Lost in Paradise escrita por Drylaine


Capítulo 3
Ela sempre volta


Notas iniciais do capítulo

Aqui está saindo mais um capitulo fresquinho. Quero agradecer ao pessoal q favoritou e tá acompanhando e, claro aos lindos leitores que me deixam reviews. Vcs me fazem muuuuito felizes. Voltando a fic ainda é na visão de Damon, mas logo teremos Bon Bon. Ah, a música q me inspirou nesse cap. foi Baby da Malta acho q ela combina com o momento. Espero q curtam!!!



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Damon

Eu não sei como um objeto podia atravessar uma dimensão diferente e chegar até aqui. No entanto isso não importava tudo o que eu queria era poder reviver memorias que eu havia deixado lá. Momentos que me levaram para outras tantas memorias passadas naquele lugar e que mexia comigo de uma forma tão avassaladora. Lembranças que ficaram registradas somente em minha mente, sendo parte delas divididas com a câmera de Stefan.

Quatro meses vivendo com Bonnie Bennett, a bruxinha irritante com suas manias e seu cheiro de jasmim. Nossa rotina era quase sempre os mesmos. De manhã eu tinha as panquecas de vampiro, meu Bourbon, e o jornal que eu fingia ler porque a pequena bruxa me tirava a atenção, enquanto ela fazia suas palavras cruzadas, bebia seu café e comia desgostosamente minhas panquecas.

Apesar de achar que no fundo... Bonnie gostava delas, mas por orgulho sempre as desdenhava.

“Droga! São 15 letras, mas eu nunca consigo descobrir.” Ela resmungava sobre a palavra cruzada indecifrável.

“Eu acho que a falta de poderes mágicos afetaram seu cérebro.” Eu dizia dando meu sorriso torto habitual a fazendo revirar os olhos, daquele jeito Bonnie de ser.

Após o café da manhã, seguíamos para nossas atividades corriqueiras e naquele dia em especial, ELA decidiu relaxar e passar apenas assistindo TV, enquanto eu preferi a companhia de meu bom uísque e meu vídeo diário até me sentir entediado e me juntar a bruxa. Na TV passava sempre os mesmos programas e, entre eles, os favoritos de Bonnie e que haviam marcado sua infância, onde incluía desde Família Dinossauro (com Baby e sua cabeça virando diabolicamente, numa sátira de “O exorcista” ou com sua fala irritante de “Não é a mamãe!”), até Os Simpson e alguns filmes antigos que até já tinha decorado as falas.

Óbvio, que a paz entre a gente não durava muito tempo, eu sempre tinha que provocá-la de alguma forma. Era como um Passa-Tempo pra mim.

“Bon Bon, eu acho que você precisa é de sexo. Quem sabe assim você para de suspirar a cada vez que o cara aparece. Por favor, isto tá me enjoando.” Eu me referia ao cara com pinta de galã que aparecia rebolando e dançando ao som de “(I've Had) Time of my life” nas cenas finais de Dirty Dancing, fazendo Bonnie sempre sorrir boba e se arrepiar. Tudo por causa de um filme estúpido que ela já havia visto umas mil vezes.

“Ei, não me chame assim!” Ela diz irritada com o apelido. Eu fui me acostumando chama-la assim, mais por carinho do que pra irritá-la. Porém, ela não sabia disso. “Você tá com inveja porque Patrick Swayze é um príncipe lindo e sexy que dança como ninguém. Aliás, enjoada é a sua voz de velho ranzinza.” Eu me lembro de sempre me sentir com o orgulho ferido por cada vez ser chamado de velho.

“Quantos anos você têm?” Digo ofendido. “Eu já falei sobre apelidos... Só eu posso dar.” Ela ria de mim e continuava a me jogar pipoca me provocando.

A verdade é que no fundo eu gostava de irritá-la propositalmente, só pra não me sentir incomodado com o silencio quando pairava na sala ou da atenção toda que ela sempre dava a TV me ignorando. Ou talvez fosse a proximidade dela ao meu lado, ou das vezes que nossas mãos casualmente se tocavam fazendo sentir certa eletricidade percorrer meu corpo. Ou ainda por causa do seu cheiro e das curvas do seu corpo por trás das roupas coladas e curtas que Bonnie costumava usar fazendo minha mente se fixar nela, enquanto a bruxinha concentrada na TV nem percebia. O fato é que de uma forma de outra, eu não gostava dessa coisa que nos ligava e que eu nem sei se Bonnie percebia, o que me deixava ainda mais frustrado. Então, eu sempre causava essas pequenas brigas tolas, só pra quebrar o momento. Mas, não imaginava que terminaríamos caídos no chão com os corpos colados sobre o outro.

Eu não sei em que momento exato no meio da nossa guerra idiota de pipocas e ofensas verbais, acabamos no chão sobre o carpete com seu corpo quente cheio de curvas sob o meu. Nossos olhos se encontraram me fazendo ofegar e seu coração se agitar. Eu podia sentir seu sangue fluindo intenso para todas as partes de seu corpo e sua pele se arrepiar grudado ao meu, e assim irradiando energia. Seu cheiro logo se impregnou em mim tão forte me fazendo desconcertado.

Azuis nos verdes se perderam por um segundo.

“Uau! Você agora está a minha mercê.” Eu digo sedutor tentando quebrar a tensão que havia se formado entre a gente, enquanto minhas mãos seguram firmes seus braços e meus olhos continuam presos aos seus.

Damon Salvatore sempre teve uma postura imponente, presunçosa e maliciosa. Sempre impecável e nada poderia o abalar. Nem mesmo Elena poderia me afetar tanto como a bruxinha irritante presa em meus braços. Bonnie Bennett era capaz de me desorientar com um simples toque ou olhar.

“Droga, você me fez perder a melhor parte.” Ela diz frustrada se desvencilhando dos meus braços e se levantando. Eu a deixo ir mesmo que por dentro havia algo gritando pra prendê-la em mim. Mais uma vez, Bonnie ia embora me deixando num vazio.

Meus devaneios são interrompidos por Elena descendo as escadas me fazendo, num piscar de olhos, desaparecer com o objeto em minhas mãos, onde guardo meus segredos mais profundos.

“Oi, você está bem?” Ela diz incerta.

“Sim, eu só precisava de um pouco de Bourbon.” Eu disse com meu sorriso torno e com o copo de bebida em mãos, em sinal como se estivesse brindado a algo. Elena em sua velocidade sobre humana corre em meus braços.

“Senti sua falta.” Ela diz entre os beijos. “Eu descobri que mesmo não tendo as memorias, os sentimentos parecem intactos. Parece que eu já conhecia cada parte do seu corpo e o gosto do seu beijo.” Logo, seus lábios estão devorando os meus e num segundo eu me esqueci do mundo. Mas, foi só por um segundo. Enquanto estivesse aplacando esse desejo selvagem, numa mistura de luxúria, nostalgia, êxtase e o que eu acreditava ser amor. Um amor que me consome. Um amor insano capaz de me fazer perder a cabeça.

Elena era o meu tudo, mas eu já não sabia se isto era suficiente. No fundo eu sabia que Damon Salvatore estava se iludindo e renegando aquilo que estava muito além da superfície.


***** *****

As coisas em Mystic Falls pareciam mais calmas sem Kai por perto, embora a tensão e incerteza sobre o bruxo ainda pairasse sobre nós. Entretanto, a vida continuava. Eu estava feliz na medida do possível com Elena e meu irmão. Eu e Stefan nunca estivemos num clima tão bom e tranquilo em anos como agora. E isso me fazia bem.

“Então, como vai você e a vampira Barbie?” Se havia algo que pudesse abalar as coisas entre nós era sem dúvida... Mulheres!

“Não vem com esse papinho de novo, Damon. Isso não é dá sua conta.” Ele disse mal humorado. “Além do mais, nosso foco agora é xerife Forbes.” Ele disse preocupado.

Liz estava com um câncer incurável. Nós não sabíamos por quanto tempo o sangue de vampiro levaria pra curar de vez as células cancerosas. Mas, sabíamos que o processo seria lento. A cada dia, cada um de nós doava um pouco de sangue. Não que fosse necessário o sangue de todos os vampiros, mas era como uma forma da gangue trabalhar em conjunto.

As dosagens eram sempre dadas em pequenas doses para Liz e divididas três vezes ao dia. Uma pequena dose de manhã, no começo da tarde e a noite. Nós também nos dividíamos pra ajudar Caroline, sempre haveria alguém de olho em Liz, sempre em alerta pra qualquer surpresa inesperada e Jo era quem nos auxiliava em todo o processo. Até agora isso tem funcionado. O câncer não tem progredido, é apenas uma questão de tempo.

“E aí senhoritas, sentiu a minha falta?” Eu disse entrando na casa seguido por Stefan e olhando para Liz que está sentada embrulhada em cobertores no sofá e logo nos dá um sorriso mais animado, enquanto a loira vampira revira os olhos.

“Por mim você podia fazer um buraco, cair dentro e evaporar.” Ela diz me dando as costas e se dirigindo com um sorriso simpático e um tanto tímido para meu irmãozinho ao meu lado.

Elas ainda preferem Stefan! Pelo menos as que me odeia.

“Vocês realmente parecem duas crianças birrentas.” Liz que já estava mais corada e com um brilho mais forte no olhar, diz entre os sorrisos fazendo Caroline dar de ombros.

“Bom pelo menos você me chamou de criança o que é melhor do que ser chamado de velho.” E de repente meu sorriso se apagou ao se lembrar de olhos verdes e pele marrom chocolate.

“Você é mesmo um velho rabugento.” Eu podia até ouvir a voz dela zombando de mim. Fecho os meus olhos tentando me concentrar.

“Você está bem.” Liz me desperta de meus devaneios enquanto Stefan e a Barbie ficam me olhando tensos.

“Estou, eu só... Esqueci não é importante.” Me junto a Liz e assim passamos a tarde.

Algumas horas mais depois, eu e Stefan seguimos para casa em meu Camaro num silêncio desconfortável. Enquanto estivemos na casa dos Forbes tudo havia corrido bem, mas em alguns momentos eu podia ouvir meu irmão murmurando coisas a Caroline. Ele sabia sobre a culpa que sentia sobre Bonnie.

Contudo, o que Stefan não sabia é que havia muito mais do que culpa por tê-la deixada lá, presa naquele maldito inferno. Havia muitos sentimentos confusos e indecifráveis dentro de mim, mas o que era uma certeza é a saudade que sentia dela e sua voz irritante, ou do cheiro de jasmim, ou das batidas intensas do seu coração. Enfim, eu necessitava dela porque sem ela a solidão ainda vivia em mim, mesmo que a casa tivesse com toda a gangue reunida. Mesmo com Stefan e Elena eu ainda me sentiria incompleto. Quando chegamos à pensão começou o conflito.

“Damon, eu vi seus sonhos.” Stefan diz segurando meu braço me impedindo de entrar na pensão. “Eu vi Bonnie lá entre suas lembranças. Sei que há sentimentos aí muito mais fortes e confusos pra você. Mas, eles já estão aí.” Me senti enfurecido por ele ter descoberto parte dos meus segredos que eram pra ser somente meus.

“Você não tinha o direito de entrar na minha mente.” Eu disse enfurecido o empurrando brutalmente sobre a parede da casa enquanto minha face havia ganhado traços demoníacos.

“Eu não invadi sua mente, Damon.” Stefan diz se levantando e olhando fundo em meus olhos. “Você enquanto dormia inconscientemente as compartilhou comigo.” Meus traços logo se suavizaram voltando ao normal.

Droga! Essa não era a primeira vez. Sem querer eu já havia compartilhado com Bonnie parte de memorias há muito tempo esquecidas. Memorias que eram tão distantes, de quando eu ainda possuía uma alma inocente e feliz. De um tempo que eu ainda não havia experimentado a dor, ou conhecia o que era a fúria e ressentimento.

Eu ignorei Stefan e entrei na pensão, seguindo direto para o quarto. Passei a noite em claro, com medo de sonhar com Bonnie ou até mesmo... Christine. Dessa vez, preferi a solidão e o silêncio do meu quarto sem Elena por perto.

Quando o silencio escuro do quarto já estava me perturbando e um cheiro de Jasmim me invadiu, decidi pegar meu vídeo diário e reviver mais um pouco daqueles momentos que me davam um pouco de paz e acalmavam o monstro dentro de mim e era uma forma de matar a saudade.

Deixei várias lembranças me dominar.

“Sei que tenho negligenciado meus vídeos. Mas, agora eu voltei mais calmo e...” Respirei fundo antes de continuar a gravação. “Bem, estamos aqui há quatro meses. São 120 dias e 2880 horas passadas nesse lugar. Ou seja, é um tempo significativo pra você conhecer intimamente a única pessoal com quem você dividiu seus dias. Posso dizer que sei tudo sobre ELA, assim como ELA sabe quase tudo sobre mim. Até mesmo o maior segredo guardado a sete chaves. Lá no fundo da minha mente que há muito, muito tempo eu nem lembrava.”

Na minha inconsciência eu compartilhei meus sonhos com Bonnie. De um tempo aonde eu era apenas um menino em seus 5 anos, que adorava ver as formas das nuvens ao lado de sua mãe. Sua mãe que havia lhe ensinado tantas coisas incríveis. Sua mãe que era sua luz e sua fortaleza, pois com ela eu me sentia seguro e amado.

“Eu não sei como isso havia sido possível. Eu nunca havia compartilhado minha mente, nem meus sonhos mais obscuros com ninguém. Nem mesmo sob tortura. Mas, enquanto dormíamos meus sonhos passaram a ser seus. Sonhos que não pertenciam a ELA. Que na verdade eram memórias de um passado há tempos esquecido.”

A verdade é que os vampiros entre todas as suas habilidades, alguns como eu, possuíam a habilidade de entrar na mente de outros, humanos ou vampiros. Claro, com exceção das bruxas. Eu tenho a capacidade de manipular seus sonhos e até desvendar segredos e criar ilusões, sejam boas e ruins. Eu já havia feito isso com Rose e Katherine. Mas, nunca compartilhei naturalmente minha mente com ninguém. Entretanto, talvez num momento de vulnerabilidade eu abrisse meus sonhos a Bonnie.

Eu lutei a principio, negando que eles eram meus. E me peguei me odiando por se mostrar tão vulnerável para a bruxa que eu sempre tratei como inferior a mim. Porém uma parte minha queria se libertar dessas memorias que me atormentavam. Damon Salvatore desabou diante da bruxa Bennett. E eu chorei por todos os anos de ressentimento, fúria e medo que me corroíam por dentro. Eu abri meu coração, revelando todas as minhas magoas. Por meu pai, Stefan e até mesmo minha doce mãe.

Eu lhe contei que Christine Lauren Salvatore havia morrido dias depois, após dar a luz a Stefan. E que minha última lembrança havia sido seu sorriso fraco antes de seus olhos perderem o brilho de vida. Naquele dia eu perdi não apenas minha mãe, mas também, meu pai e minha felicidade e tudo foi para Stefan. Foram anos cegos pelo rancor que me fizeram tão distantes, mesmo estando perto de meu irmão caçula.

“Ela me ouviu em silêncio, ela me abrigou em seus pequenos braços e chorou comigo enquanto eu desabafava. Bonnie pouco a pouco foi me libertando dos meus demônios, foi sendo a minha luz da razão e ao mesmo tempo sendo a minha fortaleza. E eu já não consigo imaginar como seriam os meus dias aqui, sem ela.”

Minha voz durante a gravação foi ficando mais rouca até que a gravação é interrompida me deixando apenas com os restos das memorias daquele dia.

“Ai que merda!” Ouço Bonnie gritar lá de baixo eu deixo minha gravação às pressas ao ouvir sua voz trêmula e irada e seu coração agitado. “Droga, droga, droga! Eu faço tudo errado.” Ela diz entre as lágrimas.

Num piscar de olhos já estou na cozinha aflito com a pequena bruxa. Bonnie estava chorando numa mistura de dor e frustração. A frigideira com os omeletes estavam espalhados pelo chão, enquanto a garota continuava lutando contra as lágrimas que persistiam em cair e com sua mão embaixo da água da pia caindo incessante.

“Eu sinto muito.” Ela disse com a voz falhando. “Não se preocupe, eu vou limpar tudo.” Ela disse ainda cuidando de sua mão esquerda que havia queimado e sem olhar pra mim.

Ignorei a bagunça pra me concentrar somente nela.

“Deixe me ver.” Relutantemente ela me deixou ver sua mão que estava com a pele um pouco avermelhada. Peguei sua pequena mão delicada entre as minhas. Coloquei sua pele quente entre a minha fria para aliviar a sua dor.

“Você tem razão. Talvez, eu seja uma inútil.” Ela continuou desabafando. Trocamos um olhar intenso, com nossos corpos a centímetros de se tocar. “Eu não consigo mais sentir a magia. Não importa o que eu faça, eu já tentei me conectar a natureza, mas nada. E eu me sinto uma merda! Acho que nunca mais voltarei a ser bruxa.” Seu tom era tão desanimado. Tão diferente da Bonnie forte, alegre e esperançosa que eu já estava acostumado.

Seus lindos olhos esverdeados estavam nublados pelas lágrimas me fazendo automaticamente enxuga-las, enquanto a outra mão continuava segurando sua mão ferida.

“Isso é bom... Eu acho que é uma coisa boa que você... apesar de muito rabugento, é um gelo ambulante.” Ela disse sorrindo entre as lágrimas e me fazendo rir com ela, enquanto nossas mãos continuaram entrelaçadas e nossos olhos continuaram fixos um no outro.

“Eu vou encarar como um elogia e uma forma de agradecimento. Agora Bruxa, para com esse melodrama. Cadê aquela bruxa destemida e irritantemente orgulhosa, que já enfrentou a morte duas vezes e um hibrido original.” Logo suas lágrimas foram substituídas por sorrisos alegres e tímidos.

Eu ainda posso sentir a eletricidade passar dela pra mim, ou o calor irradiar do seu corpo tão perto. Eu me lembro dos seus olhos de jade penetrantes que pareciam poder ver a minha alma, e ainda me lembro dos seus lábios carnudos entre abertos me fazendo desejar beijá-los. E quanto mais eu tentasse renegar e lutar contra essa vontade de estar com ela mais e mais. Mais os sentimentos confusos me dominavam e me confundiam me fazendo às vezes, ficar tão desorientado e perdido. E a única certeza que tinha era que Bonnie era intocável pra mim. Tanto por amor a Elena, quanto por eu ser indigno dela.

No meio dos meus vídeos encontrei um em especial. O mais marcante de todos e, também, o mais doloroso de se guardar.

Mais exatamente, quatro meses e 15 dias presos em 94.

Naquela tarde especifica, Bonnie estava me ajudando a organizar a casa, mais pra passar tempo do que realmente pela necessidade de deixa-la limpa. Nós acabamos no sótão da pensão, onde guardava várias coisas antigas que hoje, nos dias atuais, já nem existem mais.

Havia um baú contendo várias coisas, entre fotos de família e da época com Katherine. Roupas diversas que até estavam em bom estado, algumas cartas que eu enviava pra casa durante meu tempo como Soldado Confederado e entre outras coisas. Passamos horas só revivendo minhas memorias de épocas que eu não gostava de lembrar, mas que se tornavam divertidas ao lado da curiosidade de Bonnie entre as taças de vinho que compartilhávamos.

“Uau, isso é um lindo vestido.” Ela disse ao encontrar um vestido rodado cinza prateado de cetim. Provavelmente um dos vários vestidos elegantes de Katherine. Seus olhos brilharam encantados com o tecido.

“Sabe, eu sempre tive inveja de Elena e Carol em seus lindos vestidos rodados nos bailes de Miss Mystic Falls. Elas sempre concorriam e pareciam tão impecáveis e sofisticadas.” E ela continuou tagarelando nostálgica com o vestido em suas mãos e rodopiando com ele, provavelmente por causa do efeito do vinho.

Isso me deu uma ideia maluca.

Segundos depois de já estar na sala com o meu amigo inseparável — o Bourbon e vestido no meu traje intocável de Soldado Confederado (claro o que eu não havia chegado a usar na época). Espero impaciente pela pequena bruxa se preparar.

“Bom já é noite aqui em 94. O eclipse solar já passou há exatos... duas horas e cinco minutos. Eu estou aqui vestido em trajes do século 18. Nunca na minha vida pensei em vestir isso de novo e...” A gravação é interrompida quando meus olhos se fixam na bela jovem descendo as escadas.

“Bom eu não tinha sapatos adequados eles são muito grandes e...”

“Esquece os sapatos, você tá perfeita assim.” O vestido ficou mais comprido pra ela, mas ainda sim, tudo pareceu se encaixar. Desde suas curvas que se moldarem ao vestido, ou a sua pele marrom chocolate em contraste ao cetim e até seus pequenos pés descalços escondidos sob a roupa. Bonnie parecia tão linda e perfeita me fazendo sentir um tolo olhando hipnotizado pra ela.

“Damon, para de me olhar com esse olhar estranho. Você tá me dando medo.” Ela disse me despertando dos meus devaneios. Então, passei a gravar algumas imagens dela.

Era tão bom vê-la sorrindo e tagarelando sem parar até que ela decidiu cantar ao som de Roxette, uma música que era também de um filme romântico do qual eu nem lembrava o nome, mas não importava. No momento minha mente estava apenas ligada a voz afinada dela que agora havia acabado de tomar, em um só gole, meu copo de Bourbon antes de voltar a dançar e cantar no meio da sala. Entre as várias facetas de Bonnie Bennett ela também podia cantar.

“Então, você queria estar num baile, vestida como uma princesa. Agora só falta uma dança.” Eu disse me sentindo um pouco nervoso e inseguro. Algo que Damon Salvatore há muito tempo não sentia.

“O quê? Mas, onde está o meu príncipe?” Ela disse debochada, enquanto eu me aproximei dela. Fiz um gesto pra que ela enganchasse em meu braço.

“Isso foi muito rude, Bennett. Vou provar que eu sei dançar muito mais do que aquele CARA... daquele filme estúpido.” Enfatizei fixando meus olhos nela.

“Ele não é um filme estúpido. E pelo que me lembro já dancei com você e não foi grande coisa.”

Sim, eu me lembrava do Baile dos anos 60, que nós compartilhamos uma dança e eu senti certa faísca entre nós. Porém, ficou no passado. Era outra realidade onde Bonnie e Damon eram ainda inimigos e apenas aliados temporariamente.

“Não importa!” Eu disse me posicionando em sua frente e trocando olhares. “Primeiro, coloque seus pés sobre o meu.” Ela me olhou inseguro. “Vamos lá, confie em mim.” E assim, ela vez. Com seus pés sobre os meus, uma de suas mãos sobe em meu ombro enquanto as minhas se dividem entre sua cintura e sua outra mão se unindo em uma só. Senti sua pele se arrepiar sob meu toque.

No rádio tocava uma música dos anos 80, com um arranjo de jazz. Era uma das minhas preferidas e, assim, com seus pequenos pés sobre os meus começo a dança lentamente. Ficamos deste modo por um tempo, nunca perdendo a intensidade dos olhares, seu corpo vai se encaixando em sincronia com o meu.

“Você está muito charmoso nessa roupa, Damon.” Eu sorrio torto, me sentindo orgulhoso e presunçoso com seu elogio.

“Eu sei disso. Damon Salvatore sempre as arrasa.” Eu dou uma piscada pra ela, fazendo-a sorrir encabulada.

“Não seja presunçoso.” Ela diz enrugando o nariz e dando de ombros, tentando disfarçar seu nervosismo. O que me faz me sentir mais seguro pra mudar o ritmo e colar seu corpo ainda mais ao meu.

Começamos a rodopiar mais rápido com cada passo mais preciso e até um tanto ousado. Os olhares continuavam presos um no outro.

“Damon, para! Tá me deixando tonta.” Mas, eu continuei girando e sorrindo enquanto ela se prende mais a mim até que ambos acabamos cansados.

De repente um silêncio domina o lugar, mesmo a música continuando a tocar, só que minha mente está apenas conectada a jovem em meus braços. Eu sinto o calor e luz irradiar de seu corpo e mais uma vez me sinto hipnotizado por suas órbitas de jade.

“Uau!” Ela diz ainda ofegante um pouco tonta me olhando intensamente. “Você tem lindos olhos azuis. Eu acho que são os azuis mais bonitos que eu já vi.” Bonnie diz me deixando desconcertado. Então, meus olhos viajaram dos seus olhos para os seus lábios carnudos e avermelhados e eu me perdi neles...

Eu lhe devorei os lábios faminto e desesperado por sentir seu gosto. E naquele momento eu me esqueci de tudo, de todos os meus temores e incertezas, pois tudo o que importava era tê-la em meus braços, sentindo seu corpo quente e cheio de vida colado ao meu, ouvindo o som frenético do seu coração pulsando por mim e sua pele arrepiada. Seus lábios eram macios e molhados, numa mistura doce de vinho e algo que sempre seria especialmente dela, o sabor de Bonnie Bennett. E eu senti a eletricidade percorrer todo o meu corpo, me aquecendo.

Por um instante, só por um instante eu havia reencontrado aquela faísca de liberdade e vida que só ela podia me dar. Eu me deixei me levar por um desejo indomável e selvagem de tê-la por completo. Eu queria o seu corpo e também seu sangue até que a realidade nua e crua voltou à tona.

Abruptamente Bonnie mordeu meu lábio desesperada se desvencilhando dos meus braços. Ela me olhou assustada e ofegante, com seu coração pulsando descompassado.

“Nunca mais me toque assim. Você não tem o direito...” Sua voz vacilou nessa hora e ela me deu um olhar furioso antes de fugir de mim me deixando mais uma vez sentindo um grande vazio junto a uma ânsia voraz de sangue e morte.

Contudo, eu sabia que já havia perdido demais o controle. Já havia prometido a mim mesmo que nunca mais cometeria esse erro. Nunca mais deixaria a fúria me cegar. E acima de tudo, Bonnie sempre seria intocável pra mim.

Então, vieram outros dias e com eles uma nova tensão entre nós. Uma barreira invisível que nos afastou um pouco. E no meio disse apareceu um vislumbre de esperança sob a forma de Malachai. Bruxo do Clã Gemini que eu já achava insuportável antes de saber de seus podres.

Cada vez que ele tocava nela, ou lhe dava aqueles olhares como se quisesse devorá-la. Cada flerte silencioso entre eles, que Bonnie parecia fazer de propósito só pra me tirar a paz. Há cada momento tendo que dividir com ele fazia com que a fúria me queimasse por dentro, desejando se libertar e acabar com Kai. Embora desejasse desesperadamente sair desse inferno e ele fosse nossa porta de salvação, eu ainda não confiava nele. Porém Bonnie parecia muito mais a vontade com o garoto do que comigo o que só alimentava ainda mais minha fúria. Mesmo assim, eu fiquei por perto vigiando cada passo dele.

“Nós podemos estar em desacordo. Mas, nunca. Nunca mais colocar as mãos sobre ela.” Eu disse entre dentes logo após meu segredo sobre a mulher grávida vir à tona. Bonnie me olhou com o olhar decepcionado.

De todos os erros que eu já havia cometido e que sempre iria me arrepender foi assassinar uma mulher grávida. Eu havia matado a mulher de Zach e arruinado ainda mais minha relação com Stefan. Aliás, como eu sempre fazia.

Eu me vi temendo que Bonnie me odiasse mais ainda por isso. Que ela me visse com um monstro cruel incurável, que ela se afastasse mais de mim. Eu me senti tão indigno e envergonhado.

Essa era a historia da minha eternidade, aonde eu passo vou deixando rastros de destruição e dor.

“Você se culpa pela morte dela, não é Damon?” Bonnie me questiona enquanto come curiosamente minhas panquecas.

“Eu pensei que você não gostasse das panquecas.” Eu falo inseguro e bebericando minha bebida sem lhe olhar nos olhos.

“Você faz panquecas todos os dias porque era o que ela gostava.” A bruxinha diz ponderada se referindo a mulher de Zack. “Todos os dias você se puni por isso. Você senti remorso, Damon. É isso que te faz diferente de Kai. Que dizer que ainda há esperança para você.”

Cada palavra que ela dizia mexia profundamente comigo, em seus olhos havia uma compreensão silenciosa.

“Porque eu tinha que ter voltado aqui sem você Bonnie. Era pra termos saindo juntos. Eu queria te odiar por ser tão estúpida. Tão maldita altruísta.” Eu murmuro pra mim mesmo.

Subitamente entre os vídeos que eu ia passando enquanto recordava dela, encontrou algo que fez meu coração morto se aquecer.

“Será que tá gravando? Eu sei que tô horrível. Não consigo comer, meu apetite foi embora e tudo o que tenho é essa câmera idiota.” Ela resmunga, sua aparência me perturbou. Bonnie estava abatida. “Eu decidi tomar um pouco do seu Bourbon, acho que... você... não vai sentir falta.” O vídeo para me deixando aflito até que recomeça de novo. “Já fiz as mesmas coisas de sempre, mas me sinto tão cansada.” Sua voz fica trêmula. “Espero que você pelo menos esteja muito feliz com Stefan e... Elena. Eu só queria dizer que você foi o único que me fez me sentir segura e forte e...” Eu fico ansioso a espera do que ela iria dizer. “Damon, obrigado por cuidar de mim. Adeus!” A gravação termina.

Havia algo não apenas melancólico em suas palavras, mas também sombrio fazendo meu peito doer de medo e desespero.

Eu senti que estava perdendo a minha pequena bruxinha.


***** *****

“Vamos lá Bonnie, me dê a sua mão!”

“Não. Fica longe de mim. Eu prefiro morrer a tocar em você.”

“Eu voltei por você. Voltei pra te buscar porque eu me importo. Eu lhe trouxe até Miss Afagos.”

“Não, você não é real. Miss Afagos está segura longe de você. Eu sei... eu a protegi. Minha magia está segura.”

“Ela está aqui comigo, Bonnie. Nas minhas mãos. Mas, eu a trouxe especialmente pra você. Eu sou a sua passagem pra sua salvação. Basta que você pegue a minha mão!”

Continua...


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Notas finais do capítulo

Bom, próximo cap. teremos a versão dos fatos a partir dos olhos de Bonnie, Kai e mais tensão. Bjus!!!



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