Ingleses também matam escrita por BomDiaPeeta


Capítulo 2
Café da manhã


Notas iniciais do capítulo

Tanto nesse capítulo quanto nos próximos, vocês provavelmente vão pensar "Nossa, que coisa mais inútil, quero ação logo". Mas calma... preste muita atenção em todos os detalhes. Só assim você poderá descobrir quem é o assassino.



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II

Café da manhã

Eles levaram o dia inteiro, mas finalmente chegaram em seu destino. Já passavam das onze da noite quando finalmente o carro de Henry estava na garagem da casa e todos eles desembarcaram, trazendo consigo pacotes de salgadinhos e latinhas de refrigerante vazias. Henry era o mais maduro ali, com uma caixa de Toddynho nas mãos. Todos estavam completamente destruídos por causa da viagem, principalmente os dois motoristas.

Albert decidiu apresentar a casa a eles. Era muito grande, mas muito mais simples do que a casa comum de todos (ou seja, aquelas casas chiques em bairros nobres). Na garagem, havia a porta para a sala de estar, onde haviam dois sofás e uma televisão barata. Da sala, havia duas passagens; uma levava a um corredor e outra à cozinha. Eles visitaram este último cômodo. Era bem grande, havia uma mesa de madeira com seis cadeiras e ao lado, um fogão comum de quatro bocas, além de um armário fixo à parede, uma geladeira de tamanho médio e uma pia consideravelmente pequena. Apesar de simples, Katherine adorou o cômodo e viu que poderia fazer coisas bem legais ali.

Eles foram até o corredor, onde havia duas portas e uma escada. A primeira porta era o banheiro social, que ninguém fez questão de visitar. A segunda era um quarto bem grande, com três camas. Ao subir a escada, eles tinham acesso a mais três quartos também bastante grandes. Um deles tinha uma sacada com vista para o mar. Com certeza, seria o mais disputado.

Assim que eles acabaram de reconhecer a casa, dividiram os quartos. Henry, Albert e Jennifer ficariam no quarto mais desejado, com vista para o mar. Hillary e Katherine ficariam no quarto ao lado. Peter e David no terceiro quarto do andar superior. Darla, Lily e Tommy iriam para o quarto no andar inferior... esses três foram os que ficaram mais decepcionados, mas aceitaram a distribuição.

A primeira noite foi muito agitada para todo mundo. Apesar de cansados, Jennifer e Henry não conseguiam dormir, mesmo depois das duas da madrugada. Ele ficou sentado em sua própria cama, estava sem camisa, mas ele não tinha vergonha da garota... se Albert era como seu irmão, ela era como sua cunhada e ele não tinha motivos para atrair ou se sentir atraído por ela. Eram bons amigos.

–Henry, não consegue dormir? - Ela perguntou, baixinho. Os dois estavam separados pela cama de Albert.

–Não... - Ele respondeu, um pouco alto demais. - Acho que é a emoção.

Jennifer não podia ver direito no escuro, mas imaginou que ele havia sorrido como sempre faz. Ela decidiu mostrar para ele o que ela fazia quando não sentia sono. Se levantou e foi para perto da cama dele, segurando a sua mão.

–Vem cá, vou te mostrar uma coisa.

Ela abriu uma das portas de madeira que levava para a sacada, olhou para o lado para conferir se o irmão estava dormindo e viu que ainda estava quando ouviu seu ronco fofinho. Ela saiu do quarto e deu sinal para que Henry fizesse o mesmo. Do jeito que estava, ele saiu da cama e seguiu a garota. Ela fechou a porta em seguida e apontou para o mar à frente deles. Havia uma ou outra construção isolada atrapalhando a paisagem, mas eles tinham uma visão bem ampla do Oceano Atlântico.

–É lindo, não é? Olhe, a lua está perfeita.

–É, está... - Henry concordou. A lua realmente refletia no mar e se estivesse cheia, seria mais bonita ainda.

–Suba aqui – Ele ouviu Jenn chamar e se virou para ver onde ela estava. A garota escalava uma pequena escada enferrujada na sacada.

Ela terminou a subida e foi seguida por Henry. Eles simplesmente foram parar no telhado da casa. Era plano, por isso, não fornecia tanto perigo, mas uma queda ali seria fatal.

–Quando nós viajávamos, eu sempre ficava aqui quando não tinha sono. Daí quando eu via que estava quase caindo, descia e ia para a cama. - Ela explicou. - O mar tem propriedades relaxantes.

Henry abaixou a cabeça e simulou uma queda para o lado, como se estivesse despencando de sono. Depois jogou o corpo contra o ombro dela e deitou a cabeça no mesmo, fingindo um ronco. Ela deu risada e o empurrou para o lado.

–Bobão. - Comentou, rindo um pouco alto.

–Shhh, vai acordar os outros. - Ele repreendeu.

–Não vai, ninguém nos ouve aqui. - Ela disse. Na verdade, ouviam, mas só se estivessem perto do quarto de Albert e ele era o único lá.

Os dois ficaram ali por mais uma hora, até que finalmente o sono os tocou e decidiram descer. Abriram discretamente a porta da sacada e deitaram em suas respectivas camas.

Albert acordou às oito horas da manhã em ponto. Notou que Henry e Jennifer estavam desajeitados em suas camas e a porta da sacada estava aberta. Deduziu que ambos haviam saído do quarto, mas não deu importância ao fato. Vestiu uma camiseta que estava em sua mala e saiu do cômodo. Observou o espaço onde ficavam os três quartos. Todos estavam com as portas fechadas. O rapaz desceu as escadas e foi até a cozinha, para preparar um café antes que todos se levantassem. Nem se preocupou em arrumar o cabelo no espelho.

Ele estava distraído tentando se lembrar como os seus colegas da faculdade faziam o café do jeitinho brasileiro quando foi subitamente assustado com uma voz feminina meio ensonada e meio sensual.

–Acho muito sexy homens que mexem na cozinha.

Ele não sabia se levava como elogio ou se repudiava aquela frase, mas decidiu ficar no meio-termo.

–Não mexo com cozinha, Darla. - Ele respondeu, sem se virar para a garota.

–Acontece que eu não sou a Darla. Eu sou a sua irmã. - A garota respondeu, agora com outra voz. - Você precisa ficar mais esperto, mano.

Ele se virou para conferir e realmente, era Jennifer que havia o seguido até ali e havia feito uma imitação perfeita da voz de Darla.

–E eu não acho sexy só homens que mexem na cozinha – Outra voz disse – Eu acho sexy qualquer um que se pareça com o Albert.

Então dessa vez, a verdadeira Darla entrou na cozinha, usando um pijama de seda ridiculamente curto e caro. Albert e Jennifer se perguntaram se ela realmente gostava de usar aquelas coisas esquisitas e fazer aquele tipo de comentário logo às oito da manhã. Apesar disso, Albert não podia deixar de discordar que ela tinha um corpo altamente desejável, mesmo descabelada e com voz de sono.

–Vai ser um longo dia... - Jennifer suspirou – Irei escovar meus dentes e dar um jeito na juba. Volto logo.

Ela subiu as escadas e foi se trancar no banheiro que havia no quarto que ela dividia com seu irmão e seu amigo. Albert e Darla ficaram sozinhos na cozinha e ele sentia que não poderia se controlar por muito tempo, então era melhor que ela ficasse quieta. Contrariando a vontade do rapaz, ela se aproximou dele e se apoiou na pia, onde ele terminava de fazer o café. Ficou olhando para ele como se esperasse alguma coisa.

–O que você quer, Darla? - Ele perguntou, como se não soubesse a resposta.

–Não se faça de desentendido. - Ela respondeu, piscando – Vamos, só um beijo. O resto a gente resolve depois.

Ela chutou a canela dele delicadamente, a fim de provocá-lo a aceitar o pedido. Subitamente, ele agarrou a cintura dela e a beijou, mas apenas por poucos segundos, depois a afastou. Mal deu para sentir o gosto do gesto.

–Isso nem valeu. Quero um beijo de verdade – Ela reclamou. - Vamos, All... não seja timido.

–Não. - Ele recusou – Depois, quem sabe. - Corrigiu.

Ela bufou, frustrada e entrou no quarto que dividia com seus dois “coleguinhas”. Logo saiu de lá e foi usar o banheiro. Darla realmente desejava Albert e ficava decepcionada quando não o conseguia. Às vezes, ela sentia vontade de se vingar de todos os homens que recusavam o corpo dela, afinal; não é fácil se manter “gostosa” vinte e quatro horas por dia.

Albert fechou a garrafa térmica e viu que não havia nada no armário além de pó de café e açúcar. Ele precisava comprar comida e havia se esquecido disso. Precisava de companhia para ir ao mercado com ele e voltar o mais rápido possível. Subiu as escadas correndo e deu de encontro com sua irmã, que havia realmente dado um jeito no cabelo armado: o prendeu em um rabo de cavalo, como sempre, ainda assim, alguns fios estavam arrepiados.

–Jennifer, vou chamar o Henry para ir ao mercado comigo. Cuide dos outros para mim. O café está em cima da pia.

–Ok. - Ela concordou. Então os dois seguiram seus rumos.

Albert abriu a porta do quarto e se jogou em cima do corpo adormecido de Henry, com certa violência. O rapaz acordou assustado e fazendo um barulho de “Uff”, resultante do impacto dos dois corpos.

–Bom dia, amorzinho! - Albert brincou – Como está meu bebezão?

–Sai daqui com essa viadagem, Albert. - Reclamou Henry.

–Não posso, estou perdidamente apaixonado por você. - Ele brincou, mas logo saiu de cima do amigo. - Ei, preciso de alguém que me acompanhe até o supermercado e você é o escolhido.

–Não quero. - Ele recusou, se revirando na cama e fechando os olhos.

–Eu não te dei opção, então ou você vem ou eu conto pra Darla que você está aqui em cima, sem camisa, e tranco vocês dois.

Henry se sentou repentinamente na cama e se levantou com tanta velocidade que sua visão escureceu por alguns instantes. Ele procurou uma roupa decente em suas malas e a vestiu, enquanto Albert arrumava a própria cama e abria a sacada para deixar o ar circular. O rapaz que se trocava não se incomodava com a porta aberta ou com a presença do amigo, afinal; ele andaria pelado na rua, se não fosse crime.

–Vamos à praia hoje? - Henry perguntou.

–Não, eu chamei todo mundo aqui para fazermos um retiro de meditação e filosofia.

–Engraçadinho.

Assim que Henry terminou de se trocar, eles desceram as escadas e foram até o carro de Albert. Ele abriu o portão e os dois saíram em busca de alimentos para todos na casa.

Enquanto isso, Jennifer torcia para mais ninguém acordar. Ela odiava ter que cuidar de visitas e principalmente ter que explicar que eles ainda não tinham comida. Só Darla estava desperta até então, mas não demorou muito para que mais alguém descesse as escadas. Peter e David apareceram na cozinha, mas ao menos eles pareciam já ter se virado para se arrumarem.

–Bom dia, Jenn – David cumprimentou – Como passou a noite?

–Não passei. Você conseguiu dormir? - Ela perguntou.

–Dormiu e fez mais barulho que motor de fusca – Peter respondeu – Só eu não consegui puxar um ronco.

Jennifer deu risada e começou a limpar a pia, ainda suja por causa do café que Albert havia feito. David e Peter pediram para pegar a garrafa, mas a garota mandou eles irem para a sala, porque os outros dois rapazes já haviam ido comprar as coisas para o café.

–Jennifer, não tem água na pia do meu banheiro... - Uma voz feminina muito ensonada falou. A garota reconheceu que era Lily.

–Use o banheiro social, querida. - Ela respondeu – Quando Albert chegar, eu peço para ele consertar.

–Tá bem...

Mais tarde, Tommy também apareceu na cozinha com a mesma declaração, mas sua voz era um pouco mais delicada do que a de Lily. Se tinha uma coisa que Jennifer e Henry tinham em comum, essa coisa era a vontade de rir toda vez que ele falava alguma coisa. Por fim, Katherine também desceu as escadas, com os cabelos bem-escovados e pronta para ir tomar café. Jennifer nunca entendeu porque elas se preocupam tanto com isso se na praia, elas vão se descabelar de novo.

–Esse é o seu “supermercado”? - Perguntou Henry – A mercearia do lado de casa é maior.

–Esse mercado é maior do que parece por fora. Além do mais, sempre tem tudo o que nós queremos.

Os dois entraram no estabelecimento e Henry comprovou que realmente era muito maior do que parecia. Não entendia o porquê de construírem coisas daquele jeito. Mas se limitou a não comentar nada e apenas pegar um carrinho de compras e seguir Albert por onde ele ia.

–Por que você e Jennifer saíram hoje? - Albert perguntou, casualmente.

–Eu não conseguia dormir, daí ela me levou para o telhado. - Henry explicou.

–Ficaram quanto tempo lá?

–Não sei... uma hora, mais ou menos. Mas como sabe que nós saímos?

–Largaram a sacada aberta e eu acordei com o vento no meu rosto.

Enquanto Albert colocava as compras no carrinho, Henry o seguia e os dois tagarelavam sobre a praia, a casa dele e sobre as garotas. O louro ia contar sobre Darla, mas preferiu não falar nada. Talvez Henry também tivesse ciúmes dela e isso poderia gerar discórdia entre os dois amigos.

–Será que todo mundo já acordou? - Albert perguntou, para o nada.

–Hillary com certeza não. Ela sempre fica pelo menos até as onze horas na cama.

–Vamos logo, Jennifer já deve estar desesperada. - O rapaz pediu.

Os dois terminaram as compras rapidamente e passaram tudo no caixa. Levaram as sacolas para o carro e levaram alguns minutos para retornar à casa. Já passava das nove horas da manhã quando eles finalmente entraram na cozinha. Encontraram uma mesa arrumada com xícaras recém-lavadas e um cesto para pães, além de facas, colheres e um pote de açúcar.

–Finalmente! - Jennifer exclamou, pegando uma das sacolas da mão do irmão.

Ela dispôs os alimentos na mesa, até tudo parecer um café colonial. Finalmente, todos ali poderia matar sua fome.


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