Fita de Seda escrita por moonrian


Capítulo 49
Capítulo 49 - Agonia do Desejo


Notas iniciais do capítulo

Yoo, pessoas o/
Eu sei que demorei, que sou uma negação com promessas e que mereço uns catiripapos, mas não me batam ainda! É que eu comecei a trabalhar, sabe? Minha mãe cansou de me ver vagabundando em casa e aí surgiu um emprego legal, mas agora que eu me acostumei com a rotina dará tudo certo! Eu tenho contato com net agora dia de terça, quarta, quinta e sexta, creditam? Agora cês vão se entupir de tanto FDS! :3
De verdade, quero agradecer de todo coração a todas as lindas que comentaram o capítulo anterior e vc que está aqui lendo esse capítulo e vai deixar um review lindo para mim - eu vou de verdade terminar essa história e esse ano (kkk), cês vão ver!
O capítulo de hoje começará com a revelação da terrível reação de Zero quando Hime lhe disse que era vampira...
"FINALMEEENTEEEEEEE!!!" ~le público grita
... ok né...
Tenham uma boa leitura!



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Você chama de esperança – aquele fogo do fogo!

Não é nada além de agonia do desejo.

— Edgar Allan Poe, “Tamerlane”

“Apesar de toda a minha argumentação anterior e de Zero concordar com cada motivo que eu dera para ele parar de se preocupar comigo, o albino ainda se via inclinado a continuar com a tarefa de me proteger dos outros e de mim mesma, e notava que sequer ele compreendia porque não oscilava nem minimamente em sua preocupação comigo – aquela ligação era uma benção e uma maldição, às vezes.

Meu peito doía com o peso daquela maldita esperança que insistia em florescer independente de todo e qualquer pensamento realista da minha mente, e eu temia ser soterrada pela tolice de meu coração – aparentemente eu era do tipo que se eu não ouvisse da boca dele que não me queria e não aceitaria minha natureza, aquela partezinha irracional de mim continuaria a alimentar aquela estupidez; e a lembrança da noite em que nos beijamos não estava colaborando em ajudar meu coração errante a encarar a verdade: eu não passava de uma dor de cabeça constante e uma imagem desfocada em comparação aos sentimentos dele por Yuuki Kuran.

— Kira disse que sou uma vampira – falei em um impulso, utilizando aquela informação como último recurso.

No momento em que proferi aquelas palavras me arrependi, pois aquela não era a melhor forma de provar para mim mesma que Zero nunca me pertenceria e que aquela noite foi apenas um momento de fraqueza diante de um desejo efêmero que surgiu, um descontrole que certamente não se repetiria nunca mais por mais que eu ansiasse.

Não, eu não tinha esperança alguma de que ele me correspondesse com o mesmo ardor dos meus sentimentos por ele, mas após fazer o estrago de conta-lo o que eu realmente era, esperei que pelo menos o ínfimo sentimento que ele tinha por mim pudesse ser forte o bastante para me pôr acima do preconceito que ele tinha contra os vampiros.

Não estava certa se meus olhos demonstravam o quanto eu suplicava internamente para que Zero pudesse passar por cima de seus ideais por mim, mas tinha a terrível sensação de que sim e aquilo estava desintegrando meu orgulho próprio.

Acompanhei atentamente cada traço de Zero congelar em choque, o sentimento atravessando a ponte que nos ligava como um tsunami que me acertou com força, então vagarosamente se metamorfoseou para o horror à medida que seus orbes lilases analisavam cada linha de meu rosto como se nele contivesse todo o mapa do suspense de nossas vidas atualmente e algumas pontas soltas de uma peça terrível começassem a se unir diante de seus olhos.

Zero se pôs de pé, afastando-se de mim com uma enxurrada de emoções conflituosas se revirando dentro de si até que tudo se mesclou, transformando-se em uma raiva abrasadora. Quando estava a mais de dois metros de distância da minha figura ainda largada sobre o banco de concreto branco, o albino voltou-se para mim com seus olhos fulminando-me em uma mistura de puro asco e revolta que trouxe chamas infernais a cor lilás.

Aquele olhar que eu nunca consegui imaginar sendo direcionado a mim, mesmo quando eu temia proferir aquelas informações em voz alta para ele, fez uma dor latente se instalar em meu peito no instante em que recaiu sobre mim.

— Então você é só mais uma sanguessuga? – Zero parecia cuspir cada palavra com ultraje – Uma maldita vampira disfarçada de humana?

Antes de começar a explicar para Zero o necessário, engoli uma quantidade considerável de saliva, que pareceu espessa em minha garganta entalada por um nó.

— Me tornar humana foi um bem necessário para a sobrevivência da minha linhagem, pelo que fiquei sabendo. Não tínhamos como intenção enganar ninguém, apenas sobreviver...

— Eu estou pouco me fodendo para o que a sua linhagem — ele deu uma ênfase grotesca à palavra – fez para sobreviver, Hime. Você é só mais uma besta nojenta e sugadora de sangue que me enganou com uma casca falsa.

Aquilo estava saindo pior do que eu imaginara. As palavras de Zero penetravam em meu coração lacerando tudo como se tivessem bordas afiadas, e somado a forma como ele me olhava, como se eu fosse um inseto gosmento esmagado no para-brisa de seu carro... Eu sentia que morreria antes daquela conversa entre nós terminar.

— Zero, você não está me ouvindo… – pus-me de pé e tentei me aproximar, mas quando dei o primeiro passo, ele puxou Bloody Rose e apontou para mim.

— Não chegue perto de mim – falou, cada palavra coberta por tanta frieza que me rachou por dentro e obstruiu minha visão com lágrimas que não demoraram a escorrer por meu rosto. – Dê mais um passo, Hime, e eu juro que atiro nessa sua casca humana fajuta.

Minha garganta ardia horrivelmente à medida que aquelas palavras me laceravam por dentro, cortando todos os meus órgãos e abrindo um enorme buraco em meu coração que parecia sangrar copiosamente.

Zero avaliou-me de cima a baixo com os olhos transbordando asco e desprezo; sua decepção e fúria atravessando nossa ligação como um chicote que me açoitava a pele. Então ele se virou e foi embora sem olhar para trás.”

— Hey, Hime – ouvi uma voz masculina chamar através da bruma de sono. – Acorda, docinho, nós já chegamos.

Lutei contra a névoa de sono que fazia meu cérebro mais lento do que o normal, sentindo algo gelado contra minha têmpora. Apertei os olhos, sentindo como se tivesse um quilo de areia neles, então os abri para a claridade prateada do dia e a faixada de um hotel luxuoso decorado em tons de dourado e mármore preto.

Dormi por todo o caminho para longe da Academia Cross com a testa recostada no vidro do preto e lustroso Range Rover de Kira, mas ainda assim sentia meu corpo pesado pelo cansaço – e para meu completo nojo, havia uma baba viscosa escorrendo pelo canto da minha boca, o que eu limpei com a manga da jaqueta da maneira mais rápida e furtiva que consegui, pois não queria mesmo que Kira visse. Suspirei e me empertiguei no banco com estofado de couro, olhando ao redor através das janelas fumê na esperança de descobrir onde estávamos, mas não reconheci o lugar.

Lancei minha atenção para Kira e este abriu um grande sorriso para mim, como se eu não estivesse esteticamente um desastre depois daquela batalha sangrenta – ao contrário desse Sangue-Puro maldito que, depois dissolver dois tabletes de sangue e beber em seu quarto no Dormitório da Lua, a regeneração vampírica deu um jeito nos ferimentos de seu corpo em questão de segundos e agora ele parecia um modelo da Calvin Klein recém-saído de uma sessão de fotos.

Não tivemos problemas em fugir do colégio, todos pareciam muito ocupados com a tarefa de tentar organizar o que sobrou do lugar para se preocupar conosco.

Saí do carro logo depois de Kira, aproveitando o momento para me espreguiçar na esperança de retirar a rigidez em meus músculos além de flexionar as juntas de joelhos e cotovelos, um efeito colateral por ter ficado tanto tempo na mesma posição, e acabei por ouvir alguns estalos.

Ignorei a risadinha de Kira e o segui para dentro do hotel, após o moreno entregar a chave do carro para um homem vestido em um uniforme vermelho que me fez lembrar o desenho do Pica-pau. A diária devia ser muito além dos meus poderes monetários.

Quando alcançamos o balcão, senti-me completa e totalmente ridícula. Lá estava eu vestindo uma jaqueta jeans azul marinho grande demais, uma calça de moletom cinza que necessitava ser segurada senão cairia em meus pés e uma velha camiseta preta do Linkin Park que me engolia (roupas do vestuário de Kira que o próprio me emprestou para substituir o meu vestido em frangalhos), ao lado de um belíssimo e despojado deus grego – e não vamos nem mencionar o fato de eu não ter dormido a noite inteira e meu cabelo ainda estar completamente frisado e imundo. Não era surpresa que a recepcionista estivesse olhando de mim para Kira como se a equação não fizesse sentido.

Partimos da Academia Cross tão rápido que sequer tive tempo de fazer alguma coisa com minha aparência além de trocar a roupa para parecer menos mendiga, mas acho que meu novo look não estava ajudando minhas intenções.

Depois de passar por toda a tediosa burocracia para conseguir um quarto, que infelizmente não foi a Suíte Master, entramos no elevador prateado com o Sangue-Puro girando a chave do quarto no indicador. Apertamos o botão que prometia nos levar ao 14º andar, e aquela caixa de metal maldita me fez soltar um gritinho ridículo no instante em que deu um tranco para subir, arrancando risadinhas divertidas de Kira – se fuzilar com os olhos funcionasse, o moreno seria uma peneira.

Quando finalmente entrei no espaçoso quarto, que tinha duas camas de solteiro como a recepcionista prometera, não pude deixar de avaliar o local com certo criticismo, afinal a diária custava uma nota. As paredes estavam tingidas em tons de creme e salmão, cortinas brancas balançavam suavemente com o vento, acariciando a redonda mesa de vidro fumê com armação de metal preta; as camas tinham lençóis brancos e finos de algum tecido semelhante à seda, já que o aquecedor fazia o trabalho de manter o frio do lado de fora.

Kira trancou a porta, enquanto eu andava até a janela para ver a vista e tentar descobrir se continuava em Matsue ou se o vampiro havia conseguido me levar para uma cidade vizinha, mas o cenário continuava tão desconhecido para mim quanto sempre.

— Quais são seus planos daqui em diante? – perguntei, meus olhos ainda atentos ao movimento da rua.

Como não ouvi uma resposta imediata, virei-me a tempo de ver Kira deixar sua mala sobre o colchão da cama esquerda antes de voltar seus olhos absurdamente azuis na minha direção.

— Você não pode lutar contra Leigh sem antes saber sobre quem é. Infelizmente eu não tenho todas as respostas para as questões dos Sangue-Primários, diversos detalhes eram escondidos até dos guardiões, mas acredito que existam livros escondidos em uma biblioteca de Lunier que expliquem como toda essa coisa funciona.

Ah, que ótimo! Mais uma visita a Lunier!

Deixei meus pensamentos para mim mesma e apenas balancei a cabeça em concordância a sua linha de raciocínio, pois eu não serviria de muita coisa enquanto não compreendesse a extensão do poder de um vampiro Sangue-Primário.

— Então quando nós vamos para lá?

Kira se sentou na cama que selecionou como sua e apoiou as mãos sobre os joelhos antes de me lançar um “você é maluca?” olhar.

— Não haverá nós nessa excursão, Olívia. Eu não vou arriscar sua vida indo a Lunier como aquele Nível-E idiota fez, há o risco de Leigh estar por lá.

Eu estava planejando reclamar novamente sobre ele me chamar de “Olívia”, a covarde, mas outro detalhe me distraiu. Não gostei nem um pouquinho da maneira que ele se referiu ao albino, meus olhos semicerrando-se não intencionalmente.

— Para começar, o nome do idiota não é “Nível-E”, é Zero, o cara que salvou a minha vida quando você estava ocupado demais para fazê-lo – tentei ignorar a pontada de culpa que me atravessou o peito quando o rosto dele se distorceu em mágoa, afinal mesmo que Zero fosse realmente um idiota, ele ainda era o cara que salvou minha vida e isso eu nunca iria poder pagar. – E depois, eu não estou nem aí se aquele babaca do Leigh foi correndo com o rabo entre as pernas para Lunier, eu quero ajudar nessa missão de procurar esses livros secretos sobre os vampiros de Sangue-Primário e acabar com Leigh o mais rápido possível. Não sabemos quanto tempo a Academia Cross estará segura, e se eu não me transformar e matar o idiota do Leigh em uma semana, nós iremos voltar ao colégio para ter certeza de que tudo está nos conformes.

Kira suspirou pesado, parecendo não gostar da ideia de eu retornar para a Academia Cross, e eu não compreendia como ele podia não se preocupar nem um pouco com a possibilidade de Leigh ferir mais algum inocente.

—Eles não tinham nada a ver com essa batalha, Kira – lembrei-o. – Nós os colocamos nisso em nossa própria incompetência.

Pude ver que Kira concordava em parte com o que eu dizia, embora eu não soubesse exatamente em que parte ele estava discordando, mas não fazia mal. Ele abriu um pequeno sorriso triste para mim.

— Você quer dizer na minha incompetência, Hime, minha fraqueza. Eu devia estar de olho em você o tempo todo, mas acabei te perdendo. Não consegui manter a luta contra Leigh em Lunier por muito tempo e acabei ficando inconsciente. Ainda não sei por que ele não aproveitou o momento para me matar, e odeio que uma parte de mim tente acreditar que é porque debaixo daquela crueldade ainda exista o Leigh que eu me lembro da minha infância... Isso é irrelevante! O ponto real é: você foi levada para aquele lugar enquanto eu estava cochilando — disse a palavra entredentes, parecendo muito zangado consigo mesmo –, ameaçando a revelação da existência da sua linhagem e a sua segurança. Meus pais devem estar revirando no túmulo de tanta decepção com o meu desempenho como o seu guardião.

Bem, agora eu estava me afogando na culpa por ter falado que ele estava ocupado demais para me proteger, vendo que Leigh era muito mais forte que Kira e por esse motivo até muito óbvio, deixou o moreno inconsciente. Ele arriscara a sua vida para tentar salvar a minha, e ali estava eu, sendo uma ingrata muito filha da mãe.

Deus, eu não sou capaz de fazer nada certo?

Mas ainda não era certo ele dizer coisas ruins de Zero, que nesse meio tempo fez todo o possível para me ajudar, mesmo que da forma tosca dele e sem saber o que eu era.

— Não seja tão duro consigo mesmo, Kira, eu ainda estou viva, certo? E não sou tão frágil quanto você pensa, sei cuidar de mim mesma e posso dar uma surra em um homem três vezes maior que você.

Um canto de seu lábio entortou para cima.

— E mil vezes menos habilidoso – acrescentou de maneira zombeteira, o que eu ignorei, pois não havia terminado meu argumento.

— E para um homem que está lutando contra um inimigo cem vezes mais poderoso graças ao sangue que ele roubou de meu pai – continuei –, você está fazendo um trabalho melhor do que o esperado.

Kira sorriu docemente para mim em agradecimento, então se pôs de pé em uma clara intenção de mudar o assunto.

— Vou comprar algumas roupas para você, tenho certeza que deseja tomar um banho e vestir roupas que caibam. Volto em alguns instantes, não saia desse quarto.

Quando Kira finalmente deixou o quarto, senti liberdade para deixar que aquela tristeza amarga que eu trancara no lugar mais profundo de mim me tomasse por inteira e minha expressão de naturalidade murchasse – sinceramente, não fazia nem três horas que eu havia saído do colégio e já estava me sentindo a afundar na merda.

Eu não conhecia Kira como conhecia as pessoas que eu deixara para trás, não estava tão certa se meu plano de me afastar da Academia Cross havia sido dos melhores, e se fosse sincera o bastante comigo mesma confessaria que parte do meu imediatismo em partir daquele lugar era minha própria covardia de enfrentar os alunos depois do que Leigh fizera, não enquanto eu não pudesse me provar forte o bastante para não permitir que tal atrocidade se repetisse.

Mas segundo Kira, havia a grande possibilidade de eu conseguir minha força antes que Leigh se desse conta de que a Academia Cross estava a sua mercê, e com a viagem para Lunier programada para o dia seguinte, teria todo o conhecimento necessário tempo o bastante para logo depois caçar aquele maldito até o fim do mundo, então dar fim a sua existência.

Fiquei me perguntando se Zero e/ou Kaien já haviam dado a minha falta ou se demoraria mais algumas horas até perceberem que eu havia partido, mas logo afastei esses pensamentos da minha mente.

Eu tinha esperança... Esperança de conseguir dar um fim a existência perigosa de Leigh. Esperança de conseguir fazer Zero me perdoar e voltar a falar comigo, mesmo que fosse apenas para discutir. Esperança de poder voltar a Academia Cross como a vampira que era e fazer com que todos aceitassem minha existência e reconhecessem que não era uma ameaça. De que o amor que preenchia meu peito não me sufocasse até eu conseguir realizar todos esses desejos.

Mas cada segundo longe do território escolar era uma agonia constante.


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Notas finais do capítulo

Eaí, o que acharam? Legal? Legalzinho? Interessante? Entenderam um pouco do que Hime planeja e os motivos dela de sair da Academia Cross? Eu sinceramente fiquei com pena dela por estar tão desarrumada e "medingosa" - amo um neologismo - ao lado do Kira deus grego hehehe
Esperam que vocês tenham gostado!
Até a próxima (que não vai demorar, de verdade dessa vez!)