Lost in Paradise escrita por Drylaine


Capítulo 2
Não exatamente


Notas iniciais do capítulo

Olha eu de novo toda feliz com as minhas reviews. Esse capitulo foi tenso pelas emoções q tentei colocar aqui. É temos um momento curto delena, mas é pq a relação bamon vai acontecer em paralelo ao outro casal. Vamos dizer q Damon viverá o dilema de estar dividido entre a mulher q ele acreditava cegamente ser seu grande amor e a garota q vai lhe ensinar como é amar de verdade.
Eu dividi o cap em tres partes. Ah primeira e a ultima parte é nos dias atuais e a segunda flashbacks de 1994 (em italico). Espero q o cap não fique confuso. Então, vamos lá.



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Damon


Eu estava no meu quarto segurando desajeitadamente Miss Afagos entre meus braços, o ursinho de Bonnie que ainda possuía o cheiro dela. Eu tinha uma decisão difícil pra tomar. Uma decisão que eu sabia que iria me arrepender, mas eu não tinha outra escolha. Eu tinha que salvar Elena e essa era a única forma.

Olhando para o ursinho me fez lembrar a primeira vez que a vi com ele, toda entusiasmada por ter encontrado algo que a fazia se lembrar da sua infância. Foi tudo muito inusitado, porque no momento em que ela entrou pela porta trazendo consigo Miss Afagos e o Grimório de Emily, eu estava muito distraído dançando uma música qualquer na rádio enquanto fazia panquecas. Ela me olhou com uma cara confuso e um leve sorriso debochado, ambos ignoramos a situação pra nos concentrar em discutirmos mais uma vez. Entre nossas ofensas ela me deu as costas e mais uma vez foi embora.
De repente minha mente é invadida por várias memorias de Bonnie Bennett em 1994.

Várias memórias vividos naquele mundo paralelo...

Já fazia mais de dois meses que estávamos presos nesse lugar. Ou melhor, nesse inferno chamado 1994. Onde eu escondia meus fantasmas. Fantasmas do passado que eu havia decidido deletar da minha mente, mas que agora decidiram sair e me perturbar.

Meus dias sempre eram cheios de Bourbon, panquecas, músicas variadas da época, ou ainda de vários livros que eu devorava na biblioteca da pensão. Tudo isto pra passar o tempo, e quando não era suficiente eu passaria limpando a casa, que sempre ficaria impecável em questão de segundos, só que não aplacaria minhas frustrações e meu tédio até que um dia encontrei no meio das coisas de Stefan uma câmera antiga. A câmera era recheada de vídeos de Stefan, Zach e de sua esposa grávida em momentos em família. E lá estava os fantasmas de novo a me perturba.

De um lado, o passado que me atormenta e do outro, o passado frustrado de ver que Stefan parecia mais feliz sem mim por perto. Como se ali ele estivesse vivendo numa família completa.

Então, ainda havia Bonnie com quem eu discutia frequentemente.

A bruxa passava seus dias estudando seu grimório, fazendo palavras cruzadas, ou cuidando do jardim da avó, ou ainda me irritando com seu papo otimista e com seus discursos moralistas que não me serviam pra nada, a não ser me tirar do sério.

“Olha só pra você. Vai ficar aí só se lamentando. Um pouco de apoio não faria mal.” Ela reclamou pela milésima vez ao me encontrar bebendo Bourbon e assistindo TV.

“O que você quer que eu faça. Além de querer ficar aqui sem ouvir a sua voz insuportável? Estamos destinados a viver pra sempre nessa realidade paralela, já que você sem sua magia é uma inútil.” E mais uma vez se iniciou outra discussão.

“De todas as pessoas que eu poderia esta, porque tinha que ser você. Você é tão ingrato que não enxerga que se não fosse por mim, Elena e Stefan não estariam vivos e seguros. E talvez, Damon Salvatore teria sido sugado pro nada junto com o Outro lado.”

“O quê?! Agora eu tenho que lhe agradecer. Pois eu preferia o vazio do que viver preso neste lugar com você.” Eu disse com todo o meu desdém me aproximando ameaçadoramente da pequena bruxa. Bonnie não se rendeu, embora seu coração batesse acelerado e seus olhos havia um vislumbre de medo. “Eu poderia lhe sugar todo o sangue das suas veias, gota por gota. E não existiria ninguém pra lhe salvar.” Minha voz ganhou tons sinistros, eu poderia sentir o desejo incontrolável de seu sangue fresco me dominar.

“Então, faça! Tome todo o meu sangue. Seja o monstro que você sempre foi.” Mesmo sentindo o medo irradiar dela sua voz saiu firme, sem vacilar. Eu a segurei pelos braços rispidamente, sem me importar em machuca-la. Quando nossos olhos se encontraram, verdes intensos em azuis furiosos, eu senti como se uma eletricidade irradiasse dela para todo o meu corpo, causando uma pontada indecifrável em meu peito.

Sai desenfreado, sem olhar pra trás, apenas desesperado por aplacar o monstro que queria se libertar. Eu necessitava de sangue, muito sangue. Devorei todo o estoque que encontrei no hospital da cidade. Amanha todas estariam intactas, as bolsas de sangue sempre estaria a minha disposição. Naquela noite eu vaguei por toda a cidade em minha velocidade sobre-humana até que o cansaço me dominasse.

O dia seguinte vinha e lá estava eu fazendo as mesmas coisas. As panquecas já estavam prontas para ela, mas a bruxa irritante decidiu não aparecer me fazendo tomar meu café da manhã sozinho e me deixando irritado. Subi para o meu quarto, peguei a câmera de Stefan e decidi desabafar.

“Este lugar é o meu inferno particular. Estou preso aqui há quase três meses. Sou um imortal de mais de 150 anos, um vampiro com muitas mortes em suas mãos, mas que não vive de arrependimentos. Tudo o que eu queria era apenas estar nos braços de minha Elena e esquecer-se do mundo. Mas, estou preso aqui, vivendo o mesmo dia, todos os dias.” Eu estava me iludindo, fingido. Porque eu sabia que quando eu olhasse pra trás, eu seria um vampiro cheio de arrependimentos. Arrependimentos que no futuro iriam me corroer por dentro.

E assim, eu continuei a gravar minhas frustrações e a passar o dia.

“Temos panquecas no café, às vezes no almoço. Somente no jantar que não tem, pois ela enjoada de tanta panqueca, é quem decide cozinhar o jantar. Devo admitir que fico magoado, afinal não é qualquer panqueca. São panquecas feitas com muito carinho.” Digo sarcástico e bebericando meu Bourbon. “Panquecas com carinha feliz e presas de vampiro... e Bonnie as odeia.” Enfatizo soltando um sorriso de desdém.

A verdade é que eu fazia tudo pra irritá-la. Porque era divertido, porque eu não me importava com ela. Porque eu a odiava tanto.
E falando nela... Decidi como vingança infernizar o seu dia.

Bonnie estava cuidando do jardim de Sheila, toda serena, com um sorriso radiante e sempre com o seu ursinho de pelúcia. Com a câmera em mãos eu passei a gravar seus momentos ali entre as flores e uma borboleta branca com pintas azuis que decidiu vagar por ali. Ela conversava com Miss Afagos como se fosse sua amiga mais intima. Por um instante ela parecia uma criança inocente e alegre. Como um anjo e eu me senti fascinado por sua beleza, força e sua alma cheia de vida.

Estava tão perdido em meu próprio pensamento que não percebi a droga da borboleta voando em minha direção e entregando minha posição.

Ah, que merda!

“Então, ao final da tarde temos um eclipse solar bizarro pra agitar as coisas.” Eu digo continuando a gravação e disfarçando fingindo estar apenas passando ali por acaso, enquanto vou gravando tudo o que vejo pela frente. Minha raiva e frustração já tinham ido embora ficando apenas certo desconforto em mim. Desconforto pelos olhares e sorrisos que se formaram em seu rosto, mas eu ignorei.

“Eu disse a você, ele não é tão horrível. Quando ele não está querendo dar uma de vampiro homicida.” Ela falou para seu urso estúpido.

“Ei, eu ouvi isso.” Eu gritei a fazendo a rir. “Nada de apelidos. Só eu posso dar.” Sua gargalhada quase foi contagiante, mas eu permaneci firme, com meus traços endurecidos.

A noite chegou tranquila. Nós jantamos num silêncio confortável, às vezes, trocamos olhares. Eu percebi que seus pulsos ficaram os hematomas causados pelas minhas mãos ásperas. Engoli em seco e ela percebeu tratando logo de escondê-los sob sua blusa. Não houve pedidos de desculpas de ambas às partes. Apenas continuamos a fingir que nada havia acontecido, mesmo que por dentro eu me sentia estranhamente conturbado. Havia alguma coisa além da superfície que mexia comigo. E na mesma noite eu não consegui dormir.

Encontrei-a dormindo sobre seu grimório no carpete da sala. Sem hesitar a peguei em meus braços cuidadosamente e a levei para o quarto que nos dias atuais eram de Jeremy em minha casa. Ela parecia tão pequena, quente e frágil.
Coloquei-a delicadamente sobre a cama. E por um minuto fiquei vigiando seu sono. Sono esse que fora muito agitado, ela murmura muitas coisas sobre panquecas de vampiro, sua casa, coisas que eu não entendia como: “Eu não quero Caroline.” E uma coisa me chamou a atenção.

“Eu não gosto do Damon.”

“Que maravilha! Eu também não gosto de você, Bruxa irritante.”

~~~*~~~

“E aqui estou no meu inferno particular. Mais uma vez, fazendo as mesmas coisas de sempre, panquecas de vampiro para bruxinhas mal-humoradas. Já li e reli meus livros favoritos. Já corri livre pela floresta ao redor de Mystic Falls, caçando vários esquilos, mas não comi nenhum, porque a dieta do Stefan pra mim não dá.” Eu disse continuando com o meu vídeo diário. Que agora não era só meu.

Já fazia quase quatro meses presos neste lugar, com apenas eu e Bonnie. Nós passamos a dividir mais nossos dias juntos, isso foi acontecendo naturalmente. Eu continuei com algumas atividades particulares como meu Bourbon, enquanto Bonnie continuou praticando magia que ela ainda não tinha e que eu duvidava que ela teria. As brigas continuaram as mesmas. Seja por causa das panquecas, ou por eu ganhar no tetris, ou qualquer outro jogo.

Sim, porque Damon sempre vence. Tudo bem que eu roubava, mas e daí?

No vídeo diário tinha muitos desses momentos nossos que incluíam também, bons momentos passados na varanda Gilbert. Onde conversávamos sobre a infância de Bonnie, Elena e os outros. Às vezes, eu vinha sozinho pra cá a procura de encontrar memórias de Elena e seu cheiro, mas eles eram tão diferentes. Eles não pertenciam a minha Elena. Com o tempo passei a frequentar menos sua casa.

A falta de casa e a solidão eram preenchidas por Bonnie e sua alma cheia de vida.

“Já organizei a casa com mesma bruxa irritante que odeia minhas panquecas e é uma péssima perdedora.” Eu disse alto pra que Bonnie também me ouvisse enquanto eu gravava mais um vídeo.

“Eu quero que você apague esse vídeo idiota. Ou eu juro que...”

“O que você vai fazer? Você é apenas uma mera mortal. Uma bruxa muito inútil e fraca.” Eu disse provocativamente para uma Bonnie emburrada que tentava a todo custa pegar a câmera da minha mão.

Tudo começou porque eu flagrei Bonnie dançando toda distraída, enquanto ela fazia o café da manhã. Sem que ela percebesse eu gravei um vídeo dela lá toda alegre e até um tanto sensual. Rebolando e se movimentando em sincronia com a música que tocava na rádio. Era tão autêntico e natural. Bonnie ali era uma nova versão, sem as preocupações do mundo sobrenatural. Sem ter que carregar o mundo nas costas.
Uma parte minha a inveja por seu corpo cheio de vida e sua esperança inabalável. Havia algo nela que simplesmente mexia comigo. Se meu coração morto pudesse pulsar, ele pulsaria por ela.

“Você é um idiota. Vai apaga isso!” Bonnie subiu até no sofá pra ficar na mesma altura minha. O que só serviu pra me fazer rir mais. Ela sempre seria pequena como um passarinho perto de mim.

“Olha anãzinha, não fica tão brava.” Eu disse a centímetros de seu corpo, olhando em seus olhos esverdeados. E por um instante eu me perdi naquelas órbitas de jade. Até que Bonnie conseguiu pegar a câmera da minha mão e sem querer derrubá-la no chão. Minha consciência voltou com tudo. Até mesmo uma fúria inexplicável pela pequena bruxa diante de mim.

“Ops, eu sinto muito.” Peguei a câmera do chão que havia quebrado uma parte.

“A única coisa bacana que era pra ser só minha você consegue estragar. Além de ser uma inútil. Maravilha!” Eu disse entre dentes.

“O quê? Não foi de propósito. Damon!” Eu subi para o meu quarto ignorando seus chamados.

Os próximos dias passaram tensos entre nós. Eu sempre iria a repelir com palavras duras. Meus dias voltaram a ser um tédio, eu me afogava em Bourbon e nas lembranças de casa, onde estava Elena. Nos meus sonhos ela estaria lá estonteante esperando pra se jogar em meus braços. Os sonhos eram tão reais que eu podia até vislumbrar seu cheiro. Seu cheiro que aos poucos se perdiam e eram dominados por jasmim. O jasmim de Bonnie Bennett.

Até os meus sonhos ela tinha que invadir.

Vampiros não sonham em quanto dormem, apenas temos pequenos flashes em nossa mente. Entretanto, aqui nesse mundo paralelo eles tem si tornado frequentes, me fazendo sonhar com Elena, Stefan e, claro, a bruxinha insuportável. Até a minha mãe, que com o tempo eu perdi seus traços, formas e cheiro, às vezes aparecia em meus sonhos. Minha própria mãe, que com o tempo foi se apagando da minha mente, não deixando nem um vestígio de seu rosto pra recordar.

E como se isso não bastasse, hoje também tive um pesadelo com Stefan e a mulher de Zach. Lembranças tortuosas que eu havia enterrado, mas que agora me perseguiam me fazendo desesperado pra sair deste inferno que tanto odiava.

“Você é uma vergonha para a descendência, Bennett.” Eu disse num mal humor horrível descontando minhas frustrações nela. Então, nossa discussão começou já de manhã.

“Cala a boca! Você não tem o direito de ousar falar do meu sangue, Salvatore. Você é o monstro capaz de causar tanta dor.” Suas palavras foram gélidas saídas por entre seus lábios junto ao meu sobrenome. “Minha avó está morta por causa de você, assim como minha mãe que agora é um maldito vampiro!” Ela disse com a voz embargada. Suas palavras só me causaram mais raiva.

“Uma mãe que te abandonou sem olhar pra trás.” Eu disse com escárnio. A encurralei entre meus braços. Ela não tinha saída a não ser olhar pra mim. A ex-âncora se debatia tentando se desvencilhar, mas eu continuei com minhas palavras duras, prendendo ainda mais a mim. Bonnie parecia um passarinho enjaulado desesperado pra fugir. “Você está sozinha Bonnie, como sempre foi. Você só é importante quando é uma bruxa podendo ser usada com uma grande arma de combate. Mas, sem isso... você é insignificante.” Seus olhos começaram a se encher de lágrimas, o que só alimentou ainda mais o monstro dentro de mim.

“Para! Eu não quero ouvir. Deixe me ir.” Ela suplicava, me fazendo rir de sua fraqueza.

“Cadê a bruxa orgulhosa e poderosa. Quem sabe assim, seus poderes voltam e nós podemos voltar pra casa. Para de chorar!” Eu disse impaciente e ríspido. “Eu ainda tenho pra quem voltar. Meu irmão, Alaric e Elena. Mas, e você? Talvez, o bebê Gilbert já tenha arranjado uma melhor substituta. E no fim, Bonnie Bennett sempre estará sozinha.”

Ela conseguiu me dar um tapa forte, que me surpreendeu. Suas lágrimas caiam incessantes. Eu lhe dei as costas e voltei a beber meu Bourbon.

“É. Parece que não funcionou. Você continua sem magia.” Eu murmurei pra mim mesmo.

“Você desligou sua humanidade?” Ela disse incerta e com a voz ainda embargada pelas lágrimas que persistiam em cair. Minha raiva repentina a deixou confusa.

“Sabe Bon Bon, eu sou assim.” Falei numa mistura de sarcasmo e indiferença. “Quando eu amo, eu amo por inteiro e insanamente. Mas, quando eu odeio... sou destrutivo e cruel. E eu te odeio.” A última coisa que ouvi foi a porta bater furiosamente, deixando um vazio pairar sobre mim.

Um vazio que me devorou por dentro. Dois dias sem ela, sem seu cheiro, ou sua voz irritante, dois dias que não nos cruzamos. Mais uma vez meu coração morto parecia querer pulsar de aflição e medo, mas meu orgulho e meu lado obscuro me cegavam.

Quando o Bourbon já não era mais suficiente pra me fazer limpar a mente, eu me vi consertando a câmera. E lá estavam meus vídeos curiosamente intactos.

No terceiro dia após meu desabafo no meu vídeo diário, decidi vê-la nem que fosse de longe. E assim, todos os dias eu iria vê-la em seu jardim, entre as plantas, as várias flores e a borboleta branca solitária que sempre zanzava por ali. Outras vezes, quando não a via cuidando de suas orquídeas, eu me contentava em apenas observá-la pela janela de sua casa, ouvindo o fluxo intenso de seu sangue correndo por suas veias e o bater rítmico de seu coração. Quando a noite chegava, depois de um jantar solitário somente de uísque e bolsas de sangue, eu dava uma passada rápida pra vê-la mais uma vez e a encontrava dormindo desajeitadamente no sofá com o livro de bruxas em suas mãos. Provavelmente passava horas estudando o livro até a exaustão lhe dominar.

Nesse universo paralelo não havia portas fechadas para Damon. O que me permitia entrar e sair sem que Bonnie percebesse. Pelo menos não agora.

Eu sempre me sentia estranho quando estava com ela em meus braços. Por um segundo me sentia aquecido, vivo e em paz. Antes de coloca-la na cama Bonnie se aconchegou mais em mim.

“Miss Afagos tenho que continuar praticando. Minha magia vai nos levar pra casa.” Ela disse em seu sono. “Damon...” Meu nome lhe escapou por entre seus lábios. “Não me deixe.” Bonnie disse dormindo com uma lágrima solitária caiando por sua face. Naquele momento me senti miserável, sentindo uma pontada no coração.

Nesses momentos eu percebia o quanto a bruxinha também era frágil e solitária. Ela também precisava ser cuidada e protegida. Como ela sempre protegia a todos.

Depois de deixa-la na cama e vigiar seu sono, eu retornava pra pensão Salvatore, minha casa fria e solitária.
De manha antes do pôr do sol eu deixava minhas panquecas em sua cozinha esperando que em alguma hora a bruxa teimosa ao menos comece um pouco. Foi um desafio todas as manhãs ver minhas panquecas sendo ignoradas por uma tigela de cereal.

“Miss Afagos, eu acho que você também odeia panquecas.” Ela disse irônica.

Tudo bem, a Bennett era orgulhosa demais e eu era muito persistente. Até que ela acabou cedendo.

“Elas não são tão ruins.” Ela disse entre as garfadas para seu urso bobo, provavelmente sabendo que havia um alguém a espreita lhe vigiando.

E mais uma vez Damon havia vencido a batalha.

Entretanto, houve um dia em que Bonnie havia sumido. Eu não a encontrava em lugar algum. Passei horas vagando desenfreado por todo os lugares possíveis e impossíveis até parar no meio da floresta, onde ouvi um pulsar de um coração batendo lentamente, seguido por um cheiro muito familiar e uma voz cantarolando bem baixinho quase sem forças.

Bonnie havia caído em um buraco fundo que lembrava um poço. Sem pensar pulei pra dentro do lugar escuro e úmido parando em seu lado. Bonnie estava muito fraco, seu corpo estava muito frio e sua perna esquerda estava quebrada. Meu sangue poderia ao menos curar sua perna, o resto seria mais simples. O problema era Bonnie e sua cabeça dura.

“Não seja estúpida! Você tem que tomar o meu sangue pra dor parar e sua perna se regenerar.” Eu disse já impaciente e nervoso. Eu não podia pegá-la em meus braços sem causar mais dor. Bonnie fez um gesto negativamente com a cabeça e murmurou um “Não!” Frustrado eu toquei em sua perna fazendo seu corpo estremecer e ela gemer de dor.

Relutantemente ela me deixou dar um pouco do meu sangue, bebendo fracamente do meu pulso, mas sua fraqueza ainda era demais. Peguei-a delicadamente em meus braços sentindo seu corpo anormalmente mais frio do que o meu. Com certeza estava com hipotermia. Corri frenético de volta a pensão.

Bonnie já estava inconsciente, mas respirava normal, sua pele e lábios ainda estavam pálidos e roxos e seu corpo continuava frio. Deixei Bonnie sobre o sofá, enquanto acendia a lareira. Hesitante decidi tirar sua roupa úmida a deixando apenas em suas roupas intimas. Depois ela poderia berrar e me odiar por isso, mas agora tudo o que importava era mantê-la segura e aquecida sob as cobertas e meus braços, enquanto a lareira iluminava e aquecia a sala.

Naquele momento ali, entre o fogo da lareira e a pequena mulher em meus braços, aquele vazio e solidão dentro de mim haviam sido esquecidos. E Damon Salvatore se sentiu em paz.

Amanhã veio ensolarada e alegre. Embora estivesse preso nesse lugar, hoje acordei de bom humor. Encontrei a bruxinha na cozinha preparando o café e ovos mexidos ao som de uma banda de rock qualquer que tocava na rádio.

“As panquecas são seu oficio. Então, mão na massa.” Ela disse me olhando de soslaio. E uma parte minha se enchei de luz só por ouvir sua voz.

Eu fiz as panquecas com carinhas felizes e presas de vampiro, enquanto ela preparou o café e terminou seus ovos mexidos. E lá estávamos nos dois, apenas Damon e Bonnie tendo um café da manhã pacifico e gostoso. Numa normalidade que me fazia se sentir mais humano e equilibrado.
Bonnie de fininho foi aos poucos sendo capaz de trazer luz pra uma alma perdida e obscurecida pelas trevas. Ela com sua determinação, paciência e alegria, transformou o meu inferno em dias mais divertidos e normais.

E mesmo que houvesse as brigas, nós ainda permanecemos juntos. Mesmo que eu duvidasse da sua esperança cega de sair daqui, ela não me abandonou, mesmo quando Kai apareceu causando o terror e revelando meu segredo mais profundo, ela me deu esperança. Ela foi leal até o fim.

Bonnie com toda a sua coragem e altruísmo incomparável, foi capaz de se sacrificar por mim. Ela me deu a chance de voltar pra casa, mesmo que isso lhe custasse novamente sua vida.
Eu voltei me sentindo incompleto e sozinho. Parecia que faltava algo essencial em mim.

Mas, ela ainda estava lá ainda esperando por mim. Esperando que eu a salvasse de Kai e daquele inferno. Mas, mais uma vez eu falhei.

*****

Segurando Miss Afagos apertado entre meus braços, eu segui o caminho até Kai. O bruxo insano e sádico que deseja ter mais poder do que já tem me espera na fronteira da cidade já com Elena muito machucada por causa do sol que mesmo tímido no final da tarde ainda tinha força pra queimar qualquer vampiro sem seu anel mágico. Ali era o lugar perfeito para testemunhas que poderiam nos condenar.

“Então, você trouxe o que eu queria.” Ele diz petulante, me fazendo enojado.

“Onde está o anel dela?” Eu digo enfurecido ao ver Elena se contorcer de dor, com partes do seu rosto desfigurados pela luz do sol escondidos sob um capuz preto.

"Não se preocupe. Coloquei uma magia nela que temporariamente a impede de queimar por completo sob a luz do sol. Isso é só uma prova do que eu posso fazer a sua linda Elena."

“Damon, não faça isso.” Elena fala suplicante. Mas é tarde demais pra voltar atrás.

“Bonnie iria querer que eu lhe protegesse, Elena. Não importa o que tivesse que ser feito, ela faria a mesma coisa.” E eu sei que ela faria por Elena e pelos outros. Como já tem feito a tanto tempo, sendo capaz até de morrer pra proteger aqueles que ama.

“Isso foi muito profundo, mas agora já chega.” Kai diz com seu sorriso de escárnio. “Aqui está a sua querida Elena, me dê o urso e vamos seguir nosso caminho. E vocês poderão viver sua imortalidade felizes pra sempre. Sem o que o mundo descubra sobre os vampiros.”

Kai iria expor Elena ao sol e fazê-la queimar diante de todos em Mystic Falls e, assim revelando todos nós vampiros a cidade. Kai queria provar o quanto perigoso podia ser. E o bruxo psicopata tinha todo o poder pra isso, já que em suas veias corriam a magia dos viajantes.

Minhas mãos estão trêmulas segurando o ursinho que carrega toda a magia de Bonnie. O pequeno ursinho que apareceu pra mim, quando eu mais me sentia perdido e sozinho. Era como se mesmo estando longe ela me deu um sinal pra não desistir dela. Mesmo na distância entre esses dois universos, ela me deu esperança.

E no fim tudo acabou fugindo do controle e se perdendo. Tudo o que havia evoluído até aqui se deteriorou num piscar de olhos. Toda a luta de Bonnie se tornara em vão e Kai agora era ainda mais poderoso. E nada poderia pará-lo.

Na mesma noite em meio a tanta tensão entre mim, Caroline e o resto da gangue, Elena havia tomado uma nova decisão.

“Eu quero tentar. Eu sei que o sentimento ainda está aqui. E você me disse que queria novas memórias. Então, vamos construí-las, sem olhar mais pra trás.” Elena disse olhando em meus olhos. Logo, nossos lábios se encontraram desesperados, assim como nossos corpos. Nós nos entregamos ao desejo selvagem entre luxúria e paixão, sem pensar no depois.

Por um momento, eu me iludi achando que era tudo que queria. Elena, minha imortalidade, meu irmão e minha casa e tudo seria perfeito. Eu não olharia mais pra trás. Sem arrependimentos, ou lamentações. Até que o meu passado iria voltar a me atormentar. Só que dessa vez, ele seria ainda mais implacável, ainda mais doloroso.

“Damon, não me deixe!” Despertei assustado e ofegante, após sonhar com a bruxinha chorando intensamente e com seu corpo todo ferido e sujo de sangue. Ela parecia tão real.

Deixei Elena dormindo e decidi que precisava de uma bebida forte. Quando cheguei à sala encontrei surpreendentemente, a câmera antiga de 1994 colocada sobre o sofá.

A mesma câmera com gravações com momentos meus, somente meus e momentos com Ela. Meu vídeo diário que continha todos os momentos vividos com Bonnie. Momentos marcantes que eram os meus melhores momentos, onde eu a via dormindo sem que ela percebesse, ou dos momentos que passamos na varanda Gilbert, ou até fazendo compras. Momentos com sorrisos e conversas bobas que aos poucos foram me ajudando a desvendar os seus mistérios e descobrir suas manias. Momentos que preencheram esse imenso vazio que vivia impregnado dentro de mim.

Parecia que o destino estava me mandando um sinal. Talvez, nem tudo estivesse perdido.


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Notas finais do capítulo

É dificil escrever as cenas delena, mas elas eram necessarias. Bom por enquanto é isso. Mas no próximo temos mais flashbacks Bamon, Kai e Bon Bon. Bjus!!!