Begin Again escrita por Nina Spim


Capítulo 4
Chapter Four


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos que estão acompanhando! E obrigada, Mary, pela recomendação! Fez com que eu ganhasse a semana!
E já sabem: as atualizações acontecem aos sábados e às quarta-feiras!
Boa leitura!



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Parte VII - Oh, você fugiu, porque eu não sou o que você achou

Oh, você está em minhas veias, e eu não consigo te tirar.

(In My Veins, Andrew Belle)

Leio o e-mail de Quinn na segunda-feira, depois de saber que a edição com a minha entrevista acabou de sair. Quem me informa é Noah, e diz que assim que possível me mandará a versão digital.

Estou mais uma vez no meu camarim. São oito da noite e parece que estou me escondendo aqui. Na verdade, essa é total a verdade. Há um falatório pelo teatro inteiro, entre os atores e entre os que compraram os ingressos. Kurt acabou de sair daqui – ele fez a minha maquiagem – muito animado. Diz que estará ao lado de Finn na primeira fila. É a quarta vez que apresento My Fair Lady desde sua estréia e ainda me sinto nervosa. Sei que convenci a todos na pele de Eliza – as críticas foram muito boas, o que é um bom sinal; todo mundo está radiante –, mas também sei que sou apenas uma garota que fez um trabalho no passado, na Off-Broadway. Não sou Julie Andrews, ou Barbra Streisand. Sou apenas Rachel Berry. E, se eu cair, fico no chão. Ninguém se importará. Ninguém escreverá coisas como “esperamos que seu próximo trabalho nos surpreenda mais do que este”, pois não haverá uma próxima vez. Aqui, “fracasso” quer dizer “adeus, você não serve para nós”. E eu preciso servir para algo, é por isso que estou aqui.

Olho meu reflexo no espelho acima do balcão de maquiagens. O que eu estou fazendo da minha vida? Tudo estava ótimo há apenas alguns dias. Eu era uma noiva feliz e ansiosa para o casamento. Uma atriz e cantora realizada por saber que depois de muitos esforços, os palcos estavam me recebendo mais uma vez. Eu estava em paz.

Mas agora? Como posso afirmar qualquer coisa além de que me sinto pressionada o tempo inteiro? E tudo porque...

Há uma batida na porta.

– Entre.

É Tina.

– Recebi isso – ela diz, com um monte de flores nos braços. – Não é de Finn. Eu chequei. Conhece algum Noah Puckerman?

Ergo as sobrancelhas. Oi? Praticamente vou correndo até ela e retiro tudo de cima dela. Arranco o cartãozinho prateado de lá e o leio.

Cara Rachel Berry,

Não entendo nada sobre musicais. E, pra falar a verdade, não gosto de escrever matérias sobre eles. Mas a Fabray me disse que você arrasa nisso. Nos musicais, eu quero dizer. Confesso que a sua Eliza ficou incrível (não que eu tenho visto as outras narrações sobre a história), e espero que fique ainda mais a cada show. Com certeza, você merece.

Quebre a perna,

Noah Puckerman.

P.S.1: A Fabray disse que seria de “bom-tom” lhe dar essas flores como forma de agradecimento pela entrevista. Se não gostar delas, por favor, desconte tudo nela. Não me envolvi com nada disso.

P.S.2: O que há entre você e a Fabray? Ela fala MUITO sobre você. Por quê?

A Quinn fala MUITO sobre mim? Também quero saber, Sr. Eu-Não-Entendo-Nada-Sobre-Musicais! Fico com aquilo na mão, até que Tina diz:

– É, pelo visto você sabe quem é Noah Puckerman.

– Você leu o cartão antes de mim? – não estou aborrecida. Mas temo que, se ela perguntar algo sobre Quinn, eu vá mandá-la embora. E isso vai arruinar totalmente a minha imagem de diva-fofa da Broadway.

Tina dá de ombros.

– Só por precaução – ela responde. E então ela se vai.

Acomodo-me de novo na cadeira em frente ao espelho. Reviro o cartão entre meus dedos.

O que há entre você e a Fabray? Ela fala MUITO sobre você. Por quê?

Começo a me agitar mais uma vez. Quinn Fabray. Quinn Fabray falando sobre mim. Falando MUITO sobre mim.

{...}

Conheço Quinn desde... Sei lá, talvez desde sempre. Nos tempos de escola, sempre fomos boas colegas. E, então, aos doze anos nos tornamos amigas, logo depois de ela me defender sobre algo envolvendo o meu nariz. Éramos meninas muito diferentes. Ela parecia uma fada, toda alegre e extrovertida. Chamava a atenção de todo mundo, especialmente dos meninos. Quando ela deu o seu primeiro beijo aos treze anos, eu vivi através de suas explicações durante dias, sonhando com o meu primeiro beijo também. Ele veio dois anos mais tarde, durante um jogo medíocre e eu fiquei arrasada, porque não foi nem um pouco especial. Mas Quinn me disse, na época, que o beijo certo nem sempre é o primeiro, e que eu ainda o ganharia.

No ano seguinte, tudo começou a ficar confuso. Não confuso do tipo “Eu sei o que quero, mas vou fingir que não”. Confuso exatamente assim: “Eu não deveria sentir/pensar essas coisas, porque, aparentemente, isso é errado”.

Não falei nada no começo da minha confusão, porque tinha medo de que Quinn me julgasse e entendesse tudo errado (e eu gostava demais da amizade dela. Ela era a minha única amiga). Só que, no final, eu tive de confessar. E quando eu disse que achava (na verdade, eu tinha certeza) que não gostava mais dela como amiga, ela simplesmente mandou:

– Ótimo. Porque eu não quero mais ser sua amiga também.

Fiquei devastada quando isso me atingiu. Porque não era a minha intenção acabar com o que tínhamos. E ela nem sabia ainda por que eu não gostava mais dela como amiga! Eu lhe perguntei o que tinha feito para que ela não quisesse mais ser minha amiga. E ela deu de ombros e disse:

– Você me fez apaixonar por você.

É claro que eu não entendi.

– Você... Está apaixonada por mim? – eu perguntei. – Isso não parece muito normal.

– E desde quando você foi normal? – ela ergueu as sobrancelhas, sendo abertamente sarcástica. Fiquei quieta. Na verdade, parecia que eu estava num daqueles sonhos em que tudo acontece de forma muito vívida e que, quando a gente acorda, ainda tem a sensação de que o está vivendo. – Você tem que dizer alguma coisa. Tipo, que também está apaixonada por mim. Você está?

Na época, não pensei sobre o assunto, mas refletindo agora, é provável que ela já soubesse que eu estava a fim dela muito antes dessa conversa. Porque Quinn parecida muito convencida de que eu estava apaixonada por ela (o que não era uma mentira). Acho que, quando a gente começa a conviver muito com outra pessoa, corremos o risco de nos apaixonar. E, talvez, por ter sido criada por dois homens que se amavam e que não faziam distinção do amor, percebi que corremos o risco de nos apaixonar por quem for, seja essa pessoa uma menina ou um menino. Se meus pais eram dois homens, não seria errado eu me apaixonar por alguém do meu gênero.

Eu acabei confirmando:

– Estou – confessar isso foi como confessar um enorme segredo e eu ficava feliz por estar dividindo aquilo com a minha melhor amiga. Porque ela se importava comigo da mesma maneira que eu me importava com ela. Eu sabia que Quinn não me magoaria.

– Vai ser nosso segredo? Promete? – ela perguntou, fazendo uma pink promise comigo.

– Prometo.

{...}

Olho para Finn. Ele está sorrindo.

O show acabou há dez minutos, mas ele já se encontra em frente à minha porta. Ele me abraça, me levantando do chão.

– Desculpe não estar aqui na estréia, mas não importa qual sessão eu veja: você sempre estará perfeita – Finn me diz no meu ouvido. Sinto um arrepio, porque o hálito dele está quente e na minha nuca. Simplesmente não resisto.

Entramos no camarim. Ele fica encostado na porta enquanto me vê retirar a “fantasia” de Eliza. Finn se aproxima de mim e me abraça. Fica cheirando meu cabelo.

– Alguém vai interromper a gente, não é? – ele pergunta isso num misto de riso com seriedade.

– Sempre. Estamos no meio de atores egocêntricos que precisam interromper as rapidinhas dos outros, você sabe – eu respondo, rindo.

– De quem são?

Sei que ele está se referindo às flores de Noah e (mais ou menos) Quinn. Tento lidar com isso como se fosse apenas mais uma coisa. Nada de mais. Quer dizer, por que seria algo importante?

– Do jornalista que me entrevistou na primeira noite. E... de Quinn. – é ridícula a maneira como se esquivo ao dizer o nome dela. Como se ela fosse uma doença contagiosa.

Trocamos um olhar. Sei que Finn está surpreso.

– Mesmo? Caramba – ele diz com uma careta.

– É, deixa pra lá – digo e me viro para ele, ficando quase cara a cara (essa é a vantagem de se usar saltos altos quando se está noivo de um cara que é metade gigante). Eu sorrio e o beijo. Sinto que, a princípio, Finn está estático. Mas eu aprofundo o gesto e o contato, mesmo sabendo que há risco de alguém abrir a porta com tudo (não há trancas nas portas por aqui, pois faz parte das normas de segurança do teatro), e, aos poucos, nos entregamos igualmente ao momento.

– E aquela ideia maluca de convidar justamente a Quinn para ser a fotógrafa do nosso book? Morreu, não é? – Finn pergunta, depois que me solta e eu tiro os sapatos.

– Ela concordou.

– O quê? – ele está incrédulo e me olha como se eu tivesse provocado a morte de um bilhão de pessoas. – Não. Ela não é tão burra assim.

– Não entendi. – minha impaciência se aflora e, de repente, eu o encaro com aborrecimento.

– Eu achei... Rachel, eu achei que isso fosse passado. Você me garantiu.

É passado – meu tom de voz está incisivo – Mas quantos fotógrafos você conhece?

– Por que ela? Justamente ela?

– Por que não a Quinn?

Finn amassa o cabelo com as mãos e comprime os lábios. Está ficando irritado, eu sei. Ele solta o ar de uma maneira rude e se encaminha para a porta.

– Qual vai ser o próximo passo? Convidá-la para ser a nossa madrinha de casamento? – Finn pergunta isso com desprezo, mas não consigo revidar. Estou horrorizada com a cena que ele está fazendo. Porque ela é totalmente dispensável e irracional. Ele não pode banir quem bem entender da minha vida! – Pense no que está fazendo. Por favor – ele me diz com a mão na maçaneta. Então, abre a porta e vai embora.

Encaro as flores de Quinn e Noah. O buquê é formado por orquídeas azuis, as minhas preferidas.

Ela se lembra de tudo, penso. E talvez esse seja o problema.

Parte VIII - Eu sei que você ainda me ama,

mas há algo cansado sobre a maneira

como você olha para mim agora.

Há algo em nossas conversas,

que nos impede de dizer tudo o que gostaríamos.

(Remember The Times, Andrew Landon)

Olho ao redor e constato que todo mundo está absorto em suas próprias tarefas. Ok, todo mundo exceto Puck. Ele me encara. Eu faço uma careta de indagação.

– O que foi agora? – pergunto.

– Estava pensando. Já foi ao Carmine’s Midtown?

– Não – respondo com desinteresse.

– Acho que deveríamos ir lá.

Ergo os olhos para ele, sarcástica.

– Vamos fazer uma matéria sobre gastronomia, por acaso?

– Fabray, caia dentro. Por favor. Vou pagar, juro.

– Por quê?

Puck dá de ombros.

– Porque quero ser legal contigo.

Ah, certo. Ele, legal comigo? Puck me quer na cama dele, só isso! E eu não quero ser só mais uma. Muito menos mais uma na vida desse cara... Eu nem gosto de trabalhar com ele! É sempre um transtorno.

– Ah, sei – retruco.

– Prefere que eu te chantageie? Pois então, lá vai: quantos cartões mais eu devo mandar para a Rachel perguntando o que há entre vocês duas?

Quando ouço o nome de Rachel, isso me atinge de um jeito louco. Por que Puck está falando nela? E, espere aí, que cartões? Olho, alarmada e chocada, para ele, o que o faz formar uma expressão de puro júbilo.

– Espere aí? Que cartões? – pergunto exaltada.

– Mandei um cartão com aquelas flores. Pareceu bem deseducado mandá-las sem um remetente. Mas não se preocupe, coloquei a culpa em você.

Abro a boca, ainda mais chocada. O quê?

– PUCKERMAN! – eu exclamo, refreando o ímpeto de dar na cara dele ali mesmo, na frente de todos os nossos colegas de trabalho – O QUE VOCÊ ESCREVEU?

– Acalme-se, mulher! – ele rola os olhos, sorrindo de um jeito que me convence de que ele estragou tudo, para sempre – Eu só disse, tipo “Quebre a perna”, coisas assim. E que você fala muito nela. Mas , eu juro.

– Eu não falo nada sobre ela! – alego ainda mais alto.

– Não? E aquela tarde que você passou praticamente duas horas falando sobre a carreira dela? Sendo que eu fiquei me perguntando: como você sabe tanto sobre ela?

– Foram apenas alguns minutos! E foi você quem me impeliu a começar a falar! E eu sei porque... Bem, há notícias sobre ela! Ela está nas redes sociais e na Wikipédia! E, sei lá, em um monte de revistas sobre artistas e atores! Satisfeito? – puxa vida, eu estou perdendo o controle! Desde quando eu fui esse tipo de mulher descontrolada? E tudo porque... Ah, droga! Agora ele vai ficar pensando que tem razão! E não vai parar de me chantagear!

Mas ele não parece nem um pouco convencido. Puck me lança um olhar de escárnio.

– Eu vi a pesquisa que você fez – ele revida na mesma hora, sem se abalar – Uma grande pesquisa, hein? Por que você teria tanto interesse no casamento de uma atriz da Broadway? Vamos lá, conte. Qual é a sua? Você trabalha para a polícia e acha que o noivo dela está contrabandeando drogas do México?

Rolo os olhos para ele. Isso está ficando ridículo!

– Você não vai me comprar – eu digo.

– Então, acho que mais cartões chegarão até ela. Se você não diz, quem sabe ela o fará.

– Ai, caramba! Qual é o seu problema?

– Só quero sair com você. E saber sobre seu passado. Você nunca fala dele.

– Por que não é da sua conta!

– E por que não seria? – ele ergue as sobrancelhas, todo convencido. Sério, alguém precisa tirá-lo da minha frente! Posso ser demitida se desferir um tapa nele. Não é? Pelo menos, acho que eu seria suspensa das minhas atividades por um tempo. E eu não quero isso, apesar de a perspectiva de saber que tiraria umas férias desse cara seja tentadora... – Entenda, eu vou conseguir todas as informações que quero. Alguma hora. Com quem for. E será melhor para você, se for verdadeira.

– Você faz parte do quê? Da CIA? FBI? Por que precisa saber sobre meu passado?

– Eu mal te conheço, Fabray. E somos colegas de trabalho há três anos. Trabalhamos lado a lado e eu só sei que você é fotógrafa, já estudou Direito e mora num apartamento no SoHo. Você sabe até com quem eu tive o melhor orgasmo da minha vida!

– É, e ficar sabendo sobre isso foi nojento. – faço uma careta de nojo – Você não precisa ficar falando essas coisas para a redação inteira.

– Então? Temos um sim?

– Não vou para a cama com você.

Puck dá de ombros.

– Todas acabam na minha cama, querida – ele pisca para mim de um modo lascivo.

– Não sou sua querida, dá licença – retruco com rudez.

– Vamos lá. Prometo que não vou insistir depois que a noite terminar. Porque você vai se oferecer por vontade própria, é claro.

Não acredito que ele acabou de dizer isso. Ele acha que eu sou fácil desse jeito? Com certeza, ele não me conhece (a agradeço por isso, entretanto).

– Você vai sair do meu pé?

– Se você aceitar o jantar... Sim.

Odeio esse cara. Se pelo menos eu tivesse outra proposta de emprego... Mas acontece que trabalhar com cultura é uma área que amo. Gosto da Variety. Só não gosto do Puckerman.

– Tá – digo isso bufando. – Que fique claro: é apenas um jantar.

– Parece bom para mim – Puck dá de ombros, sorrindo.

{...}

Puck aparece às oito e meia. Estou vestida devidamente, mas nada como se dissesse “Estou me vestindo por causa de você”. Porque não estou, mesmo. Nunca me vesti por causa de um homem e não será agora que começarei. Ainda mais se este homem em questão for o Puck.

Ele, entretanto, não faz comentários. Só diz:

– Eu sabia que, um dia, isso aconteceria.

– Que ótimo para você – respondo. Minha animação está dando looping.

– Então. Você aceitou por causa da chantagem, ou o quê? – Puck pergunta num tom tranqüilo. Olho para ele, desacreditada. Não vai ser fácil assim, querido.

– O que você espera?

Ele dá de ombros.

– Você é meio imprevisível. O que posso esperar? Se for pela chantagem, o que acredito que seja, por que se submeteu a isso? O que você tem a esconder? Você foi pega fazendo sexo debaixo das arquibancadas na escola?

– Não.

– Foi pega colando no vestibular?

– Não.

– Já sei. Traiu seu namorado, engravidou dele e teve que dar a criança para a doação?

– Meu Deus, não! – exclamo, genuinamente chocada. – Quer parar? Isso não vai acontecer. Não vou lhe contar nada.

– Tá legal. Eu sei – ele dá um suspiro e diz – As pessoas falam muito sobre mim. Sobre como eu durmo com garotas diferentes a cada semana e como, às vezes, eu tenho que subornar algumas pessoas para conseguir o que quero – diante essa revelação quase não expresso sentimentos. Quer dizer, é exatamente quem ele é. Um chantageador de primeira. Não que vá funcionar comigo – E como, provavelmente, eu vou acabar bêbado numa alameda qualquer e parar na cadeia. Mas, sabe como é. Quando um cara está perto dos 30 ele quer se aquietar um pouco. Se embebedar não adianta mais. E, apesar do sexo ser muito bom quase sempre, isso acaba ficando chato depois de um tempo.

– Não – eu acabo derramando uma risada que ecoa no carro – Não me diga quer está tentando dizer que quer “se aquietar” comigo. Porque, hm, não vai rolar. – pontuo com muita dignidade e afinco – Respeito seu trabalho. Mas você, como pessoa, deixa muito a desejar. Sinto muito. Aposto como as pessoas também dizem isso, não é mesmo? Aliás, a Sugar, da editoração, disse isso semana passada.

– É. Parece que eu sou a fofoca preferida de todo mundo. Na verdade, fico lisonjeado – ele diz. Não duvido nada. – Por que “não vai rolar”? Você tem muitas memórias, Fabray. Divida-as comigo. Sei que não é somente porque sou quem sou.

Fico quieta por alguns segundos. Recuso-me a confessar qualquer coisa para ele.

– Vamos falar sobre a Rachel, então – Puck muda de assunto, num tom totalmente sugestivo, como se tivesse a total certeza de que isso me desestabilizará. O que, de fato, acontece. Só um pouco. Consigo sentir o pânico se alastrar pelo meu corpo inteiro no mesmo instante em que ele profere o nome dela. Gostaria de evitar isso, mas não dá. E, claramente, meu pânico está evidenciado. – O que foi? Não dá nem mesmo pra falar no nome dela? Quem é ela, Fabray? Uma antiga inimiga? Ou uma líder de torcida super popular, enquanto você era a nerd anti-social da escola que tinha que se refugiar no banheiro?

Caramba, ele é muito bom com suposições. Quase dá para dizer que ele está dentro do meu cérebro. Só que não.

Solto uma risada, aliviada. Ele está tão longe da verdade que sinto que há um precipício entre nós.

– Não. E totalmente não.

– Vocês estudaram juntas?

– Talvez.

– Ok. A resposta é “sim” – Puck conclui – Se ela não era uma inimiga e se vocês não eram de castas opostas... O que houve? Juro que achei que, naquela noite da estréia, alguma de vocês iria desmaiar a qualquer momento dentro daquele camarim. E não era por causa do meu super sex-appeal.

Ah. Com certeza, não era mesmo.

– Puck – digo num tom de aviso. Não quero falar sobre isso e pronto. Por que ele precisa saber de toda a história? O que ele vai ganhar com isso? – Só... Cale a boca, ok?

– Entendo. É algo que ainda mexe com você.

Não – minto na mesma hora, mas parece que estou falando a verdade, pois meu tom está indignado – É só... Complicado.

– “Complicado” está ótimo para mim. Vamos lá. Desembuche.

– Você é mesmo um daqueles jornalistas birutas, né?

– Sabe o que dizem: podemos até mesmo pecar com a ética, desde que tenhamos uma história no final do dia.

Inacreditável. Mas é totalmente a cara dele.

{...}

A mesa foi arrumada perfeitamente. Puck me conduz até ela como se fosse o dono do estabelecimento. O garçom nos disponibiliza a carta de vinhos e vai embora.

O espaço é amplo e mais parece um grande salão antigo do que um restaurante italiano. A iluminação é meio fraca e o lugar fede a massa de tomate como se todos os tomates do mundo tivessem sido esmagados ali. Entretanto, parece bastante fresco e aconchegante. Estou lidando com o cardápio, quando uma risada me chama a atenção. E é claro que eu sei de quem é essa risada. Discretamente, levanto os olhos das letras do cardápio e olho para o final do salão, onde um imponente balcão de carvalho, abaixo de um também imponente lustre, é responsável por um senhor bem asseado que cuida do caixa. Poderia reconhecê-los em qualquer lugar. Rachel e Finn, quero dizer. É exatamente onde estão: em frente ao balcão. Eles se vão porta afora dois ou três minutos depois. Finn mantém a mão nas costas de Rachel, enquanto ela o circunda com um dos braços. Mesmo que Rachel esteja de saltos, eles são um casal totalmente desproporcional. É como se um caminhão estivesse parado ao lado de uma bicicleta de criança. Pelo menos, sempre foi assim na minha cabeça.

O susto e a surpresa, aos poucos, dão lugar à ansiedade. Achei que Rachel, sendo uma atriz da Broadway e tudo mais freqüentasse lugares mais refinados. Não sei se foi sorte ou azar encontrar-me com ela hoje. Estou pensando nisso, quando alguém passa por nós fazendo um toc-toc apressado devido ao ruído dos saltos altos. Tudo o que vejo, quando levanto o olhar para a mulher, são seus cabelos castanho-escuros se balançando contra suas costas. Volto a minha atenção para o cardápio – porque, francamente, quanto tempo se deve demorar para escolher um prato? Parece que estou nessa há uns quinze minutos! – quando o barulho dos saltos altos cessa instantaneamente e a dona deles, de repente, está parada ao meu lado.

Eu praticamente fico estática na mesma posição, com a porcaria do cardápio nas mãos, sustentando toda a surpresa que existe no mundo.

– Oi, Quinn – a mulher me cumprimenta com um ar todo animado e, ao mesmo tempo, levemente surpreso. Ah, sim. A mulher é a Rachel. Está trajando um vestido muito fino, vermelho vibrante, e todo colado ao corpo. É um daqueles tubinhos que eu nunca quis sequer experimentar. Porque, sei lá, como se respira enfiada num treco desses?

– Hm. Oi – eu sinceramente não sei quanto de esforço fiz para não gaguejar neste exato momento. Olho rapidamente para Puck e vejo que ele está encantado e sorrindo.

– Rachel Berry – ele diz – A senhorita por aqui! Acabei de perguntar sobre você para a Fabray!

O QUÊ? Prendo o ar, tentando impedir que minhas mãos voem para a cara dele.

– É mesmo? – Rachel olha de Puck para mim. Puxa vida, ela está sorrindo. Sorrindo de um jeito que até mesmo parece que está se divertindo com tudo isso! Qual é o problema dela? Não: qual é o MEU problema?

– Não. Completamente não. – digo entre dentes. Quero tanto mandá-lo calar a boca! Mas Rachel fica lá sorrindo, como se tudo estivesse perfeitamente bem e quase não estivesse percebendo que, a partir de agora, eu posso sair gritando pelo restaurante como uma louca.

– Bom rever vocês. Comida italiana. Espero que gostem. – e então ela já está seguindo seu caminho.

Espera, o quê? Mas eu não digo nada. Deixo-a ir. Pelo visto, Puck pode vê-la, pois está do outro lado da mesa. Ele exclama de um jeito alegre:

– Pontos para o casaco esquecido!

Maneio meu pescoço e tenho um relance: Rachel está voltando rapidamente na direção contrária a que foi com um blazer vermelho vivo. Olho para Puck mais uma vez, como se nada tivesse acontecido. Como se eu ainda estivesse levando meio século para escolher o maldito prato que vou jantar.

– Até mais – Rachel não para, continua caminhando, mas diz isso muito rapidamente, com outro sorriso estampado nos lábios desbotados.

Eu e Puck ficamos alguns segundos em silêncio, mas sei que ele está louco para dizer algo. E quando diz, é para perguntar:

– Então. Rolou muito sexo, o quê?


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Notas finais do capítulo

Ainda estou rindo com esse final HAHAHA. Amo o Puck!
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