Fita de Seda escrita por moonrian


Capítulo 50
Capítulo 50 - Olhos Vendados


Notas iniciais do capítulo

*~le surge de um buraco*
Olá, pessoas! Quanto tempo, não? hehehe...
*~le sinto olhares enfurecidos em minha direção*
Certo, certo, dessa vez eu não tenho uma boa explicação... Mas vou contar mesmo assim! Então, eu excluí minha pasta de histórias, mas consegui recuperar tudo no fim; o problema foi narrar na visão do Zero mesmo. Sério, cês tem noção de como é complicado encarnar esse albino? Eu travei, de verdade! Tipo assim: Estamos acostumadas a ver o Zero em um certo padrão sério, mais inexpressivo e tals, mas quando se faz em primeira pessoa uma narração, entra os sentimentos e motivos da tal pessoa estar agindo dessa maneira... Cara, eu travei.
Mas agora está aqui o capítulo e espero que ele esteja bom, de verdade, porque eu quebrei a cabeça para fazê-lo :3
Ele vai ser mais reflexivo, certo?
*Boa Leitura*



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Já fazia três dias que Hime havia partido da Academia Cross com a companhia de seu noivo Sangue-Puro, deixando para trás um rastro de destruição; algo que os acompanhava por onde quer que passassem, como se fossem seres amaldiçoados.

“São vampiros, Zero.”, lembrei-me, “Destruição é à base da existência odiosa deles”.

Trinquei os dentes com aquela verdade irrefutável, sentindo a fúria atravessar meu sistema e aquecer meu sangue pela milionésima vez só aquela tarde; e saber que era apenas pelo estúpido motivo de relacionar a palavra “vampiro” a Hime apenas me deixou mais irritado do que já estava – de novo.

Por que estava sendo tão idiota com algo tão trivial? Antes mesmo que ela me dissesse que era vampira, eu já desconfiava, mas por motivos que desconhecia optei por tapar meus próprios olhos. Por que era tão complicado associa-la a sua espécie de origem? Sequer tinha algum sentimento realmente relevante por aquela garota, tudo que me ligava a ela era um senso-de-dever que era esperado de mim como caçador, levando em conta que eu acreditei que ela era uma vítima – supostamente – humana que não tinha para onde ir; e mesmo que houvesse um monstro crescendo em mim, ele não era poderoso o bastante para estilhaçar aquela compaixão idiota que ainda estava enraizada em meu interior – por Deus! Era vergonhoso até para minha parte humana admitir que eu ainda fosse capaz de sentir tal coisa.

Soltei um suspiro baixo e entranhei meus dedos nos fios finos de meu cabelo, bagunçando-os ainda mais. Ergui-me do colchão murmurando uma série de palavrões direcionados tanto a mim quanto a ela, decidindo que era uma decisão mais sábia sair daquele quarto antes que enlouquecesse.

Há três dias, quando Aidou surgiu correndo no escritório de Kaien como se um chicote estalasse as suas costas para avisar-nos que Kira havia desaparecido do Dormitório da Lua junto com todos os seus pertences, eu me preocupara mais com a notícia do que de fato deveria. Não que eu houvesse me atormentado o fato de Kira ter ido, jamais poderia ter tal sentimento por aquele sanguessuga desprezível, mas eu me lembrava muito bem de sua decisão de ficar na Academia Cross até que conseguisse levar Hime, e se ele havia partido era porque atingira o seu objetivo.

Meu estômago gelara e se contraíra com tal possibilidade, e antes que eu pudesse raciocinar, minhas pernas já estavam se movendo a toda velocidade em direção ao Dormitório do Sol, minha mente não moldando qualquer pensamento coerente por todos os minutos que levei para correr até lá. Meu coração batia descompassado com um estranho aperto a sua volta, e parte de mim estava consciente de que não era por causa do esforço físico, uma corrida daquela nunca iria abalar meus batimentos cardíacos daquela maneira.

Só parei quando avistei o portão de entrada do dormitório, minhas pernas congelando a diversos metros de distância da mesma quando a consciência do que eu estava fazendo atingira-me como um balde d’água que me acordara do estranho transe de quase desespero, meu cérebro voltando ao seu funcionamento normal e ficando extremamente confuso em relação aos motivos que me levaram a fazer aquilo.

Por que estava tão preocupado com se ela ficava ou ia? O que um monstro como ela fazia de sua vida não devia me importar.

Certo, eu não era tolo para negar que tinha certa consideração pela garota. Ter convivido por tanto tempo com ela me fizera criar alguma afeição por seu jeito, e ainda era um mistério para mim como Hime havia ultrapassado minhas barreiras; mas minha afeição fora construída a base de mentiras, e isso eu não poderia ignorar. Antes eu acreditava que possuíamos um passado sangrento semelhante, e em parte esse fora um dos motivos; a parte restante era culpa daquela maldita casca humana falsa, que conjunta de sua férrea personalidade, me fizera admira-la como pessoa – mas ela não era uma pessoa, era uma coisa.

Após descobrir que tudo não passava de ilusão, que ela nada mais era do que mais uma farsa, qualquer consideração que eu tinha por ela morrera. Ou devia ter morrido, porque seres como ela não mereciam qualquer consideração que não fizesse jus ao perigo que eram – ainda mais ela que, segundo aquele desprezível do Leigh, seria mais forte que Kaname Kuran.

Voltei a passos pesados para casa do diretor aquela tarde, destilando um rosário de ofensas direcionadas a minha facilidade em esquecer o que aquela garota era: uma sanguessuga. Mas como olhar para aquela menina magrela e de características comuns demais, e crer que era uma vampira? Dane-se, eu teria que me fazer acreditar!

Desde aquele dia, tentei racionalizar o que sentia sobre tudo que a envolvia, direcionando olhares críticos a qualquer parte minha que pudesse ter alguma consideração por uma coisa como ela, mas não conseguira nada além de uma dor de cabeça e uma perigosa aproximação da linha da insanidade.

Não cheguei a qualquer conclusão sobre os motivos que me levaram a correr para o dormitório ou mesmo os motivos reais de eu não conseguir me acostumar com a ideia de ela ser uma sugadora de sangue nojenta, de ter a mesma imagem asquerosa que tenho de todos os vampiros com ela.

Estaria me tornando um idiota? Talvez tanto tempo exposto à estupidez daquela garota houvesse acabado por me infectar.

Saí do meu quarto e fechei a porta atrás de mim, entrando no corredor bem decorado da casa de Kaien, meus neurônios ainda trabalhando para encontrar a fonte de minha tolice para que eu pudesse me livrar dela – não me importava o que fosse, eu nunca poderia aceitar o que ela era.

Por algum motivo infernal, a porta do quarto que Hime ocupara nesta casa estava entreaberta, e assim que passei em frente à mesma o aroma que ficara impregnado por todo o cômodo atingira-me com uma força que me oprimiu o coração e fez o predador em mim rosnar.

Eu paralisei em frente a aquele cômodo por puro reflexo, sentindo palpitações dolorosas e idiotas, enquanto me permitia desfrutar daquele cheiro em um momento de súbita fraqueza.

“Qual é o seu problema?”, o monstro em mim cuspiu essas palavras em meu rosto, “Não consegue resistir sequer ao espectro do aroma dela, Zero? Tornou-se mais mole?”.

Oh, sim, minha garganta ardia de desejo pelo líquido doce, quente e tão familiar que era o sangue dela, aquela característica ardência no fundo da garganta que representava a sede constante que me acompanhava piorando a tal magnitude que me fizera engasgar e levar uma mão para minha garganta; mas não era forte o bastante para me fazer perder o controle de meus membros daquela maneira, não era? Ou talvez fosse... Eu queria acreditar que era. Mas o que era aquele vazio quase palpável em meu peito? Aquele buraco brutalmente aberto bem no meio do meu coração que doía de maneira excruciante em suas bordas, latejando e sangrando? E por que eu sentia como se houvessem cruelmente enfiado um dedo em uma dessas feridas? E como não pude notar que tudo isso estava aí até sentir o cheiro dela?

Chutei o pensamento para o fundo de minha mente, sabendo que não gostaria de descobrir a resposta e que ela não importava, o que eu devia fazer era me reeducar quanto ao tipo de visão e consideração que deveria ter por ela.

Pus minhas pernas em movimento, afastando-me daquele recinto que guardava o cheiro daquela idiota como se fosse um frasco de perfume, odiando a mim mesmo por ter me deixado abalar por algo tão tolo quanto aquilo e por ser tão negligente ao não me impedir de desfruta-lo, quase como se eu estivesse provocando o predador inquieto em meu interior a fazer alguma coisa.

“Isso mesmo, Zero”, disse o predador em mim com um humor negro, “Tape os próprios olhos para a verdade como o covarde que você sempre foi”.

Ignorei essas palavras, decidindo que também não deveria me aprofundar quanto ao que elas significavam quando não importava de fato. Eu era um caçador e, independente de onde as conclusões que eu ignorava fossem me levar, a única coisa que eu deveria ser de Hime era um inimigo disposto a dar fim a sua existência monstruosa.

Desci as escadas em um instante, chegando ao hall de entrada, que ficava logo ao lado da sala e não existia qualquer parede divisória que pudesse separa-los. Kaien estava sentado em uma poltrona com uma expressão cansada, o rosto pálido e olhos circulados por olheiras profundas, e eu não o culpava por isso. Aquele desprezível do Leigh deixara uma bagunça e tanto, combinado ao trauma nos alunos humanos, que ainda tentavam digerir a informação sobre vampiros e que as pessoas que admiraram por tanto tempo faziam parte desse mundo sangrento – talvez eles finalmente notassem o perigo descomunal que correram por todo esse tempo e começassem uma votação a favor do extermínio dessas coisas.

Quando me sentei no sofá próximo à poltrona, não aparentando estar tão melhor em comparação ao diretor graças às noites mal dormidas que os pensamentos que envolviam Hime me renderam; o mesmo virara seu rosto e direcionara seu olhar curioso para mim, sua cabeça ainda apoiada nas costas da poltrona.

Ainda era estranho ver Kaien ser tão sério quando estava acostumado ao homem idiota e dedicado que se esforçava para tornar as coisas suportáveis para mim, sem se importar com a possibilidade de um dia eu vir a considera-lo mais do que um cara que sou obrigado a aturar por não ter mais para onde ir – e eu nunca admitiria para ele que já o considerava mais do que isso, embora também não viesse a considera-lo meu pai, mas algo próximo disso.

— Se esgotar dessa maneira não vai ajudar – repreendi-o com o meu tom mais indiferente. – Não seja idiota, Kaien, vá descansar.

O diretor pareceu feliz com a repreensão, como se visse mais naquela frase do que havia realmente, e esforçou-se para fazer os cantos de seus lábios se repuxarem em um sorriso suave, mas a ação saiu totalmente errada e muito longe de ser um daqueles enormes sorrisos retardados que o homem costumava atirar por aí.

— Como posso descansar quando todo o meu sonho de coexistência entre humanos e vampiros parece prestes a ruir como uma muralha de cartas?

Perdi alguns segundos olhando para sua expressão tristonha, mesmo que eu houvesse o alertado desde o início que sua ideia de introduzir vampiros no colégio nunca daria certo, então não me permiti sentir pena.

— Eu poderia dizer que te avisei. Essa sua ideia utópica de fazer com que predador e presa convivam lado a lado estava destinada ao fracasso, foi você quem ignorou isso com essa sua tola esperança.

Minhas palavras soaram mais duras do que eu estava planejando, mas não voltei atrás no meu argumento, afinal eu nunca fui de suavizar a verdade para satisfazer as pessoas, o problema era delas se não podiam suporta-la.

Kaien sorriu de maneira abatida para mim.

— Você ainda não compreende, não é? Não consegue ver através do seu ódio por aqueles seres – franzi o cenho, confuso. – Minha ideia utópica, como você a chama, deu mais certo do que eu acreditei, Zero. Os vampiros da Night Class defenderam os humanos desse colégio e a este lugar com suas vidas. Minha preocupação é de que talvez os humanos não estejam preparados para saber da existência deles, para compreender que até criaturas como eles têm escolha entre o bem e o mal.

Eu ri seco de sua ingenuidade.

As aulas da Academia Cross já haviam terminado dias antes do baile, e não fiquei surpreso por Hime ter sido reprovada por falta, mas não era esse o ponto que eu estava querendo chegar – essa menina tem invadido meus pensamentos sem minha permissão. Logo os alunos e professores seriam dispensados do colégio para desfrutarem de sua vida com seus familiares, um lugar onde Kaien não poderia saber se eles acabariam por disseminar a informação mais secreta sobre os alunos da Night Class de seu colégio e quem sabe lhe trazer ainda mais problemas.

— Eles são o mal, Kaien – tentei lembra-lo o que ele, como ex-caçador da Associação, deveria saber muito bem, mas parecia fazer questão de ignorar.

Ele arqueou uma sobrancelha descrente para mim.

— São? Pode dizer que há maldade em Yuuki ou em Hime? Você conviveu com ambas, Zero, pode afirmar que elas são capazes de ferir alguém inocente?

Cita-las não havia sido uma atitude sabia da parte de Kaien. Logo elas, as únicas garotas que haviam conseguido passar por todas as minhas defesas e me feito considera-las, feito eu me preocupar com elas e suas tolas ingenuidades perante aos seres malévolos que habitavam o Dormitório da Lua. Que uma delas fizera eu me apaixonar pateticamente por ela, quando estava prometida ao próprio irmão. Mas não somente isso...

Ela... Ela, que atormentara meus dias desde o momento em que saiu da Academia Cross e eu decidir por uma enorme muralha naquela ponte que nos ligava para que eu não soubesse o que ela estava passando ou onde estava, mas que me sentia tentado a cada segundo de fazer aqueles tijolos ruírem apenas para descobrir onde aquela idiota foi se meter; que me fazia sentir ainda mais idiota por andar de um lado a outro do meu quarto como um tigre enjaulado, uma verdadeira batalha sendo travada na minha mente sobre se deveria ou não me preocupar, enquanto minha parte racional tentava me mostrar todos os motivos do porque eu não deveria fazê-lo. Não apenas isso, mas também aquele forte sentimento amargo que me revirava o estômago toda vez que pensava que ela havia ido embora com aquele Sangue-Puro idiota, mas que eu não sabia precisar o que era. E para acrescentar a minha dor de cabeça, minha confusão por não entender os motivos de eu não poder simplesmente deixar de esquentar minha cabeça com isso e não me importar com o fato de se ela viria a sobreviver ou morrer depois.

Eu gastei boa parte dos meus minutos tentando racionalizar essas sensações e ser realista quanto às circunstâncias ao mesmo tempo, mas não parava de andar em círculos e não chegar a lugar algum no fim. Mas não apenas isso...

Nos poucos instantes em que eu conseguia por fim pregar os olhos, ao invés dos pesadelos que eu estava acostumado a ter quase todas as noites, havia sido ela quem me atormentara. Lembranças de como nos conhecemos e de nosso tempo juntos… de nosso tempo convivendo sob o mesmo teto ou o mesmo espaço, mas que na maioria das vezes meu cérebro fazia questão de mudar alguns detalhes ou se concentrar em outros em especial.

Isso era tão ridículo! Mas eu não estava consciente do quanto eu reparara nela até esses sonhos começarem, o que levantou ainda mais questões no meu cérebro.

Como por exemplo aquele tom incomum que seus olhos negros comuns possuíam, quando as matizes negras de seus olhos desbotavam sob algum raio solar e aquela cor se sobressaía em suas íris; até mesmo como o – antes – longo cabelo negro e liso dela era lustroso e macio como seda...

— Conheci a falsa casca humana de ambas, não a predadora sedenta que são – cuspi tais palavras na direção do diretor antes de me pôr de pé, irritado. – E você não devia se deixar enganar por isso, não seja tão estupidamente ingênuo.

Antes que eu pudesse me afastar dele, vi-o sacudir a cabeça tristemente, mas eu não me importava exatamente com esse detalhe e sim com a minha própria hipocrisia, afinal eu mesmo estava me deixando levar ingenuamente pela casca humana que elas possuíam.

A casca humana que ela possuía; e isso só estava me fazendo odiá-la ainda mais.


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Notas finais do capítulo

Eaí, o que acharam?
Perceberam como esse albino está carecendo de uns tapas na cara para acordar para a vida? Ele fica questionando porque ele está sentindo tal coisa e porque ele se preocupa ainda, mas quando acontece uma coisa que o põe perto da resposta, ele a chuta para longe porque sabe que não vai gostar. Ele me frustra -.-"
Até Kaien já percebeu, pelo amor de Raziel!
Espero que tenham gostado do capítulo ^_^
Beijos e até a próxima, pessoal o/