Fita de Seda escrita por moonrian


Capítulo 51
Capítulo 51 - Lembranças PT. 2


Notas iniciais do capítulo

yoo, pessoas o/
Olha quem chegou na hora prometida: EEUUUUUU!
É pra glorificar de pé, igreja, pq isso é de fato um milagre operando na vida de todas nós :3
Ok, parei u.u
Gostaria de agradecer a todas essas divas, maravilhosas, gatas, rainhas estrelas de brilhar por comentarem o capítulo anterior: OneKayo, Lily, Taciane, Bella, Dredrey, Rosalia e Lillo - cara, cês não me abandonaram, e isso me deixa tão feliz *-*
O capítulo de hoje vai ter uma continuação breve do que aconteceu de mt terrível em "Lembranças PT.1", que para quem não lembra, foi o patife do Leigh violentando nossa menina e matando os pais dela. Mas depois vai voltar para o tempo atual e nós vamos nos apaixonar por Kira mais um cadinho - mas não desistam do Zero ainda, ele vai surpreender vocês, sério u.u
*Boa Leitura



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[...] Não conseguia gritar.

Meus pulmões não se expandiam. Tentava puxar o ar pela minha garganta, mas a mesma parecia apertada demais para que qualquer resquício de oxigênio pudesse passar. Meu peito parecia queimar com a necessidade e minha garganta estava se fechando mais a cada instante, impedindo-me de berrar. Não conseguia parar de chiar enquanto tentava puxar o precioso ar, de jogar os braços e de tentar desesperadamente respirar, mas o esforço era inútil. Ninguém podia me ouvir. Ninguém iria saber que estava morrendo, que havia um monstro fechando seus dedos ao redor de minha garganta sem qualquer piedade, apenas para me ver agonizar até que finalmente recebesse a doce libertação, pois o maldito tinha poder o bastante para fazer com que aquela experiência fosse indolor.

 Havia uma dor intensa em meus pulmões, uma agonia tão insuportável causada pela necessidade de ar que me desesperava. Havia muito sangue quente acumulando-se em volta de mim provindo dos ferimentos que ele me causara enquanto me violentava; e eu não conseguia, não conseguia, não conseguia respirar...

O rosto tão belo quanto sádico de Leigh sorria malignamente acima de mim, parecendo se divertir por me ver lutar contra suas mãos, socar seus braços e relutar com todas as minhas forças por minha vida; mesmo que ela estivesse destruída após todas as coisas hediondas que aquele monstro me fizera àquela noite. Estuprar-me, matar meus pais na minha frente, e agora estava me esganando para dar fim a última Yagami existente.

— Hime… Hime, acorde… Acorde

Eu levantei tão depressa que me dobrei ao meio.

Estava arfando com uma respiração profunda, rouca e ofegante, sentindo-me tão destruída com aquela lembrança e ao mesmo tempo tão aliviada por conseguir levar oxigênio aos pulmões que não conseguia fazer nada além de tentar inspirar o máximo possível. Todo o meu corpo estava tremendo, minha pele úmida indo de quente a fria rápido demais.

Havia prometido a mim mesma que seria forte depois do que ocorrera na Academia Cross, que nunca mais me deixaria abater por nada que viesse de Leigh, mas falhava completamente naquele instante por não conseguir me recompor, deter as lágrimas silenciosas que escapavam de meus olhos como uma cachoeira, nem possuía força para afastar o pesadelo/recordação que tivera aquela noite – eu sequer conseguia afastar de minha pele a memória tão vívida daqueles dedos longos e cruéis envolvendo minha garganta, e daquela expressão de puro prazer no rosto de Leigh por me ver agonizar, a mercê de suas mãos.

Senti mãos quentes e afáveis tocarem minha pele fria, erguendo meu rosto na direção de uma figura conhecida parada a minha, e vê-la ali trouxera uma onda de tranquilidade ao meu corpo, diminuindo gradativamente todos aquelas emoções desesperadas até que tudo que restasse fosse apenas um terrível cansaço. Na semiescuridão do quarto, encontrei os olhos incrivelmente azuis de Kira Asamiya a analisarem cada feição de meu rosto com uma preocupação verdadeira que me estilhaçou por dentro.

Seus polegares afagaram minha face com muita delicadeza, limpando as lágrimas que molharam minhas bochechas, antes que ele aproximasse seu rosto do meu e depositasse um beijo cálido em minha testa.

Eu me lembrava, lembrava o que havia acontecido àquela noite.

Havia sido ele, eu sabia, mesmo que não tivesse certeza de como podia, pois ainda estava sob os efeitos daquela amnésia esquisita. Ele me salvara aquela noite, após encontrar os pais assassinados em casa pelo próprio irmão, porque Kira era esperto o bastante para saber que o próximo alvo de Leigh seria minha família e eu.

Ele conseguira afastar seu irmão de mim e expulsa-lo daquela casa, pois o sangue de meu pai ainda não havia feito efeito nele.

Lembrava-me que ele me ajudara a sentar com toda a delicadeza possível, me vestira com o casaco preto e longo que vestia, parecendo inconsciente das lágrimas que caíam de seus olhos azuis aquecidos por uma fúria homicida e da profunda ruga preocupada que se instalara entre suas sobrancelha.

Ele não dissera uma palavra enquanto me tirava daquela casa, que fora testemunha de tanta felicidade (que eu me lembrava, também) e da grande desgraça que fora aquela noite.

Recordava-me perfeitamente de Kira me carregar para dentro de seu carro, mantendo-me em seu colo, envolvida protetoramente em seus braços. Ele afundara seu rosto em meu ombro e pedira perdão tantas vezes que eu perdera a conta, sua voz trêmula pelo choro culpado e doloroso. Prometeu-me que nunca mais permitiria que nenhum mal me tocasse nem que custasse a sua vida, que Leigh nunca mais tocaria em um fio do meu cabelo enquanto ele estivesse vivo.

A partir daí as memórias daquela noite ficavam vagas e muito confusas, provavelmente porque eu ziguezagueava entre a linha da semiconsciência. Eu acreditava ama-lo naquela época e confiava em suas palavras, então me permiti dormir no conforto de seus braços enquanto ele dirigia para longe daquele inferno.

— Você está bem, Hime? – ele me perguntara, sua voz com uma inconfundível nota de preocupação.

Eu encarei o seu rosto de traços fortes e tão masculinos, mas ao mesmo tempo tão conhecidos quanto o meu próprio rosto. Eu me lembrava dele, eu sabia quem ele era, sabia quem eu era; aquela ponte que me ligava à pessoa que eu fui no passado finalmente reconstruída.

Eu era Olívia Yagami, uma garota italiana com descendência asiática e que fazia faculdade de Artes Cênicas para alcançar o sonho de ser uma atriz de teatro. Eu crescera brincando com os irmãos Asamiya, que moravam com os pais em uma casa pequena atrás da nossa, fingindo que eram empregados de minha família invés de nossos guardiões; e eu sempre acreditei haver algo de muito errado em Leigh, algo faltando toda vez que eu olhava para aqueles olhos dourados e nos sorrisos que ele direcionava a mim, pois eles pareciam sempre tão calculados e superficiais – e sempre me perguntara como alguém tão belo quanto Leigh (ele era e continuava sendo de longe o homem mais bonito que eu já vira em toda a minha vida) podia ser tão frio e… errado. Mas ainda sim, eu nunca viera a cogitar que o Asamiya mais velho era capaz de tudo que ele fizera durante esse ano em que nós nos tornamos inimigos declarados.

Eu acreditara amar Kira por boa parte de minha vida e prometera me casar com ele no meu aniversário de treze anos, mesmo que ele não tivesse me levado a sério, ele parecia nunca me levar a sério quando eu falava dos meus sentimentos por ele.

Beijamo-nos pela primeira vez atrás de uma estante em uma biblioteca pública, naquela noite em que seu irmão fizera aquelas atrocidades contra minha família e a mim, e me lembrava de que eu acreditava estar flutuando.

Lembrava de todas as cidades que passamos e da maneira doce com que ele me tratava, protegendo-me e defendendo-me de tudo e todos. Ele era como o meu suporte, meu apoio quando estava destruída demais para andar por mim mesma, a minha coragem e o meu refúgio. Fora ele quem decidira viajar para Lunier em busca não somente de proteção, mas também de respostas para o que eu era e o que eu poderia fazer para acabar com seu irmão, porém eu, como a medrosa que eu era e por um egoísmo tolo, decidi adiar aquelas informações o máximo que pude até que fosse tarde demais para consegui-las; o dia em que finalmente Leigh me encontrara para tomar a minha vida.

Ele sempre se preocupou demais comigo para o seu próprio bem.

— Vou pegar água para você – ele disse quando eu não o respondi.

Quando ele se ergueu, segurei seu pulso para impedi-lo de se afastar, sentindo certo desespero sequer com a possibilidade de ficar sozinha naquele lugar.

— Fique.

A palavra escapara de meus lábios antes mesmo de eu ter tido a chance de pensar bem sobre o que pedia. Não tinha certeza dos motivos que me levaram a dizer aquilo. Talvez porque fosse madrugada e eu ainda estivesse tremendo, e talvez tê-lo por perto pudesse assustar meus pesadelos e mandá-los embora. Ou talvez fosse porque estivesse fraca e angustiada e precisasse de um amigo. Quem sabe fosse porque eu sabia que enquanto ele estivesse comigo, nenhum mal me tocaria. Não tinha certeza. Mas havia algo na escuridão, na calmaria daquela hora, que criava uma linguagem própria.

Havia um tipo esquisito de liberdade no escuro; uma vulnerabilidade aterrorizante que permiti a mim mesma exatamente no momento errado, enganada pela escuridão, pensando que ela guardaria meus segredos. Esquecendo tolamente que a escuridão não era um lençol e que o sol nasceria logo. Mas naquele momento, pelo menos, me sentia corajosa o bastante para dizer o que nunca diria na claridade.

Ele me fitou com confusão por alguns segundos, mas não pronunciou sua dúvida sobre minha atitude, apenas fez o que eu pedi – algo que era tão típico dele, essa sua mania de colocar meus quereres acima de tudo, mesmo quando não concordava ou não estava certo se devia.

Kira deitou-se no espaço que eu cedera na cama e me puxara para seus braços, acariciando meu cabelo de maneira gentil e reconfortante. Com a cabeça sobre o seu peito, ouvi o som de seu coração disparado apenas com aquela aproximação inocente, e me senti mal por não estar tão alterada quanto ele, pois Kira merecia que eu o correspondesse depois de tudo que ele já fizera por mim e estava disposto a fazer.

Eu sentia algumas leves agitações em meu interior, mas nada perto do que estava acostumada a sentir apenas na presença daquele albino idiota que eu deixara para trás, e aquilo estava me fazendo sentir cada vez pior. Eu recuperara os sentimentos que possuía por Kira antes, assim como as memórias de tudo que havia ocorrido não apenas entre nós, mas no decorrer de toda a minha vida, e eu não me sentia tão diferente de quem fui enquanto estava na Academia Cross – eu possuía agora aquela dor palpável da saudade que tinha dos meus pais e da vida próxima do comum que deixei para trás; porém a garota que fui, a jovem inocente e frágil que se escondia as costas de seu guardião e esperava que ele fizesse tudo por si, ela parecia uma lembrança tão distante, pois aquela experiência vivendo com Kaien e Zero me mudara para sempre.

Zero, que me obrigara a andar com minhas próprias pernas e a me defender por conta própria, a ser independente e ter força para buscar as respostas sobre mim. Que se indignava com meu conformismo quanto a minha amnésia e minha falta de respostas para o mistério de minha vida. Ele nunca me tratara como uma boneca de porcelana ou como alguém que não pudesse defender a si mesma, nunca subestimara a minha força ou o meu potencial, não como eu acreditava que ele fizesse, na época. Aquele albino, que eu pensava ser um desgraçado sádico por não pegar leve, me desafiava a fazer mais do que eu estava disposta a fazer por mim mesma.

Eu não sabia quando a opinião e a aprovação dele se tornou tão importante para mim, mas por ele eu me obriguei a ser forte, esperando que isso pudesse fazê-lo se orgulhar de mim e me levar a sério; mostra-lo que eu não era uma perda do seu tempo.

“Por que você está pensando nele em um momento como esse?”, inqueriu aquela vozinha irritante em minha mente, e eu sabia que ela estava certa.

O problema não era Kira, ele fez o que pôde por mim com o seu jeito protetor, o problema era em mim e sempre foi.

Eu queria ama-lo, queria corresponder aos seus sentimentos com o mesmo ardor dos dele, mas eu não conseguia, não quando meu coração ainda estava tão tomado por um sentimento não apenas de amor por Zero, mas de admiração e companheirismo; e aquilo era tão tremendamente injusto.

Senti Kira se mover um pouco e então os lábios deles estavam beijando aquela ruga de frustração que havia se formado entre minhas sobrancelhas, fazendo-me desfaze-la no instante seguinte.

— Sei o que está pensando, Hime. Não se preocupe com meus sentimentos, eu vou sobreviver.  Agora apenas descanse. Nós teremos uma longa viagem amanhã para descobrir os segredos do que você é.

Não adiantaria de muita coisa falar para Kira que eu me lembrava de tudo, pois aquilo não mudara nada do que eu sentia ou era, tudo continuava quase a mesma coisa. A única diferença eram as dores pelas perdas que Leigh me causara no decorrer desse tempo e a certeza de que Kira era realmente bom demais para ser obrigado a conviver comigo e me ter em seu braços daquela maneira, sem esperar nada. Eu sabia como era aquele sentimento amargo de não ser correspondido e ter que ver quem ama desejar outra pessoa, e não queria que ele sentisse aquela dor.

Zero e eu nunca iriamos poder ficar juntos, de qualquer maneira, levando em conta todas as circunstâncias (a minha guerra, os problemas dele com a minha espécie, nossos fantasmas do passado), e Kira estava ali por mim para qualquer coisa, ele não.

Ergui meu queixo para encontrar os olhos de Kira e sustentei seu olhar por um longo período, decidindo se devia ou não fazer aquilo, que se fosse para eu entrar na vida daquele rapaz daquela maneira era para não recuar por nada. Para não recuar nem se ocorresse um milagre no Universo e Zero resolvesse corresponder aos meus sentimentos, pois Kira não merecia ser um prêmio de consolação, um passatempo que eu usaria para me distrair enquanto não conseguia o cara que desejava.

Em vinte segundos de coragem insana, eu impulsionei meu corpo para cima e selei meus lábios sobre os dele em um beijo suave e calmo que não durou mais de três segundos.

Foi bom. Não foi o beijo apaixonado que eu havia planejado no meu cérebro, mas ainda assim ele parecia feliz. Kira tocou meu rosto e sorriu. Seu toque era agradável. Seguro. Mas não chegava nem perto do que eu sentia com Zero. O beijo de Kira era uma partícula de poeira no Universo, uma gota perto de uma cachoeira.

Como viver com uma coisa tão comum quando já se teve, mesmo que por um breve momento, algo tão excepcional?

Quando sorri para ele em resposta, eu decidi que teria que me acostumar a isso, teria que aprender a ama-lo. Kira merecia isso.


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Notas finais do capítulo

E agora essa! Hime resolve dar uma chance para o amor de Kira, mesmo que não o corresponda e que esteja loucamente apaixonada pelo Zero... Isso nunca dá certo -.-"
Agora falemos desse momento lacrador da Hime lembrando tudo :3 GENTE, ELA SE LEMBRA DE TU-DO! Dá pra acreditar? Ela se lembra!
Vamos dançar ao som de BigBang! Bumchacalaka, Bumchacalaka, Bumchacalaka! Dance Dance Dance Dance o/ ~le remexendo o corpinho.
Ok, parei u.u
Agora perguntinha: Já se perguntaram pq o nome da fic é Fita de Seda? Sim? Não? Então, tem um motivo e tá bem perto de ser revelado :3
Espero que tenham gostado do capítulo.
Até a próxima semana o/