta de manga longa era irreconhecível. Apesar disso, seria bonita se não tivesse uma expressão cadavérica e olhos marcados de choro, além dos sintomas de desidratação que ainda não haviam deixado de se manifestar, mesmo depois de muitos copos de água.

–Exagerou na bebida? - David perguntou, vendo a garota daquele jeito.

–Não façam perguntas. Nenhum de vocês. - Lily repreendeu.

Jennifer passou mais algum tempo do lado de fora da casa. Quando já eram onze horas da manhã e já fazia horas que todos tinham levantado, Katherine desceu as escadas. Sua cara de ressaca deveria ganhar o prêmio de “pior da manhã”, mas ela logo perdeu o título para Thomas, que desceu os degraus desajeitadamente e com uma expressão de puro desespero.

–O que foi, Thom? Viu fantasma? - David quis saber.

–Não... eu acho que... enfim, como estão? - O rapaz perguntou, tentando disfarçar o medo.

–Albert está desmaiado, Henry trancado, Lily está desesperada, Darla está deprimida, Peter está com medo do Henry, eu estou boiando e Jennifer está do lado de fora. Ah, ela pediu para avisar que ninguém pode sair da casa até segunda ordem.

–Segunda ordem de quem? Dela? - Katherine perguntou.

–Acho que sim. Ela é dona da casa, né? - David ponderou.

–Não... eu sou e eu decido... ai! - Albert murmurou, abrindo os olhos. - Eu tive um sonho tão horrível.

O louro se levantou com dificuldade, levando uma das mãos à nuca. Estava com os olhos apenas semiabertos, mas já queria se meter nas conversas. Henry desceu as escadas, como se tivesse sentido o despertar do amigo. Ele e Darla se encararam, sem expressão, assim que ele chegou no cômodo. Todos queriam saber tanto o que estava acontecendo com eles, quanto o que Jennifer fazia lá fora.

Assim que ela destrancou a porta da cozinha, Thomas correu para saber o que era. Sem querer, ele acabou vendo o corpo de Hillary por cima do ombro de Jenn e levou a mão direita à boca, deixando lágrimas escaparem involuntariamente. Meio pálido, ele cambaleou para trás e se encostou à parede da cozinha, sentando-se lentamente no chão, sem conseguir falar nada. Foi apenas um relance, mas o suficiente para assustar.

–Eu ia ser mais delicada, se você não fosse tão curioso. Agora, eu não vou segurar outro desmaiado. - Jennifer falou. Parecia muito nervosa, o que não era o normal dela.

–O que foi que eles viram? - Henry perguntou. - Por favor, Jennifer. Fale logo.

–Eu vou dizer. - A loura respondeu, se dirigindo à sala, onde todos estavam reunidos.

–É com muito pesar que eu comunico que... temos um assassino entre nós. - Jennifer falou, séria. - Hillary levou uma facada no pulmão e infelizmente, faleceu.

Ninguém se manifestou escandalosamente. Foi um estado de choque coletivo. Darla, que já estava horrível, ficou pior ainda. Ninguém tinha forças para fazer um comentário. Peter foi quem parecia o menos abalado, mas mesmo assim, engoliu em seco e ficou tão pálido quanto Thomas, que ainda encarava a porta da cozinha, tremendo. David respirou fundo e se sentou no sofá. Albert quase desmaiou de novo. Henry encarou Jennifer como se ela fosse a assassina. Katherine foi a primeira a gritar e dar início ao primeiro choro coletivo da casa.

–Jennifer, você está falando sério? - Henry perguntou, era o único que ainda não tinha abrido um berreiro.

–Não, Henry. Estou brincando, Hillary está lá fora tomando banho de mar... - Jennifer respondeu, com grosseria. - É claro que estou falando sério, seu idiota.

–Não me chame de idiota.

–Não me diga o que fazer ou não fazer.

Ambos não queriam brigar, mas estavam dominados por sentimentos confusos. Se limitaram a ficar em silêncio e deixar que o choro dos outros também os contagiasse. Katherine não parava de gritar aquelas coisas que todo mundo grita quando alguém morre do tipo “Por que não eu?” e “Ela não merecia isso, meu Deus”. Jennifer achou que aquele desespero parecia meio falso e suspeito, mas ela não queria tirar conclusões precipitadas, não naquele momento. No entanto, ela sabia que deveria agir rápido.


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