Cachecol Azul e Cabelo Vermelho escrita por Lirah Avicus


Capítulo 4
Capítulo 4




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—Violet?

Violet virou-se rapidamente, vendo à sua frente uma senhora idosa, mas alta e esbelta, e visivelmente cheia de vida. Ela abriu um sorriso doce, cumprimentando-a com um aceno de cabeça.

—Olá.

A senhora sorriu.

—Sou a Dra. Handler, cuidei de você quando esteve no hospital.

—Oh meu Deus... — Violet suspirou, rapidamente apertando a mão da médica e abraçando-a. Estavam em frente a Scotland Yard. — É um imenso prazer revê-la!

—Saindo? — ela disse, apontando para a sede de polícia. Violet aquiesceu.

—Sim, pediram mais algumas informações e tive de responder a mais perguntas.

—Eles nunca se cansam de saber da nossa vida, não é mesmo? — as duas riram, e Violet pensava no que a Dra. Handler devia estar fazendo ali. — Deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui.

—Bem... Sim. — ela respondeu, sem jeito. A boa médica sorriu, exibindo as marcas da idade.

—Fui chamada. O detetive Dimmock, acho que é esse o nome dele, quer me fazer algumas perguntas sobre sua estadia no hospital. Não tenho muito a dizer, já havia dito tudo ao Sr. Holmes, mas Dimmock insistiu que eu viesse.

—Eu entendo. Às vezes penso que estou fazendo parte de duas investigações, a da polícia e a do detetive que contratei.

—É melhor, talvez assim peguem o assassino mais rápido. — Violet concordou com a cabeça, ficando em silêncio. A Dra. Handler sorriu ternamente, colocando a mão em seu ombro. — Não se preocupe, querida. Você tem uma horda de homens bem treinados e inteligentes ao seu redor. É melhor que ter uma cerca. Um criminoso esperto pensaria duas vezes antes de tentar te atacar.

—Espero que a senhora esteja certa.

—Por favor, senhora não, já me sinto velha o suficiente. — elas riem novamente. — Por que não me espera lá dentro da Scotland? Podemos tomar um chá em minha casa depois disso, o que acha?

—Seria... Excelente!

A Dra. Handler sorriu. Em seu sorriso havia bondade, calma, experiência e algo mais, algo mágico, que tornava todo o sorriso cativante. Violet simplesmente aceitou o convite, pois estava ansiosa por algo que a retirasse temporariamente da agonia em que se encontrava. No tempo em que esperou pela sessão de perguntas terminar, e permanecia sentada no corredor, Violet pegara seu celular, o celular reserva pois o outro ficara na bolsa que fora roubada na noite fatídica, e olhava as fotos que nele se achavam. Era um celular antigo, mas possuía câmera, era o celular anterior ao roubado, e nele havia fotos antigas que ela se esquecera de passar para o computador ou excluir. Passava as fotos com um misto de saudade e tristeza. Lembrava-se das situações que as fotos apresentavam, mas as pessoas eram tão diferentes! Suas amigas, quando visitaram Liverpool. Duas primas na casa de campo em Cheshire. Uma foto antiga da mãe. Seu pai dando-lhe um beijo na bochecha...

Violet passou outra foto. Era ela mesma com um rapaz bonito. Sabia que era ela mesma pelo longo cabelo ruivo, pois tinha certeza de não conhecer mais ninguém que tivesse os fios desta cor, com exceção da própria mãe. Violet apertou os olhos, puxando da memória quem era aquele ao seu lado. Logo se lembrou. Quentin Fowler. O noivo. Ela voltou rapidamente à tela principal, desligando-a em seguida, e guardando o celular no bolso. Não esperava que uma foto de Quentin ainda existisse em suas coisas. Achara que tinha excluído todas. Pegou o celular novamente, encontrou a foto e a excluiu.

—Querida? — era a Dra. Handler. — Vamos?

—Sim.

Elas saem da Scotland, pegando um táxi. Logo o veículo enveredou-se pelos bairros residenciais, e Violet espantou-se ao ver-se parar em frente a um conjunto de casas de luxo.

—Chegamos.

—Você mora aqui?

—Não se impressione. — a médica avisou, abrindo o pequeno portão e caminhando pelo passeio de pedras quadradas, que atravessava um pequeno jardim. — Isto foi o que ganhei com um divórcio. Aí está o lado bom de casar com um marido rico e cretino. — elas sobem na varanda, e a Dra. Handler tira um molho de chaves e abre a porta, entrando. — Você fica com a casa dele.

Violet observa o interior da casa. Tudo aparentava ser de excelente qualidade, mas de aparência modesta. Móveis belos e brilhantes, alguns enfeites, e um guarda-pó onde ela deixou seu casaco. Seguiu a médica até a sala de visitas, onde um espaçoso sofá a aguardava.

—Sua casa é linda.

—Obrigado. — a médica coloca as mãos na cintura, pensativa. — Estava pensando, não tenho empregada, e o chá não está pronto. Portanto, que tal ficarmos na cozinha e conversarmos enquanto preparo nossa bebida quente?

—Parece ótimo.

A cozinha era como o resto da casa. Brilhante e discreta. E branca. Violet sentou-se num dos bancos, apoiando os braços sobre os balcões. Ao fazer isso, as mangas de sua blusa retrocederam, revelando marcas roxas. Violet rapidamente as escondeu.

—Vai querer chá de... — a Dra. Handler olhava em seu armário. — Camomila, limão, erva doce ou mate?

—Camomila, por favor.

—Eu também quero esse. — ela vai até o balcão com uma caixa cheia de saquinhos de chã. — Nem sei por que comprei mate, eu já sou tão nervosa, será que quero me enlouquecer?

Violet sorriu. A doutora falava de uma forma leve e engraçada, típica das pessoas mais velhas. A Dra. Handler pegou um bule de ferro, enchendo-o d’água e levando-o ao fogo.

—Então, como se sente?

—Estou bem.

—Mesmo?

—Sim... Na medida do possível.

—Não dá para se sentir bem quando a situação é estressante, não é mesmo? — ela se apoia no balcão, esperando a água ferver. — Realmente não quero falar disso, você deve estar com esse assunto fresco na cabeça há mais de uma semana, deve estar em frangalhos.

—Não, não tem problema. Eu só... — Violet junta as mãos. — Você sempre acha que não vai acontecer com você. Você assiste à televisão e vê coisas horríveis, assassinatos e estupros, mas você vê tudo aquilo à distância, vê tudo por cima, como se você estivesse segura num lugar mais alto. Não é com você. Você não está lá. E agora, acontecendo comigo... É assustador, é como cair de um lugar bem alto. Você entende?

—Temo que não, querida, eu ainda estou no lugar alto.

—Eu fico querendo me livrar disso. Fico querendo subir ao lugar de onde caí, mas não há escadas, nem uma corda para me içar. Eu adormeço e quando acordo penso que foi um sonho, mas me levanto e quando me olho no espelho eu não sei quem está lá. Não conheço ninguém... — ela esfrega um dos olhos discretamente. — E saber que aquele que uma vez tentou me matar está por aí, e que eu não posso reconhecê-lo... Isso me apavora.

—Isso é de fato terrível, meu bem. — a feição da Dra. Handler transmitia tristeza.

—A polícia está se esforçando. E saber que eles estão incomodados com o detetive que contratei significa que ele também está se esforçando. Mas como eles vão achá-lo? Eu não dei nada a eles! Sinto-me uma inútil... — ela passa as mãos por seu cabelo vermelho, respirando fundo. — Não quero te transformar em minha psicóloga, adoraria que de alguma forma me distraísse.

—Se você não quer falar, não vamos falar. Falemos então de algo típico de mulheres: homens. — Violet começou a rir. No mesmo instante suas bochechas avermelharam. A Dra. Handler abriu um sorrisinho matreiro. — Aha! Encontrei um assunto que te faz bem. Na verdade, acho que esse assunto faz bem a qualquer mulher que não seja lésbica! — ela foi rindo até o fogão, checando a água, que ainda não fervera. Voltou ao balcão. — Mas sua avermelhada me revela um pouco mais do que você gostaria de me contar, não é?

—Ah... — Violet murmurou, olhando em volta.

—Você tem algum namorado, querida?

—Não. Eu... Saí de um relacionamento há algum tempo.

—Eu também... — riu a Dra. Handler. — Mas isso não me impede de partir meu coração mais um pouco.

—Eu não estou em nenhum relacionamento, de nenhum tipo. Dei um tempo.

—Um tempo?

—Sim. — Violet gesticulava, tentando fazer-se entender. — Eu estava num relacionamento sufocante e quando saí... Quando escapei da gaiola na qual meu noivo queria me trancar... Eu quis aproveitar um pouco a liberdade que isso ocasionou.

—Não culpo seu noivo, você é um belo passarinho... Era muito ruim?

—Não era culpa dele, ele era... Educado, gentil, bonito...

—Mas?

—Mas não era o que eu queria. Ele me queria em casa enquanto ele mesmo permanecia plantado naquela mesa de escritório, ganhando dinheiro que ele dizia que era para nós. Eu não queria isso, não queria alguém que me enchesse de tralha e exigisse submissão.

—Estamos falando de um mandão?

—Estamos falando de um insensível. Queria ter liberdade, mas não queria que eu fosse livre. Por ele eu viveria 24 horas dentro de casa, linda e arrumada para quando ele voltasse e resolvesse que queria minha atenção. Ele me via como um lindo enfeite para colocar na estante. Ele passava, apreciava, daí ia embora e se esquecia de que eu estava lá. Para ele estava ótimo...

—Para você estava um inferno...

—Não dá para permanecer num relacionamento em que o outro apenas exige e não dá nada. Eu vivia reclusa, saía apenas para trabalhar, e ele ainda reclamava disso. Quando eu disse que pararia de trabalhar se ele se dispusesse a pagar a internação do meu pai, ele disse não. Fiquei chocada. Aí eu terminei.

—Fez muito bem. — comentou a médica, derramando a água fervente dentro de duas xícaras grandes e estampadas com o Big Ben.

—Seu marido era mandão? — perguntou Violet timidamente. A Dra. Handler sorriu.

—Não... Era violento. — ela estende o braço, onde uma cicatriz fraca, mas ampla, de queimadura, se revelava. — Vê isso? Foi o que o levou à cadeia e o que me deu esta casa.

—Deve ser uma péssima lembrança...

—Já vi queimaduras piores em outras pessoas... — ela diz, colocando os pacotinhos de chá nas xícaras. — E pude me vingar sem piedade.

—Ele foi preso?

—Sim. Já está à solta, mas com bem menos dinheiro e com uma ordem para ficar uma boa distância de mim. No final, eu ganhei.

—Que bom...

A Dra. Handler dá a Violet uma das xícaras, assoprando seu próprio chá.

—Mas... Sabe... Um relacionamento sem amor, já terminado, não faz nenhuma bochecha avermelhar.

—Pois é...

—Está avermelhando de novo...

—Não é nada. — Violet assopra seu chá, baixando a cabeça.

—Quem é? Um dos policiais fez seu coraçãozinho bater mais rápido? Por que haviam uns detetives bem arrumados naquela Scotland, ah, se eu fosse mais nova!

—Não é nenhum policial... — Violet diz, rindo do olhar sonhador da Dra. Handler ao falar dos policiais.

—Então é quem? Não pense que isso é inútil, querida, pensar nisso é uma excelente distração.

—Ah... Eu não sei, não me lembro do rosto dele! Isso é tão frustrante!

—Quem? — a médica disse, já impaciente.

—Hmm... — Violet sentiu a frase ficar presa no meio de sua garganta, engasgando-a. — Na primeira vez que vi o Sr. Holmes eu pensei: “Que homem bonito...”.

—É... — a Dra. Handler sentou-se num dos bancos, distraída. — Não vou negar que ele é um pedaço de mau caminho... Já o vi na TV uma vez, há muito tempo, e lembro que naquela vez eu o achei muito sexy com aquele sobretudo e o cachecol. Ele foi ao hospital pouco antes de eu ir à Scotland, sabe, e ao vivo ele é bem mais bonito... Pesquisando pistas, fazendo perguntas, todo cerebral... Gosto muito de homens inteligentes, isso os deixa cem vezes mais gostosos.

Violet tentou segurar o riso, mas não conseguiu.

—A senhora tem uma mente muito jovem, sabia?

—Minha cara, na minha idade, nada mais importa, você pode falar o que quiser que ninguém liga. E qual o problema de eu dizer que um homem é gostoso? Ele é mesmo!

—Não devia ter comentado sobre ele, logo ele vai saber disso e vou morrer de vergonha.

—Como ele saberia disso?

—Ele sabe das coisas... Ele adivinha ou deduz, não sei. Pode te olhar e te contar toda a sua vida. Eu li sobre ele na internet.

—Interessante... Por isso ele ficou famoso.

—Engraçado, eu mesma nunca tinha ouvido falar dele antes.

—Você me parece um pouco desligada, querida.

—De qualquer forma, mesmo que eu o achasse interessante, como você disse, ele é um homem cerebral, e homens cerebrais não se interessam por mulheres absolutamente emocionais.

—Você se engana... — a Dra. Handler terminava seu chá, e sorria como se guardasse um segredo. — É exatamente desse tipo que eles gostam.

—Não acredito nisso. — Violet colocou a xícara sobre o balcão. — E de qualquer forma, ele é famoso, inteligente, bonito... Eu não sou inteligente, nem esperta, não conheço quase ninguém, agora sou louca e sequer sou bonita.

—Você é cega? Desculpe, mas... — a boa médica parecia incrédula. — Não se olhava no espelho nem mesmo antes de bater a cabeça? Como pode dizer algo assim?

—Não precisa tentar levantar minha autoestima. — ela murmurou.

—Você é linda! O que eu não daria para ter esse cabelo e estes olhos! E este rosto de boneca?

—Boneca? — Violet riu. — De fato, tenho a altura de uma Barbie.

—Não se rebaixe, querida, para quê você quer altura? Pretende jogar basquete?

—No momento só estou juntando coragem para voltar a trabalhar...

—Quando começa?

—Amanhã.

—Dará tudo certo.

—Deus te ouça.

—Mantenha a calma e simplesmente faça o que sempre fez. Seu patrão já sabe de sua condição?

—Sim, — Violet toma o último gole de chá, e coloca a xícara vazia sobre a mesa. — ele foi interrogado.

—Então não precisa se preocupar, pois ele será compreensivo.

—Tantas pessoas juntas... — Violet a encara, preocupada. — E se uma delas for...

—Vou te contar uma coisa. — a Dra. Handler segura sua mão. — Ouvi muitas coisas sobre Sherlock Holmes, falam bem e mal, mas em uma todos são unânimes e isso eu realmente achei interessante: ele sempre resolve seus casos.

Violet pegou o táxi para voltar para sua casa, depois de abraçar forte a Dra. Handler e agradecer-lhe a hospitalidade, e de ouvir que o que ela precisasse era só procurar a boa médica. Agora chovia, e o táxi corria pelas ruas espirrando água em suas laterais. Ela olhava pela janela molhada, vendo as lojas com suas luzes coloridas, e prédios altos apontando contra o céu do início da noite. Pensava no que a Dra. Handler dissera, e na capacidade de Sherlock Holmes.

Ele sempre resolvia seus casos.

Sempre.

Ela tinha apenas uma dúvida, se ele encontraria o assassino antes ou depois de ele matá-la. Violet encostou a cabeça ao vidro, fechando os olhos por um momento.

Qual caso de assassinato ele resolveria: o de Margareth Plummer ou o de Violet Hunter?

**

John Watson soltou uma praga alto o suficiente para que o policial ali parado o olhasse espantado. Ele saíra do táxi, pagara o taxista, mas, quando o carro partiu, ele percebeu que esquecera seu celular no banco de trás. Ele amaldiçoou não ter um carro. Amaldiçoou não ter tirado carteira. Até mesmo Sherlock Holmes dirigia...

—John! — Lestrade saiu do prédio residencial de classe alta, indo cumprimentar o bom doutor. — Que bom que veio.

—Sherlock precisou fazer um pequeno desvio.

—Sim, ele me avisou. Quando ele começou a ligar usando o próprio celular?

—Na mesma hora em que ele penteou o cabelo.

—Ahn... Sim... Venha comigo. — Lestrade leva John até o interior do residencial. Era de fato um lugar elegante, com vastos jardins, piscina e circuito de segurança de última geração. Na verdade, se a vítima Margareth Plummer não morasse lá, provavelmente nenhum daqueles policiais teria a oportunidade de entrar ali. Eles caminharam até a entrada do prédio central, passando pelo hall e pegando o elevador. — Eu ia gostar se isso fosse apenas um passeio... — comenta Lestrade. O elevador chega até o último andar. Cobertura. Saíram do elevador e se depararam com vários policiais que já estavam lá.

John entrou no apartamento, observando-o com atenção. Sua primeira dedução: Margareth Plummer era muito rica. Móveis planejados dividiam espaço com itens de colecionador e enfeites que pareciam gritar seu alto preço. Sobre uma mesa de centro, miniaturas de grandes obras como Pietá e Vênus de Milo. Não havia nada que aparentasse ser velho ou simples. Os aparelhos eram de última geração. John foi até a cozinha. Observou a mesa, onde o que sobrara do café da manhã ainda jazia espalhado, afinal, ninguém tocara em nada. Ele observou como os apetrechos estavam distribuídos. Margareth era destra. Ele voltou à sala, daí dirigiu-se ao quarto, onde um policial em especial tirava fotos da penteadeira da vítima. John conhecia este policial. Dimmock.

—Detetive...

—John Watson... — Dimmock o cumprimenta. — Resolveu virar detetive também?

—Estou à mando de Sherlock. Ele não pôde vir.

—Ahn... — o detetive pareceu decepcionado. — Eu queria esclarecer algumas coisas com ele... Faço isso depois.

—Então, Margareth era bem rica, não? — diz John, olhando ao redor.

—Sim. — Dimmock posta-se ao lado de John. — O que é realmente estranho.

—Por quê?

—Ela era uma blogueira. Não creio que um site de entretenimento, mesmo bem sucedido, consiga bancar todo esse luxo, muito menos este apartamento.

—Renda secundária? Namorado rico?

—Os parentes e amigos disseram que ela era solteira.

—Talvez seja um relacionamento secreto.

—Está mesmo acreditando nisso? Você não conta aos seus parentes sobre seus relacionamentos?

—Eu sequer converso com eles...

—Você é estranho...

—Que tipo de pessoa ela era? — John estava se impacientando.

—Isso importa?

John encarou Dimmock, irritado. Saiu andando e foi até uma mesa onde um notebook, um roteador e duas caixinhas de som dividiam espaço com um gato chinês e um bonsai. Lestrade posta-se ao seu lado, entregando-lhe duas luvas.

—Precisa disso se não quiser virar suspeito.

—Já olharam o computador?

—Vamos levá-lo para a perícia.

John observa a mesa, imaginando quantas coisas Sherlock deduziria daqueles poucos objetos. Sentiu-se incrivelmente burro.

Ele estende a mão, pegando o gato chinês de porcelana. O bichano tinha uma das patas levantadas, e um escrito em tinta nas costas.

—Gato da sorte.

—Minha mulher tinha um desses. — murmurou Lestrade. — Deu sorte só para ela.

—O gato é chinês, mas a árvore é japonesa.

—Isso só quer dizer que ela gostava de coisas orientais. Talvez no guarda-roupa achemos um quimono.

John sentia-se perdido. Fazia tempo que ele não fazia parte de uma investigação. Estava sem prática. Parecia que tinha topado com uma parede. Uma parede imensa. Um muro. Talvez uma muralha medieval.

O celular de Lestrade tocou.

—Alô? — ele entrega o celular ao John. — É para você.

John pega o celular, colocando-o no ouvido.

—Sim?

—Por que esqueceu o celular no táxi?

—Graças a Deus... — John não conseguiu se impedir de dizer isso. Sequer ficou aborrecido com a pergunta do amigo. Ele sai andando, se afastando de Lestrade. — Eu disse que não conseguiria, este lugar me lembra a casa de algum astro de TV, não dá para deduzir nada... O que quero dizer é... Não estou fazendo grande progresso aqui.

—Não precisa se afastar do Greg para me dizer isso.

—Eu não... Pode não parecer, mas nem sempre eu gosto de ser o idiota da história, e você acabou de acertar o nome dele!

—O que encontrou no quarto?

—Como?

—Você está no quarto, o que vê?

—Bem... Uma cama, um closet, suíte, uma penteadeira...

—A cama está em que posição?

—De frente para a porta de entrada... Paralela à janela.

—Janela automática?

—Sim.

—O que há sobre a mesa?

—Notebook, roteador, caixas de som, bonsai, um gato da sorte chinês e é só.

—O que não há sobre a mesa?

John olhou a mesa de novo. Chegou a querer rir. O que não há sobre a mesa?

Não havia um monte de coisas. Não havia impressora, relógio, televisão, rádio... A lista era imensa. Podia citar até mesmo unicórnios...

—Não tem muita coisa.

—Olhe com atenção, John. Este provavelmente é o escritório dela, seu local de trabalho, o que normalmente colocamos em nossa mesa no nosso local de trabalho? O que há na sua mesa que não tem nessa?

—Fotos. — disse John.

—É assim em todo o apartamento?

John percorreu todo o lugar.

—Sim. Não há quadros de fotos.

—Há algum outro tipo de quadros?

—Sim. — John para na sala de estar. — Um Rembrandt.

—Excelente. Agora encontre o diário.

—Que diário?

—O diário de Margareth Plummer.

—Como sabe que ela tem diário?

—Procure. Avise-me quando encontrar. Eu preciso dele.

O celular desligou. John voltou aonde estava Lestrade, devolvendo-lhe o aparelho.

—Obrigado.

—Aonde ele foi? — disse Lestrade.

—Hmm, voltou à cena do crime na Chiltern, não me disse o porquê e com certeza não me diria se eu perguntasse.

—Sempre misterioso...

—Mas eu gostei do cabelo novo. — comenta Dimmock, se aproximando.

—As pessoas mudam. — diz Lestrade.

—Sherlock Holmes não muda. — afirma John. — É só uma fase.

—Uma fase rebelde? — ri Dimmock. Lestrade dá de ombros.

—Sally comentou que ficou bem melhor assim.

—Isso faz sentido, afinal se o namorado não gosta é melhor mudar.

O silêncio reinou.

—Dimmock... — diz Lestrade, desejando ter um buraco para enfiar a cabeça. John olhava Dimmock como se quisesse rasgá-lo ao meio.

—O que foi?

—John é casado agora. — informa Greg. Outros policiais olhavam a cena discretamente, sentindo vergonha por seus colegas.

—E só para constar, — John tentava manter a voz baixa. — é uma mulher.

—Hmm... — o detetive parecia sem palavras, Olhou John, visivelmente envergonhado. — Por que a mudança?

—Eu não mudei nada! — John explode, fazendo todos no quarto o olharem.

—Tudo bem. — Lestrade empurra Dimmock, querendo que ele fosse ver outra coisa, ou que atirasse algo pela janela, não importava. — Esqueça isso, John, sabemos que você... Que você é o que é. Vamos voltar ao caso, certo?

—Certo. — John controlava seus nervos. — Temos de encontrar o diário de Margareth Plummer.

—Diário?

—Sim, Sherlock mandou encontrarmos o diário.

—Mas como ele sabe que tem um diário?

—Ele só me pediu para encontrar. — disse John, ainda sentindo o sangue quente em suas veias. — Ele quer o diário.

—Mas não há diário...

—Senhor... — um policial se aproxima. — Encontramos isto.

Lestrade encarou John, depois o caderno pequeno fechado por combinação em suas mãos, daí encarou Watson novamente.

—Como ele faz isso?


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