Além das Dunas Brancas escrita por Shalashaska


Capítulo 6
Lua Negra


Notas iniciais do capítulo

Oie,todo mundo.
Fico bem feliz em saber que há quase dez pessoas (!) acompanhando esta história, embora nem todos comentem. Faço então um convite para se manifestarem, pois quero saber onde estão os acertos e onde posso melhorar, e para isso os comentários são fundamentais ^^ Claro que não vou criar metas ~~ gente, que horror! ~~ e não posso obrigar ninguém a nada, mas lembrem-se que vou tratá-los com muita gentileza .
Dedico à todos os leitores, fantasmas ou não, e espero que gostem. Boa leitura!



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Os olhos de Farah cintilavam como nuvens alvas contra o Sol, banhando o recinto com um facho nítido de luz branca. Balbuciava um pouco enquanto suas mãos macias riscavam o papel amarelado com grosseira rapidez, embora não houvesse pressa alguma.

Era meia noite, o círculo fora traçado e energias ancestrais rondavam duas mulheres.

Cada centímetro da loja foi organizado, cada peça à venda tinha sido limpa e bem disposta em prateleiras e vidros. Não havia mais teias e pó; não havia mais um único rastro de sujeira possível, fosse material ou astral. A defumação de aromas suaves, ainda que notáveis, sustentava a egrégora de mistério enquanto parcas velas espalhadas iluminavam o cômodo com o aconchego morno do fogo. Aziz apreciou ver como sua aprendiz se esmerara na faxina, pois nem ela própria conseguira deixar seu lar nesta absoluta pureza uma vez sequer. Com tristeza, lembrou que não existia forma para que ela fosse capaz disso, pois suas mãos imundas maculariam o serviço. Ao menos lavava parte de sua alma em elucidar sua jovem aprendiz, por mais que parecesse que fazia isso por si e não por Farah.

A anciã esperava pacientemente enquanto a outra terminava seu desenho feito em carvão. Estavam confortáveis, sentadas sobre a brandura de refinadas almofadas e rodeadas por ervas, livros, pedras coloridas e amuletos especiais. Protegidas de qualquer resquício negativo, elevavam o potencial do oculto. O breu frio e denso que cobria o mundo era distinto, pois era noite de Lua Negra: O tecido entre mundos e realidades afinara-se à um véu translúcido, poderia ser sentido com o toque dos dedos de quem estivesse preparado.

Ambas sentiam e suas almas davam saltos quando este sublime manto tremulava transpassando seus corpos.

As mãos enrugadas da velha desenlaçaram-se de Farah e foram de encontro com o seu pescoço, num delicado movimento para tocar o seu colar; o pequeno hábito adquirido ao longo dos anos. Ao invés de sentir a superfície polida de diversas contas, a textura da jade negra causou-lhe estranheza e um leve formigamento na pele. Ainda não se acostumara com a pedra, por mais que contemplasse todos os seus efeitos com verdadeiro júbilo. Os mortos a encaravam com expressões vazias fora do círculo, e ela finalmente podia ver os rostos das vozes que tanto lhe sussurravam. Era delicioso.

Em uma de suas experiências com seu novo item, ela ouviu um pulsar dentro de seus ouvidos, como se no interior de cada uma de suas orelhas morasse um minúsculo coração. Bombeava uma mensagem única, e batia de forma inconstante: ora rápido, ora devagar. Não sabia o que era, não conseguia distinguir as palavras... Mas agora, com o princípio do despertar da neófita, ela era capaz.

A luz etérea dos olhos de Farah começou a falhar; aos poucos sua consciência terrena voltava ao normal. Suas mãos ainda tremiam, mas afinal soltaram o carvão. Ela sentiu um arrepio que de certo não fora causado pelo frescor do vento com sua pele suada, pois as janelas todas estavam vedadas com tecidos escuros a fim de evitar os bisbilhoteiros, mesmo que fossem minoria aqueles que se atreviam a desrespeitar o lar da anciã e da donzela. Soltou um suspiro profundo e ajeitando uma mecha de cabelo, sorria à mestra, satisfeita consigo por finalizar um trabalho exaustivo. Seu sorriso, porém, não durou muito.

– Adail...- Ela murmurou o nome falso na mestra, confusa e acanhada. – Sabe o significado destes símbolos?

A aprendiz virou o papel para que Aziz enxergasse-o de maneira correta, mostrando os belos traçados feitos por seus braços enquanto sua mente não estava no corpo: No alto da página à direita, a Lua surgia no céu “como um sorriso”, Farah descreveu, escolhendo exatamente tais palavras. Abaixo dela, havia uma árvore seca e cheia de sombreados, igual uma garra sinistra tentando alcançar o tal sorriso. E no fim da folha, entremeada ás raízes da planta morta, uma flor abria-se grande e esplendorosa, embora de seu centro brotasse um líquido denso, gotejando semelhante à uma ferida que sangra.

Os mortos se foram e o ouvido de Aziz latejou com mais força. “Menina tola” meditou, dividindo tal pensamento com a alegria arrogante de estar perto de algum enigma atraente.

– Não há como eu saber, foi você que os desenhou. – A velha respondeu com calma, mas emendou logo uma ordem de modo agressivo. – E não vá olhar nas tabelas de significados comuns, isso não funciona para o que tentamos descobrir. Aprenda a ver, busque pelo fio solto da trama que é o nosso mundo. Desfiemo-lo em seguida.

Farah passou as mãos pelas têmporas, tentando se concentrar. Olhou o papel uma, duas, três vezes até ficar observando-o incessantemente. Então ela entrou. Enxergava o céu negro e pisava na terra árida do desenho, quase tropeçou em uma das raízes da árvore ilustrada. Suas pupilas atentas foram atraídas pela meia luz da lua assim como mariposas iam de encontro à luz do fogo. Definitivamente era um sorriso, por algum motivo ela sentia que era.

Seu peito resfolegou quando a verdade a atingiu na boca do estômago, tanto que seu corpo dobrou-se para frente e suas mãos alcançaram o corpo da velha em apoio. Aziz a chamava aflita pelo nome quando viu que esta perdia o ar, e assim que a pele das duas se encostaram naquele movimento desesperado, elas souberam.

Ambas viram o sorriso da lua de perto.

A mensagem no ouvido da velha tomou voz e se fez ouvir claramente por todo o cômodo:

“Raed”.


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Notas finais do capítulo

E aí? Curtiram? Peço correções também, se necessário.
Até em breve *0*



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