Begin Again escrita por Nina Spim


Capítulo 3
Chapter Three


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comments :))) Me deixaram muito feliz!
Só pra avisar: as atualizações ocorrem às quartas-feiras e aos sábados!
Fiquem de olho nesses dias! ;)
Boa leitura, beijos!



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Parte V - Eu sinto falta do jeito que éramos tão loucos um pelo outro,

Dois jovens adolescentes loucamente apaixonados.

Às vezes eu desejo poder dizer-lhe tudo,

E fazer tudo ficar bem.

(Remember The Times, Andrew Landon)

Convenço-me de que fiz a escolha mais sensata e madura. Seria ridículo de minha parte continuar a minha vida como se não soubesse que Quinn está de volta. Passaram-se quase dez anos, muita coisa mudou. Eu mudei. E tenho certeza de que ela também.

Finn retornou de sua viagem na segunda-feira, e eu lhe contei o meu reencontro com Quinn. Sempre fomos sinceros um com o outro, portanto, ele tem a perfeita ciência do que houve entre mim e Quinn, quando adolescentes. Foi um pouco antes de eu me relacionar com ele, de modo que não dava para esconder isso dele. E, surpreendentemente, ele aceitou a informação de forma comedida. Nunca fez muitas perguntas.

O meu amor por Finn não nasceu de repente, nem naturalmente. Foi por pura necessidade de preencher o que Quinn tinha levado embora. Mas eu aprendi, aos poucos, a amá-lo. E, agora, eu o amo inteiramente. Pelo o que somos e pelo o que ele é. Construí esse amor com ele e agradeço.

E foi pensando no passado e no presente que mandei o e-mail para Quinn. Ninguém pode me condenar.

Quando o sábado chega, sinto-me calma. Não devo nada a ninguém, nem me sinto culpada. Jesse me ajuda com o que falta dos preparativos e fica me rondando. Ele ainda não acredita no que fiz.

– Bem, parece loucura. Quem é que convida alguém que te chutou e que, com certeza, te deixou magoada para uma festa para falar do seu casamento? – ele diz, parecendo não entender nada do meu objetivo.

– Não estou magoada – saliento – E foi por isso que a convidei, para dizer que não me sinto magoada. Afinal, eu estou com outra pessoa, certo?

– Parece que você está tentando esfregar na cara dela que está com outra pessoa, isso sim! – Jesse refuta. Fico chocada com a constatação dele, porque, claramente, ele entendeu tudo errado.

– Meu Deus, Jesse – reviro os olhos – Ainda bem que a Quinn é muito mais madura do que você, porque ela respondeu ao meu e-mail dizendo que virá, ok?

Ele se limita a balançar a cabeça.

Kurt e Blaine, dois amigos de adolescência, são os primeiros a chegar. A conversa flui fácil. Finn se entretém com eles, enquanto eu acabo de conferir a comida que preparei. Eu e Finn convidamos as pessoas mais próximas de nós para cumprirem as tarefas de padrinhos/madrinhas, de modo que não há um grupo muito grande na casa.

Estou preenchendo as taças de vinho branco, quando Finn entra na cozinha de um jeito que me deixa confusa. Olho para ele, mas ele olha para trás, tira a garrafa das minhas mãos com delicadeza e diz no meu ouvido:

– A Quinn chegou. Está lá na sala.

Não sei se ele espera que eu tenha um surto no meio da cozinha, ou o quê. Não entendo a atitude dele, de modo que somente me afasto e me aproximo da sala. Vejo Quinn cumprimentando meus outros convidados com um sorriso no rosto. Ao seu lado, está um cara loiro e alto com roupas sociais esportivas.

Espero que todos os cumprimentem para me aproximar. Nossos olhares se encontram, e penso que ela não sabe muito bem como se portar diante de tanta gente desconhecida. Vai parecer estranho se eu não a abraçar, então o faço. Quando nos afastamos, eu digo:

– Que bom que veio. – estou sendo sincera. – Fique à vontade.

Quinn sorri.

– Obrigada. – ela puxa o cara que a acompanha e o apresenta – Esse é o Sam.

– Oi, Sam. Prazer – eu respondo, recebendo um beijinho dele na face.

– É realmente incrível estar aqui. Sua casa é muito bonita. – Sam me diz. Ele é educado e não parece nem um pouco retraído como Quinn se mostra.

Eu agradeço, e nós três ficamos sorrindo por uns quatro segundos. Começo a achar a situação estranha e peço licença para continuar a abastecer as taças que deixei na cozinha. Noto que Finn já fez isso e que está vindo na direção dos convidados com elas na bandeja. Ele passa por mim e diz:

– Pegue uma.

Eu aceito. Não porque precise mesmo relaxar – tudo está correndo perfeitamente como o planejado –, mas porque eu mereço uma recompensa. Todos nós nos acomodamos na ampla sala, e noto Quinn olhar para todos os cantos com discrição. A casa que eu e Finn compramos não é uma mansão, mas é bastante grande para apenas nós dois. Como todos, exceto Quinn e Sam, se conhecem e se relacionam com alguma frequência, a conversa é agradável. Quinn não faz comentários, e fico pensando que ela está mesmo se sentindo deslocada. Sam, por outro lado, consegue se infiltrar em nossos assuntos com naturalidade.

Quando o assunto do casamento realmente se inicia, Sam me dá os parabéns. Diz que acompanha de vez em quando algumas notícias e que leu críticas muito boas sobre a minha re-estréia. Os convites estão prontos há algum tempo e, aos poucos, estamos enviando aos seus destinatários. Pondero se devo, ou não, incluir Quinn na lista dos que “ficaram para trás”. Não tenho certeza se ela irá. Bem, ela veio hoje. Mas isso não é o meu casamento, é claro.

Falamos sobre o buffet e o salão. Blaine e Kurt dizem que podem cuidar da playlist do DJ. Digo que, se eu não tiver uma até duas semanas antes da data, aviso a eles. Ainda falta contratar a equipe de decoração. O casamento será feito numa fazenda destinada a esse tipo de evento, portanto, será ao ar livre. Há salões lá, então, se chover, podemos transferir a cerimônia para um lugar coberto. Deixo todo mundo a par e me sinto feliz pelas indicações e sugestões.

Reunimo-nos na grande mesa do jardim dos fundos e o almoço ocorre entre mais conversas e risos. Quinn não se integra totalmente, mas consegue trocar algumas frases com quase todos. Sorrio para ela, de longe. Sinto-me feliz por ela estar aqui, na verdade. É bom tratá-la de um jeito que diz que estamos quites, que ela não me deve nada.

Deixar o passado para trás implica poder se concentrar no presente e no futuro. É pensando nisso que, depois da sobremesa, me aproximo dela. Noto seu rosto ficar surpreso, mas ela dissocia isso na mesma hora.

– Tem um minuto?

– Claro – ela diz.

Parte VI - Eu só queria que você soubesse o quanto eu sinto sua falta.

Quanto tempo é gasto pensando em você.

Quanto tempo eu gasto o meu dia só de pensar sobre as coisas,

para ter você de volta.

(Remember The Times, Andrew Landon)

Eu digo para Sam que estarei de volta em pouco tempo, mas parece que ele não se impressiona com isso. Acompanho Rachel e, quando dou por mim, estou numa espécie de escritório. É tudo muito arrumado aqui, de modo que penso que é um lugar só dela. Há matérias de jornais emolduradas nas paredes e em todas elas há uma foto dela estampada. Há alguns pôsteres jogados num canto e reconheço um deles. O mesmo que havia em seu quarto em Lima, da Barbra Streisand.

– Desculpe se está sendo difícil para você – ela me diz – Eu não a convidei pensando que isso pudesse lhe desconfortar.

Arqueio as sobrancelhas. Pois, Rachel Berry, é exatamente assim que estou me sentindo. Não se convida uma ex-amiga depois de praticamente dez anos para uma festa sobre o seu casamento, sabendo que essa mesma ex-amiga não era considerada exatamente assim. Se bem que eu dei o pé na bunda dela e ela não tem a mínima ideia de que eu gostaria de ter feito tudo diferente.

– Estou bem – digo isso quase em um tom de desafio. Ela me oferece um sorriso que nem de longe é convincente. Se ela acha que eu estou desconfortável, ela parece estar desesperada. E tenho certeza de que não é coisa da minha mente.

– Há quanto tempo você trabalha com a fotografia? – sua pergunta me pega desprevenida. Fotografia? Assim, do nada?

– Saí de Yale depois de dois semestres e consegui um curso aqui. Mas trabalho na área oficialmente há três anos. Por quê?

– Sei que vai parecer estranho, mas quero que saiba que estou lhe propondo isso porque acredito em você. – franzo a testa, mas permaneço quieta, aguardando seu raciocínio. – Eu tenho padrinhos e madrinhas incríveis, você se lembra do Blaine e do Kurt, né? Mas há coisas que apenas eu posso fazer. E, apesar de estar em contato com muitos fotógrafos, não sei se poderia confiar neles para deixá-los registrar parte da minha vida real. E você fez parte da minha vida real.

– Pelo que me lembro essa história não terminou muito bem – pontuo.

– É – seu rosto meio que se contorce –, mas, se você ainda não sabe, eu não a culpo. Nós fizemos o que deveríamos ter feito.

Isso não ameniza nada, penso.

– E você vai se casar.

Ela junta os lábios e assente.

– Quero você faça o book do meu casamento – Rachel me diz, olhando para mim de uma forma que quase me convence de que estou ficando louca. É quase como se ela estivesse me analisando de dentro para fora para tentar notar todas as minhas moléculas fora do lugar que, de repente, se agitam sem acreditar no que acabaram de presenciar.

Fico em silêncio.

Fotos. Do casamento dela. Com outra pessoa.

E ela quer que eu faça isso.

– Eu não sei se... – começo dizendo, confusa e alarmada – Isso não parece certo, desculpe. Não planejo voltar a fazer parte da sua vida. – é, estou mentindo, mas ela nunca saberá. Talvez eu gostasse de voltar a integrar a vida dela. Mas não nessas condições. Eu, fotógrafa do book de casamento incrível e impecável dela. – Aceito a sua oferta de paz, se bem que não faço a mínima ideia do porquê a está ofertando. Se há alguém aqui que precisa se redimir sou eu, não você, me convidando para uma festa para falar sobre a sua futura vida de casada e menos ainda me oferecendo um dinheiro extra para... Caramba, você achou mesmo que eu iria aceitar fotografar o seu casamento?

– É apenas o book. – ela me corrige.

Ai, credo. Eu estou parecendo uma surtada. Isso está ficando esquisito.

Eu me sento numa das poltronas do ambiente. Sinto minha cabeça latejar, mas desconfio que seja por causa do vinho.

– Achei que eu estivesse no seu passado.

– E eu estou no seu? – revido. Pareço indignada. Por que estou agindo dessa maneira tão estúpida? Ela vai se casar, é melhor que eu aceite isso. E eu, como uma mulher totalmente adulta e quase resolvida, deveria assentir e aceitar esse trabalho. Por Deus, são apenas fotos. O que pode dar errado?

Rachel me lança um olhar aborrecido. Claramente, ela está ficando aborrecida com o meu surto. Acho que ela preferiria um mero “não” a toda essa verborragia que acabei de estrelar.

– Oh, você está, sim. – Rachel responde demonstrando ainda mais aborrecimento. – Se quer saber, se não fosse pelo Finn, eu ainda estaria remoendo tudo o que você me causou.

Não posso ouvi-la falar sobre Finn! Pensando bem, por que estou aqui, então? Essa festa é sobre eles. Se não pretendia ouvir falar sobre a vida de princesa de Rachel e de seu namorado que a salvou de uma crise de coração partido, por que cogitei vir até aqui?

Ah, sim. Não dava para perder a oportunidade de conferi-la cara a cara mais uma vez. Conferir se, perto de Finn, ela continuava a mesma. E se, perto de mim, ela gostaria de ser quem era antes.

– Eu sinto muito.

– Não importa mais. Assim como você, toda essa história também ficou no passado. – Rachel diz isso num tom explícito de quem quer me ferir.

Fico surpresa e, depois, chateada. Quero ir embora. Quero ir embora e nunca mais ter de ouvir no nome dela. Seria perfeito se eu retornasse a Lima com a desculpa de que Nova York não é para mim. Certamente, não é mesmo. Essa cidade deveria estar realizando os meus sonhos e isso ainda não aconteceu. Trabalhar na Variety não é, exatamente, um deles. E ter Rachel de volta não parece mais fácil só porque estamos em Nova York.

– Desculpe – a voz dela está suave de novo e seu rosto expressa arrependimento – Você me magoou uma vez, mas não é minha intenção revidar isso. Eu entendo que não queira fazer parte da minha vida mais uma vez. Aliás, eu nem sei por que pensei que isso poderia acontecer.

Antes que eu ou ela digamos alguma coisa, há uma batida na porta. Fico em pânico quando ouço a voz do outro lado.

– Amor, não sei se essa é uma boa hora para você querer ficar sozinha com seu trabalho. – Finn diz, suavemente – Kurt e Blaine estão pedindo uma foto com a gente, pois precisam continuar o passeio com o Burt e a minha mãe pela cidade.

Rachel bate os saltos nos ladrilhos ao caminhar em direção à porta. Quando ela a abre, Finn automaticamente fica surpreso por me ver ali também.

– Ah. Oi, Quinn – ela me cumprimenta, ainda carregando muita surpresa na voz.

– Oi – devolvo com raiva. Nem sei por que estou com raiva, mas é o que sinto agora.

– Estou indo – Rachel garante a Finn. Ela olha para mim – Bem, acho que não temos mais nada a dizer. – e então ela sai da saleta como se eu fosse um bicho qualquer que merece ser atropelado pelo próximo caminhão que vai passar pela via expressa.

Os dois se vão e eu fico sozinha olhando para tudo aquilo; os pôsteres, as estrelas brilhantes, os quadros, as críticas. Sinto-me confusa e diminuta. Talvez Finn consiga lidar com tudo isso, mas eu já deixei de compartilhar tudo com Rachel. É óbvio que eles têm tudo para serem felizes. Para construir uma vida com sucesso e sei lá mais o quê. Filhos, provavelmente. Uma vida plena. E eu? O que eu tenho? O que eu posso vir a ter? Difícil saber, se eu ficar toda hora olhando para trás.

Saio dali e me encontro com o restante do pessoal que ficou. Sam me lança um olhar inquisidor, mas eu não digo nada. Talvez ele saiba de tudo só de ver a minha expressão inábil de quem não sabe esconder a verdade.

– O que houve? – Sam sussurra para mim.

– Apenas a minha vida dando na minha cara. Não se preocupe, acho que vai ficar tudo bem.

– É a... Rachel?

– Não, é apenas tudo que deixei para trás.

{...}

Não preciso aceitar a oferta dela. Mas é bom saber que ela ainda confia em mim. Que, mesmo depois de toda a raiva, há algo que nos aproxima.

Fico pensando em Finn e Rachel juntos, enquanto eu meramente os observo através da câmera fotográfica. Parece que a distância é longe o suficiente para eu não ficar pensando loucuras. Acho que, no final das contas, estou devendo uma a ela. Fazer as fotos me possibilitaria içar bandeira branca e demonstrar que sinto muito pelo que causei. Porque, verdade seja dita, quando foi que parei de me importar com ela? Quando foi que parei de pensar nela de uma forma amigável? Isso nunca aconteceu.

Ergo a cabeça quando vou me despedir dela. Porque não há outra maneira de lidar com a situação. Não vou me fazer de derrotada.

Rachel não me abraça, nem beija meu rosto, como fez quando cheguei. Ela simplesmente faz um aceno com a cabeça, totalmente séria.

– Obrigada por me convidar – eu não deixo de pontuar.

– Não foi um favor, você sabe.

– É, eu sei.

Aperto a mão de Finn apenas por educação. Não é como se eu sentisse raiva dele. Acho que é apenas ciúme. Ele tem algo que já me pertenceu e que, por uma covardia minha, deixei escapar. E sinto que ele é educado comigo apenas para não deixar Rachel desconfortável. É provável que Finn saiba sobre a minha história com ela. E quem sou eu para condená-lo por desgostar de mim? Se bem que, talvez, ele até se sinta feliz pela minha história com sua noiva não ter dado certo, já que, agora, ela está com ele. Eu fiz um favor a ele ao dispensar Rachel.

Sam me leva para meu apartamento. Assim que consegue mover o carro, ele afirma:

– O noivo dela sabe. Dá para ver que nenhum dos dois quer que você volte lá. Se eu fosse você, realmente não voltaria.

– Não posso culpá-los.

– Fico me perguntando: se ela superou você, por que quis esfregar isso na sua cara?

– O quê? – estou chocada. Não pode ser. Ela não seria tão imatura e baixa desse jeito – Ela não fez nada disso!

– É exatamente o que ela fez, Quinn.

E então constato que ele está certo. Ela quis revirar um pouco do passado, dizendo que, se não fosse por Finn, ela estaria ainda com o coração despedaçado. Ela quis esfregar isso na minha cara, sim. E quando afirmou que eu e nossa história estamos no passado dela... Rachel quis me ofender com suas palavras. Quis realmente me magoar. Tudo foi uma farsa.

– Ela quer que eu fotografe o book de casamento deles – sinto-me enjoada e enojada. Estou realmente chocada com o que aconteceu. Se estou me sentindo ainda pior do que já me sentia, é culpa dela. A Rachel quis que eu me sentisse culpada. Arregalo os olhos, comprovando a verdade. Ela quer revidar, sim.

– É uma boa hora de dar no pé – Sam aconselha. Ficamos em silêncio.

{...}

Estou pronta para ter algumas horas para relaxar, quando o que vem me aquietando finalmente vence. Abro meu e-mail no celular mesmo e respondo à Rachel:

Eu aceito fotografar o que quer que seja.


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Notas finais do capítulo

Reviews? :D



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